A DIMENSÃO RACIAL DA DESIGUALDADE E SEGREGAÇÃO SOCIOECONÔMICA EM BRASÍLIA
THE RACIAL DIMENSION OF INEQUALITY AND SOCIOECONOMIC SEGREGATION IN BRASÍLIA
DOI :
https://doi.org/10.46551/issn2179-6807v30n2p5-40Mots-clés :
Brasília., Arquitetura e raça, Segregação socioespacial, Segregação racialRésumé
Brasília foi idealizada como uma cidade que ofereceria as mesmas qualidades urbanísticas a todos, independentemente de classe social. Essa visão igualitária partia da ideia de que a desigualdade e a segregação socioespacial eram problemas essencialmente socioeconômicos. Contudo, mais de 60 anos após sua inauguração, Brasília tornou-se símbolo de desigualdade, especialmente pela exclusão da população mais pobre e negra. Apesar de dados demográficos, a questão racial tem sido frequentemente negligenciada nos estudos sobre o tema. Este artigo investiga a dimensão racial da segregação socioeconômica em Brasília. Inicialmente, realiza-se uma revisão de literatura sobre a relação entre arquitetura e raça, com base em estudos de países marcados pelo racismo estrutural, como Estados Unidos e África do Sul, onde a arquitetura foi usada para promover segregação racial. Em seguida, aborda-se como essas experiências influenciaram a ideologia da "democracia racial" no Brasil, amplamente difundida nos anos 1950 e com impacto na sociedade e arquitetura. Por fim, o texto analisa a construção de Brasília, mostrando como decisões iniciais de projeto, concebidas para promover diversidade, resultaram em mecanismos de segregação. A análise correlaciona segregação socioespacial, dinâmicas raciais e arquitetura, utilizando dados demográficos, econômicos e sociais.
Téléchargements
Références
ANJOS, R. S. A. D. Relatório Técnico do Mapeamento dos Terreiros do Distrito Federal. Revista Eletrônica: Tempo - Técnica - Território / Eletronic Magazine: Time - Technique - Territory, v. 9, n. 1, 24 maio 2018.
Brasília, Contradições de Uma Cidade Nova. Brasil: Filmes do Serro, , 1967. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=eH_5Tf7dXrk>
BUARQUE, C. O que é apartação: o apartheid social no Brasil. 1. ed., 7. reimpr ed. São Paulo: Brasiliense, 2003.
CANALES, J.; HERSCHER, A. Criminal Skins: Tattoos and Modern Architecture in the Work of Adolf Loos. Architectural History, v. 48, p. 235–256, 2005.
CANTANHÊDE DOS REIS, G. Trabalho informal e espaço público: de quem são as ruas? Laborare, v. 5, n. 8, p. 129–163, 2 mar. 2022.
CARNEIRO, S. Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil. [s.l.] Selo Negro Edições, 2011.
CÉSAIRE, A. Discours sur le colonialisme. Paris: Présence africaine, 1955.
CNE (ED.). Censo experimental de Brasília : população, habitação. Rio de Janeiro, Brazil: Conselho Nacional de Estatística - CNE, 1959. v. 11
CODEPLAN. PDAD - Pesquisa por Amostra de Domicílios 2021. [s.l.] CODEPLAN, 2022. Disponível em: <https://pdad2021.ipe.df.gov.br/static/downloads/relatorios/relatorio_DF.pdf>.
CODEPLAN. Retratos Sociais DF 2021 - O perfil sociodemográfico da população negra do Distrito Federal. 1. ed. Brasília, Brazil: CODEPLAN, 2023.
CORBUSIER, L. La charte d’Athènes. [Paris]: Plon [Paris], 1943.
COSTA, L. O arranha-céu e o Rio de Janeiro. O Paiz, 7 jan. 1928.
COSTA, L. Relatório do Plano Piloto de Brasília (1957). Em: Lucio Costa: Registro de uma vivência. São Paulo, SP: Empresa das Artes, 1995a. p. 283–299.
COSTA, L. Fiquem onde estão (n/d). Em: Lucio Costa: registro de uma vivência. São Paulo, SP: Empresa das Artes, 1995b. p. 315.
