REVISTA NORTE MINEIRA DE ENFERMAGEM

ISSN: 2317-3092

 

 

Recebido em:

25/02/2020

Aprovado em:

01/04/2020

Como citar este artigo

Gr�fico de linhas

 

Klemtz FV, Ribeiro JP, Soares MC, Hartmann M. Confortabilidade da unidade materno-infantil: perspectiva de mulheres com diagn�stico de gesta��o de alto-risco. Rev Norte Mineira de enferm. 2020; 9(1):40-47.

�cone de email

Autor correspondente

Gr�fico de linhas

 

Fabiane Voss Klemtz.

Universidade Federal de Pelotas

Correio eletr�nico: fabianeklemtz2010@hotmail.com

 

 

 

ARTIGO ORIGINAL

CONFORTABILIDADE DA UNIDADE MATERNO-INFANTIL: PERSPECTIVA DE MULHERES COM DIAGN�STICO DE GESTA��O DE ALTO-RISCO

Comfortableness of the maternal-child unit: perspective of women diagnosed with high-risk pregnancy

Fabiane Voss Klemtz1, Juliane Portella Ribeiro2, Marilu Corr�a Soares3, Melissa Hartmann4.

 

 

1 Enfermeira. Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas (FE/UFPel). Pelotas (RS), Brasil. ORCID iD: https://orcid.org/0000-0002-2624-9651

2 Doutora em Enfermagem. Professora adjunta da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas (Fe/UFPel). Pelotas (RS), Brasil. ORCID iD: https://orcid.org/0000-0002-1882-6762

3 Doutora em Enfermagem. Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Pelotas (RS), Brasil. ORCID iD: https://orcid.org/0000-0001-9171-1083

4 Acad�mica de Enfermagem. Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas (FE/UFPel). Pelotas (RS), Brasil. ORCID iD: https://orcid.org/0000-0002-3955-0558

 

 

Objetivou-se identificar os aspectos ambientais relacionados a confortabilidade das mulheres com diagn�stico de gesta��o de alto-risco internadas em uma unidade materno-infantil. Pesquisa qualitativa de car�ter explorat�rio e descritivo, cujas participantes foram 22 mulheres com diagn�stico de gesta��o de alto-risco, internadas em uma unidade materno-infantil. Os dados foram coletados por entrevista semiestruturada e, posteriormente, submetidos � an�lise tem�tica proposta por Minayo. Os resultados apontam aspectos que contribuem para a confortabilidade das mulheres, tais como relacionais, estruturais, o funcionamento da unidade, bem como experi�ncias de hospitaliza��es anteriores positivas. J�, os aspectos que dificultam a confortabilidade evidenciam a necessidade de reformula��es na estrutura f�sica e mobili�rio para que promovam a comodidade tanto da mulher hospitalizada quanto para o acompanhante, a adequa��o da ilumina��o e da privacidade. Faz-se imperativo atentar a ambi�ncia, qualificando os servi�os, com projetos estruturais, arquitet�nicos e relacionais que privilegiem a privacidade da mulher e um atendimento centrado na mulher e na fam�lia.

 

Descritores: Enfermagem; Maternidade; Gravidez de Alto Risco; Ambiente de Institui��es de Sa�de; Humaniza��o da Assist�ncia.��

This paper was aimed to identify the environmental aspects related to the comfortableness of women diagnosed with high-risk pregnancy admitted to a maternal-child unit. Qualitative research with exploratory and descriptive character, whose participants were 22 women diagnosed with high-risk pregnancy and who were admitted to a maternal-child unit. Data were collected through semi-structured interviews and, subsequently, submitted to the thematic analysis proposed by Minayo. The results highlight aspects that contribute to the comfortableness of women, such as relational, structural, unit operation, as well as experiences of positive previous hospitalizations. Conversely, the aspects that hinder comfortableness emphasize the need for reformulations in the physical structure and furniture, so that they promote both the comfort of the hospitalized women and the comfort of their caregivers, the adequacy of lighting and the privacy. It is imperative to be aware of the ambience, enhancing the services, with structural, architectural and relational projects that favor the privacy of women and a service focused on women and families.

