REVISTA NORTE MINEIRA
DE ENFERMAGEM
ISSN: 2317-3092
Recebido em:
14/10/2021
Aprovado em:
02/06/2022
Como citar este artigo
Costa FM, Cardoso LL, Souto AMR, Gomes DL,
Nassau DC, Lafetá KRG, Silva PM, Carneiro JA,
Martins AMEBL. Validação do relato de
vacinação contra hepatite B como medida da
situação vacinal entre universitários da área da
saúde. Rev Norte Mineira de enferm. 2021;
10(2):112-120.
Autor correspondente
Fernanda Marques da Costa
Centro Universitário FIPMoc/Afya
UNIFIPMoc/Afya de Montes Claros-MG
Correio eletrônico:
fernanda.costa@professor.unifipmoc.com.br
ARTIGO ORIGINAL
VALIDAÇÃO DO RELATO DE VACINAÇÃO CONTRA HEPATITE B
COMO MEDIDA DA SITUAÇÃO VACINAL ENTRE UNIVERSITÁRIOS
DA ÁREA DA SAÚDE
Validation of the hepatitis B vaccination report as measures of the
vaccination status among university students in the health
Fernanda Marques da Costa1, Leonardo Lamêgo Cardoso2, Aletheia Maria Rodrigues Souto3, Daniela
Lopes Gomes4, Daniella Cristina Nassau5, Katia Regina Gandra Lafetá6, Patricia Mameluque e Silva7,
Jair Almeida Carneiro8, Andréa Maria Eleutério de Barros Lima Martins9.
1 Professora do Centro Universitário FIPMoc/Afya UNIFIPMoc/Afya de Montes Claros-MG, Brasil.
fernanda.costa@professor.unifipmoc.com.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3008-7747.
2 Estudante de Medicina do Centro Universitário FIPMoc/Afya UNIFIPMoc/Afya de Montes
Claros-MG, Brasil. leonardolamegoc@hotmail.com. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4087-
0591.
3 Professora do Centro Universitário FIPMoc/Afya UNIFIPMoc/Afya de Montes Claros-MG, Brasil.
aletheia.souto@professor.unifipmoc.edu.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3443-4547.
4 Professora do Centro Universitário FIPMoc/Afya UNIFIPMoc/Afya de Montes Claros-MG, Brasil.
daniela.gomes@professor.unifipmoc.edu.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3289-5526.
5 Professora do Centro Universitário FIPMoc/Afya UNIFIPMoc/Afya de Montes Claros-MG, Brasil.
daniellanassau@yahoo.com.br. ORCID:https://orcid.org/0000-0003-3351-9979.
6 Professora do Centro Universitário FIPMoc/Afya UNIFIPMoc/Afya de Montes Claros-MG.
katia.gandra@gmail.com. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1331-0596.
7 Professora Centro Universitário FIPMoc/Afya UNIFIPMoc/Afya de Montes Claros-MG, Brasil.
patricia.silva@professor.unifipmoc.edu.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3554-381X.
8 Professor do Centro Universitário FIPMoc/Afya UNIFIPMoc/Afya de Montes Claros-MG, Brasil.
jair.carneiro@orientador.unifipmoc.edu.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9501-918X.
9 Professora do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Universidade Estadual de
Montes Claros-MG, Brasil. martins.andreamebl@gmail.com. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-
1205-9910.
DOI: https://doi.org/10.46551/rnm23173092202100212
Avaliou-se a validade do relato de vacinação como uma medida da situação vacinal e os
fatores associados à discordância da situação vacinal medida pelo relato e registrada no
cartão vacinal. Estudo transversal cujos dados foram coletados utilizando um formulário
com variáveis sociodemográficas, acadêmicas, de saúde geral e comportamentais. Para
avaliar a validade do relato de vacinação foram calculadas a Sensibilidade (S),
Especificidade (E), Valor Preditivo Positivo (VPP), Valor Preditivo Negativo (VPN) e
Acurácia sendo o registro no cartão vacinal o padrão ouro. A concordância foi avaliada
pela estatística Kappa. O relato de vacinação foi considerado não válido (baixa S, alta E,
baixo VPN, alto VPP, concordância suave e acurácia razoável) e inadequado para estimar
a prevalência da vacinação. A discordância foi maior entre os mais jovens, que nunca
foram expostos a perfurocortantes, entre aqueles cuja família possui maior número de
dependentes e entre os graduandos em enfermagem. Essa discordância aumentou
conforme o aumento do índice de massa corporal (IMC). Os acadêmicos devem ser
sensibilizados acerca da importância da vacinação, da manutenção do cartão vacinal
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atualizado.
