YVY MARAE ‟Y-terra de outrora: da terra profana à terra sagrada guarani Mbyá da Amazônia paraense

YVY MARAE ‟Y land of once: from the profane land to the sagrada earth guarani Mbyá of the Amazon in Pará

Autores

  • Rosalvo Ivarra Ortiz Universidade Federal da Grande Dourados
  • Almires Martins Machado Universidade Federal do Pará

Palavras-chave:

Guarani, Amazônia, Cosmologia.

Resumo

Há dicotomia sobre até que ponto a interiorização, a dispersão e a caminhada Guarani nos períodos posteriores à conquista ocorreram somente sob o signo de “reação” a esta ou por outras indagações, como dissensos internos ou motivação cosmológica, assim como se o Oguatá (caminhar) ocorria antes da chegada dos colonizadores europeus e se aconteciam, quais seriam os motivos? Assim presente artigo procura analisar sob as óticas da antropologia, a forma como as lideranças religiosas Mbya cumprem os sonhos auferidos de Nhanderú Ete, originando-se a caminhada em direção à Terra Sem Mal, a Yvy Marãe‟Y, retornam ao local de ocupação de outrora ou à terra indicada por Nhanderú, com a qual mantém laços históricos de luta. Os conflitos se intensificam com a demarcação/ampliação dos territórios ou de terra para o Guarani Mbya, como no caso do Pará, que andaram por cerca de cem anos até encontrar a terra onde exercitar o modo correto de se viver; o dissenso potencializa o etnocentrismo, a discriminação, o racismo, o estigma de ser índio, bugre, preguiçoso, alcoólatra, “raça inferior”. A pesquisa versa sobre o modo como "escolhem”, “adotam”, “retomam”, ressignificam, reterritorializam, guaranizam a terra onde pausaram a caminhada. O presente artigo é resultado de uma pesquisa etnográfica e bibliográfica realizada entre o Guarani Mbyá do Pará- Amazonia Meridional do Brasil. Dessa forma, para a elaboração do texto foram analisados vários materiais que foram formulados em outrora acerca da etnia Guarani como Nimuendajú, Shaden, Clastres, Meliá, Chamorro e Litaiff. Assim a nova pesquisa etnográfica comprovou que há diferenças significativas entre as cosmologias Guarani (Mbyá, Kaiowá e Ñandeva), apesar de possuir algumas semelhanças. Portanto, como resultados ficaram evidentes que os Mbyá sempre estão contextualizados com a busca da terra isenta do mal.

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Biografia do Autor

Rosalvo Ivarra Ortiz, Universidade Federal da Grande Dourados

Possui graduação em Licenciatura plena em Ciências Sociais pela Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Federal da Grande Dourados- FCH/UFGD. Atualmente é acadêmico do Mestrado em Antropologia Sociocultural- {Linha de Pesquisa: Arqueologia, Etno-História e Patrimônio Cultural} pela mesma instituição de ensino, com início em 2017. É membro do grupo de pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) GIPEDAS - "Grupo Iberoamericano para Pesquisa e Difusão da Antropologia Sócio-Cultural". Possui artigos publicados no Brasil e na Europa. Filho de indígena Guarani. Pesquisa arte, memória e cosmologia Guarani em Mato Grosso do Sul.  Bolsista: FUNDECT/MS

Almires Martins Machado, Universidade Federal do Pará

Graduado em Direito pelo Centro Universitário da Grande Dourados (UNIGRAN, 2004), Mestrado em Direitos Humanos pela Universidade Federal do Pará (UFPA) 2009. Doutor em Antropologia pela Universidade Federal do Pará (UFPA), 2015. Membro do Núcleo Jurídico do Instituto Indígena Brasileiro para a Propriedade Intelectual (INBRAPI). Pertencente à Etnia Guarani e Terena.

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Publicado

2020-04-06

Como Citar

Ivarra Ortiz, R. ., & Martins Machado, A. . (2020). YVY MARAE ‟Y-terra de outrora: da terra profana à terra sagrada guarani Mbyá da Amazônia paraense: YVY MARAE ‟Y land of once: from the profane land to the sagrada earth guarani Mbyá of the Amazon in Pará. Argumentos - Revista Do Departamento De Ciências Sociais Da Unimontes, 15(2), 222–249. Recuperado de https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/argumentos/article/view/1832

Edição

Seção

Artigos