REVISTA NORTE MINEIRA
DE ENFERMAGEM
ISSN: 2317-3092
Recebido em:
18/03/20
21
Aprovado em:
05/09/202
1
Como citar este artigo
Drews MP, Lima MM, Alves IFBO, Costa R,
Roque ATF, Custódio ZAO
. Experiência de
puérperas participan
tes de um grupo de
gestantes nos cuidados com recém-nascido
. Rev
Norte Mineira de enferm. 2021; 10(1): 94-102.
Autor correspondente
Nome: Margarete Maria de Lima
Campus Universitário, BLOCO I (CEPETEC)
Departamento de Enfermagem, Centro de
Ciências da Saúde –
4º andar sala 420, Trindade,
Florianópolis - SC – Brasil, CEP: 88040-900
E-mail: margarete.lima@ufsc.br
ARTIGO ORIGINAL
EXPERIÊNCIA DE PUÉRPERAS PARTICIPANTES DE UM GRUPO DE
GESTANTES NOS CUIDADOS COM O RECÉM-NASCIDO
The experience of postpartum women participants in a pregnant
woman group regarding newborn care
Miriane Pereira Drews
1
,
Margarete Maria de Lima
2
,
Isadora Ferrante Boscoli de Oliveira Alves
3
,
Roberta Costa
4
, Ariane Thaise Frello Roque
5
, Zaira Aparecida de Oliveira Custódio
6
.
1 Enfermeira obstetra, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da
Universidade Federal de Santa Catarina - SC, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis,
SC, BR, mirianedrews@yahoo.com.br, ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9836-597X
2 Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina – SC, Universidade Federal
de Santa Catarina, Florianópolis, SC, BR, margarete.lima@ufsc.br, ORCID: http://orcid.org/0000-
0003-2214-3072
3 Naturóloga. Doutoranda em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina SC,
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, BR, isa.fboa@gmail.com ORCID:
https://orcid.org/0000-0002-1474-6159
4 Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina – SC, Universidade Federal
de Santa Catarina, Florianópolis, SC, BR, roberta.costa@ufsc.br, ORCID: https://orcid.org/0000-
0001-6816-2047
5 Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina – SC, Universidade Federal
de Santa Catarina, Florianópolis, SC, BR, arianetfr@hotmail.com, ORCID: https://orcid.org/0000-
0001-8637-0325
6 Doutora em Psicologia. Psicóloga do Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa
Catarina –SC, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, BR, zaira@hu.ufsc.br,
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8832-4090
DOI: https://doi.org/10.46551/rnm23173092202100110
Objetivo: conhecer como as puérperas participantes de um grupo de gestantes e casais
grávidos experienciam os cuidados com o recém-nascido a partir de orientações
recebidas nas atividades educativas. Método: pesquisa qualitativa descritiva, realizada
por meio de um formulário online, respondido entre os meses de agosto e outubro de
2020, por puérperas que participaram de um grupo de gestantes e casais grávidos.
Resultados: As três categorias do estudo enfocam a importância das orientações
recebidas no grupo, as principais dúvidas e dificuldades encontradas no cuidado com o
recém-nascido e a experiência materna nos cuidados. Considerações finais: a
experiência das puérperas nos cuidados com o recém-nascido é permeada,
principalmente, por dificuldades em relação à amamentação, higiene e conforto do
bebê, sendo que a educação em saúde é uma importante ferramenta na construção do
saber e pode ser benéfica em relação aos cuidados com o recém-nascido.
Descritores: Recém-nascido. Cuidado pós-natal. Enfermagem. Educação em Saúde.
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Objective: to know how postpartum women participating in a group for pregnant
women and pregnant couples experience caring for a newborn based on the guidelines
received in educational activities. Method: descriptive qualitative research, carried out
through an online form, answered between the months of August and October 2020, by
postpartum mothers who participated in a group of pregnant women and pregnant
couples. Results: The three categories of the study focus on the importance of the
guidelines received in the group, the main doubts and difficulties encountered in caring
for the newborn and the mother´s experience regarding care. Final considerations: the
experience of postpartum women in caring for the newborn is mainly permeated by
difficulties in relation to breastfeeding, hygiene and the comfort of the baby, with health
education being an important tool in the construction of knowledge and can be
beneficial in relation to the care of the newborn.