Descriptors: Nursing; Hospitals, Maternity; Pregnancy, High-Risk; Health Facility Environment; Humanization of Assistance.

INTRODU��O

 

O diagn�stico da gesta��o de alto risco associado � necessidade de hospitaliza��o desencadeia nas mulheres sentimentos de medo, ansiedade, d�vida, incerteza do futuro e receio de que algo possa acontecer consigo e com o beb� (1). Por essa raz�o, o ambiente hospitalar deve proporcionar acolhimento integral da mulher, a fim de que sua perman�ncia neste local seja o menos traumatizante poss�vel, por meio da cria��o de ambientes confort�veis e acolhedores, que proporcionem luminosidade, ru�dos e temperatura adequada. Permita a livre deambula��o, alojamento conjunto para m�e, beb� e acompanhante, al�m de favorecer privacidade e individualidade as usu�rias, seus familiares, bem como para os profissionais de sa�de (2-4).

 

No entanto, pesquisadores apontam que estes aspectos n�o s�o garantidos, tendo em vista que procedimentos invasivos s�o realizados em locais que n�o garantem a privacidade da mulher, h� grande quantidade de leitos em uma mesma enfermaria e a estrutura do banheiro � de tamanho reduzido. H� aus�ncia de estruturas de apoio para a realiza��o de refei��es, disposi��o do aparelho televisor que impede a visualiza��o por parte das gestantes, que corrobora para o posicionamento inadequado, acarretando dores musculares (4-5).

 

A falta de estrutura e especificidades do ambiente hospitalar as necessidades que envolvem o per�odo grav�dico-puerperal de mulheres com gesta��es de alto risco exacerbam a viv�ncia de sentimentos negativos(6), uma vez que a interna��o pode ser prolongada devido ao cont�nuo monitoramento e avalia��o da m�e e do beb�, promovendo o isolamento social, da fam�lia, dos amigos e das atividades cotidianas(7).

 

Ademais, a car�ncia de estrutura adequada pode comprometer o atendimento de sa�de a essas mulheres. Estudo realizado por Albuquerque (4), com o objetivo de avaliar a adequa��o de uma unidade de interna��o de alto risco gestacional ao conceito de ambi�ncia da Pol�tica Nacional de Humaniza��o (PNH), identificou a aus�ncia de ilumina��o focal e de sistema de alarmes nos leitos, o que pode comprometer o atendimento das gestantes internadas em eventuais intercorr�ncias(4).

 

Pivatto(8),ao mensurar os n�veis de ru�do em uma unidade materno-infantil de refer�ncia para gesta��o de alto risco em Curitiba-PR evidenciou n�veis de ru�do acima do recomendado pela literatura em todas as �reas do alojamento conjunto, afetando a recupera��o das usu�rias; com preju�zos no sono e repouso, na concentra��o e nos n�veis press�ricos. Tamb�m, o ru�do excessivo comprometeu o trabalho dos profissionais de sa�de, causando fadiga, estresse, ins�nia, irritabilidade, al�m de gerar perdas auditivas em longo prazo e promover erros no processo de trabalho (8).

 

Considerando que ambientes acolhedores e confort�veis contribuem de forma significativa para o tratamento terap�utico e recupera��o, al�m de proporcionar bem-estar f�sico, psicol�gico e social no per�odo grav�dico-puerperal, faz-se imperativo adequa��es nas institui��es hospitalares(7,9). Nesse sentido, o presente estudo teve por objetivo identificar os aspectos ambientais relacionados a confortabilidade das mulheres com diagn�stico de gesta��o de alto-risco internadas em uma unidade materno-infantil.

 

M�TODO

 

O presente estudo foi desenvolvido a partir de um recorte de uma pesquisa ampla intitulada �Ambi�ncia da unidade materno-infantil: percep��o das usu�rias e profissionais de enfermagem�. Trata-se de uma pesquisa qualitativa de car�ter explorat�rio e descritivo.