DESCRITORES: Hepatite B, Vacinação, Acadêmicos da Área da Saúde.
The validity of the vaccination report was evaluated as a measure of the vaccination
status and the factors associated with the disagreement of the vaccination status
measured by the report and recorded in the vaccination card. Cross-sectional study
whose data were collected using a form with sociodemographic, academic, general
health and behavioral variables. To assess the validity of the vaccination report,
Sensitivity (S), Specificity (E), Positive Predictive Value (PPV), Negative Predictive Value
(NPV) and Accuracy were calculated. Agreement was assessed using Kappa statistics.
The vaccination report was considered invalid (low S, high E, low NPV, high PPV, smooth
agreement and reasonable accuracy) and inadequate to estimate the prevalence of
vaccination. Disagreement was greater among the youngest, who had never been
exposed to sharps, among those whose family has a greater number of dependents, and
among undergraduate nursing students. This disagreement increased as the body mass
index (BMI) increased. Academics should be made aware of the importance of
vaccination, of keeping the vaccination card updated.
Keywords: Hepatitis B, Vaccination, Health Academics.
INTRODUÇÃO
As hepatites virais são doenças causadas por diferentes agentes etiológicos, de distribuição universal, que têm em comum o
hepatotropismo1. A Hepatite B (HB) é um problema de saúde blica em todo o mundo, atingindo cerca de 350 milhões de
pessoas, ou seja, 5% da população do planeta2. A Organização Mundial de Saúde estima que, aproximadamente, 2 bilhões de
pessoas no mundo já tiveram contato com o Vírus da Hepatite B (VHB) e que 325 milhões se tornaram portadores crônicos3.
A vacinação é o método mais indicado para a prevenção da transmissão do Vírus da HB3. No ato da vacinação, os profissionais
das salas de vacinas solicitam o cartão vacinal para registro e explicam a importância da conservação do documento, visto a
significância da história vacinal prévia para a continuidade adequada da vacinação, ou ainda para se evitar a aplicação de doses
desnecessárias. No Brasil, a cultura do cuidado insuficiente com esse documento acrescido a questões particulares de alguns
brasileiros tais como escolaridade precária e analfabetismo funcional fazem com que relatar o status vacinal do passado se
torne difícil4.
Em geral, os pesquisadores, diante da ausência de registros da vacina, acabam trabalhando com o relato de vacinação5,6, que
muitas vezes pode ser incoerente com a realidade7. Portanto, um estudo comparativo entre o relato de vacinação e o registro
no cartão vacinal é pertinente na medida em que possibilita a validação ou não do uso do relato para pesquisas. Embora o
relato possa ser incoerente com a realidade, quando válido, facilita a coleta de dados e, muitas vezes, possibilita a realização
de estudos quando o registro não está disponível. Além disso, é importante identificar os fatores associados à discordância
entre relato e registro (relato que não foi vacinado e registro da vacinação no cartão / relato que foi vacinado e ausência de
registro da vacinação no cartão), tendo em vista que os acadêmicos que desconhecem sua situação vacinal registrada em seu
cartão, ou ainda aqueles que acreditam ter sido vacinados e na realidade não foram, precisam ser sensibilizados sobre a
importância de se vacinar e manter o cartão atualizado.