Descriptors: Newborn. Postpartum care. Nursing. Health education.
INTRODUÇÃO
O processo gestacional pode ser considerado, para a mulher, um dos momentos mais importantes da sua vida. Porém, além
das possíveis alegrias geradas pela espera do recém-nascido (RN), surgem também ambiguidades em relação às alterações
fisiológicas, psicológicas, econômicas, educacionais e familiares
(1)
. Nesse período de mudanças, as mulheres, juntamente com
seu acompanhante, necessitam obter informações que as auxiliem tanto no desenvolvimento da gestação, como do puerpério,
pois muitas dúvidas relacionadas aos cuidados com o RN, como por exemplo: a amamentação, cólicas e higiene, podem trazer
insegurança e impedir que usufruam do tempo com os seus filhos
(2)
.
O papel da família merece destaque neste contexto, pois, em geral, representa incentivo para a adaptação da puérpera à nova
dinâmica familiar. Ao mesmo tempo, fortalece a figura materna, promovendo auxílio nos cuidados ao RN em atividades diárias
no domicílio, o que influencia diretamente na formação do vínculo para a saúde da criança
(3)
.
Em 2016, após a criação da Política Nacional de Atenção Obstétrica e Neonatal, a Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu
uma série de recomendações para melhorar a qualidade da assistência à saúde da mulher e da criança, no intuito de reduzir os
riscos de complicações e proporcionar uma experiência, pré e pós-nascimento, positiva. Para isso, a OMS integrou a promoção
e prevenção em saúde ao processo educativo, com o objetivo de potencializar a autonomia e a emancipação das mães sobre
seu processo de gestação, parto e pós-parto
(4)
.
Compreende-se que é imprescindível que sejam oferecidas orientações quanto aos cuidados com o RN, ainda no pré-natal,
como forma de aproximar a mulher ao cuidado materno e neonatal, corroborando com o estudo
(3)
, que afirma a importância
das ações de educação em saúde no pré-natal com orientações sobre os cuidados com o RN, para empoderar a mãe e ajudá-la
a ser independente no cuidado ao filho.
Nesse sentido, os grupos de orientação para gestantes representam uma oportunidade ímpar para os provedores de saúde
oferecerem apoio e orientações às mulheres e suas famílias, incluindo aconselhamento para o planejamento familiar,
prevenção de doenças, cuidados com o RN e adoção de hábitos saudáveis
(2)
. Esses espaços educativos ampliam a construção
dos saberes por meio do compartilhamento de experiências entre os participantes e oportunizam que as mulheres se sintam
mais tranquilas em relação a suas condutas, principalmente por perceberem que outras pessoas vivenciam as mesmas
inquietudes e angústias. Assim, são ambientes propícios para o exercício da cidadania e do empoderamento de todos os
envolvidos, o que corrobora com a estratégia da OMS
(4)
.
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Pela relevância dos cuidados realizados ao RN na vida das mulheres e de todos os envolvidos durante o processo gravídico-
puerperal, buscou-se, como objetivo deste estudo, conhecer como as puérperas participantes de um grupo de gestantes e
casais grávidos experienciam os cuidados com o recém-nascido a partir de orientações recebidas nas atividades educativas.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo qualitativo descritivo, realizado por meio de um formulário online elaborado no Google forms,
respondido entre os meses de agosto e outubro de 2020, por mulheres participantes de um Grupo de Gestantes e Casais
Grávidos de uma Universidade pública na região Sul do Brasil.