 

O ambiente de investiga��o foi a unidade materno-infantil de um Hospital Escola (HE) situado no Sul do Brasil, que disp�em todos os leitos pelo Sistema �nico de Sa�de (SUS). A regi�o do extremo sul possui como fonte econ�mica principal a agropecu�ria, o com�rcio e servi�os, apresentando 83,5% da popula��o na zona urbana (2010). Vale salientar que a gravidez, parto e puerp�rio s�o respons�veis por 16,8% das interna��es da macrorregi�o, sendo a taxa de mortalidade infantil 12,7/1000 nascidos vivos em 2014, superando os valores do estado de 10,1/1000 nascidos vivos em 2015. Entre as prioridades da regi�o est� o fortalecimento da Rede Cegonha(10). A escolha deste local foi motivada pelo fato da institui��o ser refer�ncia regional para o atendimento ao pr�-natal a gesta��o de alto risco para os 28 munic�pios pertencentes a 3� Coordenadoria Estadual de Sa�de do Estado do Rio Grande do Sul.

 

Participaram do estudo 22 mulheres, no per�odo grav�dico-puerperal, com diagn�stico de gesta��o de alto-risco, internadas na unidade materno-infantil do referido HE. Foram estabelecidos como crit�rios de inclus�o: mulheres no per�odo grav�dico-puerperal, maiores de 18 anos; internadas na unidade materno-infantil do HE e condi��o de sa�de clinicamente est�vel; comunicar-se verbalmente na l�ngua portuguesa; e, consentir com a divulga��o dos dados em meio cient�fico.

 

O n�mero de participantes foi determinado pela satura��o dos dados, ou seja, quando as informa��es fornecidas pelos participantes se repetem, n�o sendo acrescentado nenhum dado significativo, desta forma n�o apresentando mais relev�ncia na coleta de dados(11).

 

O presente estudo respeitou a Resolu��o 466/12 do Conselho Nacional de Sa�de do Minist�rio da Sa�de, que aborda a pesquisa envolvendo seres humanos; e obteve parecer favor�vel � sua realiza��o pelo Certificado de Apresenta��o e Aprecia��o �tica no n� 08879619.3.0000.5316.

 

A coleta de dados ocorreu no primeiro semestre de 2019, conforme dias pactuados previamente com a enfermeira respons�vel pela unidade e em local que proporcionasse privacidade �s participantes. Como instrumento de coleta de dados foi utilizado entrevista semiestruturada gravada, a qual foi guiada por um roteiro com quest�es abertas que exploravam a opini�o das entrevistadas sobre a unidade que se encontrava internada, incluindo os aspectos ambientais relacionados a confortabilidade da mulher durante o trabalho de parto, parto e puerp�rio.

 

Com vistas a garantir o anonimato, as falas das participantes foram identificadas pelas letras M, sucedidas de algarismos ar�bicos que indicaram o n�mero de ordem da entrevista. Para a organiza��o e tratamento dos dados, foi utilizado o software Nvivo 11, programa que auxilia na an�lise de material qualitativo com ferramentas de codifica��o e armazenamento de textos(12). Posteriormente, os dados foram analisados por meio da an�lise tem�tica(13).

 

RESULTADOS E DISCUSS�O

 

A seguir ser�o apresentadas as caracter�sticas sociodemogr�ficas das participantes e as tem�ticas emergidas da an�lise dos dados: Aspectos que contribuem para a confortabilidade das mulheres internadas na unidade materno-infantil e Aspectos que dificultam a confortabilidade das mulheres internadas na unidade materno-infantil.