O estudo com os acadêmicos da área da saúde torna-se importante por se tratar dos futuros profissionais da saúde que serão
também modelo de conduta para a população. Acredita-se que esses acadêmicos serão a base do sistema de saúde e,
portanto, protagonistas do seu desenvolvimento e melhorias futuras8. Diante do exposto, avaliou-se a validade do relato de
vacinação como uma medida da situação vacinal, os fatores associados à discordância da situação vacinal medida pelo relato e
registrada no cartão vacinal.
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MÉTODO
Estudo transversal analítico conduzido de maio de 2012 a setembro de 2015 entre ingressantes em cursos superiores da área
da saúde (enfermagem, farmácia, medicina e odontologia) de Instituições de Ensino Superior (IES) de Montes Claros, MG. Foi
avaliada uma amostra não probabilística para população infinita, com estimativa de proporções da ocorrência dos eventos em
50% da população, grau de confiança de 95%, erro de 3,5%, perfazendo um total de 784 acadêmicos que ingressaram nos
cursos da área da saúde nos anos de 2012 e 2013. Foram acrescidos 20% para compensar as possíveis perdas. A cada semestre
os ingressantes nos citados cursos foram convidados a participar do estudo até o alcance da amostra estimada. Ao realizar o
convite para participar da pesquisa era solicitado que o acadêmico levasse o cartão vacinal para a conferência da situação
vacinal quanto a HB.
Os dados foram coletados por meio de observação do cartão vacinal e entrevista com o uso de um formulário previamente
testado entre acadêmicos de outros períodos não considerados no estudo. Esse formulário foi submetido a teste-reteste, com
intervado de 30 dias, com reprodutibilidade avaliada pelo coeficiente Kappa, que apresentou valores 0,61 para todas as
perguntas. O relato da vacinação foi avaliado pelas seguintes questões vo foi vacinado contra HB? Se sim, responda
quantas doses recebeu”. Com o intuito de avaliar a validade do relato foi feita a análise dos registros de vacinação contra
hepatite B e do número de doses tomadas no cartão de vacinas. As entrevistas e avaliação do cartão vacinal foram feitas por
estudantes de graduação em enfermagem que foram previamente treinados para correta interpretação dos registros do cartão
vacinal.
Para verificar a validade do relato de vacinação, foram estimadas a Sensibilidade (S), a Especificidade (E), o Valor Preditivo
Positivo (VPP), o Valor Preditivo Negativo (VPN) e Acurácia do relato de vacinação em relação ao registro no cartão vacinal
(padrão ouro). Também, foi estimada a estatística Kappa. A sensibilidade foi pela divisão do número de acadêmicos que
relataram ter vacinado pelo total de acadêmicos da amostra que tinham efetivamente sido vacinados de acordo com o padrão-
ouro. A especificidade foi obtida pela divisão do número de acadêmicos que relataram não ter se vacinado pelo total de
acadêmicos que efetivamente não tinham sido vacinados. O VPP foi o quociente dos que declararam ter se vacinado e que de
fato o tinham dividido por todos os que declararam ter; e o VPN, o quociente dos que declararam não ter se vacinado e que
efetivamente não tinham dividido pelo total dos que declararam não ter se vacinado. A acurácia foi o resultado da soma dos
que declaram acertadamente ter se vacinado e não ter recebido a vacina, dividido pelo total de acadêmicos na amostra.
Para avaliar a concordância entre as fontes de dados (relato de vacinação do estudante e a informação registrada no cartão
vacinal) calculando-se a estatística Kappa, que é uma medida utilizada quando se deseja estimar a concordância nos casos em
que a variável em estudo é do tipo qualitativa. A interpretação do coeficiente considerou a metodologia proposta por Landis e
Koch9, que definem que o coeficiente Kappa pode ser classificado como: menor que 0 = concordância pobre; 0,00 a 0,20 =
desprezível; 0,21 a 0,40 = suave; 0,41 a 0,60 = moderada; 0,61 a 0,80 = substancial ou grande; 0,81 a 1,00 = perfeita. A
discordância entre o relato de vacinação e o registro do cartão de vacinas ocorreu quando o registro não confirmava o relato
ou o relato foi confirmado pelo registro. Assim, foi definida a variável dependente discordância, buscando caracterizar os
indivíduos que desconheciam seu verdadeiro estado vacinal (por relatar que estavam vacinados e não estavam ou por estarem
vacinados e relatarem o contrário).