CRENSHAW, K. Demarginalizing the Intersection of Race and Sex: A Black Feminist Critique of Antidiscrimination Doctrine, Feminist Theory, and Antiracist Politics. Em: PHILLIPS, A. (Ed.). Feminism And Politics. [s.l.] Oxford University PressOxford, 1998. p. 314–343.
CUNHA, G. R. D.; MOASSAB, A. Modernidade-colonialidade na construção da hegemonia tecnocientífica do concreto armado dos países dependentes. PosFAUUSP, v. 29, n. 54, p. e176921, 7 abr. 2022.
EPSTEIN, D. G. Brasília, plan and reality: a study of planned and spontaneous urban development. Berkeley: University of California Press, 1973.
EVENSON, N. Two Brazilian capitals: architecture and urbanism in Rio De Janeiro and Brasília. New Haven: Yale University Press, 1973.
FANON, F. Peau noire, masques blancs. Paris: Éditions du Seuil, 1952.
FERNANDES, F. Foreword. Em: CARDOSO, F. H.; IANNI, O. (Eds.). Cor e mobilidade social em Florianopolis. São Paulo, Brazil: Companhia Editora Nacional, 1960.
FERREIRA, M. M.; GOROVITZ, M. A invenção da Superquadra/The invention of the superquadra. 3o Edition ed. Brasília, Brazil: Instituto Do Patrimônio Histórico E Artístico Nacional, 2020.
FICHER, S.; PALAZZO, P. P. Modern and Traditional: Brasilia’s Paradigms. Docomomo Journal, n. 43, p. 26–33, 1 nov. 2010.
FIELDS, D. W. Architecture in black: theory, space and appearance. London ; New York: Athlone Press, 2000.
FRANKENBERG, R. White women, race matters: the social construction of whiteness. London: Routledge, 1993.
FREYRE, G. Casa-grande & Senzala : formação da família brasileira sob o regime de economia patriarchal. Rio de Janeiro: Maia & Schmidt, 1933.
GINSBURG, R. “Come in the Dark”: Domestic Workers and Their Rooms in Apartheid-Era Johannesburg, South Africa. Perspectives in Vernacular Architecture, v. 8, p. 83, 2000.
GONZALEZ, L. Por um feminismo afro-latino-americano: Ensaios, intervenções e diálogos. Rio de Janeiro, RJ: Zahar, 2021.
GOUVÊA, L. A. DE C. Brasília: a capital da segregação e do controle social: uma avaliação da ação governamental na área da habitação. 1a. ed ed. São Paulo, SP, Brasil: Annablume, 1995.
HARRIS, D. Seeing the Invisible: Reexamining Race and Vernacular Architecture. Perspectives in Vernacular Architecture, v. 13, n. 2, p. 96–105, 2006.
HARRIS, D. S. Little white houses: how the postwar home constructed race in America. Minneapolis: University of Minnesota Press, 2013.
HERBST, H. Sob as Colunas do Ministério da Educação, a Costrução do Homem Brasileiro. . Em: IV ENCONTRO DE HISTÓRIA DA ARTE - IFCH / UNICAMP. Campinas, São Paulo: 2008. Disponível em: <https://www.ifch.unicamp.br/eha/atas/2008/HERBST,%20Helio%20-%20IVEHA.pdf>
HOLANDA, F. R. B. DE. Na contramão do apartaide. Oculum Ensaios, v. 6, p. 4–17, 2013.
HOLFORD, W. et al. Resumo da Apreciação do Juri. Módulo, v. 8, p. 220, 1957.
HOLSTON, J. The modernist city: an anthropological critique of Brasília. Chicago: University of Chicago Press, 1989.
HOOKS, B. Choosing the Margin as a Space of Radical Openness. Em: Gender Space Architecture - An interdisciplinary introduction. London: Routledge, 2000. p. 203–209.
INESC. Mapa das Desigualdades. Inesc, , 2023. Disponível em: <https://www.inesc.org.br/wp-content/uploads/2023/04/Mapa-das-desigualdades_Versao-digital.pdf>
JUDIN, H.; VLADISLAVIC, I. (EDS.). blank______ - Architecture, apartheid and after. Em: Rotterdam NL: NAi Publishers, 1999.
