REVISTA NORTE MINEIRA
DE ENFERMAGEM
ISSN: 2317-3092
Recebido em:
20/08/
2022
Aprovado em:
22/12/202
2
Como citar este artigo
Cruz GSL, Casacio GDM, Vaz MDZ, Ferreira H,
Zilly A, Silva RMM. Fatores relacionados á lesão
renal aguda em pacientes com COVID-
19. Rev
Norte Mineira de Enferm. 2022; 11(2): 22-31.
Autor correspondente
Gabriela Dominicci de Melo Casacio
Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da
Universidade de São Paulo
Correio eletrônico:
gabrieladominicci@gmail.com
ARTIGO ORIGINAL
FATORES RELACIONADOS À LESÃO RENAL AGUDA EM PACIENTES
COM COVID-19
Factors related to acute kidney injury in patients with COVID-19
Gabrielle de Souza Longuim da Cruz
1
la Dominicci de Melo Casacio
2
, Maryellen Dornelles
Zarth Vaz 3, Helder Ferreira 4, Adriana Zilly5, Rosane Meire Munhak da Silva 6.
1Graduanda em Enfermagem pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná, PR, Brasil,
gabriellelonguimm@gmail.com, ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3538-8610.
2 Doutoranda em Saúde Pública pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de
São Paulo, SP, Brasil, gabrieladominicci@gmail.com, ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9232-
1682.
3 Mestranda em Saúde Pública pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná, PR, Brasil,
hellenzarth@gmail.com, ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1325-7302.
4 Doutor em Ciências pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo,
Universidade Estadual do Oeste do Paraná, PR, Brasil, heelfer@gmail.com, ORCID:
https://orcid.org/0000-0003-0715-8057.
5 Doutora em Ciências biológicas pela UEM, Universidade Estadual do Oeste do Paraná, PR, Brasil,
aazilly@hotmail.com, ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8714-8205.
6 Doutora em Ciências pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto-USP, Universidade Estadual do
Oeste do Paraná, PR, Brasil, zanem2010@hotmail.com, ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3355-
0132.
DOI: https://doi.org/10.46551/rnm23173092202200203
Objetivo: analisar os fatores relacionados ao desenvolvimento da Lesão Renal Aguda em
pacientes com Covid-19 internados em uma Unidade de Terapia Intensiva. todo:
estudo analítico, retrospectivo e transversal, realizado em Foz do Iguaçu, Brasil. Foram
analisados os prontuários de 50 pacientes hospitalizados entre outubro/2020 a
março/2021, por testes Qui-quadrado ou exato de Fischer atribuindo valor de p<0,05.
Resultados: os fatores de risco identificados foram sexo masculino (52%), idade acima
de 60 anos (62%), presença de comorbidades (94%), sobretudo a hipertensão arterial
(68%), uso de ventilação mecânica por tempo maior que sete dias (60%), internação
hospitalar acima de sete dias (82%) e uso de antibióticos (94%) e corticosteroides (96%).
A maioria dos pacientes que necessitaram de hemodiálise (32%), ventilação mecânica
(78%) e com hipertensão arterial (56%) evoluiu ao óbito (78%), com evidência estatística
(p<0,0009). Conclusões: os fatores de risco podem ter contribuído para a progressão da
doença e para a mortalidade.
DESCRITORES: Injúria renal aguda; Coronavírus. Cuidados de enfermagem; Unidades
de terapia intensiva.
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Objective: to analyze the factors related to the development of Acute Kidney Injury in
patients with Covid-19 admitted to an Intensive Care Unit. Method: analytical,
retrospective and cross-sectional study, carried out in Foz do Iguaçu, Brazil. The medical
records of 50 patients hospitalized between October/2020 and March/2021 were
analyzed using Chi-square or Fischer's exact tests, assigning a value of p<0.05. Results:
the risk factors identified were male gender (52%), age over 60 years (62%), presence of
comorbidities (94%), especially high blood pressure (68%), use of mechanical ventilation
for longer than seven days (60%), hospitalization for more than seven days (82%) and
use of antibiotics (94%) and corticosteroids (96%). The majority of patients who required
hemodialysis (32%), mechanical ventilation (78%) and with arterial hypertension (56%)
progressed to death (78%), with statistical evidence (p<0.0009). Conclusions: The risk
factors may have contributed to the progression of the disease and mortality.