 

Participaram do estudo 22 mulheres, com idades que variavam entre 20 e 42 anos; sendo onze gestantes e onze pu�rperas. Em rela��o ao estado civil, sete s�o casadas, 14 solteiras e uma divorciada. Quatro possuem grau de escolaridade correspondente ao ensino fundamental incompleto, seis ao ensino fundamental completo, uma ao ensino m�dio incompleto, nove ao ensino m�dio completo e duas com n�vel superior. 13 participantes possuem atividade laboral e nove dedicam-se as atividades dom�sticas.

 

Aspectos que contribuem para a confortabilidade das mulheres internadas na unidade materno-infantil

 

Nesta perspectiva as mulheres citam � aten��o ofertada na assist�ncia a elas e seus filhos, por meio de esclarecimento de d�vidas e orienta��es sobre assuntos relacionados a procedimentos; os quais geram sentimento de seguran�a durante o per�odo de interna��o.

 

�Atender a gente bem. Eles est�o sempre preocupados com a medica��o e tudo direitinho [...]. Explicar as coisas para a gente, n�o deixar a gente na d�vida.� (M5)

�O pessoal todo aqui dentro � muito atencioso, respeita muito a gente, e preocupa com o bem-estar das gestantes e depois dos nen�ns [...].� (M4)

�[...]eu precisei que um viesse falar comigo sobre a situa��o do meu beb� e ele conversou, me explicou tudo bem direitinho certinho. Toda hora vem um e outro aqui conversar comigo e me explicar tudo o que ela vai passar aqui e o que v�o fazer.� (M13)

�Ambiente agrad�vel, tanto a equipe de enfermagem quanto os m�dicos s�o pessoas assim que se preocupam com os pacientes. [...].�(M22)

�A turma da pediatria ent�o eu n�o tenho nada do que reclamar, porque o meu nen�m teve que fazer banho de luz, ele teve amarel�o e ele teve uma infec��o do umbiguinho [...]desde o primeiro momento eles explicaram o que estava acontecendo,[...]. Ent�o para mim foi assim, a melhor estadia que eu podia ter foi aqui.� (M14)

 

Atentar a ambi�ncia da unidade materno-infantil torna-se imprescind�vel para que o per�odo grav�dico-puerperal seja vivenciado e lembrado como um momento feliz, tendo em vista que aspectos estruturais, arquitet�nicos e relacionais podem refletir no conforto f�sico e emocional da mulher durante a interna��o hospitalar (6).

 

No sentido de contribuir para a confortabilidade, os profissionais de sa�de possuem a obriga��o �tica e legal de oferecer informa��es pertinentes e adequadas a respeito do estado de sa�de da mulher e da crian�a, esclarecer d�vidas e favorecer a participa��o ativa das usu�rias na escolha do seu tratamento, proporcionando assim a autonomia diante a tomada de decis�es, favorecendo o ciclo de confian�a e empoderamento da mulher (14-15).

 

As mulheres apontam ainda que a estrutura da unidade, bem como o mobili�rio, a alimenta��o ofertada, a higiene e o sil�ncio, contribuem o descanso durante o per�odo de interna��o, consequentemente, para a sensa��o de conforto.

 

�As camas s�o boas, tem toda a alimenta��o, tem um banho muito bom, o chuveiro � muito bom. � bem tranquilo.�(M8)

�, [...]tu v� desde a qualidade das camas mesmo tipo, o banheiro, o local em si [...] ar condicionado mesmo, isso n�o � nenhum pouco comum em outros hospitais.� (M4)

�Tem bastante conforto. A cama, o quarto sempre limpinho. Eu acho muito boa a higieniza��o.� (M1)

�Eu gostei. N�o tem barulho. No outro hospital que eu estava tinha um barulh�o. Aqui tudo � calminho. As pessoas se respeitam.� (M11)

�� confort�vel, camas, alimenta��o muito boa, tipo aqui a equipe tamb�m de higiene, sempre higienizando o ambiente, banheiro, nunca falta nada.� (M21)

 

H� diversos elementos que contribuem para o conforto da mulher durante o per�odo de interna��o na unidade materno-infantil, dentre os quais est�o o tipo de cama utilizada, o mobili�rio, o chuveiro e banheiro privativo, a ilumina��o, os ru�dos, a possibilidade de locomo��o dentro da unidade, dentre outros (16).

