eISSN 2236-5257

 

 

Concep��o de corpo na percep��o de graduandos do curso de licenciatura em educa��o f�sica durante o processo de forma��o

 

Conception of body of the perception graduants of course in physical education at the process in formation

 

Priscylla Teixeira Lima[1]

 

 

Resumo: Objetivo: analisar e comparar as concep��es de corpo na percep��o dos graduandos ingressantes e concluintes do curso de Educa��o F�sica no processo de forma��o, na tentativa de identificar as rela��es estabelecidas entre corpo, m�dia e a educa��o f�sica. Metodologia: trata-se de pesquisa de campo de car�ter qualitativo, composta por uma amostra de vinte e tr�s graduandos, sendo onze ingressantes e doze concluintes do curso. Como instrumento para coleta de dados foi utilizado um question�rio contendo seis quest�es abertas e sua interpreta��o se efetivou a partir da an�lise de conte�do. Resultados: apontou-se para uma perspectiva, ainda, fragmentada sobre concep��o de corpo dos ingressantes com rela��o aos concluintes, que mencionam discuss�es amplas e reflexivas da tem�tica. Considera��es finais: cabe ent�o � Educa��o F�sica questionar o papel que vem assumindo na sociedade contempor�nea, principalmente, frente � idolatria e fragmenta��o do corpo, buscando entend�-lo com base em sua constru��o e manifesta��o hist�rica, cultural, est�tica, pol�tica e social.

 

Palavras-chave: Corpo. M�dia. Educa��o F�sica. Graduandos. Forma��o.

 

Abstract: Objective: analyze and compare the conceptions of body of the beginners and graduates of the Physical Education course at the process of formation, in an attempt to identify the of relationships established between body, media and physical education. Methodology: this is a field research qualitative, composed of a sample of twenty-three graduates, eleven beginners and twelve graduates of the course. As an instrument for data collection, a questionnaire containing six open questions was used and its interpretation was carried out based on content analysis. Results: pointed out to a still fragmented perspective on the conception of body of the beginners, in relation to the graduates, who mention broad and reflexive discussions about the themes. Final considerations: it is then up to Physical Education to question the role it has been assuming in contemporary society, especially in the face of the idolatry and fragmentation of the body, seeking to understand it based on its construction and manifestation historical, cultural, aesthetic, political and social.

 

Keywords: Body. Media. Physical Education. Graduates. Formation.

 

 

 

INTRODU��O

 

A concep��o de corpo sempre esteve atrelada aos valores predominantes em cada momento hist�rico da sociedade. Nos �ltimos anos, os debates relacionados a este tema tomaram grandes propor��es, tornando-se de extrema import�ncia, principalmente, �queles que lidam com esse tema em diferentes espa�os sociais.

A aten��o e os cuidados com o corpo foram ou n�o se adaptando a mudan�as de valores e interesses pol�ticos, sociais e econ�micos, de acordo com os objetivos a serem alcan�ados em cada sociedade.1-2As concep��es sobre o corpo, elaboradas durante o per�odo medieval,, n�o resultaram unicamente de uma ruptura com os modelos da Antiguidade Cl�ssica. Os modelos corporais, os valores e a utiliza��o do corpo se transformam, mas tamb�m guardam o registro de sensibilidades vindas de �pocas diferentes. Algumas concep��es presentes nos s�culos I e II prepararam o terreno para as concep��es crist�s durante o per�odo medieval.3

Na Idade M�dia, �o corpo era percebido como centro dos acontecimentos, tendo uma idolatria divina sobre ele e uma consequente separa��o do corpo profano e esp�rito-mente (cogito) sagrado�, segundo Gon�alves e Azevedo4 (2007, p.204). Assim, a moral crist� impedia qualquer tipo de pr�tica corporal com fins de culto ao corpo, pois o mesmo poderia tornar a alma sagrada, em impura. Por muito tempo, este pensamento se mant�m presente nos pensamentos dos fil�sofos antigos e medievais.

De acordo Medina5 (1991), com o �cogito cartesiano� de Descartes � a mente quem passa a ser privilegiada em detrimento a mat�ria, dando a entender que estas s�o coisas separadas e distintas. Este fato exerceu grande influ�ncia sobre o pensamento ocidental, ensinando-nos a valorizar mais o trabalho intelectual do que o manual e a aprendermos, de modo fragmentado, sem possuir a compreens�o do todo.

