Revista Poiesis https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/poiesis <p>A Revista Poiesis é uma publicação semestral do Departamento de Filosofia da Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES, visando abrir espaço para publicação de artigos na área de filosofia em interface com outras áreas do conhecimento. O propósito é estimular a produção acadêmica e o debate filosófico entre pesquisadores, primando sempre pela qualidade na publicação de material que sirva de instrumento de pesquisa ao público especializado e à comunidade acadêmica em geral. Esperamos que o periódico possa contribuir para o desenvolvimento das discussões acerca das temáticas filosóficas, sobretudo na contemporaneidade.</p> Editora Unimontes pt-BR Revista Poiesis 2448-3095 JARDIM COMO METÁFORA: PRINCÍPIOS DA FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/poiesis/article/view/7624 <p>Este artigo tem por objetivo, em primeiro lugar, realizar algumas considerações sobre a metáfora do jardim, entendido como uma construção humana e histórica, determinada culturalmente. Na introdução, expusemos os vários tipos de jardim com a finalidade de percebermos as suas diversas modalidades, para concebê-los como uma arte que se assemelha a de educar. Posteriormente, em segundo lugar, apresentamos as ideias de Montaigne, Rousseau e de Nietzsche para tecer as analogias pertinentes a esta metáfora, cientes de que este tema está longe de ser esgotado. Por fim, concluímos que se o jardim não é uma mata, portanto, o processo de educação para a inserção no mundo da cultura é necessário, por outro lado, não se deve forçar uma artificialidade mórbida, um universo de aparência de ordem que não reflete a liberdade, a criatividade e a espontaneidade humana.</p> Ângela Zamora Cilento José Benedito de Almeida Júnior Copyright (c) 2024 Revista Poiesis https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0 2024-04-04 2024-04-04 27 2 APRESENTAÇÃO https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/poiesis/article/view/7609 Revista Poiesis Copyright (c) 2024 Revista Poiesis https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0 2024-04-04 2024-04-04 27 2 ASSOMBRAÇÃO RACIAL: FANTASMAGORIA E DEVIR-NEGRO DO MUNDO A PARTIR DE ACHILLE MBEMBE https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/poiesis/article/view/7610 <p>O presente artigo examina as relações entre colonialismo, modernidade capitalista, raça (em seu caráter fantasmagórico), racismo, neoliberalismo e arquivo, a partir das considerações de Achille Mbembe, especialmente nas obras Crítica da Razão Negra e Politicas da Inimizade, sobretudo ao que se refere ao alterocídio sob a forma de necropolítica, à duplicidade do que o autor chama de razão negra, e de seu importante conceito de devir-negro do mundo.</p> Roy Sollon Borges Copyright (c) 2024 Revista Poiesis https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0 2024-04-04 2024-04-04 27 2 A NECROCIDADANIA À LUZ DA ALTERIDADE: UMA CONVERSA POST MORTEM COM PAUL RICOUER https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/poiesis/article/view/7611 <p>O trabalho buscou analisar como o paradigma da ética da alteridade, especialmente focado no trabalho de Paul Ricoeur sobre o tema, pode oferecer novas contribuições para se pensar a questão do corpo morto. Além disso, trouxemos o conceito de necrocidadania para fazer uma dialética com o trabalho do autor. Através de algumas problemáticas iniciais (como o enterro de pessoas transgênero com o gênero de nascimento pela família) e a falta de resolução desses problemas no campo jurídico, buscamos, através do paradigma da alteridade, novas maneiras de delinear a responsabilidade dos vivos em relação aos aspectos subjetivos dos mortos.</p> Isabella Lauermann Copyright (c) 2024 Revista Poiesis https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0 2024-04-04 2024-04-04 27 2 PAUL RICOEUR E A HERMENÊUTICA – UMA INTRODUÇÃO https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/poiesis/article/view/7612 <p>O presente artigo trata da hermenêutica no pensamento de Paul Ricoeur. Mostra como se deu sua aproximação da teoria da interpretação, isto é, pela necessidade de decifração do signo e do mito, por precisar restaurar e redescobrir sentido e por operar sobre textos, em vista de explicar e compreender discursos. Baseado no paradigma da textualidade, Ricoeur estabelece sua concepção hermenêutica e debate com a tradição romântica, além de estabelecer interlocução com correntes hermenêuticas de seu tempo. Aquilo que aplicou ao texto, se estendeu também para a ação, a história e outras realidades, inclusive ao si, tal qual excelente texto a ser explicado e compreendido. Por isso, o escopo de sua contribuição nesta área chama-se hermenêutica do si, que é guiada pela linguagem e atraída por uma ontologia. Desse modo, para Ricoeur, a hermenêutica é método, é reflexão sobre o compreender e é uma espécie de filosofia, isto é, um modo próprio de pensar.