REVISTA NORTE MINEIRA DE ENFERMAGEM
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INTRODUÇÃO
Dentre os diversos processos de saúde afetados na
prática clínica é comum o cuidado de enfermagem na retenção urinária (RU). A RU afeta grande variedade de pacientes e quando não
diagnosticada ou diagnosticada erroneamente pode causar morbidade significativa,
além de desconforto ao paciente, infecção do trato urinário (ITU) e trauma de uretra(1).
Na assistência de
enfermagem ao paciente com RU, a anamnese e exame físico, permitem ao
enfermeiro identificar o referido diagnóstico de enfermagem, planejar as ações,
acompanhar e avaliar a evolução clínica do paciente. A acurácia das interpretações
das respostas humanas ainda fundamenta a seleção das intervenções e contribuem
para resultados desejáveis. Interpretações com baixa acurácia podem levar à
omissão de cuidados acarretando prejuízo ao paciente(2).
Segundo a
taxonomia NANDA-I, o diagnóstico de enfermagem de RU é definido como a
incapacidade de esvaziar completamente a bexiga, tendo como características
definidoras a ausência de eliminação de urina, distensão da bexiga, disúria,
eliminação urinária em pequena quantidade, gotejamento, incontinência por
transbordamento, sensação de enchimento da bexiga, urina residual e urinar com
frequência(3).
As condições
associadas, segundo a taxonomia, podem ser quanto ao bloqueio do trato
urinário, esfíncter uretral muito potente, inibição do arco reflexo e pressão
uretral alta. Nesse contexto, o diagnóstico de enfermagem
de RU relaciona-se a parâmetros clínicos de difícil mensuração pelo exame
físico, além disso, agrega complicadores como o biótipo e anatomia abdominal do
paciente, uso de medicamentos que podem provocar alterações do sistema nervoso
e dissimular os sinais e sintomas do paciente, entre outros(2).
Diante da
complexidade e dificuldade no diagnóstico da RU, o ultrassom portátil de bexiga
(US) é um equipamento que produz uma medida confiável do volume de urina na
bexiga. Porém, o US não
substitui a avaliação clínica do paciente e nem tão pouco, deve ser utilizado
como a única forma de avaliação da RU, todavia é um equipamento que confirma a
suspeita da RU, e, portanto, qualifica e assegura o cuidado ao paciente(4).
De tal
modo, para que seja identificado de forma
correta o diagnóstico de enfermagem da RU, deve associar evidências
científicas, prática clínica do profissional e respeitar a clínica do paciente,
juntamente com a padronização de condutas por meio de protocolos assistenciais.
Assim, protocolos assistenciais orientam,
auxiliam e favorecem o uso de práticas cientificamente sustentadas, atendendo
aos princípios legais e éticos da profissão, aos preceitos da prática baseada
em evidências(5). Trata-se de um
recurso vantajoso, que proporciona maior segurança aos usuários e
profissionais, reduz à variabilidade injustificada de ações no cuidado, melhora
a qualificação profissional na tomada de decisão assistencial, promove a incorporação
de novas tecnologias, invoca cuidado com maior qualidade, uso mais racional dos
recursos disponíveis e maior transparência, e controle dos custos.
Ainda, facilitam o desenvolvimento de indicadores
de infraestrutura, processos e resultados, além de permitir a disseminação de
conhecimento profissional de forma equitativa e a coordenação do cuidado
integral. Enfatizam o desenvolvimento de um diagnóstico de enfermagem assertivo,
no qual, o dano por um procedimento não indicado e realizado corretamente estaria
ausente, prevalecendo à segurança do paciente(5).
Nesse
contexto, devido a inexistência de um protocolo que possa auxiliar o enfermeiro
na avaliação clínica para o diagnóstico de enfermagem da RU, determinar
indicadores que viabilizem quantificar e qualificar as intervenções realizadas,
implicaram a realização dessa investigação. Bem como, a elaboração de um
folheto ilustrativo composto de 28 fotografias do passo a passo de como deve
ser utilizado o US.
