REVISTA NORTE MINEIRA DE ENFERMAGEM
|
|
|
INTRODU��O
As doen�as cardiovasculares representam a principal
causa de �bito no mundo. Dados de 2015, mostram que aproximadamente 40 milh�es
de mortes ocorreram devido a doen�as n�o transmiss�veis (DNT), representando
70% do total de 56 milh�es mortes, e as doen�as cardiovasculares representaram
45% de todos estes eventos1. Dois ter�os de mortes s�bitas ocorrem em ambientes
extra hospitalares, o que representa uma parada cardiorrespirat�ria (PCR) a
cada 1000 pessoas no ambiente comunit�rio a cada ano2.
A PCR, intercorr�ncia inesperada que constitui
grande amea�a � vida3, permanece como um problema mundial de sa�de p�blica
e caracteriza-se pela interrup��o da atividade mec�nica card�aca, pulmonar e
cerebral que em conjunto promovem perda da responsividade
e aus�ncia de batimentos card�acos e respira��o4.
No Brasil, os avan�os se estendem � legisla��o sobre
acesso p�blico � desfibrila��o e obrigatoriedade de disponibiliza��o de
desfibriladores externos autom�ticos (DEAs), bem como
no treinamento em�
ressuscita��o cardiopulmonar (RCP), podendo-se estimar cerca �de 200.000 PCRs ao
ano, das quais metade ocorre em ambientes como�
resid�ncias,� shopping centers,
aeroportos, est�dios5. Em 2011 foi lan�ado o Plano Nacional de a��es
estrat�gicas para o enfrentamento das doen�as cr�nicas n�o transmiss�veis
(DCNT) 2011-2022 e para a preven��o da morbimortalidade das doen�as do cora��o,
foram organizadas e implementadas, dentre outras, a��es para a melhora no
diagn�stico, preven��o e tratamento da hipertens�o arterial sist�mica e o
diabetes, bem como o controle e orienta��o sobre o tabagismo, o consumo de
�lcool, a alimenta��o inadequada, o sedentarismo e a obesidade6.
Apesar destes esfor�os, muitas vidas ainda s�o
perdidas todos os anos no Brasil, relacionadas �s doen�as card�acas que evoluem
em paradas cardiorrespirat�rias5. Assim, o reconhecimento e
identifica��o pelo leigo na comunidade � imperativo visto que a chance de
sobreviver est� diretamente relacionada ao atendimento r�pido, seguro e eficaz7.
A assist�ncia prestada no atendimento pr�-hospitalar �
de suma import�ncia sendo estimado que o �ndice de sobreviv�ncia do indiv�duo seja
reduzido entre 7 a 10% para cada minuto de espera sem assist�ncia2. Por�m, quando h� interven��o, a taxa de sobrevida �
de 75% nos primeiros quatro minutos, 15% entre quatro e 12 minutos e apenas 5%
ap�s 15 minutos8.
Com base no exposto, a Sociedade Brasileira de
Cardiologia ressalta a import�ncia da educa��o, implementa��o e treinamento da
popula��o para que o in�cio da cadeia de sobreviv�ncia seja precoce, conforme enfatizado
na I Diretriz de Ressuscita��o Cardiopulmonar e Cuidados Cardiovasculares de
Emerg�ncia5. Neste mesmo documento, destaca-se
que infelizmente, as habilidades adquiridas ap�s um treinamento em RCP podem
ser perdidas em tempo muito curto (3 a 6 meses), caso� n�o�
utilizadas� ou� praticadas, o que refor�a� a�
necessidade da simplifica��o do treinamento para leigos com o
intuito� de� que�
aspectos� importantes� e�
de� impacto� nos�
desfechos� tenham� maior�
chance� de� ser�
retidos� por� maiores intervalos de tempos5.
Desta maneira � primordial o
conhecimento e habilidade t�cnica-cient�fica visando a r�pida recupera��o,
diminui��o do sofrimento e ocorr�ncia m�nima de
sequelas para o paciente3. Entretanto, um problema muito comum na
comunidade � a dificuldade em reconhecer os sintomas
correspondentes a um evento tr�gico como a PCR, levando � demora nas a��es em reanima��o cardiopulmonar e
desta maneira promovendo
sequelas neurol�gicas graves e antecipando o fim da vida4,9. O desfecho das v�timas de PCR na
comunidade somente ser� favor�vel se a RCP for iniciada precocemente por pessoas da
pr�pria comunidade e posteriormente por profissionais
capacitados e receber um suporte avan�ado de vida no
pr�-hospitalar e em centros de refer�ncias7.