</p> Mário Correia Copyright (c) 2024 Revista Poiesis https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0 2024-04-04 2024-04-04 27 2 A RELAÇÃO ENTRE HERMENÊUTICA E ÉTICA NA FILOSOFIA DE PAUL RICOEUR https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/poiesis/article/view/7614 <p>Nesse artigo, de forma introdutória, será desenvolvida a relação entre hermenêutica e ética na filosofia de Paul Ricoeur. Nosso objetivo, com esse texto, é analisar como hermenêutica e ética se articulam no pensamento de Ricoeur. A ideia é mostrarmos como hermenêutica e a ética se articulam dentro da hermenêutica do si e como essa hermenêutica nos auxilia a pensar o ser humano. Partimos do pressuposto que a hermenêutica na filosofia ricoeuriana pode ser compreendida como um caminho que leva à ética. Além disso, a antropologia filosófica será o elo de ligação entre hermenêutica e ética na filosofia de Ricoeur. A hermenêutica filosófica elaborada por Ricoeur busca descrever e analisar como o ser humano irá agir no mundo através do horizonte da justiça, da alteridade, do direito, do bem, do reconhecimento e do respeito. Sendo assim, a hermenêutica do si traz ao horizonte da filosofia<br>ricoeuriana a possibilidade de pensarmos uma filosofia moral. Para além disso, na filosofia de Ricoeur não podemos pensar que existe separação entre hermenêutica e ética. Tendo na antropologia filosófica seu ponto central, Ricoeur pontua como a hermenêutica do si caminha em direção de se pensar uma filosofia moral.</p> Frederico Soares de Almeida Carlos Roberto Drawin Copyright (c) 2024 Revista Poiesis https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0 2024-04-04 2024-04-04 27 2 A SUBJETIVIDADE COMO OUTRO NO MESMO SEGUNDO LEVINAS: A OBRIGAÇÃO DE OCUPAR-SE DE OUTREM ANTES DE PERSISTIR NO PRÓPRIO SER https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/poiesis/article/view/7615 <p>O objetivo do presente artigo é investigar a noção de sujeito em Emmanuel Levinas, relacionando-a com o problema da alteridade, concepção que ocupa um lugar central em sua perspectiva filosófica. O filósofo lituano-francês questiona o primado que o Eu alcançou na filosofia, criticando o papel soberano atribuído à ontologia no transcurso histórico ocidental. Tal matriz de pensamento, vinculada ao âmbito do conhecimento, promoveu uma redução do Outro aos domínios do Mesmo, subtraindo e ignorando o espaço à alteridade. O caminho trilhado por Levinas na análise do sujeito tem como ponto de partida uma concepção de “ser” atípica, ajuizando-o como entrelaçado ao mal e como detentor de um caráter excessivo, configurando, portanto, um cenário que demanda uma evasão. No percurso de fuga da ontologia, Levinas analisou fenomenologicamente vivências cotidianas concretas e elaborou a intrigante noção do Il y a, ou seja, a presença do irremissível existir despersonalizado. O emergir do existente foi pensado – em sua condição primária – através da hipóstase, quando o existente passa a se relacionar com o existir. No entanto, a ruptura definitiva com o Il y a e a constituição integral do sujeito têm seu lugar no encontro com Outrem, na proximidade do rosto, com a subjetividade sendo pensada como hospitalidade, como o “um-para-o-outro”, conforme prescrição contida no rosto do próximo, sob a forma de mandamento de responsabilidade, infinita e intransferível, por tudo e por todos. A epifania do rosto instaura a precedência absoluta de Outrem, nos remetendo a um domínio mais antigo que o da ontologia, o da esfera ética pré-originária, âmbito no qual a subjetividade, rompendo com a ideia de sujeito como uma essência, se apresenta como substituição em prol do outro homem.