REVISTA NORTE MINEIRA
DE ENFERMAGEM
ISSN: 2317-3092
Recebido em:
24/09/2021
Aprovado em:
22/04/2022
Como citar este artigo
Nascimento EDCA, Santos MVDR, Monteiro JCS.
Pré-natal do parceiro: análise da adesão pelo
quesito raça/cor. Rev Norte Mineira de enferm.
2021; 10(2):79-88.
Autor correspondente
Marcelo Vinicius Domingos Rodrigues dos
Santos
Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da
Universidade de São Paulo
Correio eletrônico: marcelo.domingos@usp.br
ARTIGO ORIGINAL
PRÉ-NATAL DO PARCEIRO: ANÁLISE DA ADESÃO PELO QUESITO
RAÇA/COR
Partners prenatal care: adherence analysis according to
race/color
Emilly Dayana de Castro Araripes Nascimento1, Marcelo Vinicius Domingos Rodrigues dos Santos2,
Juliana Cristina dos Santos Monteiro3.
1 Graduanda de Bacharelado em Enfermagem da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da
Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto SP, Brasil. emilly.1406@usp.br. ORCID:
https://orcid.org/0000-0003-3103-0969.
2 Doutorando do Programa de Pós-Graduação Enfermagem em Saúde Pública da Escola de
Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto SP, Brasil
marcelo.domingos@usp.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7490-8797.
3 Professora Associada do Departamento de Enfermagem em Saúde Pública da Escola de
Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto SP, Brasil. ORCID:
https://orcid.org/0000-0001-6470-673.
DOI: https://doi.org/10.46551/rnm23173092202100209
A presença do parceiro no pré-natal traz inúmeros benefícios, porém o racismo
institucional é um fator que dificulta a participação do homem. Diante disso, os
objetivos deste estudo são: descrever o perfil sociodemográfico de homens atendidos
pelo programa pré-natal do parceiro, verificar a adesão ao programa de acordo com o
quesito raça/cor, e verificar a relação entre o quesito raça/cor e as características
sociodemográficas. Estudo quantitativo transversal, descritivo e analítico. Para análise
dos dados, utilizou-se o software Epi Info, versão 7.0. Dos 47 homens que participavam
do estudo, 64,29% se autodeclararam negros. Associações entre o quesito raça/cor e as
características sociodemográficas não apresentaram resultados estatisticamente
significativos. Este estudo contribui para maior visibilidade da temática de saúde da
população masculina em geral e especificamente da população negra, permitindo a
reflexão e maior discussão sobre a presença do homem nos serviços de saúde.
DESCRITORES: Pré-Natal, Saúde do Homem, População Negra.
The presence of a partner in prenatal care provides numerous benefits, although
institutional racism is a factor that hampers mens participation. Hence, this study aimed
to describe the sociodemographic profile of men assisted by the partner prenatal
program, verify adherence to the program according to their race/color, and verify the
relationship between race/color and sociodemographic characteristics; this is a
quantitative, cross-sectional, descriptive, and analytical study. Data analysis was carried
out using the Epi Info software (version 7.0). Of the 47 men who participated, 64.29%
declared themselves black, and our findings revealed that associations between
race/color and sociodemographic characteristics were statistically insignificant. This
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study contributes to greater visibility of the health issues of the male population in
general and specifically the black population, allowing reflection and further discussion
on the presence of men in health services.
Keywords: prenatal care, mens health, black population.
INTRODUÇÃO
A presença do parceiro no pré-natal traz inúmeros benefícios para a família, pois pode aumentar o nível de informação sobre
maternidade, paternidade, saúde sexual e reprodutiva, além de diminuir a frequência de depressão materna e paterna e
impactar no controle de infecções sexualmente transmissíveis (IST). A presença do parceiro nas consultas de pré-natal pode ser
também um momento de oportunidade de atendimento para o homem, possibilitando o tratamento do parceiro em casos de
IST, evitando a exposição daquelas mulheres que não foram infectadas e a reexposição daquelas que foram tratadas,
melhorando assim o custo/benefício na profilaxia para estes casos1.
A inserção do parceiro nas consultas de pré-natal de forma sistematizada é uma ação que atende à Política Nacional de
Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH). Essa política traduz a necessidade de reconhecer e tomar medidas frente às
dificuldades de acesso ou de continuidade do atendimento ao homem nos serviços de saúde2. Desta maneira, a fim de lidar
com o enfrentamento da morbidade e mortalidade masculina, ações foram estruturadas em cinco eixos, sendo eles: acesso e
acolhimento; saúde sexual; doenças prevalentes na população masculina; prevenção de violências e acidentes; e paternidade e
cuidado2.