LARA, F. L. A exclusão no espaço doméstico. Disponível em: <https://revistaforum.com.br/noticias/a-exclusao-no-espaco-domestico/>. Acesso em: 21 fev. 2021.
LEITÃO, F. C. Do risco à cidade: as plantas urbanísticas de Brasília,1957-1964. Brasília: Universidade de Brasília - UnB, 2003.
LEMOS, G. O. De Soweto à Ceilândia: siglas de segregação racial. Paranoá: cadernos de arquitetura e urbanismo, n. 18, 2017.
LOEWEN, J. W. Sundown towns: a hidden dimension of American racism. New York London: The New Press, 2018.
LOKKO, L. N. N. (ED.). White papers, black marks: architecture, race, culture. 1. publ ed. London: Athlone Press, 2000.
LÓPEZ-DURÁN, F. Eugenics in the garden: transatlantic architecture and the crafting of modernity. First edition ed. Austin: University of Texas Press, 2018.
MAIO, M. C. O projeto UNESCO e a agenda das ciências sociais no Brasil dos anos 40 e 50. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 14, n. 41, p. 141–158, 1999.
MANSUR, A. I.; MARTINS, P. A luta diária dos brasilienses para usar o transporte público no DF. Correio Braziliense, 6 jul. 2022.
MELLO, B. C. E. E o negro na arquitetura brasileira? Arquitextos, 2012.
MÉTRAUX, A.; COELHO, R. Suggestions for research on race relations in Brazil: Race questions & protection of minorities. [s.l.] UNESCO, 1950.
MORAIS, F. DE O. Os quartos de empregada nos apartamentos modernistas no centro histórico da cidade de João Pessoa (PB). . Em: 13o SEMINÁRIO DOCOMOMO BRASIL. Salvador, Brazil: 2019. Disponível em: <https://docomomobrasil.com/wp-content/uploads/2020/04/110750.pdf>
PAVIANI, A. Brasília, ideologia e realidade: espaço urbano em questão. São Paulo: Projeto Ed. Associations, 1985.
PETERS, W. Apartheid politics and architecture in South Africa. Social Identities, v. 10, n. 4, p. 537–547, jul. 2004.
RAPOSO, F. M. Estratégia e desafio do trabalho no mundo da informalidade : os vendedores ambulantes da Rodoviária do Plano Piloto de Brasília/ DF. Brasília: University of Brasília, 2019.
ROLNIK, R. Territórios Negros nas cidades brasileiras (etnicidade e cidade em São Paulo e Rio de Janeiro). Revista de Estudos Afro-Asiáticos, v. n.17, n. Cadernos Cândido Mendes, 1989.
SAID, E. W. Orientalism. London: Routledge & Kegan, 1978.
SCHWARCZ, L. M. The spectacle of the races: scientists, institutions, and the race question in Brazil, 1870-1930. New York: Hill and Wang, 1999.
TAVARES, P. Brasília: Colonial Capital. e-flux architecture, 2020.
TAVARES, P. Lucio costa era racista?: Notas sobre raça colonialismo e a arquitetura moderna brasileira. 1a edição ed. [s.l.] N-1 Edições, 2022.
UNESCO. A Report on race relations in Brazil. Paris: [s.n.]. Disponível em: <https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000071135>.
WAGLEY, C. Race and class in rural Brazil. Paris: UNESCO, 1952.
WEYENETH, R. R. The Architecture of Racial Segregation: The Challenges of Preserving the Problematical Past. The Public Historian, v. 27, n. 4, p. 11–44, 1 nov. 2005.
WILSON, M. Black Bodies/White Cities: Le Corbusier in Harlem. ANY: Architecture New York, n. 16, p. 35–39, 1996.
Téléchargements
Publiée
Comment citer
Numéro
Rubrique
Catégories
Licence
© Rogerio Rezende, Hilde Heynen 2025

Ce travail est disponible sous licence Creative Commons Attribution - Pas d'Utilisation Commerciale - Pas de Modification 4.0 International.
Esta licença permite que outros(as) façam download do trabalho e o compartilhe desde que atribuam crédito ao autor(a), mas sem que possam alterá-lo de nenhuma forma ou utilizá-lo para fins comerciais.