Biotecnologia & Fome

Autores

  • Aluízio Borén

Resumo

Que todos tenham acesso a uma alimentação saudável é a palavra de ordem do dia.
Não há dignidade, respeito e cidadania se houver fome. O Brasil que come não
pode ignorar o Brasil que tem fome. Afinal, um país que já é o celeiro do mundo,
com mais de 120 milhões de toneladas de grãos, não pode permitir a existência da fome e
da desnutrição.

Gostaríamos de convidar a comunidade científica à reflexão: Em vez de você esperar o que
o Brasil possa fazer por você, dê a sua contribuição para construção de um país mais justo
e sem fome. Ser cientista é, antes de tudo, estar comprometido com as questões básicas e
aplicadas do mundo moderno. A fome pode ser eliminada com maior produção e melhor
distribuição dos alimentos, melhor qualidade nutritiva dos produtos, maior renda da
população, menor perda na colheita, transporte, armazenamento e processamento, etc.
Portanto, todos nós podemos dar nossa contribuição na redução da fome no Brasil.
Freqüentemente, nós nos deparamos com novas tendências e tecnologias para solucionar os
desafios do mundo moderno. Quando na década de 1950 Elvis Presley e o rock and roll
invadiram as rádios com seu ritmo acelerado, os muitos pais proibiram que seus filhos
apreciassem esta música. Logo depois surgiram os The Beatles, jovens com guitarras e
uma bateria arrasadora, cantando canções diferentes de tudo que até então existia. Hoje,
The Beatles são considerados clássicos da música mundial. O novo e o incompreendido
em geral assustam e geram desconforto para o leigo. Foi assim o início do rock and roll;
está sendo assim o início da era da biotecnologia. Biotecnologia é uma ciência com
potencial para melhorar a qualidade de vida do homem, disponibilizando alimentos
saudáveis enriquecidos com vitaminas e outros nutrientes essenciais.

As possibilidades de transformação gênica das espécies vegetais utilizadas como alimentos
pelo homem são enormes: arroz rico em vitaminas, tomate contendo anti-oxidantes
benéficos à saúde humana, amendoim sem proteínas alergênicas, bananas contendo
vacinas, soja com óleo mais saudável para a dieta de pacientes cardíacos, etc.
O Brasil não pode se render à alienação tecnológica e continuar utilizando tecnologias
ultrapassadas que contribuam para a poluição dos seus férteis solos com inseticidas e
outros defensivos agrícolas altamente residuais. Excluir os produtores brasileiros das
novas tecnologias que são seguras e que apresentam vantagens ecológicas é um desserviço
à agricultura brasileira. É importante que os produtos desenvolvidos pela biotecnologia
continuem sendo rigorosamente avaliados quanto a sua segurança para a saúde e para o
meio ambiente e, aqueles que forem considerados seguros, sejam disponibilizados para o
produtor. Cientistas como o Dr. Norman E. Borlaug, Prêmio Nobel da Paz em 1970, por
suas pesquisas com variedades semi-anãs de alto rendimento, especialmente importantes
para os países em desenvolvimento, defendem a utilização de OGMs. Muitos outros
cientistas, como James C. Watson, também laureado com o Prêmio Nobel, pela descoberta
da estrutura do DNA, defende a adoção das variedades geneticamente modificadas como
forma de reduzir a aplicação de defensivos agrícolas na agricultura. As universidades e os
institutos de pesquisa nacionais precisam do apoio público e legal para o desenvolvimento
de variedades adaptadas às condições brasileiras. Estas não só aumentarão a
competitividade do produto brasileiro no mercado internacional mas também reduzirão o
uso de defensivos agrícolas nas lavouras.
O uso da biotecnologia para o desenvolvimento de novas variedades está promovendo uma
revolução na forma de se produzir alimentos mais seguros para o homem e com menor
agressão ao meio ambiente. Frustrar o avanço tecnológico quando ele é seguro e contribui
para a preservação ambiental é uma agressão à inteligência humana. A primeira variedade
assim desenvolvida foi colocada no mercado americano em 1994, após anos de testes
quanto a sua segurança. Não existe nenhuma evidência de que as variedades
geneticamente modificadas já em estudo por mais de 12 anos e em cultivo por mais de oito
anos em outros países façam mal à saúde humana ou ao meio ambiente. Os resultados, na
verdade, indicam o contrário. Muitas destas variedades são mais saudáveis para a
alimentação e seguras para o meio ambiente.

Após o desenvolvimento de uma nova variedade com o auxílio da biotecnologia, ela é
submetida a análises laboratoriais em uma primeira fase, em que se analisa sua composição
química para um grande número de componentes. Caso a variedade seja considerada
segura, ela é então submetida a testes em condições controladas, como em casa de
vegetação. Finalmente, as variedades consideradas seguras para a saúde humana e para o
meio ambiente são testadas em condições de campo sob supervisão dos órgãos
competentes. A liberação de uso comercial e consumo só ocorrem após exaustiva análise
do material.
A Biotecnologia não é a solução para a fome no Brasil, mas é uma das tecnologias que
pode contribuir para esta solução. Quem tem fome tem pressa!

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Publicado

2020-05-20

Como Citar

BORÉN, A. . Biotecnologia & Fome . Revista Unimontes Científica, [S. l.], v. 5, n. 1, 2020. Disponível em: https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/unicientifica/article/view/2523. Acesso em: 2 maio. 2024.

Edição

Seção

Editorial