Do trabalho escravo ao trabalho livre: numeramento e escolarização no Brasil, 1830-1940

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DOI:

https://doi.org/10.46551/epp2021947

Resumo

A abordagem histórica da desigualdade social brasileira é um tema central para a análise social e econômica, e entre os componentes da desigualdade e merece destaque a educação. A disseminação limitada da escolaridade até anos bem recentes tem impacto importante na formação de capital humano, mas ainda há muito a avançar nas abordagens históricas quantitativas sobre o tema. O objetivo do artigo é utilizar a chamada preferência por dígitos na declaração de idades como evidência indireta do numeramento e, consequentemente, da escolarização no Brasil em períodos recuados de sua história, nomeadamente o século XIX e a primeira metade do século XX. Os métodos empregados para obter os indicadores de numeramento foram
o índice Whipple e o índice Z. Os dados são das províncias/estados de Minas Gerais e São Paulo em dois pontos separados por um século: a década de 1830 e o ano de 1940. O resultados mostraram um distanciamento entre Minas Gerais e São Paulo após um século de observação. Nesse mesmo período, evidenciou-se um distanciamento dos resultados observados no Brasil em relação a países da Europa para os quais se dispõe de dados semelhantes.
Palavras-chave: desigualdade social; desigualdade educacional; numeramento; capital humano.

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Biografia do Autor

Tarcísio Rodrigues Botelho, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Doutor em História Social pela USP. Professor Adjunto da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

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Publicado

2023-03-01

Como Citar

Rodrigues Botelho, T. (2023). Do trabalho escravo ao trabalho livre: numeramento e escolarização no Brasil, 1830-1940. Revista Economia E Políticas Públicas, 10(2), 197–226. https://doi.org/10.46551/epp2021947