Dessarte, esse estudo teve como objetivo construir e
validar protocolo de avaliação clínica para o diagnóstico de enfermagem de RU
em pacientes adultos.
MÉTODOS
Pesquisa
do tipo metodológica, com abordagem quantitativa, desenvolvida em duas etapas:
1. construção do protocolo; 2. validação de conteúdo e aparência do protocolo
por juízes, através da técnica Delphi.
Construção do protocolo
Para esta
etapa, foram utilizados os resultados obtidos em revisão da literatura, por intermédio
de scoping review, evidências
científicas nacionais e internacionais, realizada pelos próprios pesquisadores
e disponível na literatura(6).
Após análise
das evidências(6), foi elaborado o protocolo que consiste em dois documentos,
sendo o primeiro um texto escrito contendo: Introdução; Fatores de risco para
RU; Avaliação da RU; Coleta de dados; Utilização de ultrassom portátil de
bexiga (US); Uso do US modelo BladderScan® BVI 3000 (Verathon Medical®, Bothell, WA,
USA); Parâmetros clínicos e de volume de urina considerados como RU; Fatores
que interferem na mensuração de urina
durante o uso do US. Já o segundo consistem em um folheto ilustrativo, composto de 28 fotografias que exemplificam o
item Uso do US modelo BladderScan® BVI 3000 do texto escrito.
Validação do conteúdo e aparência do instrumento
Este
processo foi conduzido por meio da análise de juízes (enfermeiros e médicos do
Brasil e de Portugal). No Brasil o uso do US é pouco incorporado a prática
clínica, enquanto em Portugal faz farte do cotidiano da assistência ao paciente.
Esta estratégia permite expandir as
possibilidades da validação e aplicabilidade do documento proposto.
Os
critérios de inclusão dos juízes foram: para enfermeiros - experiência
profissional de pelo menos dois anos no ensino ou na assistência com o paciente
adulto em RU; e/ou titulação mínima de Especialização em enfermagem na área
hospitalar e/ou de reabilitação; e para médicos - titulação mínima de
residência em cirurgia geral, e/ou medicina e reabilitação do aparelho
locomotor, e/ou anestesiologia, e/ou clínica médica e/ou
obstetrícia e ginecologia.
Para a seleção dos juízes foi utilizada a técnica
em cadeia de referência ou bola de neve. Para dar início ao recrutamento dos
participantes mediante dessa técnica, foram selecionados dois docentes de curso
de Enfermagem, sendo um docente do Brasil e um de Portugal, com expertise na área
de eliminação urinária.
Aos experts que iniciaram o processo, foi
solicitado a gentileza de informar o nome e endereço eletrônico de outros três
profissionais que atendiam aos critérios de inclusão do estudo. Desta forma,
foram identificados e convidados a participarem da pesquisa 251 profissionais
(71 no Brasil e 180 em Portugal).
Para que
os juízes tivessem acesso à pesquisa, a pesquisadora realizou contato por
e-mail e enviou carta de apresentação, os objetivos do estudo, instruções
quanto ao preenchimento do questionário, protocolo a ser avaliado e link de
acesso da web para acesso ao questionário eletrônico (Google Docs), com abertura imediata ao Termo de Consentimento
Livre Esclarecido (TCLE), sendo o seu preenchimento condição obrigatória para abertura
das páginas seguintes.
O
questionário constava de duas partes: a primeira fazia referência à
caracterização dos juízes, e a segunda referiu-se às variáveis dos aspectos, sendo
avaliados: objetivos, conteúdo, linguagem, relevância, funcionalidade e
usabilidade. Cada aspecto do protocolo foi avaliado, de acordo com escala do
tipo Likert, sendo: concordo totalmente, concordo, nem
concordo/nem discordo, discordo, discordo totalmente. Nos itens em que houvesse
discordância, o especialista poderia sugerir modificações quanto ao conteúdo
proposto. Este processo foi conduzido pela técnica Delphi(8)
e os juízes responderam por meio de duas rodadas.