A presente pesquisa se estrutura em consonância com a PNAISH, visto que a presença do homem no programa do pré-natal do
parceiro busca acolher o homem, trabalhar questões de saúde sexual e de paternidade, levando-o a uma aproximação do
serviço de saúde e a um fortalecimento do vínculo familiar nos cuidados com a gestação.
Para a realização do p-natal do parceiro, os homens são convidados para atendimento em saúde quando suas companheiras
grávidas iniciam o atendimento nas unidades básicas de saúde. Além do acompanhamento do pré-natal de sua companheira e
recebimento de orientações sobre a gestação, maternidade e paternidade, os homens são convidados a realizar exames para
detecção de hepatites B e C, HIV, sífilis, bem como de diabetes3.
Apesar da reconhecida importância da participação do homem nas decisões sobre o planejamento reprodutivo e da sua
inserção nos cuidados relacionados à família, várias dificuldades se antepõem para a efetivação dessa participação.
A resistência do homem à procura dos serviços de saúde relacionada aos estereótipos de gênero4, que caracterizam o homem
como invulnerável, contribui para a sua maior exposição às situações de risco para a saúde. Além disso, os serviços e
campanhas de saúde privilegiam ações voltadas para crianças, adolescentes, mulheres e idosos, sendo pouco acolhedoras aos
homens5. O horário de funcionamento dos serviços de saúde é outro fator que desfavorece a presença dos homens nos
serviços de saúde, que coincide com seu horário de trabalho. A estes fatores acrescenta-se o racismo institucional, que
impede o acesso da população negra aos seus direitos6, e que na atualidade tem sido denunciado por estudiosos, ativistas e
feministas negras, trazendo à tona a luta pela superação desse obstáculo gerador de desigualdades em saúde da população
negra.
O racismo institucional, considerado como o fracasso das instituições e organizações em oferecer um serviço qualificado
devido à cor, cultura ou origem étnico-racial das pessoas, 7 acontece não só no funcionamento das instituições de saúde como
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também na relação entre profissionais e usuários, produzindo um viés racial na assistência8, levando à práticas discriminatórias
individuais e institucionais. Alguns autores demonstram que, na área da saúde, o racismo institucional e a manifestação do
preconceito racial geram complicações relacionadas à privação do direito à saúde, pela maior dificuldade e/ou falta de acesso
aos serviços de saúde9.
A inserção da informação sobre raça/cor da população no sistema informatizado de saúde nacional tem permitido o
monitoramento e análise permanente dos indicadores de saúde também através desta variável, a qual é um elemento
essencial para análise, avaliação e aperfeiçoamento dos serviços de saúde10. No entanto, apesar do avanço da inserção do
quesito raça/cor, verifica-se que os serviços de saúde ainda apresentam o racismo institucional, que se mostra na falta de
qualidade no atendimento devido à cor ou à etnia da população9.
Com base no exposto, evidencia-se a necessidade da discussão da promoção da saúde a partir da adequação da assistência e
ampliação do acesso, de maneira que sejam consideradas as diferenças individuais e grupais, principalmente aquelas que
levam a exclusão social e a desigualdades étnico-raciais11. O presente estudo é relevante, pois a identificação da raça/cor e seu
uso em análises dos sistemas de saúde podem gerar informações científicas importantes sobre o racismo em saúde,
contribuindo para a qualificação dos serviços. Isso, porque as pesquisas com enfoque na raça e etnia possibilitam a elaboração,
implantação e execução de políticas públicas que promovam a igualdade racial, com o intuito de garantir à população negra
acesso universal e igualitário aos serviços de saúde 12.
Portanto, este estudo tem o intuito de dar visibilidade ao acesso da população negra no programa do pré-natal do homem,
fornecendo subsídios que possibilitarão a melhoria do acesso desta população aos serviços de saúde. Assim, os objetivos desse
estudo foram: descrever o perfil sociodemográfico de homens atendidos pelo programa do pré-natal do parceiro, verificar a
adesão ao pré-natal do parceiro de acordo com o quesito raça/cor do participante e verificar a relação entre o quesito raça/cor
e as demais características sociodemográficas dos participantes.
