Na rua se faz trabalho: música e religiosidade entre rastafaris na periferia paulistana

Autores

  • Marcelo Yokoi Universidade Estadual de São Paulo (USP)

DOI:

https://doi.org/10.46551/issn.2527-2551v20n1p.107-132

Palavras-chave:

Rastafari; Música; Religião; Lazer; Colonialidade.

Resumo

A música se tornou uma das maiores formas de expressão do Rastafari, movimentação cultural que surgiu em 1930 na Jamaica e que durante o seu desenvolvimento estabeleceu conexões entre religiosidade, política, lazer e trabalho. Apesar de sua transnacionalização estar associada à difusão de um veículo da cultura popular, a música reggae, é no nyahbinghi que reside a principal fonte espiritual e musical, sendo ele um serviço (cerimônia ou trabalho espiritual) onde são entoados chants (hinos) ao toque de três tambores principais. Neste artigo serão abordados aspectos da organização de um grupo formado por rastafaris, o Instituto Cultural Bola de Fogo, apresentando reflexões sobre a prática do nyahbinghi a partir do trabalho de campo realizado nas apresentações-rituais que acontecem na cidade. Para uma melhor contextualização, inicialmente trarei algumas considerações históricas sobre o rastafari e sua musicalidade, o que remente a uma política contra o colonialismo e a colonialidade. Passado e presente confluem, bem como o material e o espiritual, trazendo conhecimento ancestral e benesses curativas. Inserido em programações de lazer periférico, percebe-se a importância da política e da religião emergindo nas ruas e espaços públicos na cidade.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Marcelo Yokoi, Universidade Estadual de São Paulo (USP)

Mestre em Antropologia Social pelo PPGAS/UFSCar, doutorando em Antropologia Social pelo PPGAS/USP e membro do Núcleo de Antropologia Urbana (USP), São Paulo, Brasil.

Referências

ANOBA, Ibrahim B. Africa shall stretch her hands unto God: Ethiopianism as a Pan-African Religious Freedom Movement (1880–1940)”. Journal of Church and State, Vol. 64, n.1, pp. 42–67, 2022.

BÂ, Amadou Hampâté. Tradição Viva. In: KI-ZERBO, Joseph (org.). História geral da África, I: Metodologia e pré-história da África. Brasília: UNESCO, 2010.

BARNETT, Michael. From Wareika Hill to Zimbabwe: expliring the role of rastafari in popularizing reggae music. In: BARNETT, Michael & NETTLEFORD, Rex (Orgs). Rastafari in the New Millennium. Nova Iorque: Syracuse University Press, 2014.

BARRETT, Leonard E. The Rastafarians. Boston: Beacon Press, 1997.

BLACKING, John. Música, Cultura e Experiência. Cadernos de Campo, n.16, pp. 201-218, 2007.

BONACCI, Giulia. Exodus!: Heirs and Pioneers, Rastafari Return to Ethiopia. Kingston: The University of the West Indies Press, 2015.

CARDOSO, Vânia Zikán. Narrar o mundo: estórias do "povo da rua" e a narração do imprevisível. Mana 13 (2), 2017.

DAMATTA, Roberto. A Casa e a Rua: espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil. Rio de Janeiro: Rocco, 1997.

DOUGLAS, Mary. Pureza e perigo. São Paulo: Perspectiva, 2019.

FELTRAN, Gabriel de Santis. Periferias, direito e diferença: notas de uma etnografia urbana. Revista de Antropologia, 53(2), 2012.

GROISMAN, Alberto. Eu Venho da Floresta: Um estudo sobre o contexto simbólico do uso do Santo Daime. Florianópolis: Editora da UFSC, 1999.

GROSFOGUEL, Ramon. Para descolonizar os estudos de economia política e os estudos pós-coloniais: transmodernidade, pensamento de fronteira e colonialidade global. Revista Crítica de Ciências Sociais, n. 80, pp. 115-147, 2008.

GILROY, Paul. O Atlântico Negro. São Paulo: Editora 34, 2019.

HARRIS, R. Garveyism and Marxism. Harlem, New York: United Brothers

Communications Systems, 1978.

HARVEY, Amnifu R. A Black Community Development Model: The Universal Negro Improvement Association and African Communities League 1917-1940. The Journal of Sociology & Social Welfare. Vol. 21, n. 1, 1994.