KEYWORDS: Acute kidney injury; Coronavirus; Nursing care; Intensive care units.
INTRODUÇÃO
Em 2019, a doença Coronavirus Disease 2019 (COVID-19) foi identificada pela primeira vez na cidade de Wuhan, na China, e se
disseminou rapidamente pelo mundo em razão da sua fácil transmissibilidade. No Brasil, a primeira notificação ocorreu em
fevereiro de 2020 e, até julho de 2022, atingiu 32,9 milhões de pessoas, com 674 mil mortes(1).
A Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus 2 (SARS-CoV-2) corresponde à infecção viral que desencadeia o processo
inflamatório sistêmico, afetando principalmente o sistema respiratório. Enquanto as baixas quantidades de citocina circulante
contribuem para o aparecimento de sintomas, como febre e dispneia leve, alta resposta inflamatória pode levar à falência de
múltiplos órgãos, lesão renal, síndrome respiratória aguda grave, sepse e pneumonia severa(2-3).
Estudo norte-americano encontrou um mero significativo de pacientes internados por Covid-19 que evoluíram para Lesão
Renal Aguda (LRA)(4), com forte associação com a mortalidade(5). Pesquisa realizada no Reino Unido mostrou que 26,7% dos
pacientes com Covid-19 desenvolveram LRA(6), maior do que os valores encontrados no Brasil em pacientes sem o diagnóstico
de Covid-19, onde a prevalência é de 7,5%(7).
Embora a patogênese da LRA seja multifatorial, a resposta inflamatória causada pelo SARS-CoV-2 pode reduzir as taxas de
filtração glomerular e aumentar os níveis de creatinina, e outros biomarcadores, o que causa diminuição importante da função
renal. Hematúria e proteinúria são achados comuns em pacientes com Covid-19 que evoluíram para LRA, especialmente em
casos mais graves(4).
Os principais fatores de risco para a associação entre Covid-19 e LRA são a intubação e a ventilação mecânica prolongada, a
idade avançada e as comorbidades (diabetes mellitus, hipertensão e obesidade)(6,8). Além disso, estão relacionados à
nefrotoxicidade(8) muitos tratamentos medicamentosos utilizados em pacientes com Covid-19 nas UTI, como vancomicina,
azitromicina, remdesivir e lipinavir.
As complicações causadas pela LRA envolvem encefalopatia, pericardite, lesão renal crônica e insuficiência respiratória, sendo
um preditor para a mortalidade, principalmente quando associada à Covid-19(9).
Diante da alta incidência e morbimortalidade da LRA, o enfermeiro atua como elemento fundamental na prevenção da doença,
ao identificar os sintomas de forma precoce e assertiva, bem como no cuidado ao paciente complexo, ao construir um plano
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terapêutico que reduza as complicações, baseado em evidências científicas, lançando mão de tecnologias, mas sem perder a
essência humana para cuidar. Desta maneira, o objetivo deste estudo foi analisar os fatores relacionados ao desenvolvimento
da LRA em pacientes com Covid-19 internados em uma UTI.
MÉTODO
Trata-se de um estudo analítico, retrospectivo e transversal, realizado no Hospital Municipal Padre Germano Lauck, em Foz do
Iguaçu, PR, Brasil, o qual possuía, à época da coleta de dados, duas alas de UTI para pacientes com Covid-19 em estado grave
com 58 leitos, uma ala de UTI de cuidados especiais com 12 leitos e uma UTI de doenças infecciosas com oito leitos,
totalizando 78 leitos.
O município é sede da Regional de Saúde do estado do Paraná, sendo responsável pelo atendimento de pacientes
residentes não apenas em Foz do Iguaçu, mas também nos municípios vizinhos (Santa Terezinha de Itaipu, São Miguel do
Iguaçu, Medianeira, Matelândia, Serranópolis do Iguaçu, Ramilândia, Missal e Itaipulândia) e dos brasileiros que residem nos
países que compõem a tríplice fronteira (Brasil, Paraguai e Argentina).