 

Estudos apontam que as institui��es hospitalares possuem n�veis de ru�do acima do esperado pela Organiza��o Mundial de Sa�de. Gestantes expostas a altos n�veis de ru�dos podem apresentar maior probabilidade de agita��o, estresse, altera��o no n�vel press�rico, altera��o na posi��o fetal, levando a complica��es durante o trabalho de parto, al�m de reduzir a toler�ncia � dor e corroborar para o aumento do consumo de al�vio farmacol�gico da dor (8, 17).

 

Al�m disso, a exist�ncia de experi�ncias anteriores positivas torna-se gerador de conforto durante o per�odo de interna��o, tendo em vista o conhecimento sobre a rotina da unidade hospitalar e qualidade da assist�ncia prestada.

 

�Ah eu adoro esse hospital, j� � o terceiro parto que eu venho aqui. Sempre sou muito bem atendida, a qualidade e limpeza tudo � �timo.� (M5)

�Pra mim � o melhor hospital em que eu j� fui.. Todos os meus filhos nasceram por aqui.� (M6)

�Eu tive que vir um m�s antes porque estava com sangramento. Desde j� o atendimento foi bom.  Eu tenho um menino de cinco anos e eu precisei consultar aqui tamb�m na gesta��o dele e fui t�o bem atendida quanto agora.� (M21)

 

Nesse sentido, a Rede Cegonha com o intuito de assegurar a mulher e � crian�a o direito de aten��o humanizada, acessibilidade, acolhimento e resolutividade durante o pr�-natal, parto, puerp�rio e aten��o infantil, prop�e a cria��o de uma rede humanizada.Essa rede visa assegurar as mulheres o direito de realizar visitas aos servi�os de sa�de previamente, de forma a receber informa��es acerca das rotinas da unidade materno-infantil, estimulando a cria��o de v�nculo com o servi�o e a equipe, evitando a propaga��o de sentimentos negativos durante o trabalho de parto e parto, gerados a partir da exposi��o da usu�ria a um ambiente desconhecido (18-19).

 

Aspectos que dificultam a confortabilidade das mulheres internadas na unidade materno-infantil

 

As mulheres apontam que a unidade materno-infantil necessita de reformula��es que atentem aos aspectos ambientais para, assim, proporcionar comodidade tanto para a gestante ou pu�rpera hospitalizada quanto para o acompanhante. Por meio das falas, constata-se que a confortabilidade � direcionada somente para � mulher, enquanto que ao acompanhante � disponibilizado apenas uma cadeira pr�ximo ao leito, sem qualquer recurso que possibilite o repouso noturno.

 

�Pra quem est� internada sim, mas para os acompanhantes n�o, por causa que essas cadeiras para eles s�o totalmente desconfort�vel, principalmente na madrugada que d�o umas cochiladas, coitados, fico at� com pena.� (M7)

�� junto ou na cadeira. Podia melhorar tamb�m a cadeira porque se fica sentado a circula��o n�o ajuda [...] podia pelo menos a cadeira ser aquelas com conforto melhor.� (M10)

�S� a �nica dificuldade que eu encontrei assim foi pro acompanhante, que � s� uma cadeirinha. O acompanhante acaba dormindo com a gente porque n�o aguenta, a gente passa dias aqui [...] porque j� tive internada a umas duas semanas atr�s e o meu esposo ficou todas as noites assim. Se ele tivesse trabalhando, n�o aguentaria todas as noites sentadinho na cadeira.� (M22)

 

Embora a unidade materno-infantil seja projetada para a m�e e o beb�, n�o se deve negligenciar a oferta de acomoda��es que proporcionem a perman�ncia e conforto do acompanhante, visto que a presen�a dos mesmos est� relacionada a maiores taxas de recupera��o e probabilidade de satisfa��o da mulher com a experi�ncia de interna��o (16).