Na Renascen�a, �o significado [do corpo] passa a ter bases cient�ficas, servindo de objeto de estudos e experi�ncias, no qual a disciplina e o controle corporais eram preceitos b�sicos� de acordo com Gon�alves e Azevedo4 (2007, p.205). Assim, todas as atividades f�sicas, relacionadas ao corpo, eram prescritas por regras r�gidas, buscando a sa�de corp�rea.

Na Idade Moderna, devido ao desfacelamento da estrutura feudal e a desestrutura��o de poder da Igreja Cat�lica, surge um novo modo de pensar o homem e sua rela��o com o corpo. Este novo contexto traz um modelo de �corpo-m�quina�, socialmente oprimido, manipul�vel e domesticado.

Segundo o Coletivo de Autores6 (1992), a Europa em fins do s�culo XVIII e in�cio do s�culo XIX tornou-se palco da edifica��o e materializa��o de uma nova sociedade onde os exerc�cios f�sicos tiveram um papel de destaque. Nesse contexto, a nova sociedade exigia a constru��o de um novo homem, que atendesse �s suas necessidades.

� dentro deste contexto, de acordo com Soares7 (2001), que a Educa��o F�sica (Gin�stica) surge a servi�o dos interesses do modo de produ��o capitalista, como um meio/disciplina que deve ser capaz de viabilizar a constru��o deste novo homem, forte, viril e adestrado, que atenda aos interesses da nova burguesia em ascens�o. A Educa��o F�sica passa a cuidar igualmente dos aspectos mentais, intelectuais, culturais e f�sicos, devendo ser viabilizada em todas as inst�ncias para a consolida��o deste novo homem, seja no campo, na f�brica, na fam�lia, na escola7, desempenhando assim, seu papel disciplinador e moralizador. A autora elucida, ainda, que a Educa��o F�sica passa a se ocupar de um corpo a-hist�rico, �meticulosamente estudado e cientificamente explicado�, dentro de uma vis�o positivista, negando-se o funambulismo, as pr�ticas circenses ou qualquer outra pr�tica que levasse o homem a indol�ncia, letargia, imoralidade7.

E, por muito tempo, a Educa��o F�sica esteve a servi�o dos ideais m�dico-higienistas e do eugenismo, promovendo a assepsia social, moralizando a sociedade, �melhorando e regenerando a ra�a�. Desse modo, cuidar do corpo significava, tamb�m, �cuidar da nova sociedade em constru��o, uma vez, que a for�a de trabalho produzida e posta em a��o pelo corpo [era] fonte de lucro�, segundo Coletivo de autores6 (1992, p.51).

No s�culo XX, como retrata Costa e Otesbelgue8 (2011), a sociedade capitalista traz consigo uma contradi��o que, ainda, se faz presente em nossas estruturas sociais. Por um lado, o individualismo exacerbado, por outro, a busca de uniformiza��o dos pensamentos, sentimentos e a��es humanas. Neste contexto, cada vez mais, a padroniza��o de corpos, o narcisismo e a sua transforma��o em mercadoria crescem, tornando-o palco de experi�ncias, mutila��es e consertos, para melhor atender a produtividade corporal e a um padr�o socialmente aceito como o �ideal�.

 

E na contemporaneidade, que ou quais faces assumem o corpo em rela��o � educa��o f�sica?

 

Como j� mencionada anteriormente, a influ�ncia m�dico-higienista foi marcante no s�culo XIX e in�cio do s�culo XX. Segundo Bracht9 (1999), no Brasil, esse pensamento exerceu grande influ�ncia sobre a sociedade em que a Educa��o F�sica foi vista como a �s�ntese perfeita da educa��o e da sa�de�, colaborando para formar um indiv�duo produtivo, robusto e saud�vel. Posteriormente, ela serviu a preceitos militaristas (1930 a 1945), ao competitivismo, voltando-se � t�cnica e ao desempenho (1964), e, a partir da d�cada de 80 e 90, incorporou discursos das �reas humanas e sociais, possibilitando a abertura de uma postura mais cr�tica ou progressista sobre o corpo e a pr�pria Educa��o F�sica como elucidam Silva, Ludorf, Silva e Oliveira10 (2009).

Para os autores supracitados, a populariza��o das academias de gin�stica e das atividades de fitness, em fins dos anos 80, vinculou a Educa��o F�sica ao fen�meno do culto ao corpo. Este fato vem ganhando hoje, cada vez mais, destaque dentro da l�gica de produ��o capitalista que evidencia a todo o momento, principalmente atrav�s do discurso midi�tico, a preocupa��o com a apar�ncia corporal.