O grupo de Gestantes e Casais Grávidos é um projeto de extensão, criado em 1996 em parceria entre os docentes do
departamento de enfermagem e psicóloga da maternidade do Hospital Universitário. Tem como princípios norteadores a
humanização do cuidado, a promoção da autonomia dos participantes e o atendimento interdisciplinar. Seu público alvo são
mulheres a partir do segundo trimestre de gestação e seus acompanhantes de livre escolha. Suas atividades são realizadas
durante oito quintas-feiras consecutivas e incluem: conscientização corporal, técnicas de relaxamento, assuntos pertinentes ao
ciclo gravídico-puerperal e cuidados com o RN, possibilitando a troca de experiências entre participantes e profissionais de
saúde. Além das atividades presenciais, cria-se um grupo em aplicativo de mensagem para troca de informações entre a
equipe do projeto e participantes
(5)
. Vale ressaltar que a temática de cuidados com o RN é trabalhada por meio de roda de
conversa em um encontro específico que aborda diversos aspectos do cuidado, como banho, amamentação, sono, aspectos
psicoafetivos, cólicas e choro.
Para a realização do estudo, primeiramente, foi elaborado um formulário com sete perguntas relacionadas ao tema dos
cuidados com o RN. Destas, duas eram fechadas e cinco abertas, de modo que o instrumento foi composto e organizado da
seguinte forma: 1) Participação no encontro que abordou os cuidados com o recém-nascido (fechada); 2) Principais dúvidas
relacionadas aos cuidados com o bebê durante a participação do grupo (aberta); 3) Sentimentos das es em relação aos
cuidados com o RN nos primeiros 28 dias de vida (aberta); 4) Vivência das mães em relação aos cuidados com o RN nos
primeiros 28 dias de vida (aberta); 5) Dificuldades encontradas em relação aos cuidados nos primeiros 28 dias de vida do RN
(aberta); 6) Contribuições do grupo para a realização dos cuidados com o RN (aberta); e 7) Temáticas envolvidas nas principais
dúvidas e dificuldades das mães (fechada). Para responder ao formulário, o link de acesso foi enviado, via aplicativo do
WhatsApp®, para três grupos que haviam participado do projeto - totalizando aproximadamente 60 mulheres.
Como critérios de elegibilidades, foram incluídas no estudo apenas mulheres primíparas, com filhos na faixa etária de 0 a 12
meses de vida, que participaram de pelo menos um encontro do grupo de gestantes e casais grávidos. Foram excluídas as
primíparas com filhos prematuros (menos de 37 semanas), de baixo peso (menores que 2.500g), com alguma síndrome ou má-
formação e/ou que necessitaram de acompanhamento de algum serviço especializado ou óbito neonatal, e casos de óbito
neonatal.
O convite foi reforçado a cada 15 dias ao longo dos meses de agosto, setembro e outubro. O encerramento da coleta ocorreu
por saturação de dados. Após uma primeira análise, constatou-se duplicidade nas respostas de 6 questionários, que foram
excluídos. Ao total, o estudo contou com a participação de 14 mulheres, cujos nomes foram substituídos e enumerados de M1
a M14.
Para análise foi utilizada a proposta operativa de Minayo
(6)
, que seguiu três fases: pré-análise, exploração do material,
tratamento dos resultados e interpretação. Para chegar aos resultados as respostas foram organizadas de acordo com a ordem
das perguntas em tabelas no excel 2010®. Para chegar aos resultados, foi realizada a leitura flutuante do material, seguida da
análise do conteúdo das respostas, processo que originou as três categorias do estudo que serão abordadas posteriormente.
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Após a organização e análise interpretativa das respostas, ocorreu a fase da contextualização, onde os resultados foram
contrastados com outros estudos atuais referentes à temática da pesquisa. Foram seguidos todos os preceitos éticos,
garantindo-se os direitos do participante de acordo com o preconizado pela Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde,
aprovado sob parecer n.4.079.102 do Comitê de Ética e Pesquisa com Seres Humanos.
RESULTADOS
Os resultados desse estudo serão apresentados em categorias que emergiram após a análise dos dados, sendo elas: 1.