 

Outro aspecto que dificulta a confortabilidade � a falta de privacidade na unidade materno-infantil, a mesma � apontada pelas mulheres como geradora de constrangimento, al�m de dificultar o descanso das usu�rias devido a movimenta��o nos demais leitos.

�Eu acho que se essas unidades aqui tivessem tipo, sei l� umas cortinas envolvendo cada leito seria bem bacana, porque eu fico constrangida sabe?� (M9)

�[...] pelas visitas, tipo, est� certo que todo mundo precisa receber visita, mas ontem mesmo eu estava cansada, a� aqui do lado tinha umas dez pessoas... a� com a luz [...] depois de um momento como este a gente quer descansar um pouquinho, sabe? E n�o tem como descansar assim, ficar quietinha [...]�. (M7)

 

Corroborando com os achados desta pesquisa, estudo realizado com pacientes que haviam sido internadas por uma gravidez de alto risco, com o objetivo de explorar as necessidades das mulheres que passam por um per�odo prolongado de interna��o, revelou o incomodo gerado pela falta de privacidade durante o per�odo de hospitaliza��o, que � potencializado principalmente pela rotina hospitalar e pela estrutura f�sica das unidades (7).

 

Neste sentido, aspectos f�sicos e ambientais devem ser levados em considera��o quando se busca proporcionar privacidade na unidade materno-infantil, como: a instala��o de grades com v�os de janelas, a fim de n�o propiciar a exposi��o da mulher, ilumina��o natural sem visibilidade das atividades por pessoas externas, instala��o de cortinas secund�rias, proporcionando assim barreira vis�vel (16-17).

 

As usu�rias referem ainda aspectos estruturais e mobili�rio que dificultam a confortabilidade durante a interna��o na unidade materno-infantil, tendo em vista que o leito em que permanecem � desconfort�vel, h� presen�a de mofo nas paredes dos quartos e a luminosidade � incompat�vel para o descanso.

 

�O colch�o � horr�vel, mas eu acho que � este daqui porque os outros parecem ser melhores.� (M8)

�Eu acho que essas paredes assim, esse mofo que tu olha n�o � t�o agrad�vel de se olhar, mas de resto tranquilo.� (M8)

�Essa luz � bem forte. Se cada um tivesse a sua luz de cabeceira pelo menos[...]At� pela privacidade do paciente, que nem, as pessoas tem que fazer exame e est� tudo apagado, escuro no lugar, a� chega a enfermeira e tem que colocar uma sonda ou alguma coisa e tem que ligar todas as luzes, tipo isso incomoda um pouco.� (M9)

�S� as camas que n�o s�o muito boas, o colch�o que n�o � muito bom. Ainda mais para gestante. �s vezes, eles v�m de madrugada trocar o lixo, ent�o n�o � o sil�ncio que a gente quer de noite n�, para dormir e descansar[...]� (M13)

 

O ambiente f�sico da unidade materno-infantil deve possibilitar aos profissionais de sa�de estrutura adequada que priorize a privacidade da mulher durante a realiza��o de exames invasivos, tendo em vista que estes elementos contribuem para que a experi�ncia da interna��o seja satisfat�ria e proporcione maior seguran�a(4). De acordo com a Cartilha da Ambi�ncia do Minist�rio da Sa�de, a ilumina��o adequada proporciona um ambiente aconchegante, auxilia na privacidade do usu�rio e na maior seguran�a ao profissional de sa�de durante a presta��o da assist�ncia(2).

 

A ilumina��o natural proporciona a usu�ria internada a percep��o da passagem do tempo(16). Por�m, estudos apontam que parte das unidades hospitalares n�o possui ilumina��o adequada que contribua de forma significativa no processo de trabalho dos profissionais e propicie conforto aos seus usu�rios, o que prejudica a qualidade de sono(4,20).