A amostra para o estudo foi composta por 50 prontuários de indivíduos selecionados aleatoriamente com idade maior ou igual
a 18 anos, internados na ala do Sistema Único de Saúde (SUS), nas UTI e que evoluíram com LRA após o diagnóstico de Covid-
19. Foi encerrada a coleta de dados por considerar que a amostra tinha representatividade estatística.
A busca pelos participantes aconteceu a partir do prontuário eletrônico do hospital - sistema Tasy, entre outubro de 2020 a
março de 2021. Nesse período, dos 1.021 pacientes que internaram por COVID-19, 215 evoluíram com LRA após o diagnóstico
de Covid-19.
Considerando essas informações, temos que 21% dos pacientes internados evoluíram para IRA.
em que n: amostra calculada, N: população, Z: nível de confiança, p: real probabilidade do evento, e: nível de precisão.
Foram considerados para o cálculo: N=215, p=0,21, e=0,10 e Z=1,96
Portanto, foi considerada uma amostra de 50 pacientes para o estudo.
A coleta de dados foi realizada por duas acadêmicas do quarto ano do curso de Enfermagem de uma universidade pública, no
segundo semestre de 2021. Foi utilizado um instrumento estruturado, elaborado por dois enfermeiros docentes com expertise
em cuidados intensivos, o qual contemplou as seguintes variáveis: sexo, idade, nacionalidade, comorbidades, complicações na
internação, necessidade de ventilação mecânica, tempo de ventilação mecânica, início dos quadros de edema e oligúria,
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utilização de antibióticos, diuréticos e corticoides, e tempo de utilização (em dias), necessidade de diálise (tipos e frequência),
desfecho (óbito, alta e transferência) e tempo de hospitalização (em dias).
As variáveis analisadas nesse estudo foram organizadas em tabelas de frequência e a análise estatística dos dados foi realizada
no programa R. Para avaliar a distribuição das proporções encontradas, foram realizados testes Qui-quadrado ou teste exato
de Fischer atribuindo o valor de p<0,05 para indicar evidência estatística.
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, sob o parecer
4.373.781, conforme as normas da resolução 466/2012 e 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde e Pesquisa envolvendo
seres humanos, e seguiu os critérios da Strengtheningthereportingofobservationalstudies in epidemiology (STROBE) para seu
desenvolvimento(10).
RESULTADOS
No período entre outubro de 2020 a março de 2021, foram hospitalizados 1.402 pacientes nas unidades de
internação, sendo que 1.021 em decorrência da Covid-19 e 381 de outras enfermidades. Para este estudo, foram coletados os
dados de 50 pacientes com Covid-19 e que evoluíram com LRA, os quais estão caracterizados na Tabela 1.
Tabela 1 - Caracterização dos pacientes com Covid-19 e Lesão Renal Aguda.
Variáveis Geral Feminino Masculino Valor-p
n % n % n %
Idade
≤ 60 anos 19 38,0 9 18,0 10 20,0 0,8246
> 60 anos 31 62,0 15 30,0 16 32,0
Nacionalidade
Brasileira 47 94,0 22 44,0 25 50,0 0,6020*
Estrangeira 3 6,0 2 4,0 1 2,0
Fonte: dados da pesquisa.
* teste exato de Fischer
A maioria dos pacientes com COVID-19 e LRA era do sexo masculino (52%), com idade superior a 60 anos (62%) e de
nacionalidade brasileira (94%).
Metade deles apresentava três ou mais comorbidades, tanto do sexo masculino (28%), quanto do sexo feminino (22%).
Embora não se tenha apresentado evidência estatística, identificaram-se como principais comorbidades: hipertensão arterial
(68%), diabetes (40%), obesidade (30%), cardiopatia (14%) e tabagismo (26%) (Tabela 2).
A Tabela 3 mostra que 47 (86%) indivíduos com Covid-19 necessitaram de suporte ventilatório, sendo que para 30 (60%) o
tempo de ventilação superou sete dias. Quanto aos medicamentos, identificou-se a utilização de mais de quatro tipos de
antibióticos (66%), com tempo de uso entre sete e 14 dias (46%) e utilização de pelo menos um tipo de corticoide (42%).
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Tabela 2 - Comorbidades de pacientes com Covid-19 e Lesão Renal Aguda.