Participação no grupo de gestantes; 2. Dúvidas e dificuldades em relação ao cuidado com o RN; 3. Experiência materna nos
cuidados com o RN.
Participação no grupo de gestantes
Das 14 mulheres que responderam ao questionário, 12 relataram que compareceram no encontro que abordou os cuidados
com o RN. Todas referiram que as orientações fornecidas no grupo contribuíram para a realização dos cuidados com o RN.
O grupo é organizado e composto por profissionais muito experientes. Com isso, as orientações
repassadas são muito precisas às necessidades das gestantes e bebês, trazendo segurança para a mãe na
tomada de decisões. O que eu achei melhor foi lidar com a assistência de profissionais voltadas as
evidências científicas [...]”(M2).
“Foram informações e discussões importantes pra eu buscar mais informações sobre o que eu tinha
dúvidas”(M4).
“Me senti segura após ter adquirido conhecimento através do curso”(M6).
A participação nas atividades educativas propiciou o aprendizado de cuidados básicos e de aspectos psicológicos do RN, como
destacado nos trechos abaixo:
“Aprendi praticamente tudo sobre os cuidados básicos com o bebê como limpeza na troca de fraldas,
cuidados com as roupas do bebê e minha para lidar com ela e cuidados com o banho” (M7).
“Com relação às orientações psicológicas. Afeto, o que é mais importante neste período(M9).
“Eu era segura com relação a estes cuidados. Me ajudou esta questão do psiquismo do bebê,
exterogestação para entender a necessidade dele ficar juntinho de mim [...]”(M10).
“Os materiais escritos e as discussões em grupo ajudaram muito porque trocamos informações de
maneiras diferentes de cuidar do bebê, com as diferentes informações podemos pesquisar, pensar e
decidir o que seria melhor pra cada bebê” (M12).
Os resultados desta categoria apresentam elementos significativos sobre a troca de informações ocorridas nas atividades
educativas entre mulheres e profissionais de saúde.
Dúvidas e dificuldades em relação aos cuidados com o RN
Durante a participação no grupo, as principais dúvidas que emergiram em relação aos cuidados s-natal estavam voltadas à
higiene, conforto e amamentação. Dentre as participantes do estudo, seis relataram dúvidas com a realização do banho do RN.
“Principalmente higiene - banho, troca de fralda, etc”(M3).
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Outras dúvidas, relacionadas com o bebê também foram citadas e apenas uma participante respondeu o ter vidas em
relação aos cuidados com o RN.
“Durante o curso eu "achava" que não tinha dúvidas”(M14).
Em relação às principais dificuldades encontradas nos primeiros dias de vida do RN, as respostas se ampliaram. Porém, a
dificuldade mais citada foi em relação à amamentação.
“Amamentação, privação de sono, limitações físicas no s-cesárea e preocupação com a pandemia”
(M2).
“A maior dificuldade foi a amamentação. Tive queda de produção na 3a semana e tive que
complementar, [...]” (M5).
“Estabelecer uma amamentação tranquila (demorou mais que um mês) e me sentir apta a acalmar
quando chorava muito (M4).
“Apojadura, machucados no mamilo devido à amamentação, [...], como saber se o bebê está bem
alimentado” (M6).
“Eu achei bem mais difícil do que imaginei. Mesmo com rede de apoio, mãe e marido. Achei difícil
amamentar” (M10).
Outras dificuldades também foram citadas, como:
“Choro e incomodo devido a gases/cólica” (M3).
“Achei mais difícil dar o banho e cuidar do umbigo (M7).
“Minha bebê ficou com alergia de uma fralda, foi bem difícil vê- lá chorando e não poder fazer nada” (M8).
Duas pessoas responderam que as dificuldades foram agravadas pelo fato de o RN ter realizado fototerapia.
“Ela teve icterícia, portanto o fato de ter que internar foi o mais difícil. E fazer ela mamar quando ela tem
sono” (M9).
“Cólica e o fato dela ter que fazer fototerapia. Não estava preparada para isto (M13).
