Imagens de “mães pretas” : representações da maternidade e da escravidão na escrita de José de Alencar

Autores

  • Maria Elizabeth Ribeiro Carneiro Doutora em História pela UnB. E-mail: mariaercarneiro@gmail.com

Palavras-chave:

escravidão; maternidade; identidades; raça-etnia; sexo-gênero

Resumo

Resumo: A imagem da escrava Joanna modelada no drama “Mãe”, de José de Alencar, configura um referente
que faz operar o jogo das diferenças e assimetrias sociais: o feminino e o masculino, o cativeiro e a liberdade, o
corpo-mercadoria e o corpo-proprietário. A trama encena um conflito e expõe valores que circulam nos códigos
da sociabilidade carioca oitocentista e a trajetória da protagonista escrava reitera o mito do “amor materno”: a “amade-leite cativa” foi máscara da qual a personagem Joana se serviu para esconder o verdadeiro (e para ela perigoso)
vínculo com o filho, este que ela preferiu e conseguiu disfarçar até o fim do drama e da vida; a reação da personagem
pela dissimulação exibe a violência da ordem escravocrata e, nela, o autor sublinha a vocação feminina para o “martyrio
sublime” da maternidade. Procura-se fazer uma releitura da obra de Alencar à luz dos estudos feministas e de gênero,
no artigo em que se buscou apreender a historicidade de relações de raça-etnia, sexo-gênero, de condição civil e
trabalho e, também, decifrar a positividade dessa representação no imaginário carioca oitocentista.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

ALENCAR, José de. Mãe. Drama em quatro actos. In: José
de Alencar com uma Introducção por Mário de Alencar.
Collecção Áurea. Rio de Janeiro: Livraria Garnier, 1922.
BADINTER, Elisabeth. Um Amor Conquistado. O Mito
do Amor Materno. 9. ed. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1985.
BAILLARGEON, Denyse. No calor do debate: a
maternidade em perspectiva. In: SWAIN, Tânia
Navarro (Org.) Feminismos: Teorias e perspectivas.
Textos de História. Revista da Pós-Graduação em História
da UnB, vol 8, nos. 1 e 2, 2000.
BAKZCO, B. Imaginação Social. EINAUDI. Vol. 5.
Anthropos-Homem. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa
da Moeda, 1985.
BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira.
42. ed. São Paulo: Cultrix, 2004, p. 137-140.
BUTLER, Judith. Corpos que pesam: sobre os limites
discursivos do “sexo”. In: LOURO, G. L. (Org.). O Corpo
Educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte:
Autêntica, 1999.
CALDWELL, Kia Lilly. “Fronteiras da diferença: raça e
mulher no Brasil”. In: Estudos Feministas. vol 8, n. 2/
2. Santa Catarina: CFH/CCE/UFSC, 2000.
CERTEAU, Michel de. A Escrita da História. 2. ed. Rio de
Janeiro: Forense Universitária, 2000.
DICIONÁRIO ELETRÔNICO Houaiss da Língua
Portuguesa. 2004. Verbetes: ‘abnegação’ e ‘sublime’.
FOUCAULT, M. História da Sexualidade. Vol.1. A vontade
de saber. 13. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1988.
FOUCAULT, M. A Ordem do Discurso. 3. ed. São Paulo:
Loyola, 1996.
GUILLAUMIN, Collete. Pratique du pouvoir et idée de
Nature, 2. Le discours de la Nature. Questions
Féministes, n. 3, mai 1978.
LAURETIS, Teresa de. A Tecnologia de Gênero. In:
HOLANDA, Heloisa B. de. Tendências e Impasse: o
feminismo como crítica da cultura. Rio de Janeiro:
Rocco, 1994.
LOURO, Guacira Lopes. Pedagogias da sexualidade.
In: LOURO, G. L. (Org.) O Corpo Educado: pedagogias
da sexualidade. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica,
2000.
NAXARA, Maria Regina Capelari. Cientificismo e
Sensibilidade Romântica; em busca de um sentido
explicativo para o Brasil do século XIX. Brasília:
EdUnB, 2004.
MONTENEGRO, Olavo. O Romance Brasileiro. Rio de
Janeiro: José Olympio, 1938.
MORAES, Evaristo. A Campanha Abolicionista (1879-
1888). Rio de Janeiro: Livraria Editora Leite Ribeiro,
1924.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. Fronteiras da ficção:
diálogos da história com a literatura. XX Simpósio
Nacional da Anpuh. História: Fronteiras. Vol 2.
NODARI, Eunice, PEDRO, Joana & IOKOI, Zilda Márcia
Gricoli. Florianópolis; São Paulo: Humanitas/FFLCH/
USP/Anpuh, 1999.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Emílio ou da Educação. Trad.
Sérgio Milliet. 2. ed. São Paulo: Difusão Européia
do Livro, 1973.
SCOTT, Joan W. Experiência. In: SILVA, Alcione Leite
da (Org.) Falas de Gênero: teorias, análises, leituras.
Ilha de Santa Catarina: Editora Mulheres, 1999.
SLENES, R. W. Senhores e subalternos no Oeste
paulista. In: NOVAIS, F. (Dir.) & ALENCASTRO, L.F.
(Orgs.) História da Vida Privada no Brasil. Império:
a corte e a modernidade nacional. Vol 2. São Paulo:
Companhia das Letras, 1997, p. 234-53.
SWAIN, Tânia Navarro & MUNIZ, Diva do Couto
Gontijo (Org.). Mulheres em Ação: práticas
discursivas, práticas políticas. Florianópolis, Belo
Horizonte: Ed. Mulheres, PUC Minas, 2005.
SWAIN, Tânia Navarro. A invenção do corpo
feminino ou A hora e a vez do nomadismo
identitário? In: SWAIN, T. N. (Org.) Feminismos:
teorias e perspectivas. Textos de História. Revista
da Pós-Graduação em História da UnB, vol 8, nos.1 e
2, 2000.

Downloads

Publicado

2020-05-07

Como Citar

RIBEIRO CARNEIRO, M. E. . Imagens de “mães pretas” : representações da maternidade e da escravidão na escrita de José de Alencar. Revista Unimontes Científica, [S. l.], v. 8, n. 2, p. 13–30, 2020. Disponível em: https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/unicientifica/article/view/2307. Acesso em: 8 maio. 2024.

Edição

Seção

Dossiê Temático