Variáveis Geral Feminino Masculino Valor-p
n % n % n %
Comorbidades
Nenhuma 3 6,0 1 2,0 2 4,0 0,1876
Uma 7 14,0 6 12,0 1 2,0
Duas 15 30,0 6 12,0 9 18,0
3 ou mais 25 50,0 11 22,0 14 28,0
Hipertensão arterial
Sim 34 68,0 17 34,0 17 34,0 0,9130
Não 16 32,0 7 14,0 9 18,0
Diabetes
Sim 20 40,0 10 20,0 10 20,0 0,9539
Não 30 60,0 14 28,0 16 32,0
Cardiopatia
Sim 7 14,0 2 4,0 5 10,0 0,4205*
Não 43 86,0 22 44,0 21 42,0
Obesidade
Sim 15 30,0 10 20,0 5 10,0 0,1554
Não 35 70,0 14 28,0 21 42,0
Câncer
Sim 1 2,0 0 0,0 1 2,0 0,9997*
Não 49 98,0 24 48,0 25 50,0
Asma
Sim 1 2,0 0 0,0 1 2,0 0,9997*
Não 49 98,0 24 48,0 25 50,0
Hipotireoidismo
Sim 3 6,0 3 6,0 0 0,0 0,1033*
Não 47 94,0 21 42,0 26 52,0
Tabagismo
Sim 13 26,0 6 12,0 7 14,0 0,8667
Não 37 74,0 18 36,0 19 38,0
Fonte: dados da pesquisa
* teste exato de Fischer
O tempo de internação esteve entre sete e 14 dias (46%) e acima de 14 dias (36%), e a mortalidade foi considerada alta,
totalizando 78% dos indivíduos com Covid-19 e LRA.
Ainda que o tenha evidência estatística, foi possível notar que indivíduos do sexo masculino utilizaram ventilação mecânica
por mais tempo, acima de sete dias, com maior necessidade de antibióticos e maior tempo de hospitalização.
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Tabela 3 - Intervenções realizadas na UTI, considerando administração de medicamento, tempo de internação e desfecho clínico de
pacientes com Covid-19 e Lesão Renal Aguda.
Variáveis Geral Feminino Masculino Valor-p
n % n % n %
Ventilação mecânica
Não usou 7 14,0 4 8,0 3 6,0 0,7269*
Até 7 dias 13 26,0 7 14,0 6 12,0
Acima de 7 dias 30 60,0 13 26,0 17 34,0
Antibióticos
Não 3 6,0 3 6,0 0 0,0 0,2552*
apenas 1 2 4,0 1 2,0 1 2,0
2 a 3 12 24,0 5 10,0 7 14,0
4 ou mais 33 66,0 15 30,0 18 36,0
Tempo de antibióticos
Até 7 dias 22 44,0 11 22,0 11 22,0 0,3965*
7 a 14 dias 23 46,0 10 20,0 13 26,0
Acima de 14 dias 2 4,0 0 0,0 2 4,0
Corticoide
não usou 2 4,0 2 4,0 0,0 0,2110*
apenas 1 21 42,0 9 18,0 12 24,0
2 18 36,0 7 14,0 11 22,0
3 9 18,0 6 12,0 3 6,0
Tempo de internação
Até 7 dias 9 18,0 5 10,0 4 8,0 0,5111
7 a 14 dias 23 46,0 9 18,0 14 28,0
Acima de 14 dias 18 36,0 10 20,0 8 16,0
Desfecho
Alta 10 20,0 5 10,0 5 10,0 0,5478
Óbito 39 78,0 18 36,0 21 42,0
Transferência 1 2,0 1 2,0 0 0,0
Fonte: dados da pesquisa
* teste exato de Fischer
Na Tabela 4, observa-se que para 52,3% dos indivíduos, os sintomas iniciaram a partir do sétimo dia, sendo que predominou a
combinação de edema, oligúria e anúria (41,9%), seguido por edema (32,6%).
Sobre o tempo de utilização dos medicamentos, verificou-se que os diuréticos foram administrados para 50% dos pacientes
por tempo menor que sete dias e os corticoides para 96% deles, sendo que 69,8% utilizaram por mais de sete dias. O
tratamento dialítico (hemodiálise) foi realizado em 34% dos indivíduos, sem diferença estatística entre indivíduos do sexo
masculino e feminino.