No decorrer dos �ltimos anos, a tentativa de tornar o corpo, �independente� e mais �belo�, vem ganhando um n�mero de adeptos cada vez maior.Reconstru�-lo mediante ao aux�lio dos avan�os cient�ficos e tecnol�gicos de modo a ganhar mais juventude e sa�de n�o deixa de ser uma promessa fascinante a diferentes �pocas da civiliza��o, mas foi na atual sociedade que o corpo conquistou um espa�o in�dito na m�dia e uma banaliza��o importante no cotidiano, tanto das grandes quanto das pequenas cidades.3

Para Mugnaini2 (2007), uma das marcas da sociedade moderna � a valoriza��o e o interesse pelo corpo sobre diferentes justificativas. Segundo Nicolino et al11 (2010, p.439), dizem que �na atual conjuntura, privilegia-se a apar�ncia f�sica como definidora da representa��o social, a busca por um corpo belo, esculpido e delineado�. Se este ideal n�o for alcan�ado, o que foi propagado pelo discurso midi�tico contempor�neo, gera um sentimento de culpa, de irresponsabilidade, o que acaba justificando a utiliza��o de in�meros m�todos de interven��o, sejam eles: implantes de silicone, anabolizantes, cirurgias a laser, exerc�cios f�sicos, dentre outros.12

Assim, cria�se, a todo instante, a necessidade de consumo dentro de uma cultura que privilegia a apar�ncia f�sica como definidora da �representa��o social do corpo�, o que incentiva a busca por um corpo �belo�, esculpido e delineado, apontado como o �ideal� como sin�nimo de sa�de e de uma melhor aceita��o social. Diante deste contexto, a gradua��o de Educa��o F�sica deve constituir-se em um espa�o que oportunize, aos discentes, a compreens�o cr�tica e o questionamento a essa �idolatria� narcisista de corpo. A Educa��o F�sica entendida como produtora de sa�de vinculada socialmente na contemporaneidade.

Sendo assim, o estudo se prop�s analisar e comparar as concep��es de corpo na percep��o dos graduandos do curso de Licenciatura em Educa��o F�sica no processo de forma��o, na tentativa de identificar as rela��es estabelecidas entre corpo, m�dia e a Educa��o F�sica, tendo a pretens�o de contribuir para uma reflex�o sobre a forma��o destes profissionais.

M�TODOS���������

������ ����������������������������������������������

Trata-se de uma pesquisa direta de campo de car�ter qualitativo. A pesquisa de campo � aquela utilizada com o objetivo de conseguir informa��es acerca de um problema.13 O estudo de cunho qualitativo deve apresentar caracter�stica �compreensiva, hol�stica, ecol�gica, humanista, bem adaptada para a an�lise minuciosa da complexidade, pr�ximas das l�gicas reais, sens�vel ao contexto no qual ocorrem os estudos�, como elucidam Silva e Silveira14 (2007, p.151).

Este estudo foi aprovado pelo Comit� de �tica em Seres Humanos da Universidade do Estado da Bahia - UNEB, conforme a Revolu��o 466/2012/CONEP/CNS/MS, tendo como protocolo de aprova��o de n�mero 1.048.429 e CAAE: 43810117.4.0000.0057.

Como instrumento para levantamento dos dados, utilizou-se de question�rio, por entender que deixaria os participantes da pesquisa mais livres para explanarem suas opini�es. O question�rio continha seis quest�es abertas, com pontos referentes ao objetivo do estudo. As quest�es foram elaboradas pelas autoras, a partir de dados da literatura.

Procedeu-se, ent�o, a coleta dos dados, atrav�s da aplica��o de question�rios a vinte e tr�s acad�micos, sendo distribu�dos de forma aleat�ria com ades�o volunt�ria, para onze ingressantes e doze concluintes do Curso de Licenciatura em Educa��o F�sica em uma Universidade do Estado da Bahia.

Somente responderam aos question�rios aqueles que consentiram em participar da pesquisa, conforme as diretrizes �ticas para esse tipo de estudo. A aplica��o dos question�rios ocorreu nas salas dos ingressantes e concluintes, com termo de autoriza��o institucional da universidade.