Embora a literatura apresente
estudos realizados em cidades brasileiras que demonstraram que o p�blico leigo
avaliado apresentou conhecimento incompleto ou incorreto sobre o atendimento � pessoas desacordadas e/ou em
parada cardiorrespirat�ria10-11, ainda s�o escassos os estudos recentes sobre
o tema realizados em outras
regi�es do Brasil. Adicionalmente, nenhum destes estudos considerou o conhecimento do
leigo de acordo com o mais recente protocolo da American Heart Association (AHA)12, o que direcionou a realiza��o do presente estudo. Neste
contexto, o objetivo do presente estudo foi avaliar o conhecimento e condutas te�ricas relatados por leigos frente a uma situa��o de parada cardiorrespirat�ria (PCR) em
v�tima adulta, considerando as vigentes diretrizes da American
Heart Association, publicadas em 2015.
M�TODOS
Trata-se de um estudo quantitativo,
transversal, de car�ter descritivo. A coleta de dados foi realizada em mar�o de
2017, em munic�pio de m�dio porte localizado na regi�o centro-oeste do pa�s
(Mato Grosso), que, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE)
apresentava, em 2019, uma popula��o estimada de 94.376 habitantes, IDH
considerado m�dio (0,708) e 97,8% de taxa de escolariza��o de 6 a 14 anos.
A amostra deste estudo foi probabil�stica.
Para o c�lculo amostral foi considerada a popula��o do munic�pio, que conforme
dados do IBGE apresentava, em 2017 uma popula��o de 60.764 pessoas com mais de 18
anos. Estabeleceu-se a preval�ncia de 50%, j� que este valor possibilita o maior
grau de vari�ncia, correspondendo ao tamanho m�nimo aceito para a amostra ser
representativa da popula��o, com n�vel de confian�a de 95%, precis�o de 5%
resultando em um tamanho amostral m�nimo de 382 transeuntes.
Os transeuntes foram aleatoriamente abordados
no per�metro urbano em locais de grande circula��o, como pra�as, pronto
atendimento m�dico, feira livre e nas imedia��es de uma universidade p�blica da
cidade e participaram do estudo ap�s aceite e confirma��o da adequa��o aos crit�rios
de inclus�o pr�-estabelecidos: idade superior a 18 anos, n�o fossem estudantes
da �rea da sa�de, profissionais de sa�de e militares11,13. Excluiu-se os
participantes que n�o responderam � todas as perguntas.
A equipe de pesquisa foi
constitu�da por seis pesquisadoras que foram calibradas em duas reuni�es
previamente agendadas quanto �s condutas para a realiza��o da abordagem dos
transeuntes e comportamento durante a coleta de dados. A abordagem ao
transeunte respeitou as seguintes etapas: apresenta��o, execu��o e conclus�o,
seguindo as orienta��es que constam no Plano de A��es de Servi�os de Sa�de para
pesquisa de usu�rios do Sistema �nico de Saude (SUS)14.
A apresenta��o se deu em
abordar, cumprimentar, se apresentar, e expor o conte�do incluindo os principais
benef�cios para o transeunte e a solicita��o da sua colabora��o no estudo.
Todos os que decidiram participar foram convidados para assinar o Termo de
Conhecimento Livre e Esclarecido. O participante foi informado de que poderia
interromper a sua participa��o a qualquer momento e tirar d�vidas sobre a
formula��o das quest�es a serem respondidas antes de qualquer apontamento no
question�rio.
A etapa da execu��o ocorreu por meio do
fornecimento de informa��es sobre o question�rio e o n�mero de perguntas. O
instrumento de coleta de dados foi baseado no utilizado em estudo anterior13 e atualizado
segundo a mais recente diretriz em reanima��o da American Heart Association12, que contemplou,
para leigos, a elimina��o de avalia��o de presen�a de respira��o bem como da manobra
de ventila��o; incluiu-se a verifica��o simult�nea da responsividade e respira��o
ausente ou apenas ag�nica (gasping), devendo-se nestes casos presumir
PCR e tomar tr�s atitudes: acionar o servi�o m�dico de emerg�ncia, pedir o
desfibrilador e iniciar compress�es sem interrup��es em ritmo de 100 a 120 por
minuto. Ap�s estas adapta��es no instrumento original, o novo instrumento passou
por um pr�-teste para que as perguntas fossem avaliadas quanto a pertin�ncia,
objetividade e qualidade por dois m�dicos especialistas emergencistas, dois profissionais
do Corpo de Bombeiros e quatro leigos.