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Tabela 4 - Sintomas e tratamento realizado em pacientes com Covid-19 e Lesão Renal Aguda.
Variáveis Geral Feminino Masculino Valor-p
n % n % n %
Início dos sintomas (n=44)
< 7 dias 21 47,7 10 47,6 11 52,4 0,978
> 7 dias 23 52,3 10 43,5 13 56,5
Sintomas (n=43)
Edema 14 32,6 8 18,6 6 14,0 0,2415*
Oligúria 1 2,3 1 2,3 0 0,0
Edema+Anúria 2 4,7 1 2,3 1 2,3
Edema+Oligúria 8 18,6 2 4,7 10 23,3
Edema+Oligúria+Anúria 18 41,9 8 18,6 10 23,3
Diuréticos (n=25)
< 7 dias 21 84,0 9 36,0 12 48,0 0,9111*
> 7 dias 4 16,0 1 4,0 3 12,0
Corticoide (n=50)
< 7 dias 14 29,2 7 14,6 7 14,6,0 0,1986
> 7 dias 34 69,8 6 12,0 18 36,0
Hemodiálise (n=50)
Sim 17 34,0 6 12,0 11 22,0 0,3212
Não 33 66,0 18 36,0 15 30,0
Frequência hemodiálise (n=17)
1x dia 15 88,2 5 29,4 10 58,8 0,7397*
2x dia 2 11,8 1 5,9 1 5,9
Fonte: dados da pesquisa
* teste exato de Fischer
O teste de Fisher mostrou que a probabilidade de óbito foi maior entre os pacientes que usaram ventilação mecânica, e que
houve diferença estatística para a relação entre hemodiálise e desfecho clínico (p<0,0009). Nota-se também que grande parte
dos indivíduos com hipertensão arterial (56%) evoluíram a óbito (Tabela 5).
Tabela 5 – Desfecho clínico de indivíduos com Covid-19 e Lesão Renal Aguda, segundo comorbidades e
intervenções hospitalares.
Geral Alta Óbito Valor-p
n % n % n %
Hipertensão arterial
Sim 34 68,0 6 12,0 28 56,0 0,4732
Não 16 32,0 5 10,0 11 22,0
Diabetes
Sim 20 40,0 6 12,0 14 28,0 0,4433
Não 30 60,0 5 10,0 25 50,0
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Cardiopatia
Sim 7 14,0 2 4,0 5 10,0 0,6371
Não 43 86,0 9 18,0 34 68,0
Ventilação mecânica
Sim 43 86,0 4 8,0 39 78,0 0,0001*
Não 7 14,0 7 14,0 0 0,0
Antibiótico >7dias (n=46)
Sim 24 48,0 6 12,0 19 38,0 0,7298
Não 22 44,0 4 8,0 18 36,0
Hemodiálise
Sim 17 34,0 1 2,0 16 32,0 0,0009*
Não 33 66,0 10 20,0 23 46,0
Fonte: dados da pesquisa
* teste exato de Fischer
DISCUSSÃO
Os resultados encontrados demonstraram o perfil dos pacientes hospitalizados com Covid-19 e a evolução para LRA, o que
possibilitou identificar os fatores que contribuíram para a progressão da doença.
A alta incidência de pacientes acometidos pela Covid-19 com idades superiores a 60 anos que desenvolveram disfunção renal
corrobora com a literatura nacional e internacional(7,9,11-12). Estudo multicêntrico, realizado na Turquia que investigou a
associação entre Covid-19 e LRA, encontrou uma média de idade de 69 anos(5).
Condições clínicas pré-existentes, como diabetes, cardiopatias, obesidade e principalmente hipertensão arterial, estão
documentadas na literatura como fatores de risco para o desenvolvimento de LRA(9,13-17). Ainda que o tenha apresentado
evidência estatística, metade da população estudada com diagnóstico de Covid-19 e que evoluiu para LRA possuía pelo menos
três comorbidades, com destaque para a hipertensão arterial.
O uso de ventilação mecânica também apresentou associação positiva com a LRA, especialmente se acontece por tempo
prolongado, convergindo com pesquisa que mostrou uma relação direta entre ventilação mecânica e suporte dialítico. Nesse
sentido, a pressão positiva nas vias aéreas pode desencadear alterações hemodinâmicas que afetam o débito cardíaco e a
filtração glomerular, causando danos à função renal(18).
