NOTA EDITORIAL

Autores

  • Alex Fabiano C. Jardim Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES

Resumo

É com enorme satisfação que apresentamos a Poiesis: Revista de Filosofia, v. 13, n. 1,
2016 cujo Dossiê é sobre Gilles Deleuze. Contamos neste número com pesquisadores e
estudiosos do pensador francês de várias Universidades no Brasil. Os temas são
variados, passando pelos problemas da arte, literatura, até às questões em torno da
política. Deleuze pode ser considerado como um dos mais importantes filósofos do
século XX, cuja herança conceitual nos dá condições para problematizar inclusive o
próprio século XXI. A sua obra perpassa várias áreas do pensamento e em todas elas a
sua contribuição é absolutamente relevante. Neste Dossiê Deleuze os autores discutem
justamente essa importância. Alessandro Sales, em seu artigo Deleuze, a Crítica e a
Clínica: do Cinema à Literatura propõe uma conversação entre Deleuze e o cinema,
em especial, o olhar de Deleuze a respeito da implicação entre cinema (diretores e
cineastas) e pensamento. Como diz o próprio Alessandro Sales, Deleuze traça caminhos
“interessantes e iluminadores”. Alex Fabiano, em Gilles Deleuze e uma crítica à ideia
de autor, problematiza a crítica deleuzeana em torno do sujeito/autor na escrita literária
a partir da ideia de experimentação em relação ao conceito de representação e/ou
intencionalidade na escrita, tal como indica uma escrita de caráter fenomenológico
inspirada especialmente no pensamento de Edmund Husserl. O Dossiê Deleuze também
conta com um texto do Benito Eduardo Araujo Maeso intitulado Devires-animais,
Devires-monstro, Devires-vampiro que a partir da obra Kafka: por uma literatura
menor, de Gilles Deleuze, discute a significação erótica da imagem de Drácula e seu
devir-animal. Segundo Benito Eduardo A. Maeso, o “sangue pode ser pensado enquanto
elemento simbólico de força e energia vitais”. No artigo, a discussão proposta é a de
criar um campo problemático a partir da imagem do vampiro, as representações que
giram em torno dessa imagem (‘encarnação do mal, ser das trevas’, etc.), “ou estas
criaturas seriam o contraponto - e por isso mesmo a resposta e a liberação - ao sujeito
domado/dominado/domesticado pela Razão e enredado nos modelos majoritários de
bem, moral, segurança, entre outros?”. Utilizando-se dos conceitos deleuzeanos, o autor
propõe pensar ‘o vampiro’, o que ele personifica, além da transgressão e do desejo
como elementos que transitam na construção desse imaginário. Seguindo a discussão
em torno da literatura na obra de Deleuze, Eziel Belaparte Percino, no artigo
Recherche: a busca da verdade, nos apresenta a leitura de Deleuze da obra de Proust.
Em Proust et les signes, Deleuze apresenta a sua crítica ao problema da relação
pensamento e imagem, enfatizando a importância da implicação signo-pensamento. O
artigo enfatiza a crítica deleuzeana à ideia de que pensamento não é algo natural e nem

fruto de uma boa vontade. Em Proust et les signes, Deleuze adianta questões que
posteriormente ele tratou na obra Diferença e Repetição, de 1969. Teremos no artigo de
Flávia Cristina Silveira Lemos e Leandro Passarinho dos Reis Júnior um outro
problema que foi objeto de preocupação para Deleuze: o problema do fascismo na
contemporaneidade. No artigo cujo título é Algumas contribuições de Deleuze para
pensar a sociedade de controle e o microfascismo, como afirmaram os próprios
autores, “a crítica ao moralismo e ao legalismo bem como ao dever ser naturalizado é
parte das análises realizadas nesse texto”. Pensar as ações que envolvem ódio, terror,
autoritarismo, constituem o que os autores chamam de ‘estética do terror’. O artigo
lança uma crítica à ‘moral das relações’ como suporte e fundamentação das práticas
fascistas na atualidade como elemento que de alguma forma regulam as normas e as
leis. Os autores analisam o conceito de sociedade de controle e a partir dela propõem
uma crítica às instituições e à lógica de mercado que na atualidade determinam o modus
vivendi das pessoas. De certa forma, numa mesma direção política, Larissa Drigo
Agostinho nos apresenta em seu texto uma profunda e consistente crítica operada por
Deleuze e Guattari ao capitalismo. O texto intitulado Por uma anarquia coroada:
ontologia e política em Deleuze e Guattari parte da problemática ideia de
‘fundamento’ e de ‘fundado’, tratado por Deleuze de maneira muito especial em
Diferença e Repetição, que a autora nos convida a pensar juntamente os riscos e perigos
desse conceito e de como ele foi de fundamental importância para Deleuze e também
Guattari no momento em que eles “estendem essa crítica da metafísica (do fundamento)
para a política e demonstrando de que maneira o problema do fundamento é também um
problema político fundamental”. Em Lei, jurisprudência e direito: o que Deleuze
pode nos dizer acerca do espaço jurídico?, artigo de Ester Maria Dreher Heuse e
Paulo Roberto Schneider, Deleuze é pensado no espaço jurídico (também político) e de
como seus conceitos podem contribuir sobremaneira à jurisprudência. É possível haver
lugar para ‘singularidades’ apesar do controle? Segundo os autores Ester Maria e Paulo
Roberto, o pensamento de Deleuze pretende pensar a possibilidade de uma outra
‘relação com a lei’. Para tal, torna-se necessária uma ruptura com a ‘imagem dogmática
do Direito’. Por fim, o Dossiê Deleuze apresenta o artigo Deleuze, Guattari e Marx:
“enunciados das organizações de poder” em vez de “ideologia” de Rodrigo Guéron.
O autor nos apresenta um texto resultado “de um grande estudo que vimos
empreendendo nos últimos anos sobre as relações da filosofia política de Gilles Deleuze

e Felix Guattari com a filosofia política de Karl Marx”. Guéron propõe pensar a
importância de Marx para Deleuze e Guattari, suas aproximações e diferenças, estas
últimas tratadas aqui nesse artigo. Essa ‘singular leitura’ enfatiza especialmente uma
crítica ao conceito de ideologia proposto por Deleuze e Guattari. Segundo Guéron,
Deleuze e Guattari falam de ‘enunciados de poder’ em detrimento do conceito de
ideologia. Esses ‘enunciados de poder’ exercem um papel importante e imprescindível
na ‘estrutura produtiva do capitalismo’. Para Guéron, encontraremos em
Deleuze/Guattari conceitos como significante, agenciamento de enunciação, semiótica
pós-significante, como indispensáveis para entendermos o capitalismo e o que ficou
conhecido como ‘tirania do significante’. Enfim, arte, literatura e política compõem os
artigos deste Dossiê Deleuze. Trata-se de mais uma contribuição aos estudos da obra do
autor francês. As intercessões presentes em seu pensamento são das mais variadas,
assim como a abertura para infinitas conversações que ele possibilita. É como um
grande ‘sistema aberto’, sempre afetado e afetando, levando ao limite aquilo que anima
necessariamente a filosofia, que é a alegria do exercício do pensamento em sua mais
poderosa vivacidade.

Boa leitura a todos.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Downloads

Publicado

2020-03-30

Como Citar

C. Jardim, A. F. . (2020). NOTA EDITORIAL. Revista Poiesis, 13(1), 01–03. Recuperado de https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/poiesis/article/view/1684

Edição

Seção

Editorial