Neste contexto, as dúvidas relacionadas ao período se mostram amplas e estão diretamente ligadas às percepções maternas.
Experiência materna nos cuidados com o RN
No que diz respeito à experiência materna após o nascimento do RN, a insegurança foi uma resposta frequente, apenas duas
mulheres afirmaram estar seguras em relação a isso.
“Muito cansada, mas tinha uma base de conhecimento para lidar com os acontecimentos, e também uma
rede de apoio para tirar dúvidas, o que ajudou bastante” (M2).
“Sobrecarregada e impotente, principalmente em relação às cólicas” (M4).
“No início, insegura. Depois foi melhorando” (M5).
“No início insegura, mas recebendo apoio e orientações fiquei-me mais segura para ir realizando os
cuidados” (M9).
“Segura e capaz de cuidar do meu bebê” (M1).
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“Me senti tranquila, sabia os cuidados básicos” (M12).
Após análise das respostas obtidas, a vivência desses cuidados foi, em sua maioria, dada como cansativa e desafiadora.
“Trabalhosas, mas bem sucedidas” (M2).
“Alguns foram mais tranquilos (como banho e higiene) mas a amamentação foi bem difícil e o sono do
bebê também” (M3).
“Cansativa, desafiadora, sofrida, uma quebra de paradigmas” (M10).
“Consegui realizar todos os cuidados bem, tive bastante ajuda do meu marido e minha mãe, e eles sempre
respeitaram minhas decisões de não usar lenço umedecido por exemplo” (M12).
Quando solicitadas para elencar até três opções sobre as principais vidas em relação aos cuidados com o RN, as principais
respostas foram: a amamentação e cólicas - encontradas em sete respostas. Seguindo, três mulheres assinalaram terem
dúvidas relacionadas aos cuidados psicoafetivos com o bebê; e três, o choro do bebê.Outras dúvidas, como: sono da mãe e do
bebê, como pegar o bebê corretamente, refluxo e cuidados com o umbigo do bebê, apareceram duas vezes cada uma.
Assim, foi observada a importância da educação em saúde para auxiliar as es, tendo como ponto de partida as orientações
fornecidas no pré-natal.
DISCUSSÃO
Na primeira categoria, intitulada “A participação no grupo de gestantes”, foi constatado que a maioria das mulheres estavam
presentes no encontro que abordou os cuidados com o RN. A participação no grupo contribuiu positivamente após a chegada
do bebê, mesmo existindo ainda muitas dúvidas. As atividades lúdicas, de lazer e educativas em grupos de apoio são
estratégias que contribuem para aliviar as dificuldades vivenciadas pelas mães nos cuidados com o RN
(7)
.
Sabe-se que a estratégia dos grupos tem sido mundialmente empregada como recurso para assistência em saúde, contribuindo
para a socialização, mudanças nos hábitos de vida e aprendizagem, entretanto, quando se observa a particularidade das
necessidades das mulheres, observamos que são as mais diversas. Tem-se como exemplo da exterogestação, que possibilita
que a mãe observe seu bebê e o mantenha o maior tempo possível ao seu corpo
(8)
. Esta teoria propõe que o RN continue
sendo “gestado fora do útero” por sua mãe, por pelo menos mais três meses, o que implica em dormir com o RN, amamentá-lo
em livre demanda e carregá-lo junto a si ao se deslocar. Ao mesmo tempo que essa teoria aumenta o vínculo do binômio mãe-
filho, pode também acentuar o desgaste físico e emocional da mulher, principalmente nos primeiros dias de vida do RN
(8)
.
A afirmativa de estarem cansadas e inseguras, que estas respostas foram frequentes, e, apenas duas mulheres afirmaram
estar seguras, podem estar ligadas às necessidades biopsicossociais desta fase, reconhecendo que a necessidade de sono e o
repouso são maiores neste período, informação esta que deve ser enfatizada às puérperas e aos seus familiares. Por
conseguinte, a necessidade de contextualizar os aspectos da vida cotidiana das mulheres, conhecer a estrutura social que
elas contam para resolver as questões práticas da vida e reconhecer que a sobrecarga das responsabilidades, por elas
assumidas no puerpério, pode ir além do que elas podem suportar
(9)
.