Responderam
aos questionários 29 participantes do Brasil e 47 de Portugal. Todavia, cinco
participantes de Portugal foram excluídos, pois não se enquadravam
aos critérios de inclusão estabelecidos. Dessa forma a amostra inicial foi
constituída por 71 sujeitos.
Para avaliar a validade do conteúdo
foi aplicado o Índice de Validade de Conteúdo (IVC), que mede a proporção ou
porcentagem de concordância entre os juízes sobre os itens. Os autores recomendam
que a taxa ou escore de IVC encontrado em cada item não deve ser inferior a
0,80(8). Para o cálculo do IVC foram agrupadas as
respostas do “concordo fortemente” e “concordo” como concordância e agrupadas
as respostas do “discordo”, “discordo fortemente” e “nem concordo/nem discordo”
como discordância.
Na
primeira rodada de opiniões o IVC foi superior a 0,80 em todos os itens
analisados, porém com sugestões. Assim, foi criado uma nova versão do protocolo
e, posteriormente, uma segunda rodada de opiniões foi solicitada. Optou-se por
criar um novo instrumento de validação, de forma que cada participante validasse
somente as alterações efetuadas. Desse modo, na segunda rodada, foi enviado,
via correio eletrônico, aos 71 participantes da primeira rodada, outro convite
para participação e novo link eletrônico
para acesso ao TCLE, instrumento de validação, disponibilizado pelo Google Forms e protocolo reformulado. Responderam a
essa rodada do estudo 50 juízes (24 do Brasil e 26 de Portugal).
Os dados coletados foram exportados do Google Forms
diretamente para uma planilha do Microsoft Excel e, posteriormente analisados no programa SPSS (Statistical Package for Social
Science), versão 22 (Windows). Foi realizada análise estatística exploratória, utilizou-se
medidas de tendência central (médias) e de dispersão (máximo e mínimo), assim
como a análise de frequências relativas e percentuais. Os dados foram
coletados mediante autorização ética, que ocorreu sob número CAAE
53245116.1.0000.5393.
RESULTADOS
A parte
descritiva do protocolo foi desenvolvida a partir das revisão da literatura(6)
e posteriormente subdivida em tópicos: Introdução; Fatores de risco para RU;
Avaliação da RU; Coleta de dados (Anamnese, Inspeção, Percussão e Palpação);
Utilização de US; Uso do US; Parâmetros clínicos e de volume de urina considerados
como RU; Fatores que interferem na mensuração de urina durante o uso do US.
Introdução |
A RU pode ser definida como o esvaziamento vesical incompleto, como a
acumulação involuntária de urina na bexiga, esvaziamento incompleto da bexiga
associado à perda da sua função muscular, efeitos secundários da medicação
narcótica ou lesão da bexiga. Outros autores definem a RU ainda como a
incapacidade de eliminar completa ou parcialmente a urina acumulada na bexiga.