</p> Fabiano Victor Campos Luiz Fernando Pires Dias Copyright (c) 2024 Revista Poiesis https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0 2024-04-04 2024-04-04 27 2 O EU E O OUTRO: A RELAÇÃO INTERSUBJETIVA EM EMMANUEL LÉVINAS https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/poiesis/article/view/7616 <p>Emmanuel Lévinas está inserido em um seleto grupo de pensadores que, ao longo do século XX, se despontaram como promotores de uma filosofia da alteridade. À luz de tão distinta consideração, o presente artigo pretende descortinar o modo como o lituano entende as relações intersubjetivas. Para tanto, analisaremos a lógica da representação e a totalidade ontológica a fim de evidenciar que tais concepções reduzem, instrumentalizam e subjugam o Outro e as diferenças. Em seguida, mostraremos como Lévinas, a partir de categorias como Infinito, Metafísica, Desejo, Rosto, Responsabilidade, entende a relação intersubjetiva, de modo que o Eu se responsabiliza pelo Outro e promove as diferenças. Por esses conceitos, o autor atestará que na relação Eu-Outro, este não poderá ser um <em>alter-ego</em> que, como num espelho, reflete a imagem do Mesmo, mas sim é alteridade absoluta, inadequado às estruturas totalizantes. Esse encontro é essencialmente ético e animado por um movimento de abertura e transcendência denominado Desejo Metafísico, que impele a uma relação face a face com o Rosto do Outro. No seio desta filosofia, o Rosto do diferente se apresenta como um regulador da vida e não como algo a ser superado ou colocado em posto subalterno. Vê-lo é ouvir: Tu não Matarás! Matar, em Lévinas, é eliminar a capacidade cognitiva, o direito de ser, de exigir, de manifestar-se no mundo que o Outro possui. Matar é eliminar a existência do Outro, como o próprio lituano testemunhou na vivência da Guerra. Portanto, o Eu que outrora era fechado em um solipsismo e que via o Outro como um inimigo, no pensamento levinasiano, se abre e é responsável por ele. É sobre isso que o presente artigo discorrerá, no intento de explanar, ainda que de forma basilar e introdutória, cientes do alcance e da profundidade da obra do filósofo, a contribuição levinasiana para pensar a relação intersubjetiva.</p> Jeferson Djalma Coimbra Robione Antonio Landim Copyright (c) 2024 Revista Poiesis https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0 2024-04-04 2024-04-04 27 2 ENTRE RASTROS: PRELÚDIO PARA DOIS PENSAMENTOS DA ALTERIDADE https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/poiesis/article/view/7617 <p>Jacques Derrida e Emmanuel Levinas, em suas respectivas abordagens filosóficas, enfatizam que o modelo de pensamento e de linguagem proposto pela filosofia ocidental resultou em uma redução violenta na compreensão e comunicação da realidade e das relações humanas, devido à persistente ênfase em categorias como a presença e a identidade. Diante desse cenário, Derrida e Levinas propõem desarticular o primado da identidade como detentora exclusiva do saber e da linguagem. Além disso, eles questionam a pretensão do discurso da totalidade que busca reduzir o mundo, as relações e o transcendente à primazia da consciência. Como resultado, os filósofos rejeitaram o estatuto das filosofias da presença da tradição filosófica, apresentando bases comuns para <em>um outro modo</em> de se fazer filosofia. A partir da análise do artigo “O vestígio do outro”, de Emmanuel Levinas, e do livro “Margens da Filosofia”, de Jacques Derrida, este artigo tem como objetivo apresentar como a noção de rastro possibilita uma intertextualidade latente no pensamento desses autores. O rastro não se limita a ser uma simples marca deixada pelo outro ou um vestígio puramente físico. Em vez disso, ele nos instiga a ir além de qualquer sinal evidente e perceber que, no contexto do pensamento da desconstrução e do pensamento da ética da responsabilidade, o rastro remete para uma concepção de temporalidade outra. Além disso, ambos os filósofos exploram a noção de rastro, apontando para uma alteridade radical que escapa à apreensão, quer seja através da linguagem ou da relação ética. Essa alteridade é concebida como uma diferença absoluta e irredutível. Assim, ao introduzirem a noção de rastro, os filósofos nos convidam a acolher o <em>totalmente outro </em>(<em>tout autre</em>), que escapa às nossas concepções convencionais. Eles nos instigam a reconhecer a complexidade e a riqueza das relações humanas e da realidade que nos rodeia.</p> Luciane Martins Ribeiro Copyright (c) 2024 Revista Poiesis https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0 2024-04-04 2024-04-04 27 2 “PENSAR COMEÇA TALVEZ AÍ”: DERRIDA E A QUESTÃO ANIMAL https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/poiesis/article/view/7619 <p>O presente trabalho busca pensar a questão acerca do animal no pensamento do filósofo franco-argelino Jacques Derrida. Partindo do pressuposto de que a tese do logocentrismo é, como afirma Derrida, antes de tudo uma tese sobre o animal, procuramos demonstrar de que maneira a desconstrução do privilégio concedido ao logos ao longo da história da filosofia no ocidente implica, como um aspecto estrutural necessário, uma certa indagação