O instrumento de avalia��o de conhecimento e
de condutas te�ricas diante de uma parada cardiorrespirat�ria contemplou dois eixos:
no primeiro buscou-se identificar o perfil s�cio demogr�fico do participante
(idade, sexo, escolaridade e ocupa��o). O segundo contemplou a investiga��o t�orica
do conhecimento e das condutas que seriam adotadas sobre o suporte b�sico de vida
na v�tima adulta, em sete quest�es de m�ltipla escolha, organizadas em 3 blocos
relacionados ao conhecimento sobre a identifica��o de uma PCR no adulto; as
condutas que seriam adotadas ap�s a identifica��o de uma PCR em v�tima adulta
na comunidade, envolvendo a decis�o em realizar ou n�o compress�es no t�rax e o
consequente conhecimento relacionado � esta conduta al�m
do entendimento sobre o desfibrilador externo autom�tico e sobre qual servi�o acionar
para solicitar socorro.
Cada pergunta continha quatro
op��es de respostas sendo que apenas uma era a correta segundo a AHA12 e em todas as quest�es incluiu-se a op��o �n�o sei responder�. O entrevistado
pontuava com um X a op��o adequada ao seu entendimento.
Finalizava-se com um
agradecimento e entrega de um folder ilustrativo com orienta��es gerais sobre
as principais recomenda��es para RCP no adulto.
Os dados foram analisados e tabulados utilizando
ferramentas do Microsoft Office Excel 2010, utilizando a estat�stica descritiva
por meio de m�dia, desvio padr�o, frequ�ncias absoluta e relativa. Este estudo
foi aprovado pelo Comit� de �tica da Faculdade S�o Leopoldo Mandic
(Campinas, S�o Paulo), sob parecer n�mero 2.019.448 e CAAE
62972216.8.0000.5374.
RESULTADOS
Foram abordadas 412 pessoas sendo que 11 delas n�o
quiseram participar do estudo em fun��o do desinteresse com o tema e/ou
aus�ncia de disponibilidade de tempo no momento da abordagem, e 04
question�rios foram exclu�dos por n�o terem respondidos todas as quest�es, resultando
ent�o em uma amostra de 397 transeuntes respondentes. Na tabela 1 verifica-se o
perfil dos transeuntes abordados, envolvendo adultos jovens, em sua maioria estudantes com ensino m�dio completo e/ou
ensino superior incompleto.
Tabela 1 - Perfil dos
respondentes do question�rio sobre reanima��o cardiopulmonar (C�ceres � MT, Brasil,
2017).
Caracter�sticas |
M�dia
(� DP*) Idade em anos |
Frequ�ncia absoluta |
Frequ�ncia relativa |
|
Sexo |
|
|
|
|
Feminino |
28,3�11,8 |
221 |
55,7 |
|
Masculino |
33,7�12,0 |
176 |
44,3 |
|
Escolaridade |
|
|
|
|
M�dio completo ou superior incompleto |
|
285 |
71,8 |
|
Fundamental completo ou m�dio incompleto |
|
41 |
10,3 |
|
Superior completo |
|
37 |
9,3 |
|
Sem instru��o ou fundamental incompleto |
|
34 |
8,6 |
|
Ocupa��o |
|
|
|
|
Estudantes (ensino m�dio completo e/ou ensino
superior incompleto. |
|
174 |
43,8 |
|
Servi�os Dom�sticos |
|
30 |
7,6 |
|
Vendedores |
|
28 |
7,1 |
|
Professores |
|
10 |
2,5 |
|
Outras ocupa��es |
|
155 |
39,0 |
|
* DP - desvio padr�o
Os resultados referentes aos conhecimentos e
condutas em casos de PCR est�o apresentados nas tabelas a seguir e as respostas
adequadas � evid�ncia atualmente dispon�vel est�o marcadas em it�lico. A tabela
2 aponta que a maioria das respostas foi a correta para as quest�es relacionadas
� identifica��o da parada cardiorrespirat�ria (51,6%, 205) e tipo de socorro
prestado por transeuntes (41,8%, 166), embora chame aten��o a soma das frequ�ncias
das op��es incorretas e �n�o sei�.
Tabela 2 - Respostas dos transeuntes a respeito da
identifica��o, tipo de socorro em uma parada cardiorrespirat�ria na comunidade
na v�tima adulta (C�ceres � MT, Brasil, 2017).