MÉTODO
Trata-se de um estudo transversal e descritivo, desenvolvido em uma unidade de saúde de um município de grande porte do
interior de o Paulo, que concentrou o maior número de gestantes no ano de 2017, consequentemente apresentando um
elevado número de atendimentos de pré-natal da gestante e pré-natal do parceiro, dado utilizado para o cálculo amostral.
Atualmente, a Secretaria Municipal de Saúde do referido município mantém um programa de Pré-Natal do Parceiro, oferecido
na forma de convite, quando o homem acompanha a mulher no pré-natal, ou a partir do estímulo à própria mulher a convidar
seu parceiro. Assim, os homens atendidos nessas consultas foram os participantes deste estudo.
A população de referência foi constituída por todos os homens que realizaram acompanhamento de saúde dentro do
programa do pré-natal do parceiro na referida UBS. O cálculo amostral evidenciou a necessidade de investigar 40 homens para
que os dados pudessem ser representativos da população; assim, esse estudo contou com a participação de 42 homens
acompanhados no pré-natal do parceiro.
Os participantes foram selecionados para o estudo por amostragem aleatória simples, na sala de espera da unidade, seguindo
os critérios de inclusão: maiores de 18 anos e residentes no município estudado. Os critérios de exclusão foram: homens com
deficiência auditiva, visual ou cognitiva, ou que não aceitaram participar do estudo.
É importante salientar que, para identificação da raça/cor dos participantes, foi considerada a cor da pele autorreferida, com
base no sistema de classificação empregado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Este sistema
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classificatório emprega cinco categorias de raça/cor: branca, preta, parda, amarela e indígena, sendo que a população negra
brasileira se constitui pela somatória dos indivíduos que se autodeclaram pretos e pardos13.
Os homens que compareceram à unidade de saúde selecionada para realização do pré-natal do parceiro e preencheram os
critérios de inclusão estabelecidos foram convidados a participar do estudo. A pesquisa foi, então, apresentada e foram
explicados os procedimentos para a coleta de dados. Para aqueles que aceitaram participar, foi solicitada a assinatura do
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), em duas vias, sendo que uma destas ficou com o participante.
Para a coleta de dados, foi utilizado um instrumento que investigava não os dados de identificação e as características
sociodemográficas dos participantes, mas também a questão sobre raça/cor autorreferida de acordo com o sistema
classificatório mencionado anteriormente.
Os dados foram armazenados em uma planilha eletrônica estruturada no Microsoft Excel, por meio de dupla digitação,
possibilitando a validação dos dados digitados, e foram analisados com a utilização do programa estatístico Epi Info, versão 7.0.
Para caracterizar a amostra, a análise dos dados foi fundamentada na estatística descritiva. Para a análise de relação entre as
variáveis foi utilizado o teste exato de Fisher. Para todas as análises, foi considerado o nível de significância de 5%.
Quanto aos aspectos éticos, foram seguidas as normas para pesquisas envolvendo seres humanos estabelecidas pela
Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde. Assim, o projeto foi autorizado pela Secretaria Municipal de Saúde do
município e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) ligado ao CONEP sob nº CAAE 02503218.6.0000.5393.
RESULTADOS
Participaram deste estudo 42 homens, com idade média de 27,57 anos e desvio-padrão de 7,28 anos, idade mínima de 19 e
máxima de 47 anos.
A Tabela 1 apresenta o perfil sociodemográfico dos homens atendidos pelo programa do pré-natal do parceiro na unidade de
saúde estudada de acordo com as variáveis: cor autorreferida, escolaridade, religião, ocupação, estado marital, condições de
moradia, renda, acesso à água encanada, à rede de esgoto, à energia elétrica e à internet.
Em relação à cor autorreferida pelos participantes, o maior agrupamento foi de homens da cor parda (40,48%). Da mesma
forma a parcela maior referiu ter o ensino médio completo (38,10%) e declarou ter alguma religião (71,43%).
Em relação ao estado marital, todos os entrevistados declararam ter companheiras. Quando questionados quanto ao tipo de
moradia, metade (50,0%) referiu residir em casa própria, sendo a totalidade (100%) com água encanada e energia elétrica, e o
maior percentual (91,86%) com rede de esgoto. Além disso, a maioria referiu ter acesso à internet (95,24%). Mais da metade
dos participantes (94,87%) estavam empregados e a maior porcentagem (37,50%) tinha faixa de renda familiar mensal de R$
1.996,00 até R$ 2.994,00.