É um problema comum entre os pacientes hospitalizados, com prevalência
estimada em cerca de 7,0% a 52,0%. |
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Fatores de risco |
Diabetes melittus tipo 1; Hipertrofia da próstata; Constipação
intestinal/Obstipação - Prisão de ventre; Estreitamento e edema da uretra
resultante do parto; Vivência do período perioperatório;
Idade avançada; Patologia uretral (infeção, tumor, cálculo); Distúrbios
neurológicos, lesão raquimedular, esclerose
múltipla ou doença de Parkinson; Uso de algumas medicações; Ansiedade
emocional. |
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Protocolo de avaliação clínica para o diagnóstico de enfermagem de
retenção urinária em pacientes adultos |
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Etapa 1. Coleta de Dados |
Higienização das mãos; Revisar prontuário,
identificar o tipo de paciente, observar o horário da última micção e/ou o
uso de cateter urinário; Identificar o paciente; Verificar o ambiente;
Promover privacidade do paciente, explicar o procedimento e obter o seu
consentimento. |
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Anamnese |
Ouvir a queixa; Indagar o paciente quando ele urinou pela última vez; Indagar
se sente dor abdominal, se sim, solicitar que indique o local da dor, a
intensidade (utilizar escala), o tipo de dor, o início e a duração; Indagar
se o paciente sente a “bexiga cheia”; Indagar a quantidade de líquidos
ingeridos nas últimas horas; Indagar a frequência e as características da
micção usual; Indagar se faz uso de medicações. Identificar possível
associação da RU pelo uso de medicações. |
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Inspeção |
Observar se a região suprapúbica do paciente
apresenta uma curvatura convexa. |
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Percussão |
Percutir delicadamente a região suprapúbica
do paciente à procura de som maciço, de maneira indireta com técnica digito-digital. |
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Palpação |
Palpar delicadamente a região suprapúbica do
paciente à procura de dor ou distensão da bexiga, com a mão espalmada. |
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Etapa 2. Justificativa
do uso do Ultrassom Portátil de Bexiga |
Fornece indicações precisas e confiáveis de volume na bexiga; Determina a necessidade ou não da realização do cateterismo
urinário; Reduz taxas de ITU e de trauma de uretra associadas ao uso de
cateterismo urinário; Reduz o desconforto do paciente, custos com o tratamento
e dias de hospitalização; O uso do US apresenta alto grau de precisão.
Equipara-se ao uso do cateterismo urinário para mensurar o volume de urina na
bexiga; Se indício de RU pelos achados clínicos anteriores,
as informações devem ser corroboradas pelo uso do US. |
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Uso do Ultrassom Portátil de Bexiga modelo BladderScan®
BVI 3000 |
Realizar a higienização das mãos; Preparar o US com os equipamentos
necessários (gel condutor, luva de procedimento, papel ou compressa de tecido
para remover o gel) à cabeceira do leito; Promover a privacidade do paciente;
Explicar o procedimento e obter o consentimento do paciente; Investigar
fatores que podem interferir na mensuração do volume de urina durante o uso do
US; Ajustar o leito à posição de trabalho confortável; Colocar o paciente em
decúbito dorsal ou na posição de Fowler; Expor a região abdominal do
paciente; Posicionar-se ao lado direito ou esquerdo do paciente, dependendo da
mão dominante; Calçar luvas de procedimento; Realizar a limpeza do transdutor
utilizando uma compressa de pano ou um papel-toalha com líquido de limpeza
adequado; Pressionar o botão “On (Ligar)”. Esperar até
que o dispositivo aqueça; Pressionar o botão “Scan
(Iniciar)” para ativar o monitor; Pressionar o botão apropriado para selecionar
o gênero; Para pacientes do sexo feminino submetidas à histerectomia, pressionar
o botão do gênero masculino; Para localizar o local de administração do gel
condutor para utilização do US (cerca de três centímetros acima da sínfise
púbica), palpar com a mão espalmada a região suprapúbica
do paciente delicadamente; Administrar uma quantidade suficiente de gel condutor
na linha média do abdômen do paciente; Posicionar o transdutor do US com o
ícone direcional em direção à cabeça do paciente, sobre o gel condutor aplicado
na região suprapúbica; Direcionar o transdutor do US
para a região da bexiga, levemente para baixo em direção ao cóccix; Pressionar
e soltar o botão “Scan (Iniciar)”; Observar a
imagem transmitida no monitor do US; Para garantir uma medida correta ajustar
o transdutor de modo a centralizar a imagem da bexiga nas barras
transversais; Pressionar e segurar o botão “Done
(Pronto)” até ouvir um bipe; Ler a medida de volume apresentada no monitor; Para
registro imprimir os resultados encontrados, pressionando o botão “Print
(Imprimir)”; Utilizar uma compressa de pano ou um papel-toalha para remover o
gel remanescente do abdômen do paciente; Realizar a limpeza do transdutor
utilizando uma compressa de pano ou um papel-toalha com líquido de limpeza adequado;
Pressionar o botão “Off (Desligar)”; Posicionar o paciente confortavelmente; Retirar
as luvas de procedimento; Realizar a higienização das mãos. |
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Etapa 3.
