OS "SEM RIO": populações desterritorializadas pelo desastre ambiental de Mariana

Autores

DOI:

https://doi.org/10.46551/rc24482692202013

Palavras-chave:

território, desastre ambiental, Mariana-MG, territórios da mineração, rio Doce.

Resumo

Em 2015, o Brasil foi atingido por um dos maiores desastres ambientais de sua história com a ruptura da Barragem de Fundão, no estado de Minas Gerais. O episódio descortinou uma face da apropriação do território pelas grandes corporações, enfatizando o acidente enquanto processo de desterritorialização. Nesse sentido, o presente artigo possui a intenção de discutir a desterritorialização a partir das falas de atingidos e das imagens do território, refletindo sobre múltiplas manifestações. Para tanto, foi realizada uma revisão bibliográfica com autores de campos diversos do conhecimento, que permitem o debate conceitual, mas também contribuem para contextualizar o objeto estudado. Posteriormente, caracterizou-se o evento com levantamento de dados baseados em documentos e sítios eletrônicos de órgãos governamentais que estão atuando na reparação dos efeitos do desastre. Finalmente os registros fotográficos e entrevistas in loco permitiram discutir o arcabouço conceitual e a percepção sobre evento enquanto processo de despojo territorial. As conclusões do artigo revelam a imposição da lógica territorial das mineradoras e um ambiente institucional que não consegue promover as reparações sociais e ambientais decorrentes do desastre, repercutindo em uma situação de instabilidade para os atingidos, que mescla apatia pelo território relacional perdido e esperança por uma nova territorialidade.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

João Mendes da Rocha Neto, Universidade de Brasília – UnB, Brasília, Distrito Federal, Brasil

É Graduado em Geografia; Mestre e Doutor em Administração pela Universidade do Rio Grande do Norte (UFRN). Atualmente é Professor do Programa de Pós-graduação em Administração da Universidade de Brasília, na área de Administração Pública e Políticas Públicas. É Servidor Público Federal do Ministério da Economia, cedido ao Ministério do Desenvolvimento Regional.

Referências

AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS. Plano integrado de recursos hídricos da bacia hidrográfica do rio Doce: relatório executivo. Brasília: ANA, 2016.

ANDRADE, M. C. A questão do território no Brasil. 2. ed. São Paulo: Hucitec, 2004.

ARCURI, M.; LAIA, P. O; SUNER, R. Territórios e patrimônios na lama das negociações: desafios para a museologia comunitária na Barragem de Fundão. Arquivos do Museu de História Natural e Jardim Botânico, Belo Horizonte: UFMG, v. 24, n. 1, p. 209-244, 2015.

AUGUSTO, D. M.; FEITOSA, M. Z.; BONFIM, Z. A. C. A utilização dos mapas afetivos como possibilidade de leitura do território no CRAS. Estudos Interdisciplinares em Psicologia, Londrina, v. 7, n. 1, p. 145-158, jun. 2016.

BARBOSA, F. A. R.; MAIA-BARBOSA, P. M.; NASCIMENTO, A. M. A. et. al. O desastre de Mariana e suas consequências sociais, econômicas, políticas e ambientais: porque evoluir da abordagem de Gestão dos recursos naturais para Governança dos recursos naturais. Arquivos do Museu de História Natural e Jardim Botânico, Belo Horizonte: UFMG, v. 24, n. 1, p. 159-182, 2015.

BECKER, H. S. Falando da sociedade: ensaios sobre as diferentes maneiras de representar o social. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009.

BOURDIEU, P. O poder simbólico. 12 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009.

BRANDÃO, C. Pactos em territórios: escalas de abordagem e ações pelo desenvolvimento. Organizações & Sociedade, [S./l.], v.15, n.45, p. 145-158, 2008.

BRASIL/MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA. Estudos para licitação da expansão da geração: AHE Belo Monte – Avaliação Técnica. Brasília. Empresa de Pesquisa Energética, 2009.

BRUNET, R., FERRAS, R.; THÉRY, H. Les mots de la géographie, dictionnaire critique. Montpellier/Paris: Reclus/La Documentation Française, 1992.

CLAVAL, P. Terra dos Homens. São Paulo: Contexto, 2010.

COELHO, T. P. Projeto Grande Carajás: trinta anos de desenvolvimento frustrado. Marabá, PA: Editorial iGuana, 2015.

COORÊA, R. L. Trajetórias geográficas. São Paulo: Bertrand Brasil, 2001.

CUNHA, L. H.; SILVA, J. I. A. O.; NUNES, A. M. B. A proteção da Natureza em assentamentos rurais e nas RPPN's: conflitos ambientais e processos de territorialização. Revista Raízes, [S./l.], v. 27, n. 1, p. 80-96, 2008.

DEMATTEIS, G. Geografia Democrática, território e desenvolvimento local. Revista Formação, n.12, v.2, p.11-26, 2005.

DNPM. Distribuição CFEM. Disponível em: https://sistemas.anm.gov.br/arrecadacao/extra/relatorios/distribuicao_cfem_muni.aspx?ano=2020&uf=PA

FERREIRA, S. R. B. Marcas da colonialidade do poder no conflito entre a mineradora Samarco, os povos originários e comunidades tradicionais do Rio Doce. In: MILANEZ, B.; Losekan, C (Orgs.). Desastre no Vale do Rio Doce: antecedentes, impactos e ações sobre a destruição. Rio de Janeiro: Folio Digital: Letra e Imagem, 2016. p. 267-310.