As características do acompanhamento pré-natal dos participantes estão apresentadas na Tabela 2. Quase a metade dos
homens referiu não ter filhos (48,78%), e a maioria deles declarou ter planejado a gestação (52,38%) e participar do pré-natal
do parceiro por indicação da companheira (60,00%).
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Tabela 1 - Distribuição dos participantes segundo as características sociodemográficas: cor autorreferida, escolaridade, religião, ocupação, estado marital,
moradia, renda, acesso à água encanada, à rede de esgoto, à energia elétrica e à internet.
Frequência
Cor autorreferida (n=42)
Branco
Preto
Pardo
Indígena
14
10
17
01
Escolaridade (n=42)
Fundamental incompleto
04
Fundamental completo
07
Ensino médio incompleto
Ensino médio completo
Ensino superior incompleto
10
16
02
Ensino superior completo
03
Religião (n=42)
Tem alguma religião
30
Não tem religião
12
Ocupação (n=39)
Empregado
37
Desempregado
02
Estado Marital (n=42)
Com companheira
42
Condições de moradia (n=42)
Própria
21
50,00
Alugada
20
47,62
Emprestada
01
02,38
Renda familiar em reais (n=40)
Até R$ 249,0
02
05,00
De R$ 249,0 até R$ 499,00
De R$ 499,00 até R$ 998,00
01
03
02,50
07,50
De R$ 998,0 até R$ 1996,00
11
27,50
De R$ 1996,00 até R$ 2994,00
De R$ 2994,00 até R$ 4999,00
Acima de R$ 4999,00
15
07
01
37,50
17,50
02,50
Água encanada (n=42)
Sim
42
100,00
Rede de esgoto (n=42)
Sim
39
91,86
Não
03
07,14
Energia elétrica (n=42)
Sim
42
100,00
Acesso à internet (n=42)
Sim
Não
40
02
95,24
04,76
Fonte: elaborado pelos autores (2021).
Tabela 2 Distribuição dos participantes segundo as características do pré-natal elencadas.
Frequência
Porcentagem %
Número de filhos (n=41)
Nenhum
20
48,78
Um ou dois
Três ou mais
19
02
46,34
04,88
Planejamento de gestação (n=42)
Sim
22
52,38
Não
20
47,62
Indicação para participação do pré-natal (n=40)
Companheira
24
60,00
Profissional da saúde
07
17,50
Outros
09
22,50
Fonte: elaborado pelos autores (2021).
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Considerando o quesito raça/cor dos participantes do estudo, aqueles que se declararam pretos e pardos foram agregados
com o intuito de caracterizar a raça negra13 e assim identificar a adesão ao pré-natal do parceiro de acordo com a raça/cor.
Observa-se, na Tabela 3, que 64,29% dos homens que participavam do programa pré-natal do parceiro eram da raça negra.
Tabela 3 Adesão ao pré-natal do parceiro segundo o quesito raça/cor dos participantes.
Raça/cor
Frequência
Porcentagem %
Caucasiana / Branco
14
33,33
Negra / Pretos e Pardos
27
64,29
Indígena
1
2,38
Total
42
100,00
Fonte: elaborado pelos autores (2021).
A Tabela 4 apresenta os resultados da associação entre o quesito raça/cor e as características sociodemográficas dos
participantes. Para a análise, o participante autodeclarado indígena foi inserido no grupo da raça negra, considerando que é de
grupo minoritário e que, assim como pretos e pardos, pode também sofrer com o preconceito étnico-racial na nossa
sociedade.
Tabela 4 Associação entre o quesito raça/cor e as características sociodemográficas e do pré-natal dos participantes.