A interpreta��o dos dados se efetivou a partir da an�lise de conte�do, mediante o estabelecimento de tr�s tem�ticas: �Concep��o de corpo�, �Vis�o de corpo pela sociedade� e �Como � visto o corpo pela Educa��o F�sica�. Vale ressaltar, que as tem�ticas foram elaboradas de acordo os contextos hist�rico e social das imagens do corpo na sociedade, atribu�das ao corpo, a m�dia e a Educa��o F�sica.

A an�lise do conte�do compreendeu tr�s fases: a pr�-an�lise (organiza��o), explora��o do material (administrar as decis�es tomadas na pr�-an�lise) e tratamento de dados, infer�ncia e interpreta��o (tornar os dados v�lidos e significativos).15

Para contextualizar cada tem�tica, foi utilizado o referencial te�rico. As respostas de todas as quest�es foram agrupadas de acordo com as tem�ticas, sendo analisadas a partir dos crit�rios de repeti��o e de relev�ncia.16

������������������������������������������������� ����������������������������������������������������������������������������������������������������������

 

 

 

DISCUSS�O E AN�LISE DOS DADOS

 

Concep��o de Corpo

Na primeira quest�o, o objetivo era saber quais as opini�es dos ingressantes sobre concep��o de corpo. Eles o relacionaram de tal forma,

 

Corpo � um conjunto de membros, formados por c�lulas que em conjunto formam essa estrutura f�sica chamada corpo f�sico e em suas demandas, se divide em f�sico (�rg�os e membros) e ps�quico (mente) capaz de pensar e agir com autonomia. (ingressante 1)

 

� todo o meio f�sico que constitui o meu eu. Na vis�o de mundo o corpo seria uma esp�cie de embalagem de produto, ele sendo bonito, ter� uma influ�ncia positiva sobre o todo. (ingressante 8)

 

 

Nota-se nos depoimentos acima, que os ingressantes possuem vis�es superficiais sobre a referida tem�tica, eles veem o corpo apenas como um conjunto de estruturas que formam um f�sico e um ser ps�quico. Tamb�m, � not�rio uma vis�o do discurso midi�tico, que traz o corpo humano como um mero objeto. Essas compress�es s�o vindas do hist�rico dualismo corpo-alma e corpo-mente que, para Romero (2005, p. 37 apud SILVA, 2009)10, � a partir dele �que a civiliza��o se faz e se impregna de divis�es. Divis�es essas, nitidamente, presentes na Educa��o F�sica de hoje. Nos dias atuais, �o corpo � um simples suporte da pessoa, um objeto dissociado do homem, uma estrutura pass�vel de ser modificada, cujas pe�as podem ser substitu�das�. 10

���������� Diante da mesma quest�o, os concluintes mencionaram,

 

O corpo n�o � somente um peda�o de carne que se move, somos corpos pensantes, dotados de sentimentos, emo��es, express�es e dores (concluinte 1).

 

Corpo sujeito, que possui caracter�sticas individuais. Diferentes do corpo objeto massificado pela sociedade (concluinte 2).

 

Hoje tenho entendimento que o corpo tomou denota��es diferentes ao longo da hist�ria, onde n�o � um objeto �escravo da mente�, mas sim eles correlacionam-se (concluinte 6).

 

 

Pode ser constatado que os concluintes possuem uma maior maturidade ao tratar do tema proposto, visto que eles deixam de lado o discurso midi�tico e partem para discuss�es mais aprofundadas adquiridas ao longo da vida acad�mica, em que o corpo deixa de ser apenas estruturas e ganha denota��es diferentes. Como elucida Medina5 (1991, p.24), o �corpo � o pr�prio homem e como tal n�o pode ser somente um objeto, mas sim o sujeito, o produtor e o criador da hist�ria�. O corpo, como se sabe, � mut�vel. Ele muda e � valorizado de acordo com a �poca, com a idade, com as pessoas, com as culturas. Sua forma se altera a depender da situa��o. Al�m disso, as concep��es de corpo foram constru�das e transformadas em objeto manipul�vel pela produ��o capitalista que o evidencia a todo momento atrav�s do discurso midi�tico.

Depois de confrontarmos as respostas, foi observado uma vis�o menos ampla e poucos argumentos para uma discuss�o mais elaborada, por parte dos ingressantes. Em rela��o aos concluintes, eles conseguiram criticar e discutir os conceitos sobre corpo veiculados pela m�dia, devido a sua trajet�ria dentro da universidade, o que proporcionou uma reflex�o acerca da Educa��o F�sica.

