Geografia, ciência e método: uma reflexão no Dia do Geógrafo
Em 29 de maio, comemoramos o Dia do Geógrafo, data que convida à reflexão sobre o papel desse profissional na sociedade e, mais amplamente, sobre a Geografia como ciência comprometida com a análise do espaço e da vida em sociedade. Nesse contexto, o artigo “Geografia: relações científicas e análise de métodos”, de SOUZA, C. Y. V. de e PEREIRA, F. da S. G., publicado na Revista Cerrados (v. 15, n. 02, 2017), oferece uma importante contribuição ao debate sobre os fundamentos epistemológicos e metodológicos da Geografia.
A Geografia como ciência do espaçoO artigo parte do reconhecimento da Geografia como campo de saber que transita entre múltiplas ciências, estabelecendo pontes entre as ciências naturais e as ciências humanas. Essa característica híbrida exige da Geografia um esforço contínuo de definição de seus objetos, escalas e métodos. Nesse cenário, os autores destacam a importância de se compreender os métodos científicos não como receitas prontas, mas como ferramentas para a construção de conhecimento situado, crítico e transformador.
Método e prática científica em GeografiaUm dos pontos centrais do artigo é a relação entre método científico e prática geográfica. Os autores discutem que, historicamente, a Geografia passou por diferentes fases metodológicas: desde uma abordagem mais descritiva e regionalista, passando por tentativas de quantificação e formalização nos anos 1950-60 (com a chamada “nova geografia”), até chegar às abordagens críticas que valorizam o papel dos sujeitos e das relações sociais na construção do espaço.
Nesse percurso, o artigo argumenta que o método não deve ser encarado como um conjunto fixo e universal de etapas, mas como um instrumento que precisa dialogar com o objeto estudado, com a realidade concreta e com o posicionamento ético-político do pesquisador. Essa visão rompe com a ideia de neutralidade científica e assume o compromisso da Geografia com a transformação da realidade social.
Geografia crítica e interdisciplinaridadeOutro ponto relevante abordado no texto é a centralidade da interdisciplinaridade na formação e na atuação do geógrafo. Para compreender a complexidade do espaço, é necessário articular conhecimentos da Sociologia, da Economia, da Biologia, da História, entre outros. O geógrafo, portanto, é um profissional que precisa desenvolver habilidades de leitura crítica da realidade, de análise de dados diversos e de interpretação multiescalar.
O artigo defende que, mais do que aplicar métodos prontos, o geógrafo deve ser capaz de construir caminhos próprios de investigação, combinando técnicas qualitativas e quantitativas, cartografias, estudos de campo, entrevistas, imagens de satélite, entre outros recursos, conforme a necessidade da pesquisa.
Um olhar transformador sobre o espaçoA proposta dos autores é reafirmar a Geografia como uma ciência em constante construção, aberta ao diálogo com outras áreas e comprometida com a compreensão e a transformação do mundo. A análise de métodos, nesse sentido, é mais do que uma questão técnica: é uma dimensão essencial da formação crítica e reflexiva do geógrafo.
No Dia do Geógrafo, vale retomar o convite feito por Souza e Pereira: pensar o método como instrumento de emancipação, capaz de iluminar desigualdades, denunciar injustiças socioespaciais e contribuir para a construção de territórios mais justos e sustentáveis.
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