Heidegger e a Noção de Jogo Como Disposição e Vínculo

Autores

  • José Fernando Schuck UNISINOS

Palavras-chave:

Jogo. Compreensão de Ser. Transcendência. Disposição. Vínculo.

Resumo

Na filosofia contemporânea, as abordagens da noção de jogo raramente fazem referência a Heidegger; em preleções ministradas no curso de inverno de 1928/1929, Heidegger apresentou importantes reflexões sobre o que considerava ser o jogo originário da transcendência, as quais exerceram influência decisiva em autores que trabalharam extensamente a noção de jogo sob um viés hermenêutico ou ontológico, tais como Hans-Georg Gadamer, em Verdade e Método (1960), e Eugen Fink, em O jogo como símbolo do mundo (1960). Este artigo pretende tratar da noção de jogo desenvolvida na obra Introdução à Filosofia, que constitui o registro dessas preleções. A meta é demonstrar que, segundo Heidegger, o ser-aí (Dasein) é aquele para quem sempre está em jogo o seu próprio ser, pois reside nele uma abertura peculiar que é a base do comportamento vivo e pulsante do humano em geral; porque enquanto abarcado pelo ente no todo, enquanto movido pela compreensão de ser e pela transcendência, o ser-aí sempre se encontra posto em um jogo, em uma “brincadeira” que constitui o próprio jogo da vida (Spiel des Lebens). Para Heidegger, antes do jogo, e de qualquer regramento instituído por meio deste, há o jogar (spielen), movimento originário que envolve e impulsiona o ser-aí em direção de mundo, estabelecendo o vínculo com sua mundanidade (Weltlichkeit). O estar em jogo é, originariamente, movido pela disposição (Stimmung), estado de ânimo ou sintonia, que leva o ser-aí a projetar-se e a jogar o seu próprio ser atuando no espaço de jogo (Spielraum) da transcendência, um espaço a ser continuamente formado e figurado por meio de uma brincadeira-jogo (Spiel).

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Referências

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Publicado

2020-10-22

Como Citar

José Fernando Schuck. (2020). Heidegger e a Noção de Jogo Como Disposição e Vínculo. Revista Poiesis, 17(2), 17–30. Recuperado de https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/poiesis/article/view/3447