Branca n=14 (%)
Negra n=28 (%)
Total n=42(%)
p*
Escolaridade (n=42)
Fundamental incompleto
01 (07,1)
03 (10,70)
04 (09,50)
0,26
Fundamental completo
01 (07,1)
06 (21,40)
07 (16,70)
Ensino médio incompleto
Ensino médio completo
Ensino superior incompleto
Ensino superior completo
03 (21,4)
07 (50,0)
01 (07,1)
01 (07,1)
07 (25,00)
09 (32,10)
01 (3,60)
02 (7,10)
10 (23,80)
16 (38,10)
02 (04,80)
03 (07,10)
Ocupação (n=42)
Empregado
11 (78,60)
26 (92,90)
37 (88,10)
0,54
Desempregado
01(07,10)
01(03,60)
02 (04,80)
Moradia (n=42)
Própria
05(35,70)
16(57,10)
21 (50,00)
0,19
Alugada
09 (64,30)
11 (39,30)
20 (47,60)
Emprestada
00 (00)
01 (03,60)
01 (02,40)
Religião (n=42)
Com religião
08 (57,10)
22 (78,60)
30 (71,40)
0,14
Sem religião
06 (42,90)
06 (21,40)
12 (28,60)
Rede de esgoto (n=42)
Sim
12 (85,70)
27 (96,40)
39 (92,90)
0,20
Não
2 (14,30)
1 (3,60)
3 (7,10)
Acesso internet (n=42)
Sim
14 (100,0)
26 (92,90)
40(95,30)
0,30
Não
00 (00)
02 (7,10)
03 (04,80)
Número de filhos vivos (n=42)
0
8 (57,10)
12 (42,90)
20 (47,60)
0,44
1 2
6 (42,90)
13 (46,40)
19 (45,20)
≥ 3
0 (0,0)
2 (7,10)
2 (4,80)
Planejamento de Gestação (n=42)
Sim
6 (42,90)
16 (57,10)
22 (52,40)
0,38
Não
8 (57,10)
12 (42,90)
20 (47,60)
Indicação para participação
do pré-natal do parceiro (n=42)
Companheira
8 (57,10)
16 (57,10)
24 (57,10)
0,57
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Profissionais de saúde
2 (14,30)
5 (17,90)
7 (16,70)
Outros
2 (14,30)
7 (25,00)
9 (21,40)
* Teste Exato de Fisher
Fonte: elaborado pelos autores (2021).
A variável “estado marital” não foi relacionada na análise, pois 100% dos participantes tinham companheira, assim como as
variáveis “acesso à água encanada” e “acesso à energia elétrica”, já que 100% contavam com esses serviços em seu domicílio.
Verifica-se que não houve associação estatisticamente significativa entre a raça/cor dos participantes e as variáveis elencadas.
DISCUSSÃO
No presente estudo a média de idade dos homens atendidos pelo programa pré-natal do parceiro foi de 27,57 anos, idade que
está próxima à média da idade dos homens que se tornam pais na capital do estado, que é de 31 anos14.
Com relação à cor autorreferida, a maior porcentagem dos participantes referiu ser parda (40,48%), o que corresponde aos
dados da população do município estudado apresentados na estimativa de 2018 do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), pelos quais população parda corresponde a 46,7% do total. A respeito do grau de escolaridade, a maior
porcentagem dos participantes referiu ter o ensino médio completo (38,1%), estando de acordo com a estimativa de 2018 do
IBGE para a situação escolar de homens na região15.
A maior parte dos participantes tinha emprego formal (94,87%) e a maior porcentagem deles (37,5%) apresentou faixa salarial
de R$ 1.996,00 até R$ 2.994,00. Quanto a isto, estudos mostram que os valores se enquadram no perfil econômico do
município, visto que a média salarial dos trabalhadores formais da cidade é de R$2.894,2015.
Com relação às condições de moradia, 50,00% dos participantes tinha moradia própria, todos os participantes tinham água
encanada e energia elétrica em suas residências e 91,86% tinham rede de esgoto, como a maioria da população brasileira16.
Em relação ao estado marital, todos os entrevistados declararam ter companheira, refletindo também a maior aderência ao
programa do pré-natal do parceiro por estímulo da companheira (60,00%), e a maioria tinha planejado a gestação (52,38%).
Conforme demonstrado por Cardoso e colaboradores17, as mulheres que contam com o parceiro durante o acompanhamento
pré-natal se sentem mais apoiadas e seguras tanto para a realização do autocuidado na gestação como também para a
aprendizagem do cuidado da criança, o que pode explicar o estímulo da mulher e o planejamento da gestação no presente
estudo.
Para verificar a adesão ao pré-natal do parceiro de acordo com o quesito raça/cor do participante, foram considerados da raça
negra aqueles que se declararam pretos e partos, como mencionado. Nota-se, assim, que a população negra teve maior
adesão ao programa (64,29%). Este resultado está em conformidade com os dados do estado de São Paulo, que mostram que
os homens negros acompanhados por esse programa foram 52,8% em 2017 e 51,18% em 201818.