Parâmetros clínicos e de volume de urina considerados como RU |
Na clínica obstétrica: ≥400 mililitros (mL)
de urina na bexiga, associado à ausência de micção espontânea após seis horas
da ocorrência do parto normal ou da remoção do cateter de demora em parto
cesárea; Na clínica obstétrica: ≥150 mL de volume
de urina retido na bexiga, pós-micção espontânea; Na clínica de reabilitação:
>400 mL de volume de urina na bexiga para
paciente que não apresenta micção espontânea; Na clínica de reabilitação:
>100 mL de volume de urina retido na bexiga,
pós-micção espontânea; No período pós-operatório, dificuldade para a micção
espontânea após seis horas da cirurgia; dificuldade para a micção espontânea
após seis horas da remoção do cateter urinário de demora; e/ou volume de
urina retido na bexiga ≥400 mL. |
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Fatores que interferem na mensuração do volume de
urina durante o uso do US |
Obesidade, ascite, tecido cicatricial, suturas de incisão e grampos na
região abdominal e constipação intestinal/obstipação - prisão de ventre; Volumes
vesicais >1000 mL; Cistos ovarianos ou mioma
uterino, volume aumentado de lóquios intrauterino,
histerectomia, prolapso uterino e gravidez; Pacientes com fibrose cirúrgica
abdominal, com patologia pélvica ou em diálise peritoneal; Pacientes com
aumento da quantidade de líquido intestinal. |
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Quadro 1 Síntese do protocolo de avaliação clínica para o diagnóstico de enfermagem de retenção urinária em pacientes adultos.
O
Quadro 1 apresenta um sumário do protocolo proposto e a Figura 1 descreve o
Folheto ilustrativo que exemplifica o Uso do US modelo BladderScan® BVI 3000.
Figura 1 Folheto
ilustrativo que exemplifica o item “Uso do US modelo BladderScan®
BVI 3000”.
Após
a construção do protocolo, a validação foi iniciada. Assim, na primeira rodada
Delphi participaram 71 juízes, três médicos e 68 enfermeiros. A Tabela 1 mostra
a caracterização dos experts.
Tabela 1 Características
dos juízes, de acordo com o gênero, titulação e exercício profissional atual
(n= 71). Ribeirão Preto, SP, Brasil, 2016
Variáveis |
Brasil |
Portugal |
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f (%) |
f (%) |
Participantes |
29 (100%) |
42 (100%) |
Gênero |
|
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Feminino |
20 (69,0%) |
24 (57,1%) |
Masculino |
9 (31,0%) |
18 (42,9%) |
Pós Graduação |
|
|
Especialização |
9 (31,0%) |
12 (28,6%) |
Mestrado |
10 (34,5%) |
29 (69,0%) |
Doutorado |
7 (24,1%) |
- |
Pós-doutorado |
1 (3,4%) |
- |
Residência
Médica |
2 (6,8%) |
1 (2,4%) |
Área de atuação atual |
|
|
Assistencial |
15 (51,7%) |
38 (90,5%) |
Ensino |
10 (34,5%) |
1 (2,4%) |
Gestão |
4 (13,8%) |
3 (7,1%) |
Tempo experiência profissional (anos) |
|
|
Mínimo |
13 |
17 |
Máximo |
34 |
36 |
Participação em eventos (últimos 5 anos) |
28 (97,0%) |
34 (81,0%) |
Prática clínica dois anos com pacientes com diagnóstico de RU |
25 (86,2%) |
37 (88,1%) |
Uso do ultrassom portátil da prática clínica (Indicado modelo Verathon Bladder
Scan BVI 3000®) |
6 (20,7%) |
12 (28,6%) |
Fonte:
Dados da pesquisa, 2016.