 

Vis�o de corpo pela sociedade

Com base na quest�o, quais os modelos de corpo perfeito veiculados pela m�dia? Foi poss�vel averiguar que todos os ingressantes participantes da pesquisa conseguiram perceber e fizeram cr�ticas � imposi��o, de um ideal de corpo a ser atingido, e, a transforma��o dele pela sociedade, em mercadoria a ser consumida, como se verifica nas falas abaixo,

 

Para a m�dia, �corpo perfeito� � um corpo bem definido para homens e mulheres, com formas estruturais, magros e definidos. Se n�o estamos dentro dos padr�es tidos como �corpo perfeito,� recebemos cr�ticas influ�ncia na auto-estima, no comportamento � uma imposi��o injusta que acaba por envolver a maioria das pessoas (ingressante 1).

 

A m�dia divulga um produto, que imediatamente se expande por toda a sociedade. A id�ia de corpo perfeito se torna pelo exterior: seios perfeitos, sem gorduras, a beleza est�tica e mais importante do que a sa�de [...].(ingressante 2).

 

Os modelos de corpo veiculado pela m�dia e um corpo bem definido, isso acaba prejudicando a constru��o da imagem corporal, que tenho em mente, onde as pessoas buscam a perfei��o a cada dia, e colocando sua sa�de em risco, para agrada a sociedade e ser aceita por ela (ingressante 11).

 

 

Diante da mesma tem�tica, os concluintes relataram,

 

A m�dia coloca como �corpo perfeito� aquele corpo magrinho com belas curvas, bumbum empinado, pernas torneadas, enfim um corpo malhado. Esses modelos de �corpo perfeito� n�o interferem em nada na constru��o da minha imagem corporal por que sou feliz com o corpo que tenho e ele n�o est� dentro dos padr�es que a m�dia [...] (concluinte 5).

 

O corpo perfeito vinculado pela m�dia se configura em um corpo objeto, onde o mesmo deve seguir os par�metros de medidas voltados a um corpo magro [...]. (concluinte 7).

 

Al�m das vis�es e constitui��es estabelecidas e postas pela m�dia. Em busca do corpo perfeito atrav�s da est�tica e est� necessariamente n�o se coloca vinculada a melhora qualidade de vida, da sa�de, do bem-estar, e sim a forma��o de um corpo belo e robusto (concluinte 8).

 

A m�dia estabelece um padr�o de corpo perfeito de homens e mulheres, com formas estruturais de m�sculos a mostra, al�m de divulgar seu produto de bens de consumo, que auxiliam na busca de um corpo ideal, com o intuito de formar um corpo �nico. Para Nicolino et al.11 (2010), a busca por um corpo esculpido e delineado, atribui-se uma melhor aceita��o social. Se este ideal n�o for alcan�ado, gera um sentimento de culpa, de irresponsabilidade, o que acaba justificando a utiliza��o de in�meros m�todos de interven��es, sejam eles, implantes, cirurgias a laser, silicone, anabolizante e medicamentos.

Neste sentido, a cultura do corpo passou por v�rios momentos, ora por uma valoriza��o excessiva, ora por uma desvaloriza��o, como postula Medina17 (1993, p. 75-76), que �a partir do s�culo passado, com a ascens�o da burguesia, � cristalizada uma nova ordem social e sedimentada a toda escala de valores que, cal�ada na ideologia burguesa, determina e condiciona a cultura do corpo nessa nossa era tecnol�gica�. Segundo o autor, em se tratando de lucro, as ci�ncias acabam deixando de lado a quest�o da qualidade de vida, pois muitos indiv�duos s� querem o resultado imediato de um corpo que se enquadra nos padr�es de beleza, sem levar em conta as consequ�ncias.

Os relatos dos ingressantes apontam que os modelos de corpo perfeito, transmitido pela a m�dia, influenciam na imagem corporal deles, apesar de ter em mente a sua pr�pria imagem corporal. J� os concluintes, relatam que esse modelo ideal de corpo n�o interfere na sua imagem, pois est�o satisfeitos com seu pr�prio corpo, demonstrando pouca influ�ncia em suas vidas, tanto que traz a quest�o da qualidade de vida, a sa�de e o bem-estar, em destaque.

 

Como � visto o corpo pela Educa��o F�sica

Ap�s o ingresso no curso, apenas dois ingressantes relataram que sua compreens�o sobre corpo mudou com pouco tempo como universit�rio. Veja nas falas abaixo,

 

Acreditava que s� era saud�vel aquele que era musculoso. Mais entrei em contanto com outras realidades e chequei ao ponto de que o corpo n�o � um produto, mais sim, um bem nosso (ingressante 3).