acerca do animal, como aquele vivente sempre enxergado desde a sua falta de logos. As implicações ético-políticas de uma tal indagação ficam evidentes quando pensamos a “estrutura sacrificial” que essa falta que constitui o animal representa: estar fora do logos significa, ao menos, ser um vivente reduzido à corporalidade, sendo esta entendida tão somente como disponibilidade para o exercício de um poder por parte daquele que, possuidor do logos, ascende à categoria de soberano. Tal concepção de soberania é um traço distintivo do que se chamou, ao longo de mais de dois milênios, filosofia. Por filosofia se entende, então, um certo gesto soberano de exclusão e rebaixamento do outro, seja este outro o animal, seja ele a escritura. Tal qual o animal, também a escritura é enxergada desde a sua falta de logos, desde a sua distância com relação à origem do sentido. Animal e escritura se aproximam ou se assemelham, então, aos olhos da filosofia, como a perpétua ameaça de um fora sobre o qual não é totalmente possível exercer sem perda a soberania, o que leva à sugestão de que pensar começa talvez aí.</p> Guilherme Cadaval Copyright (c) 2024 Revista Poiesis https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0 2024-04-04 2024-04-04 27 2 O RIO ESTÁ CHAMANDO PARA A FRONTEIRA DA HISTÓRIA: EM BUSCA DA ALTERIDADE https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/poiesis/article/view/7620 <p>Começamos esta pesquisa defendendo a hipótese de que a insurgência de novas práticas de alteridade têm correspondido a uma nova questão socioambiental para as ciências humanas. O objetivo é avançar com esse debate rumo a uma conceptualização intercultural de sustentabilidade com ênfase numa questão fundamental: pensar o tempo histórico a partir de práticas de alteridade significa considerar que tipo de abordagem teórica e metodológica do tempo presente? O objetivo específico visa situar, então, uma leitura sobre as variações do conceito de sustentabilidade num território epistêmico progressista em face dos avanços dos regimes de totalidades do sistema-mundo moderno. Com base em procedimentos bibliográficos, duas discussões norteiam este estudo: (i) os fundamentos de uma epistemologia da exterioridade para uma filosofia da alteridade; (ii) a questão da mudança social, o tempo presente e os direitos humanos. Este artigo é um ensaio fenomenológico dos processos de libertação que correm desde o Sul Global com ênfase nos debates de comunidades sustentáveis, cujas raízes históricas de grupos humanos têm sido até agora desconsideradas, produzindo uma modalidade política de sofrimento psicológico derivado de impactos e injustiças ambientais e violações de direitos humanos. Concluímos que as práticas contemporâneas de alteridade fazem referência a uma resistência de solidariedade que conecta fundamentos filosóficos e éticos acerca da experiência do sofrimento psíquico causado por processos de transformação do mundo que correm sob os signos do extrativismo e progresso, com novas graduações de conflitos entre valores socioambientais e direitos humanos. Enfatizamos ainda que os desastres ambientais e os danos irreparáveis aos limiares de biodiversidade do planeta têm acionado as relações tensas de rupturas e descontinuidades entre História e Natureza dadas às novas opções de pensarmos a direção histórica do Mundo.</p> Luciano Fiscina Copyright (c) 2024 Revista Poiesis https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0 2024-04-04 2024-04-04 27 2 VIRADA RITUAL E A ÉTICA DA ALTERIDADE EM BYUNG-CHUL HAN: A REINSERÇÃO DA ARTE DA ATENÇÃO, DA ESCUTA E DO OLHAR NA VIDA EM COMUNIDADE https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/poiesis/article/view/7621 <p>Os rituais são ações simbólicas. Eles transmitem e representam valores e ordens que mantêm uma comunidade unida. São “técnicas de fechamento temporal”, visando permanência e vínculo e apresentam eixos de estabilização para a vida. Este trabalho discutirá possibilidades de reinserção desta prática coletiva no âmbito de uma <em>Sociedade do Desempenho.