Para avaliar os fatores associados à discordância do estado vacinal relato/cartão de vacinação as variáveis independentes
foram aspectos sócios econômicos e demográficos, aspectos acadêmicos, saúde geral e comportamentos relacionados à saúde.
-Aspectos socioeconômicos e demográficos: sexo; idade em anos; situação conjugal, com quem mora, cidade de origem, possui
filhos, trabalha além de estudar, anos de estudo do pai; anos de estudo da mãe. As variáveis contínuas idade e escolaridade
foram categorizadas (o ponto de corte foi a média em função das variáveis apresentarem distribuição simétrica).
- Aspectos acadêmicos: curso da área da saúde, anos de estudo (o ponto de corte foi a média), cursou outra faculdade.
- Saúde geral: o índice de massa corporal (peso/altura2), presença de doença (s) sistêmica (s) diagnosticada (s) por um médico
(não/sim) e tatuagem (não/sim).
- Aspectos comportamentais: foi questionado se haviam casos de HB na família, se o indivíduo teve algum contato com
portadores de HB ou com perfurocortantes.
As análises estatísticas foram realizadas utilizando o software PASW® (Predictive Analytics Software) versão 18.0 for Windows.
Os dados foram submetidos a uma análise descritiva. Foi realizada a análise bivariada e múltipla, utilizando a Regressão
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Logística para testar a associação entre a discordância do estado vacinal relato/cartão de vacinal e as variáveis independentes.
Inicialmente, foram incluídas na análise múltipla, as variáveis associadas na análise bivariada com valor p < 0,20. Depois cada
uma das variáveis foi incluída uma a uma para ajuste do modelo final. Também para o ajuste do modelo final utilizou-se o teste
Hosmer and Lemeshow. Adotou-se um nível de significância de 5% (p≤ 0,05). O estudo atendeu os princípios éticos da
Resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS) n°466/12 e foi aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa (CEP/ SOEBRAS
n°01758/11).
RESULTADOS
Foram convidados a participar do estudo 960 acadêmicos. Desses 690 (71,9%) possuíam cartão vacinal. A caracterização dos
acadêmicos que participaram do estudo foi distribuída segundo aspectos sociodemográficos, acadêmicos, da saúde geral e
comportamentais (Tabela 1).
Tabela 1- Caracterização dos acadêmicos da área da saúde que possuíam cartão vacinal Montes Claros-Minas Gerais.
ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS E DEMOGRÁFICOS
n (690)%
Sexo
n (%)
Feminino
545 (79,0)
Masculino
145 (21,0)
Idade (média=21 anos DP=4,6)
22 anos e mais
163 (23,6)
Até 21 anos
527 (76,4)
Situação conjugal
Com companheiro
66 (9,6)
Sem companheiro
624 (90,4)
Com quem mora
Com familiares e/ou cônjuge
512 (74,2)
Com colegas ou sozinho
178 (25,8)
Possui filhos
Sim
68 (9,9)
Não
622 (90,1)
Trabalha, além de estudar
Não
514 (74,5)
Sim
176 (25,5)
Quantos dependem da renda
Menos de 4 pessoas
241 (34,9)
4 pessoas e mais
449 (65,1)
ASPECTOS ACADEMICOS
Curso da área da saúde
Enfermagem
198 (28,7)
Farmácia
159 (23,0)
Medicina
76 (11,0)
Odontologia
257 (37,2)
Cursou outra faculdade na área da saúde
Não
639 (92,6)
Sim
51 (7,4)
SAÚDE GERAL e COMPORTAMENTO
Doença Sistêmica
Não possui doença
575 (83,3)
Sim tem ou teve doença
115 (16,7)
Tatuagem
Não
477 (69,1)
Sim
213 (30,9)
Contato com perfurocortantes no trabalho
Não trabalha
557 (80,7)
Não possui contato
39 ( 5,7 )
Possui contato
94 (13,3)
Contato com portadores de hepatite B
Não
637 (92,7)
Sim
53 (7,7)
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Para o estudo de validação, foram consideradas as respostas de relato de vacinação de 690 acadêmicos que possuíam o cartão
vacinal. Houve concordância entre relato/registro para 454 acadêmicos (65,79%), com coeficiente Kappa de 0,36 (suave). A
Sensibilidade da medida de relato de vacinação foi de 44,44%, a Especificidade de 96,14%. O VPP foi de 94,24%, enquanto o
VPN foi de 54,9%. A Acurácia do relato em função do padrão ouro foi de 65,79%, a prevalência de vacinação auto-referida foi
de 27,68% enquanto a prevalência conforme o padrão ouro foi de 58,69% (Tabela 2).