 

Agora eu reflito sobre o que � corpo. Com pouco tempo como universit�rio, j� pude percebe dimens�es de corpo que nunca havia pensado antes (ingressante 4).

 

Ao serem questionados de que forma o corpo deve ser tratado pela Educa��o F�sica, os ingressantes mencionaram,

Devem ser tratados de forma inclusiva, visando a melhora na qualidade na vida das pessoas, fazendo com que as pessoas mudem essa vis�o de que �corpo perfeito� � aquele bem definido, mas sim um corpo saud�vel (ingressante 1).

 

A educa��o f�sica busca educar o corpo, fazer dele saud�vel, a postura, a for�a, a agilidade, o bem-estar do corpo (ingressante 3).

 

O corpo deve ser tratado como um bem-estar, sa�de e n�o como modelo (ingressante 11).

 

poss�vel identificar nas falas acima, que ainda h� ran�os de uma vis�o de Educa��o F�sica com ideais higienistas, associadas a regenera��o e purifica��o da ra�a, que era defensora de um corpo saud�vel e disciplinado, com o intuito de ter uma sociedade limpa, ordenada e moralizada.6

Neste contexto, a Educa��o F�sica (Gin�stica) surge a servi�o dos interesses do modo de produ��o capitalista, como um meio disciplinador capaz de viabilizar a constru��o de novo homem, forte, viril e adestrado que atenda aos interesses da nova burguesia em ascens�o. Ela deveria cuidar igualmente dos aspectos mentais, intelectuais, culturais e f�sicos, necessitando ser viabilizada em todas as inst�ncias, para a consolida��o deste novo homem, seja no campo, na f�brica, na fam�lia e na escola.7

Outra resposta, mencionada pelo ingressante (7), � que a Educa��o F�sica deve abordar o corpo em toda sua totalidade. Ainda, percebe-se certa dicotomia no entendimento que esse ingressante tem sobre o corpo,

 

A Educa��o F�sica deve ser tratada em toda sua totalidade �corpo e mente� (ingressante 7).

 

 

Diante disso, a dicotomia corpo e mente ganhou for�a na modernidade, caracterizando um dualismo psicof�sico entre a mat�ria (corpo) e esp�rito (alma). Com isso, a Educa��o F�sica trabalharia com �mexe� o corpo. Dessa forma, o corpo era compreendido como f�sico.18 Por�m, segundo Merleaw- Ponty19 (1994), o corpo n�o pode ser visto como uma soma de partes, mas sim um meio de viv�ncia e de experi�ncias em sua integralidade.

Ap�s o ingresso no curso, as compreens�es sobre o corpo, pelos concluintes, mudaram em rela��o aos novos conhecimentos que s�o oferecidos, discutidos, levando-os a possu�rem novas vis�es em termos de concep��es e percep��es de corpo, adquirindo um senso cr�tico mais amplo e reflexivo. Veja,

 

Pude perceber com o curso que o corpo � mais que um objeto ele se torna um sujeito a partir no momento que se percebe no mundo como se pensante (concluinte1).

 

Ap�s o ingresso no curso passei a ter uma vis�o mais ampla em rela��o ao corpo. Entender como esse corpo � vinculado pela m�dia foi constru�do, e compreender melhor a concep��o de corpo (concluinte 9).

 

Imposs�vel n�o mudar, pois novos conhecimentos s�o oferecidos, discutidos e novas percep��es s�o feitas, observadas, e diante disso a compreens�o sobre corpo � formada e tamb�m desenvolvida (concluinte 11).

 

 

����������� Os concluintes mencionam respostas com conceitos diferenciados de como corpo deve ser tratado pela Educa��o F�sica. Veja nas falas abaixo,

 

O corpo sofreu denota��es diferentes atrav�s da hist�ria. Esses corpos hist�ricos criaram elementos que foram passados por gera��es, tais elementos s�o considerados os elementos da cultura corporal que foi produzido historicamente pelo homem devem ser acess�veis para os outros homens. A Educa��o F�sica tem o papel de disseminar de maneira pedag�gica esses elementos da cultura corporal (concluinte 6).

����������

A Educa��o F�sica por ser o principal elemento em que tem o �movimento� como principal foco, acaba por vincular-se integralmente ao corpo imparcial do individuo. Devendo ser tratado e discutido com caracter�sticas, distin��es de ser para ser, sem parcialidade f�sica e psicol�gica, sempre posta pela sociedade, principalmente pelo produto da m�dia (concluinte 8).

