O POLICIAMENTO COMUNITÁRIO ENTRE O APROFUNDAMENTO DEMOCRÁTICO E A PREVENÇÃO CRIMINAL – UMA PROPOSTA DE REVISÃO

Autores

  • Letícia Godinho Fundação João Pinheiro

Resumo

Observa-se recentemente uma rápida difusão de projetos de policiamento comunitário no âmbito da segurança pública brasileira. São exemplos conhecidos as Unidades de Polícia Pacificadora – UPPs, no Rio de Janeiro; as Bases Policiais Comunitárias baseadas no sistema japonês Koban, em São Paulo; o Grupamento Especializado de Policiamento em Áreas de Risco – GEPAR, em Belo Horizonte, entre muitas outras iniciativas proliferadas nos últimos anos. Por um lado, essas iniciativas criam janelas de oportunidade importantes no que se refere à democratização das práticas do sistema de segurança e justiça criminal, em um contexto em que crescem as demandas por maior participação e controle das políticas por parte da sociedade civil. Por outro, sua efetividade – seja em termos de redução da criminalidade seja da sensação de insegurança ou outros possíveis efeitos relacionados justamente ao aprofundamento das instituições democráticas – permanece, ainda, uma incógnita para os estudiosos e gestores do campo. Uma das razões certamente deriva do fato de que o rótulo “policiamento comunitário” tem sido amplamente utilizado sem muita preocupação com sua definição substantiva. Gestores e lideranças políticas usam-no de forma pouco cuidadosa, em razão da imagem positiva que evoca, deixando de investir no aprofundamento de seu conceito e das condições fundamentais e necessárias para sua efetividade. O uso demasiado amplo e descuidado do conceito fez com o “policiamento comunitário” passasse a abranger praticamente todas as inovações recentemente implementadas no âmbito policial (ou talvez no âmbito da própria política de segurança pública, em alguns casos) – desde as reformas mais inovadoras às mais superficiais, das mais cuidadosas às mais casuais. Neste sentido, propõe-se neste estudo uma revisão das teorias que buscaram conceituar o “policiamento comunitário”. Vale notar que cada uma identifica, sob esse conceito, um conjunto bastante variado de elementos característicos, bem como de estratégias empíricas, o que dificulta sua análise e categorização. Nesta revisão, propomos agrupar essas diferentes teorizações a partir de duas perspectivas teórico-políticas, que denominamos de “perspectiva comunitarista” e “perspectiva republicana”. Ambas as perspectivas representam as duas tradições políticas surgidas a partir da ruptura paradigmática ocorrida do campo da segurança pública e da justiça criminal na década de 1980. A partir deste fio condutor, entendemos ser possível compreender a “filiação” política das diferentes estratégias de policiamento comunitário emergentes no cenário recente. Explorá-las torna-se fundamental para desvendar o real significado de projetos de políticas públicas que, com frequência, se autoenunciam como “pragmáticos”, não obstante possuam inspirações teóricas e políticas claras e estejam orientados a objetivos bem definidos.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Letícia Godinho, Fundação João Pinheiro

Doutora em Ciência Política. Pesquisadora e docente da Fundação João Pinheiro, Belo Horizonte/ MG.

Referências

BUREAU OF JUSTICE STATISTICS. Law Enforcement Management And

Administrative Statistics, 2000. 2004. Disponível em: <http://www.bjs.gov/

index.cfm>.

CANEDO, Carlos A.; FONSECA, David S. (eds). Ambivalência, contradição e

volatilidade no sistema penal. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2011.

CLARKE, R. e FELSON, M. Opportunity Makes the Thief: Practical theory

for crime prevention. Police Research Series, Paper 98. London: Home Office,

CRAWFORD, Adam. Crime Prevention and Community Safety. NY: Longman,

CRAWFORD, Adam. The Local Governance of Crime. Oxford University Press,

GODINHO, Letícia . Segurança pública com participação. In: RASIA et alli.

(Org.). Temas da sociologia contemporânea. Rio de Janeiro: 7Letras, 2012,

p. 219-238.

GOLDSTEIN, Herman. A Problem-Oriented Policing. New York: McGraw-Hill,

GOLDSTEIN, Herman. The New Policing: Confronting Complexity. In:

OLIVER, Willard (Org.). Community Policing. New Jersey: Prentice Hall Inc.,

a.

GOLDSTEIN, Herman. Improving policing: a problem-orientend approach.

In Oliver, Wilard (ed). Community Policing; classical readings. Prentice Hall,

b.

KELLING, George L. COLES, Catherine M. Fixing Broken Windows. New

York: Touchstone, 1996.

KELLING, George. Police and Communities: The Quiet Revolution. In:

OLIVER, Willard (Org.). Community Policing. New Jersey: Prentice Hall Inc.,

LIMA, Renato S. ; GODINHO, Letícia ; SANTOS, T. . A participação social no

campo da segurança pública. Desigualdade & Diversidade (PUCRJ), 2013.

Mastrofski, S. and R. Ritti. Making Sense of Community Policing: A

Theoretical Perspective. Police Practice and Research Journal, 2000.

MASTROFSKI, Stephen. Community policing: a skeptical view. In:

WEISBURD; BRAGA (eds). Police Innovation. New York: Cambridge University

Press, 2006.

MASTROFSKI, Stephen. Controlling Street-level Police Discretion. The Annals

of the American Academy of Political and Social Science, 2004.

MOORE, Mark, TROJANOWICZ, Robert e KELLING, George. Crime and

Policing. In: OLIVER, Willard (Org.). Community Policing. New Jersey: Prentice

Hall Inc., 2000.

NATIONAL RESEARCH COUNCIL. Fairness and Effectiveness in Policing:

The Evidence. 2004: 34-5.

NEWMANN, O. Defensible Space: People and Design in the Violent City.

London: Architectural Press, 1972.

NEWMANN, Oscar. Defensible Space. Press release. London, 1997.

REINER, Robert. A política da polícia. São Paulo: Ed. da USP, 2004.

SHERMAN, Lawrence. The sociology and the social reform of the american

police: 1950-1973. Journal of Police Science and Administration. Vol. 2, N. 3,

SKOGAN, Wesley G.. The promise of community policing. In: WEISBURD,

David e BRAGA, Anthony A. (Orgs.). Police Innovation. Cambridge: Cambridge

U. P., 2006.

SKOGAN, Wesley; HARTNETT, Susan. Community Policing, Chicago Style.

Oxford University Press, 1997.

SKOLNICK, Jerome; BAILEY, David. Policiamento comunitário: questões e

práticas através do mundo. São Paulo; Edusp, 2002.

WILSON, James; KELLING, George. Broken Windows: The Police and

Neighborhood Safety. In: OLIVER, Willard (Org.). Community Policing. New

Jersey: Prentice Hall Inc., 2000.

Downloads

Publicado

2021-05-24

Como Citar

Godinho, L. (2021). O POLICIAMENTO COMUNITÁRIO ENTRE O APROFUNDAMENTO DEMOCRÁTICO E A PREVENÇÃO CRIMINAL – UMA PROPOSTA DE REVISÃO. Revista Economia E Políticas Públicas, 1(1), 181–210. Recuperado de https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/economiaepoliticaspublicas/article/view/4256

Edição

Seção

Artigos