Tabela 2 Propriedades da medida de auto relato de vacinação contra Hepatite B em comparação ao registrado no cartão vacinal. Montes Claros, MG. (n=690)
Registro no Cartão de Vacinas
Vacinado
Não vacinado
Total
180 (a) (44,44%)
11 (b) (3,86%)
191
225 (c) (55,56%)
274 (d) (96,14%)
499
405
285
S = a/(a+c) = 44,44%; E = d/(b+d) = 96,14%; VPP = a/(a+b) = 94,24%; VPN= d/(c+d) = 54,90%; acurácia = a+d/(a+b+c+d) = 65,79%; prevalência auto-referida =
(a+b)/(a+b+c+d) = 27,68%; prevalência conforme padrão-ouro = (a+c)/(a+b+c+d) = 58,69%; kappa= 0,365.
Na análise bivariada, variáveis pertencentes aos aspectos socioeconômicos, acadêmicos, saúde geral e comportamentais com
p≤0,20 foram consideradas elegíveis para a análise múltipla (Tabela 3).
Tabela 3 - Análise bivariada dos fatores associados à discordância da condição vacinal medida pelo relato e pelo registro no cartão vacinal entre acadêmicos da
área da Saúde, Montes Claros (n=690).
ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS E
DEMOGRÁFICOS
DISCORDÂNCIA
n (%)
Discordaram
Concordaram
OR
Bruta /IC
95%
Valor p
Sexo
Feminino
545 (79,0)
181 (33,2)
364 (66,8)
1
Masculino
145 (21,0)
55 (37,9)
90 (62,1)
1,22(0,84-0,79)
0,28
Idade (média=21 anos DP=4,6)
22 anos e mais
163 (23,6)
28 (17,2)
135 (82,8)
1
Até 21 anos
527 (76,4)
208 (39,5)
319 (60,5)
3,14 (2,01-4,89)
0,00
Situação conjugal
Com companheiro
66 (9,6)
11 (16,7)
55 (83,3)
1
Sem companheiro
624 (90,4)
225 (36,1)
399 (63,9)
2,82 (1,44-5,49)
0,00
Com quem mora
Com familiares e/ou cônjuge
512 (74,2)
168 (32,8)
344 (67,2)
1
Com colegas ou sozinho
178 (25,8)
68 (38,2)
110 (61,8)
1,26 (0,88-1,80)
0,19
Possui filhos
Sim
68 (9,9)
14 (20,6)
54 (79,4)
1
Não
622 (90,1)
222 (35,7)
400 (64,3)
2,14 (1,16-3,94)
0,01
Trabalha, além de estudar
Não
514 (74,5)
195 (37,9)
319 (62,1)
1
Sim
176 (25,5)
41 (23,3)
135 (76,7)
0,49 (0,33-0,73)
0,00
Quantos dependem da renda
Menos de 4 pessoas
241 (34,9)
61 (25,3)
180 (74,7)
1
4 pessoas e mais
449 (65,1)
175 (39,0)
274 (61,0)
1,88 (1,33-2,66)
0,00
ASPECTOS ACADEMICOS
Curso da área da saúde
Enfermagem
198 (28,7)
40 (20,2)
158 (79,8)
1
Farmácia
159 (23,0)
60 (37,7)
99 (62,3)
2,39(1,49-3,84)
0,00
Medicina
76 (11,0)
24 (31,6)
52 (68,4)
1,82(1,03-3,30)
0,04
Odontologia
257 (37,2)
112 (43,6)
145 (56,4)
3,05(1,99-4,67)
0,00
Cursou outra faculdade na área da saúde
Sim
51 (7,4)
14(27,5)
37 (72,5)
1
Não
639 (92,6)
222(34,7)
417 (65,3)
1,40(0,74-2,75)
0,29
SAÚDE GERAL e COMPORTAMENTO
Doença Sistêmica
Não possui doença
575 (83,3)
189(32,9)
386 (67,1)
1
Sim tem ou teve doença
115 (16,7)
47(40,9)
68 (59,1)
1,41(0,93-2,12)
0,10
Tatuagem
Validação do relato de vacinação contra hepatite B
117
Rev Norte Mineira de enferm. 2021; 10(2): 112-120.