HEBDIGE, Dick. Cut ‘n’ Mix: culture, indetity and Caribbean music. Abingdon: Routledge, 2007.

HOPKINS, Elizabeth. The Nyabinghi Cult of southwestern Uganda. In: ROTBERG, R. (org). Rebellion in Black Africa. Nova Iorque: Oxford University Press, 1971.

LANDER, Edgardo. La colonialidad del saber: eurocentrismo y ciencias sociales, perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: Clacso, 2000.

MAKL, Luis F. Artes musicais na diáspora africana: improvisação, chamada-e-resposta e tempo espiralar. Outra Travessia, n. 11, pp. 55-70, 2011.

MALDONADO-TORRES, Nelson. Analítica da colonialidade e da decolonialidade: algumas dimensões básicas. In: BERNARDINO-COSTA, Joaze; MALDONADO-TORRES, Nelson & GROSFOGUEL, Ramón (Orgs). Decolonialidade e Pensamento Afrodiaspórico. Belo Horizonte: Autêntica, 2020.

MIGNOLO, Walter. La descolonización del ser y del saber. In: MIGNOLO,

Walter; SCHIWY, Freya; MALDONADO-TORRES, Nelson (orgs). Des-colonialidad del ser y del saber: (videos indígenas y los límites coloniales de la izquierda) en Bolivia. Buenos Aires: Del Signo, pp. 25-30, 2006.

PARTRIDGE, Christopher. Dub in Babylon. Londres: Equinox, 2010.

QUIJANO, Aníbal. Colonialidad del poder y clasificación social. Journal of World-Systems Research, v. 11, n. 2, p. 342-386, 2000.

RABELO, Danilo. Rastafári: Identidade e hibridismo cultural na Jamaica – 1930-1981. Brasília, 2006. Tese (Doutorado em História) – Universidade de Brasília.

RECKORD, Verena. From Burru Drums to Reggae Ridims: the evolution of rasta music. In: MURRELL, Nathaniel Samuel; SPENCER, William David; MCFARLANE, Adrian Anthony (orgs). Chanting Down Babylon. Filadélfia: Temple University Press, 1998.

SANTOS, David J. S. Pregando Rastafari por entre as Notas Musicais: As mensagens dos rastas de Alagoas transmitidas pelas canções. Capoeira – Revista de Humanidades e Letras, Vol. 1 (1), pp. 94-106, 2014.

SAVISHINSKY, Neil J. Rastafari in the Promised Land: the spread of a jamaican socio-religious movement among the youth of West Africa. African Studies Review, Vol. 37, No. 3, pp. 19-50, 1994.

SCHECHNER, Richard. The Future of Ritual: writings on culture and performance. Nova Iorque: Routledge, 1995.

_______. Pontos de contato entre o pensamento antropológico e teatral. Cadernos de campo, São Paulo, n. 20, pp. 213-236, 2011.

SHEPPERSON, George. Ethiopianism and African Nationalism. Phylon (1940-1956), Vol. 14, n. 1, pp. 9-18, Clark Atlanta University, 1953.

STEBBINS, Robert A. & ELKINGTON, Sam. The Serious Leisure Perspective: an introduction. Londres e Nova Iorque: Routledge, 2014.

STRAW, Will. System of articulation, logics of change: communities and scenes in popular music. Cultural Studies 53, pp.368-88, 1991.

TAMBIAH, Stanley J. Culture, Thought and Social Action: An anthropological perspective. Cambridge: Harvard University Press, 1985.

TAVARES, Breitner. Na quebrada, a parceria é mais forte: Jovens, vínculos afetivos e reconhecimento na periferia. São Paulo/Brasília, Annablume/Fundo de Apoio a Cultura do Distrito Federal, 2012.

TURNER, Victor. Do Ritual ao Teatro: a seriedade humana de brincar. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2015.

Downloads

Publicado

2023-05-11

Como Citar

Yokoi, M. (2023). Na rua se faz trabalho: música e religiosidade entre rastafaris na periferia paulistana. Argumentos - Revista Do Departamento De Ciências Sociais Da Unimontes, 20(1), 107–132. https://doi.org/10.46551/issn.2527-2551v20n1p.107-132

Edição

Seção

Dossiê