FREITAS, Carlos Machado de et al. Desastres em barragens de mineração: lições do passado para reduzir riscos atuais e futuros. Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, v. 28, n. 1, p. 1-4, mar. 2019.

FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. PIB de Minas Gerais: anexo estatístico 2010-2013. Disponível em: http://www.fjp.mg.gov.br/index.php/produtos-e-servicos1/2745-produtointerno-bruto-de-minas-gerais-pib-2.

GUEDES, A. D. Lutas por terra e território, desterritorialização e território como forma social. Revista Brasileira de Estudos Regionais, Recife, v.18, n.1, p.23-39, Jan-abr. 2016.

HAESBAERT, R. O mito da desterritorialização: do fim dos territórios à multiterritorialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.

LAMEIRAS, A. A. Desterritorialização e reorganização das geografias Pessoais: o caso do desemprego. Ensaio metodológico. 2013. 60 f. Dissertação (Mestrado em Geografia), Departamento de Geografia, da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Coimbra, 2013.

L’ESTOILE, B. SIGAUD, L. Caderno de fotos: fotografia e pesquisa de campo. Ocupações de terra e transformações sociais: uma experiência etnográfica coletiva. Rio de Janeiro: FGV, 2006, p. 190-228.

MARTINS, G. I; CLEPS JÚNIOR, J. Nas tramas do discurso: possibilidades teóricas e metodológicas em Michel Foucault. MARAFON, G. J. et. Al (Orgs.). Pesquisa qualitativa em geografia: reflexões teórico-conceituais e aplicadas. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2013. p. 69-88.

MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA. Estudos para licitação da expansão da geração: AHE Belo Monte. Rio de Janeiro: EPE, 2010. Disponível em:

https://www2.aneel.gov.br/aplicacoes/editais_geracao/documentos/062009-ANEXO%209%20-%20Relat%C3%B3rio%20EPE-DEE-RE-019-2010-r0%20Conex%C3%A3o%20do%20UHE%20Belo%20Monte-Rev.pdf

MIRANDA, R. S. Ecologia política e processos de territorialização. Revista Sociedade e Estado, [S./l.], v. 28, n. 1, p. 142-161, Jan/Abr, 2013.

MOREIRA, R. O espaço e o contra-espaço: as dimensões territoriais da sociedade civil e do Estado, do privado ao público na ordem espacial burguesa. SANTOS, M. et. al. (Orgs.). Território, Territórios: ensaios sobre o ordenamento territorial. Rio de Janeiro: DP&A. 2006. p. 71-107.

PASSOS, F. L.; COELHO, P.; DIAS, A. (Des)territórios da mineração: planejamento territorial a partir do rompimento em Mariana, MG. Cad. Metrópole, São Paulo, v. 19, n. 38, pp. 269-297, jan/abr 2017.

RAFFESTIN, C. Por uma geografia do poder. São Paulo: Editora Ática, 1993.

SANTOS, M. A Natureza do Espaço. Técnica e Tempo. Razão e Emoção. São Paulo, Hucitec, 1996.

SAQUET, M. A.; SILVA, S. S. Milton Santos: concepções de geografia, espaço e território. Geo UERJ - Ano 10, Rio de Janeiro, v.2, n.18, p. 24-42, 2008.

SOUZA SANTOS, B. Para além do pensamento abissal: das linhas globais a uma ecologia de saberes. Novos estudos – Cebrap, São Paulo, n. 79, p. 71-94, 2007.

TERRA BRASIS RESEGUROS. Terra Report Edição Especial: Mariana. Disponível em: http://www.terrabrasis.com.br/Content/pdf/.

TUAN, Yi-fu. Paisagens do medo. (Tradução de Lívia de Oliveira). São Paulo: UNESP, 2005.

VALENCIO, N.; SIENA, M.; MARCHEZINI, V. Abandonados nos desastres: uma análise sociológica de dimensões objetivas e simbólicas de afetação de grupos sociais desabrigados e desalojados. Brasília: Conselho Federal de Psicologia, 2011.

VIANA, M. B. Avaliando Minas: índice de sustentabilidade da mineração (ISM). 2012. 372 f. Tese (Doutorado em Política e Gestão Ambiental), Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília, Brasília, 2012.

VIEYRA, J. C.; MASSON, M. Gobernanza con transparencia en tiempos de abundancia: experiencias de las industrias extractivas en América Latina y el Caribe. Juan Cruz Vieyra, Malaika Masson, Editores. 2015.

WANDERLEY, L. J. M. As múltiplas relações espaciais de poder no espaço da mineração. Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina. Universidade de São Paulo, 2005, p. 16449-16472.

Downloads

Publicado

2020-08-19

Como Citar

ROCHA NETO, J. M. da. OS "SEM RIO": populações desterritorializadas pelo desastre ambiental de Mariana. Revista Cerrados, [S. l.], v. 18, n. 02, p. 152–182, 2020. DOI: 10.46551/rc24482692202013. Disponível em: https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/cerrados/article/view/2764. Acesso em: 19 abr. 2024.