Não
477 (69,1)
155(32,5)
322 (67,5)
1
Sim
213 (30,9)
81(38,0)
132(62,0)
1,27(0,91-1,78)
0,15
Contato com perfurocortantes no trabalho
Não trabalha
557 (80,7)
209(37,5)
348 (62,5)
1
Não possui contato
39 ( 5,7)
5(12,8)
34 (87,2)
1,96 (1,18-3,26)
0,00
Possui contato
94 (13,3)
22 (23,4)
72 (76,6)
0,48 (0,16-1,38)
0,00
Contato com portadores de hepatite B
Não
637 (92,7)
225(35,3)
412 (64,7)
1
Sim
53 (7,7)
11 (20,8)
42 (79,2)
0,48(0,24-0,95)
0,03
Na análise múltipla, constatou-se que a discordância entre o relato de vacinação e o registro no cartão vacinal foi maior entre
os mais jovens, que não foram expostos a perfurocortantes, entre aqueles cuja família possui maior número de dependentes e
entre os graduandos em enfermagem. Essa discordância aumentou conforme o aumento do IMC (Tabela 4).
Tabela 4: Modelo final dos fatores associados à discordância entre relato de vacinação contra HB e registro no cartão vacinal entre acadêmicos da área de
saúde. Montes Claros.
Variáveis Independentes
OR ajustada
IC 95%
p valor
Idade
Mais de 22 anos
1
Até 22 anos
2,49
1,51-4,11
0,00
Número de dependentes da renda familiar
Até 4
1
Mais de 4
1,63
1,12-2,36
0,01
Curso
Enfermagem
1
Farmácia
2,18
1,33-3,56
0,00
Medicina
1,38
0,75-2,58
0,30
Odontologia
2,17
1,39-3,40
0,00
IMC
1,07
1,01-1,12
0,00
Contato com perfurocortante
Não
1
Não possui contato
3,79
1,42-2,13
0,00
Possui contato
1,31
0,75-2,28
0,33
DISCUSSÃO
A concordância do relato de vacinação contra HB em relação ao registro no cartão vacinal (padrão ouro) foi baixa (kappa=0,36),
foi menor que a concordância entre o relato de vacinação contra tétano e o registro no cartão entre gestantes de Campinas
SP (kappa 0,42)7. Essa baixa concordância sugere o desconhecimento dos acadêmicos de sua situação vacinal, também
revelado pela baixa sensibilidade, pois muitos acadêmicos com registro de vacina no cartão desconheciam sua situação vacinal
(Falso Negativo). .
Os resultados deste estudo mostraram que a acurácia do relato de vacinação contra HB em relação ao padrão ouro foi
considerada razoável (65,7%). Entretanto, a mensuração dessa propriedade do auto-relato depende de que os respondentes
tenham conhecimento da sua situação, capacidade de recordar aspectos relacionados à saúde e desejo de informar
corretamente10. Dessa forma, esperava-se uma maior acurácia do relato de vacinação contra HB tendo em vista que a esta
investigação foi realizada entre acadêmicos da área da saúde. Esses acadêmicos serão os futuros profissionais e, portanto,
deveriam estar sensibilizados para sua situação de saúde incluindo os cuidados com a vacinação e deveriam relatar de forma
correta sua situação vacinal. Todavia, uma baixa prevalência de relato de vacinação (52,5%) havia sido identificada em
estudo prévio entre profissionais de saúde no município de Montes Claros-MG5. Esses dados podem sugerir negligência com a
própria saúde entre acadêmicos da área da saúde e que essa situação pode perdurar durante a vida profissional.