</em> Tal configuração societária tem se apresentado de maneira embrutecida, <em>atomizada </em>e de moral amorfa, em um cenário em que se caracteriza o <em>inferno do igual</em> a partir da expulsão da <em>alteridade</em>. A partir da matriz de pensamento de Byung-Chul Han, propõe-se, portanto, um chamamento para uma <em>virada ritual </em>de modo a se oferecer “mimetizações possíveis à felicidade” e intermediar uma “referência ao mundo”. Além disso, recuperar-se os ritos, valoriza o desfrute de um tempo cadenciado e contemplativo, <em>um tempo do outro </em>e do sorver das coisas. Mais ainda, ressignifica a potência de suas formas próprias para permitir a sensibilidade, o acolhimento de si e também da recuperação da alteridade<em>,</em> que prima pela diferença em um viver comunal. Estas experiências de conclusão, permeiam um tipo de ética que nos elabora de forma <em>atópica</em> e não simplesmente autêntica no encontro com o inteiramente outro, que é “constitutivo para a formação de um si estável”. Promove-se um caminho ético propositivo, através de um retorno à arte da escuta, da atenção profunda, da cortesia do gesto inerentes à qualidade do olhar e à corporeidade da voz.</p> Camila Braga Soares Pinto Leandro Pinheiro Chevitarese Copyright (c) 2024 Revista Poiesis https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0 2024-04-04 2024-04-04 27 2 PARA ALÉM DOS MUNDOS COMPOSSÍVEIS: A INCOMPOSSIBILIDADE COMO A REALIDADE DO ACONTECIMENTO https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/poiesis/article/view/7622 <p>Se para Leibniz um único mundo compossível repele os outros mundos possíveis, incompossíveis em relação a eles, veremos que a noção de acontecimento formulada por Gilles Deleuze faz convergir os incompossíveis e os compossíveis em um único mundo cuja realidade é marcada pela ininterrupta passagem de uma dimensão virtual para uma atual. Pretendemos verificar de que forma, no pensamento de Deleuze, articulam-se a incompossibilidade e a compossibilidade num plano de imanência onde se estendem as singularidades e onde se efetuam as individuações que efetivam as relações diferenciais em termos de qualidades e partes saídas de uma profundeza virtual de um caos infinito que continua a pressionar o estado de coisas. Pretendemos descrever como o acontecimento é o ato que irá dar consistência às incompossibilidades que interpenetram um único e mesmo mundo e como a partir dessa realidade o indivíduo não possui limites fixos, mas vizinhanças que permitem as séries incompossíveis coexistirem virtualmente às suas atualizações, como móveis transitórios e suscetíveis de combinações inauditas.</p> Carlos Henrique Machado Copyright (c) 2024 Revista Poiesis https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0 2024-04-04 2024-04-04 27 2 A FILOSOFIA DO ABSURDO EM ALBERT CAMUS E CLARICE LISPECTOR https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/poiesis/article/view/7623 <p>O artigo pretende investigar o aparecimento da filosofia do absurdo no ensaio <em>O mito de Sísifo</em>, de Albert Camus e no romance <em>A paixão segundo GH</em>, de Clarice Lispector. Segundo a filosofia do absurdo, a consciência tem clamor por explicações, quer a coesão entre as representações e o mundo, mas não consegue encontrar uma resposta satisfatória para os seus questionamentos mais profundos. Nesse contexto, trata-se de pensar a ruptura do eu com uma imagem una de si e o caminho que se delineia para a reconstrução dessa unidade ou para sua impossibilidade. Em Camus, o divórcio com o mundo toma forma no sentimento de absurdo, que se constitui o ponto de partida para a investigação do autor. Em Clarice, ocorre um estranhamento com a realidade e a narrativa volta-se para o esforço da personagem em reconhecer a sua desorganização interna. Além de encontrarmos em ambos os escritores uma reflexão sobre uma consciência que se defronta com o desconhecido e com a impossibilidade identitária, é importante salientar que essa questão exigirá, tanto para Lispector quanto para Camus, um pensamento que ultrapasse os limites da linguagem conceitual. Ao indagar acerca de um princípio unificador ou um sentido para a vida humana, Albert Camus coloca em evidência um conflito que subjaz à condição existencial do sujeito. A prosa poética de Clarice Lispector também problematiza esse conflito, mas o faz essencialmente no plano estético, com as especificidades oriundas de sua literatura.&nbsp; Assim, procuraremos observar o modo pelo qual essa experiência é por eles problematizada e quais os caminhos eleitos para sua expressão. Durante o processo, foi necessário avaliar as metáforas, imagens e relações estabelecidas pelos autores, fazendo um percurso sobre a filosofia do absurdo no registro ensaístico e literário. Nesse contexto, o intuito não é solucionar o problema apresentado, mas dilatar o movimento que o engendra no interior dos textos eleitos, demonstrando que tanto a literatura quanto a filosofia possibilitam adensar novos olhares sobre o tema.</p> Adriana Galvão Póvoa Copyright (c) 2024 Revista Poiesis https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0 2024-04-04 2024-04-04 27 2