Os geogramas da Estrada de Ferro Bahia e Minas no município de Ladainha-MG: entre o apogeu e o ocaso
DOI:
https://doi.org/10.46551/rc24482692202509Palavras-chave:
Patrimônio ferroviário, Vale do Mucuri, Memória coletiva, PaisagemResumo
Este estudo analisa os impactos históricos, materiais e simbólicos da Estrada de Ferro Bahia e Minas (EFBM) em Ladainha, Minas Gerais. Operando por 85 anos (1881-1966), a ferrovia foi essencial para a integração regional e o desenvolvimento socioeconômico. Sua desativação, nos primeiros anos da Ditadura Civil-Militar, levou à remoção dos trilhos, ao sucateamento das locomotivas e à transferência compulsória de centenas de ferroviários. A pesquisa, baseada na teoria dos geogramas de Augustin Berque, investiga as marcas materiais e imateriais da ferrovia na paisagem e na memória coletiva local. A metodologia inclui análise documental, entrevistas, mapeamento e avaliação das estruturas remanescentes. Em 1966, Ladainha contava com 34 edificações ferroviárias, das quais, em 2022, muitas haviam sido demolidas, abandonadas ou ressignificadas. O estudo evidencia a ausência de políticas eficazes de preservação patrimonial e aponta a necessidade de ações públicas para proteger esse legado. Além disso, sugere alternativas como o cicloturismo e espaços museológicos para reforçar a consciência histórica local. Conclui-se que, apesar da ausência física da ferrovia, sua influência permanece viva na identidade e na paisagem ladainhense.
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