 

 

 

O concluinte (6) faz uma discuss�o ampla sobre o corpo, desde Antiguidade at� Contemporaneidade. Durante esses per�odos, o corpo foi adaptando a mudan�as de valores e interesses pol�ticos, sociais e econ�micos de acordo com os objetivos a serem alcan�ados em cada sociedade. 1-2

Percebe-se que o ser humano, atrav�s do seu corpo, pode assimilar e apropriar valores, normas e costumes sociais. Nesta perspectiva, o corpo n�o foge das influ�ncias culturais contidas na sociedade. Essas influ�ncias culturais de movimentos est�o inseridas nos principais conceitos da Educa��o F�sica. Conceitos esses que a Educa��o F�sica deve ter na sua atua��o na cultura de movimento. Segundo Daolio (2001, p. 35),20 �h� que se considerar, primeiro, a hist�ria, a origem e o local daquele grupo espec�fico e, depois, suas representa��es sociais, emolduradas pelas suas necessidades, seus valores e seus interesses�.

Diante disso, entende-se a Educa��o F�sica, como uma �rea de conhecimento da cultura corporal de movimento, tem como objetivo produzi-la, reproduzi-la, transform�-la e introduzi-la, em qualquer uma das suas modalidades, que s�o: os jogos, os esportes, as dan�as, as lutas e as ginasticas. Cada uma, dessas modalidades, possui benef�cios aos seus praticantes, desde a manuten��o � melhoria na qualidade de vida.

Diante dos relatos apresentados, foi verificado que ingressantes possuem uma vis�o de ideais higienista e uma certa dicotomia no entendimento sobre o corpo. E, os concluintes trazem argumentos amplos e reflexivos acerca do tema.

 

CONSIDERA��ES FINAIS

 

Nos relatos dos ingressantes foi percept�vel perceber vis�es fragmentadas no que se referem ao corpo, como: estruturas f�sicas e ps�quicas, deixando prevalecer essa dicotomia, e, respaldam muito em discursos midi�ticos, n�o tendo maturidade para o discernimento, pelo fato de ter curto espa�o de tempo de ingresso no curso.

Em rela��o aos concluintes, que j� passaram por uma s�rie de discuss�es amplas e reflexivas ao longo do curso, � garantida uma maturidade acerca do tema, deixando de lado a dicotomia estruturas f�sica/ps�quicas, que tanto prevalece nas falas dos ingressantes. Eles veem o corpo em toda sua totalidade, sabendo que n�o � poss�vel dividi�lo. Al�m disso, os concluintes deixaram os discursos midi�ticos, pois o modelo ideal de corpo n�o interfere na sua imagem, demonstrando pouca influ�ncia em suas vidas, tanto que traz a quest�o da qualidade de vida e a sa�de. Isso s�o apontamentos de uma trajet�ria dentro da universidade que trazem reflex�es cr�ticas e discernimento.

Vale ressaltar, que o curso contribui muito para a forma��o, trazendo pensamentos e reflex�es, desmistificando o que a sociedade acredita, dando aos graduandos condi��es de tecerem discuss�es mais aprofundadas, questionar e repensar criticamente as vis�es de corpo, presentes nesta �rea, e a quem ou quais interesses ela serviu e vem servindo.

Abstrai-se da pesquisa um importante papel a Educa��o F�sica questionar a fun��o que vem assumindo na sociedade contempor�nea, principalmente, frente � idolatria e fragmenta��o do corpo, buscando entend�-lo com base em sua constru��o e manifesta��o hist�rica, cultural, est�tica, pol�tica e social.

 

REFER�NCIAS����

 

1.       CARVALHO, Y. M. Corpo e Hist�ria: o corpo para os gregos, pelos gregos, na Gr�cia Antiga. In: SOARES, Carmen L�cia (org.). Corpo e Hist�ria. - Campinas, SP: Autores Associados, 2001, p.164-175.

 

2.       MUGNAINI, J. R. Atividades f�sicas e o corpo na concep��o de graduandos de Educa��o F�sica: uma an�lise das pr�ticas corporais de universit�rios da regi�o de Limeira. 2007. Disserta��o de Mestrado, Universidade Estadual Paulista.