Caracter�sticas |
Frequ�ncia absoluta |
Frequ�ncia relativa |
Identifica��o
da parada cardiorrespirat�ria |
|
|
Na aus�ncia de movimentos no t�rax e sem resposta
aos chamados e/ou est�mulos dolorosos |
205 |
51,6 |
N�o sei responder |
82 |
20,7 |
Quando a v�tima n�o apresenta movimentos, somente gemidos aos est�mulos
dolorosos |
76 |
19,1 |
Fechando o nariz e boca para identificar se a v�tima tem alguma rea��o |
34 |
8,6 |
Tipo
de socorro prestado por transeuntes |
|
|
Chama ajuda e faz compress�es (fortes e r�pidas)
no t�rax at� a chegada do socorro especializado |
166 |
41,8 |
N�o fa�o nenhuma manobra, mas encaminho-o para o pronto atendimento
mais perto |
118 |
29,7 |
Liga para o socorro, faz-se boca-a-boca e algumas compress�es no t�rax
at� a chegada do socorro especializado |
99 |
24,9 |
N�o sei responder |
14 |
3,5 |
Total |
397 |
100,0 |
A tabela 3 apresenta a descri��o das respostas
relacionadas �s a��es e/ou conhecimentos fundamentais em casos de uma parada
cardiorrespirat�ria no adulto. Embora a maioria das pessoas tenha marcado a
correta localiza��o da compress�o no t�rax (72,8%, 289), a minoria soube
indicar a profundidade (11,3%, 45) e o n�mero de compress�es (9,8%, 39) corretos.
Sobre o desfibrilador externo autom�tico (DEA), a minoria dos respondentes
(9,3%, 37) soube apontar a resposta correta.
Tabela 3 - Decis�o do
transeunte quanto a profundidade e quantidade da compress�o tor�cica, a
localiza��o das m�os no t�rax durante e o uso do Desfibrilador Externo
Autom�tico (DEA) na reanima��o cardiopulmonar no adulto (C�ceres � MT, Brasil, 2017).
Caracter�sticas |
Frequ�ncia absoluta |
Frequ�ncia relativa |
Localiza��o da
compress�o no t�rax |
|
|
No meio do
peito (sobre o osso do centro do t�rax) |
289 |
72,8 |
Do lado esquerdo do peito |
52 |
13,1 |
N�o sei responder |
46 |
11,6 |
Em qualquer local do peito, o importante � comprimir
o t�rax |
10 |
2,5 |
Profundidade da compress�o
do t�rax |
|
|
N�o sei responder |
186 |
46,9 |
03 a 04 cent�metros |
118 |
29,7 |
02 cent�metros |
48 |
12,1 |
05 a 06
cent�metros |
45 |
11,3 |
Quantidade de
compress�es por minuto no t�rax |
|
|
Aproximadamente 30 vezes |
208 |
52,4 |
N�o sei responder |
118 |
29,7 |
De 100 a
120 vezes |
39 |
9,8 |
De 80 a 100 vezes |
32 |
8,1 |
Conhecimento sobre o
Desfibrilador Externo Autom�tico |
|
|
� um aparelho de uso exclusivo hospitalar para dar
choques em v�timas de parada cardiorrespirat�ria |
173 |
43,6 |
� um aparelho que comprime e dispara choque em t�rax
de v�timas de parada cardiorrespirat�ria |
104 |
26,2 |
N�o sei responder |
83 |
20,9 |
Aparelho
que verifica ritmo card�aco de v�timas em parada cardiorrespirat�ria e quando
indicado dispara choque |
37 |
9,3 |
Total |
397 |
100,0 |
Na tabela 4 pode-se notar que a maioria dos
respondentes (93,2%, 370) soube responder corretamente o servi�o a ser acionado
em caso de PCR.
Tabela 4 - Onde as
pessoas leigas solicitam socorro diante de uma reanima��o cardiopulmonar
(C�ceres � MT, Brasil, 2017).
Op��o
de solicitar socorro do transeunte |
Frequ�ncia absoluta |
Frequ�ncia relativa |
192 Servi�o de Atendimento M�vel de Urg�ncia
(SAMU) ou 193 Corpo de Bombeiros |
370 |
93,2 |
Para o hospital
mais pr�ximo |
17 |
4,3 |
190 Pol�cia
militar |
6 |
1,5 |
N�o sei responder |
4 |
1,0 |
Total |
397 |
100,0 |
DISCUSS�O
Identificou-se na presente investiga��o que embora
os leigos tenham demonstrado conhecer conceitualmente alguns aspectos do
atendimento da PCR e manobras de RCP, as respostas relacionadas �s condutas
relatadas para a ressuscita��o, apontam que estas seriam realizadas de forma
incorreta, levando inevitavelmente ao progn�stico indesej�vel e com risco de
sequelas neurol�gicas permanentes e/ou a morte. A parada cardiorrespirat�ria
s�bita coloca o socorrista leigo frente a decis�es e condutas desafiadoras, j�
que ele deve ser capaz de identificar se a v�tima est� responsiva, e n�o
confundir a PCR com outros eventos como desmaios ou convuls�o e, acima de tudo,
iniciar a RCP imediata e corretamente al�m de chamar socorro especializado.