Com relação às complicações clínicas, os indivíduos com Covid-19 que desenvolveram LRA durante a internação tiveram maior
contagem de linfócitos e proteína c-reativa, lesão pulmonar e maior tempo de hospitalização, corroborando com estudos
recentes(18-19).
Os indivíduos com LRA apresentaram início mais tardio dos sintomas, maior que sete dias, com prevalência da combinação
entre edema, oligúria e anúria, o que pode ser considerado um preditor do comprometimento renal(20). Entretanto, estudos
que levantam a hipótese da LRA ser decorrente do grande mero de substâncias nefrotóxicas utilizadas em ambiente
hospitalar, por tempo prolongado e sem critérios específicos para administração(2,21), como observado neste estudo onde
corticoesteroides e antibióticos foram amplamente oferecidos.
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A relação entre a vancomicina e a LRA é comumente observada em internações prolongadas e está associada à maior
mortalidade em indivíduos hospitalizados(22). Segundo guideline, realizada no Brasil sobre o tratamento farmacológico de
Covid-19, mesmo que recomendado em situações específicas, os antibióticos deveriam estar restritos às infecções bacterianas
e os corticoesteroides administrados com cautela, pois seu uso por tempo prolongado pode prejudicar a função renal(23-24).
Quanto ao desfecho clínico, a alta mortalidade encontrada em indivíduos com Covid-19 e LRA que necessitaram de ventilação
mecânica invasiva e hemodiálise durante a internação vem de encontro a estudo de coorte retrospectivo(25) que evidenciou
alto índice de óbito, especialmente em pacientes com idade avançada(5,26).
Nesse cenário, o enfermeiro assume uma posição central no desenvolvimento e implementação de ações preventivas, de
diagnóstico e tratamento nas UTI, de modo a intervir de forma oportuna na saúde do paciente e promover sua recuperação.
Acredita-se, portanto, que o estudo contribui para identificar os fatores associados à LRA em pacientes com Covid-19 e para
verificar como o cuidado nas UTI interfere nesse processo. Avaliar e detectar precocemente as disfunções renais e as
intercorrências dialíticas que possam surgir ao longo da internação permite reduzir a mortalidade e garantir cuidado seguro,
com terapêutica adequada e melhor desfecho clínico.
Como limitação do estudo observou-se dificuldade em acessar o prontuário eletrônico do hospital, pois não havia um local
reservado para a coleta em razão do grande número de pacientes internados, por isso foi necessário realizá-la por meio do
Tasyweb, o qual apresentou constantes oscilações, prejudicando esse processo.
CONCLUSÃO
Este estudo mostrou que grande parte dos pacientes com o diagnóstico de Covid-19 evoluiu para LRA durante a internação
hospitalar. Dentre os fatores de risco, encontrou-se sexo masculino, idade acima de 60 anos, comorbidades, uso de ventilação
mecânica por tempo maior que sete dias, longos períodos de internação hospitalar e uso de antibióticos e corticoesteroides
em larga escala. Além disso, grande parte dos pacientes que necessitaram de hemodiálise, de ventilação mecânica e que
apresentaram hipertensão arterial evoluiu a óbito.
Portanto, faz-se necessário o desenvolvimento de mais estudos acerca da Covid-19 que contribuam para o fortalecimento das
competências e habilidades dos profissionais de saúde, especialmente os enfermeiros. Estratégias de educação continuada
dentro dos hospitais favorecem o conhecimento ampliado acerca do processo infeccioso e possibilita o desenvolvimento de
capacidades para atuar na área, detectar precocemente as possíveis complicações e se tornar um facilitador do atendimento
de qualidade para o cuidado de pacientes complexos, tendo em vista melhor prognóstico, com redução da mortalidade.
Declaramos que não há conflitos de interesse.
REFERÊNCIAS
1. Brasil. Painel coronavírus. Disponível em: https://covid.saude.gov.br/.
2. Pecly IMD, Azevedo RB, Muxfeldt ES, Botelho BG, Albuquerque GG, Diniz PHP, Silva R, Rodrigues CIS. A review of COVID-19 and acute kidney injury: from
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