 

CONSIDERA��ES FINAIS

 

Os resultados apontam que h� aspectos que contribuem e dificultam a confortabilidade das mulheres internadas na unidade materno-infantil. Dente os aspectos que contribuem destacam-se aspectos que envolvem a rela��o entre as mulheres e os profissionais de sa�de, como a aten��o e as orienta��es ofertadas, uma vez que geram seguran�a; bem como a estrutura e funcionamento da unidade, principalmente se h� experi�ncias de hospitaliza��es anteriores positivas.

 

J�, os aspectos que dificultam a confortabilidade das mulheres internadas na unidade materno-infantil evidenciam a necessidade de reformula��es na estrutura f�sica e mobili�rio para que, de fato, se promova a comodidade tanto da gestante ou pu�rpera hospitalizada quanto para o acompanhante; bem como a adequa��o da ilumina��o, que interfere no descanso das mulheres; e a falta de privacidade, que inibe o protagonismo das mesmas por coloc�-las em situa��es constrangedoras.

 

Assim, faz-se imperativo o investimento na implementa��o da Rede Cegonha que valoriza e estimula a vincula��o com o servi�o e a equipe de sa�de, buscando proporcionar as mulheres bem-estar por meio de ambientes preparados para que possam exercer as suas escolhas. Para tanto, atentar a ambi�ncia � fundamental, qualificando os servi�os, com projetos estruturais, arquitet�nicos e relacionais que privilegiem a privacidade da mulher e um atendimento centrado na mulher e na fam�lia.

 

O presente estudo possui como limita��o o fato de ser uma pesquisa local, cujos dados n�o podem ser generalizados. Prop�e-se que outros estudos sejam desenvolvidos em maternidades que atendam gestantes de risco habitual, a fim de retratar os aspectos que contribuem ou dificultam a confortabilidade nestes ambientes.

 

REFER�NCIAS

 

1.        Zani AV, Alvim HC. O filho prematuro de baixo peso: a maternagem hospitalizada. Rev Enferm UFPE [internet]. 2017 [citado em 17 nov 2019]; 11(4): 1727-30. Dispon�vel em: https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/article/view/15270/18077

2.        Brasil. Minist�rio da Sa�de. N�cleo T�cnico da Pol�tica Nacional de Humaniza��o. Ambi�ncia. Bras�lia: Minist�rio da Sa�de 2010: 32.

3.        Brasil. Minist�rio da Sa�de. Pol�tica Nacional de Humaniza��o DAPES /SAS. Oficina de Ambi�ncia para o Parto e Nascimento. Rede Cegonha. S�o Paulo: Minist�rio da Sa�de 2012.

4.        Albuquerque YP, Proen�a, RPC, Heck, APF, Luz, CM. The ambience in a high-risk unit of a public maternity hospital: an ergonomic aproach. Arq. Catarin Med [internet]. 2016[citado em 10 jan 2020]; 45(1):65-77. Dispon�vel em: http://www.acm.org.br/acm/seer/index.php/arquivos/article/view/63

5.        Guida NFB, Lima, GPV, Pereira, ALF. O ambiente de relaxamento para humaniza��o do cuidado ao parto hospitalar. Rev Min Enferm. 2013; 17(3); 524-30.

6.        Oliveira GS, Paix�o GPN, Fraga CDS, Santos MKN, Santos MA. Assist�ncia de enfermeiros na s�ndrome hipertensiva gestacional em hospital de baixo risco obst�trico. Rev Cuid. 2017; 8(2):Dispon�vel em: http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S2216-09732017000201561

7.        Kent RA, Cur A, Yasbek M, Heyns T, Coetzee I. The support needs of high-risk antenatal patients in prolonged hospitalisation. Midwifery. 2015; 31(1):164-169.

8.        Pivatto LF, Gon�alves CGO. Noise in a rooming-in ambience: perception of users and nursing professionals. Rev. CEFAC [internet]. 2013[citado em 23 jun 2019]; 15(6): 1461-1474. Dispon�vel em: http://www.scielo.br/pdf/rcefac/v15n6/v15n6a09.pdf

 

9.        Nogueira ILS. A import�ncia do ambiente f�sico hospitalar no tratamento terap�utico do paciente hospitalizado. Rev Especialize On-line IPOG. 2015;1 (10).