Segundo a
Sociedade Brasileira de Cardiologia, estudos revelam que o treinamento de indiv�duos
leigos pode elevar substancialmente a probabilidade de um espectador realizar a
RCP e aumentar a sobrevida de uma v�tima que sofreu parada card�aca, al�m
disso, leigos devem ser treinados para desempenhar as instru��es dadas pelo
servi�o m�dico de emerg�ncia por telefone5.
Dentro deste contexto, verificou-se que pouco mais
da metade dos leigos abordados demonstraram reconhecer os sinais de uma PCR,
frequ�ncia esta menor e maior do que a verificada em estudos anteriores: 83,1%
e 27,3% respectivamente11,13, que pautaram-se em recomenda��es anteriores � vigente
utilizada no presente estudo12. Tais diferen�as podem estar associadas ao grau de
instru��o da amostra avaliada, visto que 34% participantes de um destes estudos13 possu�a
cursos e/ou orienta��es em SBV enquanto que no outro11 19,9% possu�a. Embora no presente estudo n�o tenha
sido verificada a qualifica��o dos respondentes quanto ao SBV, os resultados obtidos
podem ter sido influenciados pelo cen�rio atual, no qual jovens, grupo et�rio
predominante no estudo, obt�m informa��es com elevada rapidez, principalmente
por meio das m�dias eletr�nicas e redes sociais que facilitam a comunica��o em
decorr�ncia de compartilhamentos de mensagens, fotos e v�deos. Este fen�meno
potencializa diretamente a aprendizagem formal e informal15.
As respostas citadas sobre o que fariam diante de
uma PCR resultaram com 41,8% (166) respondendo adequadamente a op��o chamam ajuda e fazem compress�es (fortes e
r�pidas) no t�rax at� a chegada do socorro especializado, atitude esperada de
quem assiste a parada ocorrer fora de ambiente hospitalar12, frequ�ncia maior do que a encontrada na literatura
- 18,7%13. Ressalta-se que h� relato de que 75,5% dos
respondentes11 corretamente ligariam para o servi�o especializado.
Todavia 72,5% e 94,2% respectivamente da popula��o em geral dos dois estudos j�
citados afirmaram n�o se sentir preparada para socorrer emerg�ncias na
comunidade.
Nesta linha, 54,7% dos respondentes do presente estudo
apontaram respostas incorretas sobre as a��es iniciais diante de uma PCR, por�m
� necess�rio exaltar que, como na afirmativa liga para o socorro, faz-se boca-a-boca e algumas compress�es no t�rax
at� a chegada do socorro especializado, o trecho liga para o socorro e faz-se compress�es no t�rax at� a chegada do
socorro especializado, s�o condutas corretas ap�s a identifica��o de uma
PCR na comunidade5,12, por�m as demais afirmativas compostas por estes
trechos foram consideradas incorretas, por ser avaliada no seu contexto geral,
e conter intervalos com� erros b�sicos,
boca-a-boca � conduta retirada do protocolo de RCP em adultos para leigos5,12. A atual orienta��o � para que seja dada �nfase �s
compress�es no t�rax, buscando facilitar a execu��o pelo socorrista n�o
treinado e assim obter maior iniciativa por parte deste p�blico.
Se o SBV for iniciado imediatamente a chance de uma
v�tima de PCR sobreviver pode duplicar ou at� mesmo triplicar16, e iniciado nos primeiros 4 minutos a taxa de
sobrevida poder� chegar a 75% e ap�s 15 minutos, ela cai para m�dia de 5%8. Em contraponto, sendo o diagn�stico inadequado e
demorado, al�m da ado��o de condutas incorretas e ineficientes, as sequelas
neurol�gicas ser�o graves e o fim da vida antecipado2,4.
A maioria dos respondentes demonstrou conhecer o
local das compress�es tor�cicas, com o posicionamento das m�os no meio do peito
sobre a regi�o esternal entre os mamilos12. No entanto, tanto a for�a de compress�o e
consequente profundidade, quanto a frequ�ncia de realiza��o foram respondidas
de maneira incorreta fato tamb�m observado em estudos anteriores11,17, mesmo ap�s treinamento em manequins de alta
precis�o, os resultados mostram-se insatisfat�rios no quesito profundidade17. Neste contexto, quanto maior a frequ�ncia (superior
� 120/minuto) menor � a profundidade tor�cica, a exemplo quando o reanimador
implementa frequ�ncias acima de 140/minuto h� um d�ficit de at� 70% na
profundidade.