A partir dos resultados deste estudo evidencia-se a necessidade de sensibilização dos acadêmicos da área saúde quanto à
importância de se completar o cartão vacinal tão logo entrem na faculdade e que essa conduta perdure durante a vida
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profissional. A imunização entre os acadêmicos da área da saúde pode ser assegurada pela solicitação do comprovante de
vacinação e do teste anti-HBs atualizados, no ato da matrícula, antes do início das atividades práticas dos cursos. Tal medida foi
adotada para os cursos de medicina e enfermagem por cinco países europeus, também foi recomendada por outros nove
países11. Todavia, no Brasil, essa medida depende da iniciativa das próprias instituições de ensino, uma vez que no país, não
existem dispositivos legais que assegurem essa conduta12.
Foi observada alta especificidade do relato de vacinação contra HB, ou seja, a maioria que respondeu que não era vacinado
realmente não era (verdadeiros negativos). O VPP do relato de vacinação foi de 94,2%, indicando que a maior parte dos
indivíduos que se declararam vacinados de fato o eram. Tal VPP é decorrente da alta especificidade do relato e da prevalência
de vacinação de mais de 50% na população estudada13. Ressalta-se que quanto maior a prevalência do evento, maior será o
valor preditivo positivo e menor será o valor preditivo negativo, ou seja, quanto mais frequente é o evento mais provável é
encontrar verdadeiros positivos (aumentando o VPP), mas também será mais provável encontrar falsos negativos (diminuindo
o VPN)13.
Este estudo mostrou que o relato de vacinação, pelo menos no caso da vacina contra HB, não é uma boa estratégia para
estimar a prevalência. Verificou-se uma prevalência auto-referida (27,6%) muito diferente da determinada pelo padrão-ouro
(58,6%), diferindo de estudos que avaliaram a validade do auto-relato na estimativa da prevalência para doenças como a
hipertensão e o diabetes mellitus, que por sua vez, encontraram prevalências muito próximas na comparação entre relato e
padrão-ouro10,13. Quanto aos fatores associados à discordância entre relato e padrão-ouro, verificou-se que ela foi maior entre
os acadêmicos mais jovens e que nunca tiveram contato com perfurocortante no trabalho. Tais resultados podem estar
relacionados à maior consciência adquirida ao longo da idade e, principalmente, após a exposição ao risco. Indivíduos mais
jovens ou que nunca trabalharam em serviços que poderiam gerar contato com perfurocortantes, se comparados aos mais
velhos e que tiveram contato com perfurocortantes, podem ter tido menos oportunidades de serem sensibilizados quanto à
importância da vacina contra HB, talvez por meio de campanhas ou atualizações, e por isso fizeram um relato de vacinação
diferente do registro no cartão6,14.
A discordância entre relato e o registro no cartão foi maior entre aqueles que pertencem a famílias com maior número de
dependentes da renda familiar, o que pode ser explicado pelo fato de que em famílias mais numerosas com mais dependentes
o cuidado dos pais ou responsáveis pode nem sempre ser realizado a contento15 e que acadêmicos oriundos dessas famílias
talvez desconhecessem a realidade de sua situação vacinal e, por isso, referiram uma situação diferente da realidade. Também
foi observado que a discordância aumenta com aumento do IMC o que, provavelmente, pode ser reflexo de que
comportamentos negligentes com a saúde se repetem, ou seja, aqueles que não cuidam do peso, o que pode levar a
complicações de saúde, podem também não se preocupar com outras atitudes profiláticas incluindo a vacinação e, por isso,
acabam por desconhecer sua situação vacinal16,17.