10.     SES. Secretaria Estadual de Sa�de. Governo do Rio Grande do Sul. Secretaria da Sa�de. Plano Estadual de Sa�de 2016-2019. SES: Porto Alegre, 2016[citado em 18 mar. 2020]; Dispon�vel em:https://www.google.com/url?client=internal-element-cse&cx=partner-pub-4357510538660394:7831812009&q=https://saude.rs.gov.br/upload/arquivos/201701/05153251-pes-2016-2019-sesrs.pdf&sa=U&ved=2ahUKEwji6ZGZrqXoAhUGmHIEHUckBwoQFjAAegQIARAB&usg=AOvVaw1jXpDNnSwzOO4d_Qi3UfA-

11.     Nascimento LCN, Souza TV, Oliveira ICS, Moraes JRMM, Aguiar RCB, Silva LF. Theoretical saturation in qualitative research: an experience report in interview with schoolchildren. Rev Bras Enferm [internet]. 2018[citado em 02 nov 2019]; 71(1):228-233. Dispon�vel em: https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/biblio-898342

12.     Guizzo BS, Krziminski CO, Oliveira DLLC. O software QSR Nvivo 2.0 na an�lise qualitativa dos dados: ferramenta para a pesquisa em ci�ncias humanas e da sa�de. Rev Ga�cha Enferm. 2003;24 (1): 53-60.

13.     Minayo, MCS. O desafio do conhecimento: Pesquisa Qualitativa em Sa�de. S�o Paulo: Hucitec, 2013.

14.     Jardim MJA, Silva AA, Fonseca LMB. Contribui��es do enfermeiro para o empoderamento da gestante no processo de parturi��o natural. Universidade Federal do Maranh�o [internet], 2017[citado em 24 nov 2019]. Dispon�vel em: http://www.joinpp.ufma.br/jornadas/joinpp2017/pdfs/eixo7/contribuicoesdoenfermeiroparaoempoderamentodagestantenoprocessodeparturicaonatural.pdf

15.     Jardim MJA, Silva AAA, Fonseca LMB. Contribuciones de Enfermer�a Prenatal para Conquista de Habilitaci�n de la Embarazada. J Rev Fundam Care Online [internet]. 2019 [citada em 23 nov 2019]; 11(2):432-440. Dispon�vel em: https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/biblio-969671

16.     Silva CN. Ergonomia aplicada na qualifica��o da ambi�ncia do espa�o de nascer. Revista Sustinere. 2018; 6 (1):150-174.

17.     Jenkinson B, Jonsey N, Kruske S. BirthSpace: an evidence-based guide to birth environment design. The University of Queensland[internet]. 2014[citado em 24 nov 2019]. Dispon�vel em: https://www.researchgate.net/publication/278328878_BirthSpace_An_evidence-based_guide_to_birth_environment_design

18.     Brasil. Secretaria de Pol�ticas para as Mulheres. Monitoramento e Acompanhamento da Pol�tica Nacional de Aten��o Integral � Sa�de da Mulher (PNAISM) e do Plano Nacional de Pol�ticas para as Mulheres. Bras�lia: Minist�rio da Sa�de, 2016.��

19.     Brasil. Minist�rio da Sa�de. Diretrizes nacionais de assist�ncia ao parto normal: vers�o resumida. Bras�lia: Minist�rio da Sa�de, P. 51, 2017.

20.     Ribeiro, J. P. A ambi�ncia como ferramenta de humaniza��o da unidade de pediatria: contribui��es da enfermagem. Universidade Federal de Rio Grande [internet]. 2015[citado em 23 jun 2019]. Dispon�vel em: https://ppgenf.furg.br/images/02_Teses/2015/juliane-Ribeiro.pdf