 

3.       SANT�ANNA, D. B. � poss�vel realizar uma hist�ria do corpo? In: SOARES, Carmen L�cia (org.). Corpo e Hist�ria. - Campinas, SP: Autores Associados, 2001, p. 3-23.

 

4.       GON�ALVES, A. S.; AZEVEDO, A. A. A re-significa��o do corpo pela Educa��o F�sica Escolar, face ao estere�tipo constru�do na contemporaneidade. Pensar a Pr�tica 10/2: 201-219 jul./dez. 2007.

 

5.       MEDINA, J. P. S. O brasileiro e seu corpo: educa��o e pol�tica do corpo. 3 ed. Campinas: Papirus, 1991.

 

6.       COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino de Educa��o F�sica. S�o Paulo: Cortez, 1992.

 

7.       SOARES, C. L. Educa��o F�sica: ra�zes europ�ias e Brasil. 2 ed. rev. Campinas, SP: Autores Associados, 2001.

 

8.       COSTA, �. M.; OTESBELGUE, R.C. Concep��o de corpo: a realidade vivida por acad�micos de Educa��o F�sica na ESEFFEGO.EFDeportes.com, Revista Digital. Ano 16 � N� 156 | Buenos Aires, Maio de 2011. Dispon�vel em: http://www.efdeportes.com/ Acesso em: set. 2011.

 

9.       BRACHT, V. A constitui��o das teorias pedag�gicas da educa��o f�sica. Caderno Cedes, Campinas, SP, v. 19, n. 48, p. 69-88, ago. 1999.

 

10.    SILVA, A. C. et al. A vis�o de corpo na perspectiva de graduandos em Educa��o F�sica: fragmentada ou integrada? Movimento (ESEF/UFRGS). Porto Alegre, v. 15, n. 03, p. 109-126, julho/setembro de 2009.

 

11.    NICOLINO, A. S. et al. Concep��es de corpo, educa��o e Educa��o F�sica no contexto escolar. IV Congresso Centro-Oeste de Ci�ncias do Esporte. I Congresso Distrital de Ci�ncias do Esporte, 2010. ISSN 2178-485X.Dispon�vel em: http: www.scielo.com.br Acesso em: set. 2015.

 

12.    ALMEIDA, A. C. N et al. Corpo, est�tica e obesidade: reflex�es baseadas no paradigma da ind�stria cultural. Caderno de Estudos. Goi�nia: Ed. da UCG, v. 33, n. 9/10, set./out. 2006, p. 789-812.

 

13.    LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Fundamentos de metodologia cient�fica. 5 ed. rev. e ampl. S�o Paulo: Atlas, 2003.

 

14.    SILVA, J. M.; SILVEIRA, E. S. Apresenta��o de trabalhos acad�micos: normas e t�cnicas. 2. ed. Petr�polis, RJ: Vozes, 2007.

 

15.    GIL, A. C. M�todos e t�cnicas de pesquisa social. 5. ed. 2. reimpr. S�o Paulo: Atlas. 2006.

 

16.    TURATO, E. R. Tratado da metodologia da pesquisa cl�nico-qualitativa: constru��o te�rico-epistemol�gica, discuss�o comparada e aplica��o nas �reas da sa�de e humanas. 2 ed. Petr�polis, RJ: Vozes, 2003.

 

17.    MEDINA, J. P. S. A educa��o f�sica cuida do corpo...e �mente�: bases para renova��o e transforma��o da educa��o f�sica. 11. ed. Campinas, SP: Papirus, 1993.

18.    CARBINATTO, M. V.; MOREIRA, W. W. Corpo e sa�de: a religa��o dos saberes. Revista Brasileira de Ci�ncias do Esporte, Campinas, SP, v. 27, n. 3, p. 185-200, 2006.

 

19.    MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da percep��o. S�o Paulo: Martins Fontes, 1994.

 

20.   DAOLIO, J. A antropologia social e a educa��o f�sica: possibilidades de encontro. In: CARVALHO, Y. M. de; R�BIO K. (Orgs.) Educa��o f�sica e ci�ncias humanas. S�o Paulo: Hucitec, 2001, p. 27-38.

 

 

Recebido em 25/03/2018

Corre��es em 25/07/2019

Aceito em 23/10/2019

����� Publicado em 14/05/2020

 



[1] Especializa��o em Atividade F�sica, Sa�de e Sociedade (UNEB). Bahia. Brasil. * (pris_cylla_t_l@hotmail.com). (https://orcid.org/0000-0002-9308-7779 ).