Concepções e expectativas sobre ler e escrever: o olhar de crianças das camadas populares

Autores

  • Renata Durães Domingues Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes)
  • Geisa Magela Veloso Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) http://orcid.org/0000-0002-7392-2749
  • Alessandra Braga Costa Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes)

Resumo

O trabalho insere-se no campo de estudos da alfabetização e letramento e tem por objetivo identificar concepções infantis sobre leitura e escrita, discutindo significados que as crianças atribuem ao saber ler e escrever. A pesquisa tem enfoque qualitativo, que conforme Alves-Mazzotti (1999), representa uma perspectiva compreensiva da realidade e parte do pressuposto de que o comportamento das pessoas está imbuído de significados que precisam ser desvelados por um movimento investigativo e interpretativo. Para o processo de coleta de dados foi realizada entrevista semi-estruturada com 75 (setenta e cinco) crianças na faixa etária entre 5 e 6 anos, matriculadas em escola pública periférica de Montes Claros. Fundamentado em Tolchisnky (2001), Leite e Tassoni (2007), analisamos os discursos das crianças e percebemos as influências recebidas em seu convívio social, sendo localizados quatro grupos principais de respostas. No primeiro grupo, incluímos 02 alunos que não querem aprender a ler, 04 que não expressam desejo por essa aprendizagem e 01 que não argumentou sobre a importância dessa aprendizagem – sendo essa relação afetiva negativa compreendida como fator que torna a aprendizagem da leitura um processo doloroso e difícil para a criança. Na segunda categoria situamos 36 alunos, que compreendem a leitura e a escrita como aprendizado escolar e não percebem a função social dessas habilidades. Na terceira categoria, situamos um grupo de 24 alunos que percebe os usos cotidianos da leitura e da escrita, compreende a finalidade social dessa aprendizagem, como fator de mobilidade social, como promessa de uma profissão e realização de projeto de vida. Na última categoria de respostas localizamos um grupo de 8 alunos que compreende o aprendizado da leitura como possibilidade de desenvolvimento cognitivo e da inteligência. A análise da realidade permitiu concluir que essas distintas crenças e expectativas foram produzidas a partir das vivências infantis com a leitura e a escrita, sendo fundamental que a escola as considere ao empreender o processo de alfabetizar, posto que as crenças e motivações dos aprendizes podem interferir em seu aprendizado.

Palavras-chave: Alfabetização. Letramento. Afetividade.

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Referências

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20.12.2012

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