Os acadêmicos dos cursos de farmácia e odontologia foram mais discordantes quanto ao relato de vacinação contra HB em
acordo ao cartão vacinal quando comparados aos acadêmicos do curso de enfermagem. Tal situação era esperada, tendo em
vista que a enfermagem é profissão que tem a responsabilidade técnica pelas salas de vacinas. É responsável por todo o
processo de transporte, armazenamento e administração de vacinas, portanto, provavelmente são sensibilizados sobre a
importância da situação vacinal e atualização do cartão desde o ingresso no curso4,11. Dessa forma, esses acadêmicos parecem
conhecer mais sua situação vacinal.
A comparação com outro estudo que avaliasse as propriedades do relato de vacinação contra HB e os fatores associados a
discordância entre relato e registro ficou prejudicada por não haver na literatura estudo semelhante. Os resultados desta
investigação mostraram que, para a população estudada, a utilização da informação de vacinação auto-referida não é válida
em razão da baixa especificidade, acurácia razoável, baixo VPN e baixa concordância. Para que o relato seja uma boa medida
para estudos de vacinação é muito importante que tal medida apresente alta sensibilidade. Ou seja, dos acadêmicos que se
vacinaram, quantos que a medida de relato apresenta, acertadamente, a realidade. A baixa sensibilidade implica em pessoas
que vacinaram e desconhecem esse fato. Isso poderia acarretar em novo esquema vacinal desnecessariamente e
subestimativa da prevalência de vacinação em estudos epidemiológicos.
Quanto à especificidade, quando não houve vacinação, os indivíduos relatam acertadamente que não se vacinaram. Eles
sabem corretamente que não foram vacinados. É uma propriedade desejável, pois não saber é fundamental para que ocorra a
Validação do relato de vacinação contra hepatite B
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vacinação. O falso positivo é baixo, mas, é relevante, pois os indivíduos relatam que foram vacinados quando na verdade não
foram, implicando em negligencia e risco para saúde.
Estudos com base no relato de vacinação contra HB devem ser avaliados com cautela e sempre que possível os estudos sobre
vacinação sejam realizados com base no cartão vacinal (padrão ouro). Além disso, necessidade de maior sensibilização dos
responsáveis pelos cursos da área da saúde em nível nacional e local com relação à criação de um protocolo de rastreamento
da situação vacinal e sorológica para HB no momento do ingresso no curso da área saúde. Tal medida poderá garantir
segurança em caso de contato com perfurocortantes, além de instrumentalizar o estudante com boas práticas de auto cuidado
desde o início da vida acadêmica. Acredita-se que se, de fato, arraigadas as práticas de auto cuidado tendem a perdurar pela
vida profissional fazendo com os profissionais, no futuro, tenham melhores atitudes profiláticas em relação à própria saúde18
CONCLUSÃO
O relato de vacinação apresentou baixa Sensibilidade, alta Especificidade, alto VPP, baixo VPN, baixa concordância e acurácia
razoável. Além disso, o relato não se mostrou adequado para estimar a prevalência de vacinação, portanto, não é uma boa
medida para estudos de vacinação, pois pode levar a uma subestimativa da prevalência de vacinação. Os resultados
evidenciam que a idade, a exposição à perfurocortantes, o tipo de curso e o IMC são fatores associados à discordância.
Ressalta-se a importância de se instituir um plano de acompanhamento da saúde do acadêmico que considere ações de
monitoramento e controle da saúde, incluindo a vacinação contra hepatite B e o acompanhamento do estado sorológico
desses sujeitos. Os acadêmicos devem ser sensibilizados sobre a importância da vacinação, da manutenção do cartão vacinal
atualizado e de conhecer o seu estado vacinal e sorológico e que o relato dessa vacinação pode não ser consistente com o
registro no cartão vacinal. Recomenda-se, portanto, que pesquisadores, sempre que possível, utilizem o registro no cartão
vacinal para pesquisas evitando o uso do relato que nem sempre pode refletir a realidade.
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