Desta forma, frequ�ncias menores que 100 ou maiores
que 120/minuto, ou ainda profundidades menores que 5 ou maiores que 6
cent�metros geram fluxos sangu�neos inadequados12. �O in�cio
das compress�es fortes e r�pidas deve ser imediato12,18 visto que estas a��es s�o fundamentais para o
fornecimento de fluxo sangu�neo, oxig�nio e energia para �rg�os cr�ticos, como
cora��o e c�rebro e, quando realizada corretamente aumenta a taxa de sobrevida5,12.
O cen�rio encontrado sobre a percep��o do
desfibrilador externo autom�tico neste estudo representa a realidade de como a
popula��o � carente de informa��es visto que 9,3% dos respondentes referiram
conhecer o que � o desfibrilador. Embora preocupante � necess�rio enfatizar que
na regi�o avaliada no presente estudo, n�o � conhecido nenhum local com a
disponibiliza��o de um DEA e, portanto, talvez seja um dos motivos deste
resultado. Este equipamento verifica o ritmo card�aco e condiciona a
desfibrila��o em casos de fibrila��o ventricular (FV) ou taquicardia ventricular
sem pulso (TVSP) e, portanto, pode interromper a PCR e reorganizar o ritmo
card�aco12.�
O DEA est� inserido no terceiro elo da cadeia de
sobreviv�ncia, ou seja, o leigo ao iniciar uma reanima��o, dever� solicitar que
algu�m chame o socorro especializado e busque um DEA, iniciar compress�es no
t�rax e ao chegar o DEA, desfibrilar imediatamente. Este procedimento pode ser realizado
por profissional de sa�de ou pelo leigo12 e
quando usado precoce e corretamente, melhora o progn�stico das v�timas no
pr�-hospitalar9,12,19. Estudos realizados no Jap�o20 e nos Estados Unidos19 evidenciam estes resultados com �ndices de
sobreviv�ncia sem sequelas neurol�gicas aparentes de 46,6% de uma amostra de 43.762
v�timas de PCR por fibrila��o ventricular e 46,3% de uma amostra de 203
acometidos, respectivamente. Em ambos os estudos, as v�timas foram atendidas
por leigos no ambiente extra hospitalar e receberam terapia el�trica com o DEA.
Em contraponto, no Brasil, estudos apontam que as
pessoas da comunidade apresentam conhecimentos limitados sobre o SBV9,13, especialmente quanto ao uso dos desfibriladores, o
que pode ser contornado mediante a participa��o em cursos e atualiza��es em SBV9,12,21.
A maioria dos respondentes demonstrou conhecer o
servi�o a ser acionado em casos de urg�ncia e emerg�ncia na comunidade na cidade
de C�ceres-MT, assim como verificado em estudos anteriores11,13, o que � bastante relevante j� que esta conduta faz parte do primeiro elo da
cadeia de sobreviv�ncia no SBV12, sendo que todos estes estudos consideraram os dois
servi�os principais de solicita��o de socorro (192 e 193). Por�m, quando considerado
apenas o 192,� estudo
pr�vio5 apontou que dentre as 814 pessoas avaliadas em
quatro cidades brasileiras, somente 35% reconheciam �o 192 como n�mero telef�nico nacional de
emerg�ncia m�dica.
Considerando os resultados desta pesquisa torna-se
evidente que os leigos possuem dificuldades para apresentar um conhecimento
te�rico e iniciativas eficientes frente a uma PCR no adulto na comunidade. Neste
sentido, evidencia-se que a assist�ncia e iniciativas prestadas por pessoas da
comunidade s�o fracas e inadequadas, em fun��o da inseguran�a, da demora na
identifica��o da PCR e nas a��es b�sicas de socorro16. Desta forma, a American Heart Association12 e outros autores11,13,16 refor�am a necessidade de planejamentos em sa�de coletiva
com amplo investimento e abordagem reflexiva sobre este assunto ao p�blico em
geral por meio de materiais ilustrativos, divulga��o nas m�dias, escolas,
universidades e disposi��o de desfibriladores para acesso ao p�blico, a fim de
treinar e capacitar estas pessoas -� para
melhorar o conhecimento, as iniciativas e a��es dos transeuntes com a inten��o
de aprimorar o cen�rio atual e diminuir a morbimortalidade nestas emerg�ncias
na comunidade.
Sugere-se, portanto, que sejam realizadas a��es
sociais com vistas a orienta��es e treinamentos para este p�blico como
implementa��o de projetos que ensinem condutas de reanima��o em PCR nas escolas
em parcerias com as faculdades da �rea da sa�de, e promova-se a��es de
certifica��o com os participantes durante os testes para condutores ou ainda
quando do registro da Carteira de Trabalho. E ainda que novas pesquisas sejam
realizadas para investigar como os socorristas sem instru��o promovem suporte
b�sico de vida na comunidade de forma pr�tica, visto que no presente estudo n�o
foram contemplados conhecimentos baseados em pr�tica, o que se constitui a
limita��o do estudo.