As complicações relacionadas ao RN também estão diretamente ligadas às percepções maternas e contribuem negativamente
para o cuidado ao RN, pois a vivência da hospitalização de um filho é um momento que desperta vários sentimentos, tais
como: ansiedade, medo, tristeza, saudade, culminando no sofrimento tanto da mãe, como da família
(7)
. Duas participantes
referiram que as dificuldades encontradas no cuidado foram agravadas pelo fato do RN ter realizado tratamento para icterícia,
chamado de fototerapia.
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Assim, quando ocorre algum imprevisto durante a gestação ou após o parto, a família sofre, tanto pelo medo e insegurança em
relação à recuperação do bebê, como devido às mudanças de rotina que a vivência da hospitalização e o acompanhamento ao
RN impõem. O apoio familiar neste período se mostra como alicerce até a recuperação completa do bebê. E as informações
anteriormente obtidas, podem auxiliar esta mulher a desempenhar os cuidados
(7,10)
.
A segunda categoria, referente às dúvidas nos cuidados com o RN durante a participação no grupo, demonstra que as maiores
dificuldades estavam voltadas aos cuidados com a higiene, conforto e amamentação. As mulheres relataram que sentiam
dúvidas na realização do banho do bebê, reconhecendo que é a partir das vivências com seu filho que as dúvidas vão surgindo.
E com elas, também o aprendizado.
As ações de educação em grupos visam uma maior tranquilidade na gestação, parto e puerpério, com objetivo de deixá-las
mais seguras. Para isso, a utilização de materiais educativos impressos - prática comum no Sistema Único de Saúde (SUS) - são
capazes de promover resultados expressivos para os participantes das atividades educativas. Um exemplo de material rico em
informações é a caderneta da gestante, sendo considerada uma fonte de informações disponível para quem realiza o pré-natal.
Nela, estão contidas ricas informações que encorajam as mulheres, principalmente por afirmarem que, durante o período,
um tempo de preparo e uma evolução que as permitem enfrentar os desafios do parto e dos cuidados com o RN
(10-11-12)
.
A literatura tem evidenciado a importância da amamentação para a saúde da criança e de sua mãe, destacando os fatores
multidimensionais que influenciam na amamentação, envolvendo questões sociais, econômicas, culturais e psicológicas
(3)
. Os
fatores mais frequentemente associados ao sucesso na amamentação são o local de residência, idade materna intermediária,
escolaridade materna crescente, ausência de trabalho materno, entre outras
(14)
.
A falta de apoio da equipe de saúde, ainda nos primeiros dias de vida do RN, compromete a prática da amamentação,
colaborando, entre os outros aspectos acima citados, para o desmame precoce que possivelmente afetará na saúde e
desenvolvimento ao longo da vida do RN
(3)
. Deste modo, os resultados obtidos confirmam a importância do apoio às mães para
a garantia do aleitamento materno
(13)
.
Estudos têm contribuído no conhecimento dos elementos envolvidos no processo da amamentação e demonstram que, na
visão das mães, essa prática é carregada de aspectos positivos e negativos que incluem cansaço, a limitação do seu tempo para
exercer as funções de mãe/mulher/trabalhadora e a necessidade de ajuda para realizar a amamentação. Assim, reconhece-se
que o cuidado com o bebê exige muitas horas de dedicação e que o suporte oferecido à mulher representa uma valiosa
contribuição para a redução da sobrecarga materna
(13,2)
.
Na terceira categoria, em relação às principais dificuldades encontradas nos primeiros dias de vida do bebê, a resposta mais
citada foi em relação à insegurança e aos desafios enfrentados.