Um fato importante a ser considerado é que, no Brasil, a maioria dos usuários do serviço público de saúde é pertencente à
população negra19, o que condiz com os dados identificados entre os participantes do presente estudo. Considerando que a
cobertura do sistema de saúde privado é determinada pela condição socioeconômica do indivíduo, este fato nos faz refletir
também sobre as desigualdades salariais determinadas pelo quesito raça/cor, assim como as iniquidades raciais em saúde20.
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A associação entre o quesito raça/cor dos participantes e as características sociodemográficas e de pré-natal elencadas
(escolaridade, ocupação, condições de moradia, religião, acesso à rede de esgoto, acesso à internet, número de filhos,
planejamento da gestação e indicação para participação do pré-natal do parceiro) não demonstrou resultados estatisticamente
significativos. Contudo, é importante salientar as dificuldades de acesso da população negra a serviços de saúde de qualidade,
pela reprodução do racismo e preconceito, muitas vezes velado, que se perpetua na nossa sociedade.
Embora a população negra seja maioria entre os usuários do Sistema Único de Saúde, é evidente que o racismo e as
iniquidades raciais impactam na saúde da população negra, o que implica diretamente na maior taxa de morbidade e
mortalidade e na pior qualidade de vida desta população19. Além disso, a invisibilidade dos efeitos do racismo, que afetam os
processos de saúde e adoecimento, contribuem para a perpetuação das iniquidades, visto que se reflete na formação dos
profissionais de saúde, que ainda se apresenta deficitária com relação às questões étnico-raciais21. Apesar dessas constatações,
ainda existe, na esfera de trabalhos realizados por pesquisadores da área da saúde, uma escassez de estudos frente à temática
do homem negro e os serviços de saúde, o que leva a uma evidente lacuna nessa discussão.
Destacam-se diversas formas discretas de racismo nos serviços de saúde, como a falta de visibilidade das doenças de
prevalência na população negra, a ausência ou dificuldade da inserção da questão racial nos serviços de informação, a falta de
equidade do acesso e até mesmo a qualidade dos serviços de tecnologia leve prestados22. A respeito da qualidade da
tecnologia leve, o estudo que analisou uma equipe multiprofissional do Sistema Único de Saúde (SUS) demonstrou que os
profissionais não lidam com a questão raça/cor como um fator sociológico, pelo contrário, essa questão é tratada no ponto de
vista biológico23, o que chama a atenção para que profissionais de saúde, formadores e pesquisadores da área valorizem a
questão racial, com o intuito de melhorar a assistência em saúde para a população negra.
Dessa maneira, considerando a perspectiva da transformação social, evidencia-se também a necessidade do envolvimento dos
gestores para a elaboração de políticas capazes de favorecer o direito à saúde, empoderando e emancipando a população24.
Para as mulheres e seus companheiros que estão em acompanhamento pré-natal e necessitam de assistência e informações
adequadas durante todo o ciclo gravídico-puerperal25, o direito à saúde e a valorização de suas demandas também deve
considerar as suas diversidades culturais e raciais, favorecendo assim a assistência qualificada e respeitosa.
CONCLUSÃO
O estudo demonstrou que a maioria dos homens participantes do programa de pré-natal do parceiro no município estudado é
da raça negra. Porém, essa variável (quesito raça/cor) não apresentou associação estatisticamente significativa com as
variáveis sociodemográficas.
Considera-se como limitação desse estudo a dificuldade da participação masculina nas consultas de pré-natal do parceiro, o
que já foi demonstrado na literatura. Neste sentido, é importante ressaltar que a coleta de dados da pesquisa ocorreu também
nos horários alternativos que a Unidade de Saúde oferece para a realização do pré-natal do parceiro, que vai das 08 horas às
20 horas. Porém, ainda assim, percebeu-se que esse acompanhamento não atinge o mesmo número de mulheres atendidas no
pré-natal.
Os resultados desse estudo contribuem para maior visibilidade da temática de saúde da população masculina em geral e
especificamente da população negra, permitindo a reflexão e maior discussão sobre a presença do homem nos serviços de
saúde e oferecendo elementos para o cuidado integral, humanizado, qualificado e livre de racismo, minimizando assim as
iniquidades em saúde.
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