CONCLUS�O
Aproximadamente metade dos leigos avaliados sabem
identificar a PCR e proceder condutas adequadas como chamar o socorro
especializado bem como o local em que se deve fazer as compress�es no t�rax.
Entretanto apresentam saberes limitados que podem comprometer o progn�stico das
v�timas, especialmente quanto as iniciativas, a profundidade e quantidade de
compress�es no t�rax e sobre o uso desfibrilador externo autom�tico. Embora o
presente estudo tenha se pautado apenas na avalia��o te�rica dos conhecimentos
e condutas que seriam adotadas por um leigo e n�o em simula��es real�sticas, os
resultados obtidos colaboram com a possibilidade de simplifica��o do treinamento para leigos, por ter possibilitado a
identifica��o dos� aspectos de maior
confus�o e erros, que devem ser enfatizados nesse tipo de treinamento, sugerindo-se
como oportunidades para sua realiza��o a oferta de
cursos de certifica��o para a popula��o em geral quando da habilita��o ou ainda
como requisito para o registro da Carteira de Trabalho.
REFER�NCIAS
1.
|
World Health Statistics
2017: monitoring health for the SDGs, Sustainable evelopment
Goals. Geneva: World Health Organization; 2017. Licence:
CC BY-NC-SA 3.0 IGO. |
2.
|
Knopfholz J, Kusma
SZ, Medeiros YRCD, Matsunaga CU, Loro LS, Ortiz TM,
et al. Capacidade de
manuseio da parada card�aca em locais de alto fluxo de pessoas em Curitiba. Rev Soc Bras Clin Med.
[Internet]. 2015 abr-jun [cited� agost
3, 2017];13(2):114-8. Avaliable from: http://files.bvs.br/upload/S/1679-1010/2015/v13n2/a4739.pdf |
3.
|
Bertolol VF, Rodrigues
CDS, Ribeiro RDCHM, Cesarino CB, Souza VLH. Knowledge of cardiopulmonary resuscitation
among pediatric emergency staff. Rev. enferm. UERJ.
[Internet]. 2014 jul/ago [cited nov 2, 2017 ];
22(4): 546-550. Avaliable from: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/enfermagemuerj/article/view/15402 |
4.
|
Luzia MF, Lucena AF. Cardiorespiratory
arrest of the adult pacient in a hospital environment: nursing contributions.
Rev Ga�cha Enferm. [Internet]. 2009 jun
[cited jan 10, 2017 ]; 30(2):328-37. Avaliable from: https://seer.ufrgs.br/RevistaGauchadeEnfermagem/article/view/5638/6692 |
5.
|
Gonzalez MM, Timerman S, Gianotto-Oliveira
R, Polastri TF, Dallan
LAPF, Ara�jo S, et al. I guidelines of the Brazilian Society of Cardiology on
Cardiopulmonary Resuscitation and Cardiovascular Emergency Care. Arq Bras Cardiol. 2013 Aug;101(2 Suppl 3):1-221. doi: http://dx.doi.org/10.5935/abc.2013S006 |
6.
|
Minist�rio da Sa�de (BR).
Secretaria de Vigil�ncia em Sa�de. Departamento de An�lise e Situa��o de
Sa�de. Plano de a��es estrat�gicas para o enfrentamento das doen�as cr�nicas
n�o transmiss�veis (DCNT) no Brasil, 2011-2022. Bras�lia: Minist�rio da Sa�de;
2011. |
7.
|
Barros AG, Estrela FR,
Batista LP, Carmo AFS, Emidio SCD. Prehospital care: the nurses conduct front of a cardiopulmonry
arrest. Rev. enferm. UFPE. [Internet].�
[cited� april 10, 2016]; 5(4):933-938. Avaliable
from: http://bases.bireme.br/cgi-bin/wxislind.exe/iah/online/?IsisScript=iah/iah.xis&src=google&base=BDENF&lang=p&nextAction=lnk&exprSearch=31049&indexSearch=ID |
8.
|
Bueno LO, Guimar�es HP,
Lopes RD, Schneider AP, Leal PHR, Senna APR, et al. Evaluation of Prognostic Indexes
SOFA and MODS in Patients After Cardiac Arrest in Intensive Care Unit. Rev Bras Ter Intensiva. [Internet]. 2005
[cited jun 16, 2016]; 17(3): 162-4. Avaliable from: http://www.rbti.org.br/content/imagebank/pdf/antigos/rbti_vol17_03.pdf#page=17 |
9.