Visando atender aos interesses das mulheres, a OMS e o Ministério da Saúde (MS), recomendam a adoção de estratégias que
estimulemo bem-estar das mães. Para isso, buscam estimular o desenvolvimento de ações educativas na assistência de
enfermagem à mulher que fortaleçam o empoderamento das mães, uma vez que promove e facilita a adoção de medidas
importantes e benéficas para a saúde”. Tais ações são importantes para que a mulher reconheça suas limitações, como
também, para que possa contar com uma rede de apoio, fortalecendo o vínculo entre os provedores do cuidado e o RN
(3,15-16)
.
Os programas e políticas de saúde infantil começaram a abordar sobre os problemas específicos dos RN, pois além da
preocupante mortalidade, o funcionamento hospitalar muitas vezes impõe limitações às mães e não as capacitam para a
vivência como RN no ambiente domiciliar, refletindo na continuidade do cuidado
(7,17)
.
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O conjunto desses cuidados visa a qualidade de vida das crianças, para possibilitar que cresçam e se desenvolvam da forma
esperada. É também nesse período que ocorrem situações que envolvem a mãe e o RN, como as dificuldades na
amamentação, citado anteriormente, os cuidados com o coto umbilical e a higiene. Esses fatores vão ao encontro dos
resultados obtidos nesta pesquisa, que enfatizou como principais dúvidas das mulheres em relação aos cuidados com o RN:
amamentação, cólicas, cuidados psicoafetivos com o RN, choro do RN, sono da e e do RN, como pegá-lo corretamente,
refluxo e os cuidados com o umbigo do bebê.
Conhecer as experiências, dúvidas e dificuldades vivenciadas pelas mães após o nascimento de seus filhos, possibilita aos
profissionais de saúde o desenvolvimento de orientações que promovam a autonomia e a segurança das puérperas nos
cuidados com o RN
(17)
. O cuidado engloba a educação em saúde, promovendo mobilização e engajamento comunitário para
estimular as melhores práticas pré-natais e pós-natais, apoio e incentivo à amamentação, à imunização e a mobilização
comunitária por serviços de qualidade
(18-19)
.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados deste estudo permitiram conhecer com as puérperas experienciam os cuidados com o RN a partir de
informações obtidas em atividades de educação em saúde desenvolvidas em um grupo de gestantes e casais grávidos. As
participantes, mesmo mencionando as informações obtidas nos encontros, relataram dúvidas e insegurança em relação aos
cuidados com o RN. Dentre as dificuldades mencionadas, a amamentação tornou-se a principal questão, influenciando na
percepção da maternidade. As experiências durante o puerpério foram relatadas como cansativas e desafiadoras,
desencadeando insegurança nas mulheres. Contudo, destaca-se que as orientações do grupo contribuíram para a realização
dos cuidados com o RN, propiciando aprendizado em relação aos cuidados e também em relação aos aspectos psicológicos do
puerpério.
A educação em saúde é um elemento potencializador dos cuidados com o RN para que as mulheres e seus familiares possam
desenvolver e prover os cuidados, com segurança, nos primeiros dias de vida do RN. Nesta perspectiva, é imprescindível que
os profissionais de saúde adotem posturas que facilitem o acesso às atividades de educação em saúde, que possam ouvir,
identificar problemas, compreender, acolher e aconselhar, reconhecendo que o apoio e a orientação devem ser
compartilhados na intenção de auxiliar as mães nas tomadas de decisões e nos desafios que serão encontrados.
Este estudo apresentou como limitação a coleta realizada via formulário digital, não possibilitando explorar com maior
profundidade as questões relacionadas aos cuidados com o RN, pontuadas pelas participantes. Contudo, os resultados
contribuem para reflexão dos profissionais de saúde, em especial a enfermagem, sobre a importância da educação em saúde
para o preparo com os cuidados com o RN e a necessidade de espaços que fomentem a troca de experiências entre as
mulheres que vivenciam o puerpério, sanando suas dúvidas no momento da vivência.
Conflito de interesses: Declaramos não haver.
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