A PAZ QUE EU NÃO QUERO: REFLEXÕES SOBRE A “PACIFICAÇÃO” DE FAVELAS NO RIO DE JANEIRO COMO UMA PERMANÊNCIA DA COLONIALIDADE
REFLECTIONS ON THE "PACIFICATION" OF FAVELAS IN RIO DE JANEIRO AS A CONTINUITY OF COLONIALITY
DOI:
10.46551/issn2179-6807v30n2p155-178Palavras-chave:
Pacificação., Favela., Colonialidade., Violência., Produção do espaço urbanoResumo
Este artigo explora o processo atual de pacificação das favelas do Rio de Janeiro através das práticas e discursos que perpetuam expressões da colonialidade no país. Argumenta-se que esta pacificação consiste em um mecanismo de controle social em prática no Brasil desde a colonização, atingindo grupos sociais específicos com base em um discurso de combate à insegurança e de promoção do desenvolvimento e da civilidade em territórios do outro. A partir da categoria de colonialidade, o artigo discute como a pacificação pode se manifestar no contexto da cidade do Rio de Janeiro. O estudo propõe a articulação dessa categoria para contribuir na compreensão das lutas sociais contemporâneas e na necessidade de descolonização do conhecimento e das práticas sociais. Mesmo não sendo um fenômeno novo, a pacificação vem sendo um instrumento cada vez mais associado à organização de espaços urbanos em territórios marginalizados, com destaque para a instalação das Unidades de Polícia Pacificadora em favelas cariocas a partir do ano de 2008. Torna-se necessário então o entendimento de sua vinculação com as produções das cidades brasileiras associadas à reprodução e manutenção de permanências da colonialidade no Brasil.
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