|
Ballesteros-Pe�a, S, Abecia-Inchaurregui
LC, Echevarr�a-Orella E. Factors Associated With Mortality in Out-of-hospital
Cardiac Arrests Attended in Basic Life Support Units in the Basque Country
(Spain) Revista
Espa�ola de Cardiolog�a. 2013;66(4):269-274. doi: http://dx.doi.org/10.1016/j.recesp.2012.09.016 |
10.
|
Pergola AM, Araujo IEM. Laypeople and basic life
support. Rev. Esc. Enferm. USP. 2009; 43(2): 335-342. doi http://dx.doi.org/10.1590/s0080-62342009000200012 |
11.
|
Chehuen Neto JA, Brum IV, Pereira DR, Santos LG, Moraes SL, Ferreira RE. Basic Life Support Knowledge and Interest among Laypeople. Int. j. cardiovasc.
sci. (Impr.). 2016; 29(6):443-452. doi
http://www.dx.doi.org/10.5935/2359-4802.20160064
|
12.
|
American Heart Association
(AHA). Destaques das Diretrizes da American Heart Association
2015 para RCP e ACE. [Internet]. 2015 [cited� jun 14, 2016]. Avaliable from: https://eccguidelines.heart.org/wp-content/uploads/2015/10/2015-AHA-Guidelines-Highlights-Portuguese.pdf |
13.
|
Pergola AM, Araujo IEM. The layperson in emergency
situations. Rev. esc. enferm. USP. 2008;42(4):
769-776. doi http://dx.doi.org/10.1590/S0080-62342008000400021 |
14.
|
Minist�rio da Sa�de (BR).
Caderno do programa nacional de avalia��o dos servi�os de sa�de. Bras�lia [internet] 2004; p. 49 [cited� oct 25, 2016]. Available from: http://www.desenvolvimentoqs.ufba.br/sites/desenvolvimentoqs.ufba.br/files/CADERNO_PNASS.pdf |
15.
|
Rabello CRL Haguenauer CJ. Sites de redes sociais e aprendizagem:
possibilidades e limita��es. Educaonline. [Internet]. 2011.
[cited Set 5, 2017]; 5(3), 19-43, Available from: https://www.academia.edu/3111998/Sites_de_Redes_Sociais_e_Aprendizagem_Potencialidades_e_Limita��es |
16.
|
Timerman S, Gonzalez MMC,�
Ramires JAF, Quilici
AP, Lopes RD, �Lopes AC. The 2010 Consensus on Cardiopulmary
Resuscitation and Emergency Cardiovascular Care Science with Treatment
Recommendations � International Liaison Committee on Resuscitation. Rev Bras Clin Med. [Internet]. �2010. [cited may 7, 2019]; 8 (3), 228-237. Available from: http://files.bvs.br/upload/S/1679-1010/2010/v8n3/a009.pdf |
17.
|
Gianotto-Oliveira R,
Gonzalez MM, Oliveira EN, Nishimura LS, Quilici AP, Abr�o KC, et al. Continues
chest performed by lay people before and after training. Rev Bras Clin Med. [Internet]. �2012 mar-abr. [cited jun 7,2018];10(2):95-9. Available
from: http://www.sbcm.org.br/revistas/RBCM/RBCM-2012-02.pdf#page=6 |
18.
|
Pazin-Filho A, Santos JC, Castro RBP, Bueno CDF, Schmidt A. Parada
cardiorrespirat�ria (PCR). Medicina (Ribeirao Preto
Online). [Internet]. 2003 dez 30.
[cited april 10, 2019];
36(2/4):163-78. Available from: http://www.periodicos.usp.br/rmrp/article/view/543 |
19.
|
Agarwal DA, Hess
EP, Atkinson EJ, RD White. Ventricular fibrillation in Rochester, Minnesota:
experience over 18 years. Resuscitation. 2009 Nov;80(11):1253-8. doi: http://dx.doi.org/10.1016/j.resuscitation.2009.07.019 |
20.
|
Kitamura T, Kiyohara K, Iwami
T. Public-Access Defibrillation in Japan. N Engl
J Med. 2017 Feb 16;376(7):e12. doi: http://dx.doi.org/10.1056/NEJMc1700160 |
Roppolo LP, Pepe PE, Campbell L, Ohman K, Kulkarni H,
Miller R, et al. Prospective, randomized trial of the effectiveness and
retention of 30-min layperson training for cardiopulmonary resuscitation and
automated external defibrillators: The American Airlines Study. Resuscitation. 2007 Aug;74(2):276-85. Epub 2007 Apr 23.
doi: http://dx.doi.org/10.1016/j.resuscitation.2006.12.017 �� |