Quanto aos aspectos avaliados pelos juízes:
objetivos, conteúdo, linguagem, relevância, funcionalidade e usabilidade do
protocolo, todos os itens alcançaram IVC ≥ 0,90. Apesar do
alto índice, os participantes expressaram as seguintes sugestões: 1) quanto ao conteúdo:
inserir referências dos autores que definem a RU; descrever produto ideal de desinfecção
do US, descrever as classes de medicações que podem causar a RU, na anamnese
incluir inquérito de perdas de urina por gotejamento e agitação sem motivo
aparente; melhorar linguagem sobre posicionamento do leito e declarar o preparo
do equipamento e procedimento a beira do leito. No folheto: apontar com seta o
local de uso do US, incluir a higienização das mãos ao final de cada etapa, e incluir
o registro de enfermagem.
As sugestões
apresentadas pelos juízes foram analisadas e comparadas com a literatura e a
seguir acatadas pela pesquisadora. A segunda rodada Delphi teve a participação
de 50 juízes (24 do Brasil e 26 de Portugal), e a perda de participantes não
mudou o perfil da amostra.
Nesta
rodada, o protocolo reestruturado foi avaliado pelos juízes por meio do instrumento
de validação, e cada participante validou apenas as alterações realizadas, e
obteve um IVC de ≥
0,92.
DISCUSSÃO
A
Enfermagem tem procurado objetividade nas avaliações que comprovam a
efetividade das suas intervenções, o que leva pesquisadores à busca de indicadores
para aplicação na prática clínica(9).
Nesse estudo, pretendeu-se propor e validar um protocolo de avaliação clínica
para diagnóstico de enfermagem de RU em pacientes adultos baseado em evidências
científicas.
Para a
construção do protocolo foram sintetizadas as principais evidências(6)
sobre o assunto, entre as quais merece destaque o uso do US para o diagnóstico
preciso da RU.
O US é um
equipamento compacto, efetivo e confiável que pode ser utilizado à beira do
leito, após treinamento. Têm
sido efetivamente empregado junto à pacientes no período perioperatório,
com acometimento neurológico, e em processo de reabilitação. Desta forma, evita o cateterismo urinário desnecessário e, consequentemente, os riscos
de ITU ou indica seu uso adequado o que impossibilita a hiperdistensão
da bexiga e a lesão do detrusor. Além disso,
qualifica a assistência e minimiza o tempo de trabalho do profissional(10).
Associado
a anamnese e a coleta de dados que relacionam os fatores predisponentes para o
desenvolvimento da RU: Diabetes melittus tipo 1;
Hipertrofia da próstata; Constipação intestinal/Obstipação - Prisão de ventre;
Estreitamento e edema da uretra resultante do parto; Vivência do período perioperatório; Idade avançada; Patologia uretral (infeção,
tumor, cálculo); Distúrbios neurológicos, lesão raquimedular,
esclerose múltipla ou doença de Parkinson; Uso de medicações; Ansiedade
emocional, o US, assegura o diagnóstico do paciente, mesmo na presença de pequenos
volumes de urina, por exemplo100 mL, o que torna a
palpação da bexiga desnecessária, uma vez que ela só pode ser palpada a nível
da sínfise púbica quando abriga cerca de 500 mL de urina(11).
O
presente protocolo construído procurou sintetizar os itens da coleta de dados,
anamnese, exame físico e o uso do US para garantir uma avaliação clínica
sistematizada do paciente adulto para o diagnóstico da RU. Nesse sentido, foi
fundamental a participação do painel de especialistas para a fidedignidade dos
resultados e também para garantir que a pesquisa alcançasse seus objetivos. Os
especialistas apresentaram alto grau de expertise e concordância com IVC ≥ 0,92.
Entre os
itens validados pelos juízes destaca-se considerar enquanto RU, os seguintes
parâmetros clínicos: na clínica obstétrica volume retido de ≥ 400 mL de urina na bexiga, associado à ausência de micção
espontânea após seis horas da ocorrência do parto normal ou da remoção do
cateter de demora em parto cesárea(12); na clínica obstétrica volume
de urina ≥150 mL
de volume de urina retido na bexiga, pós-micção espontânea(13); na
clínica de reabilitação volume de urina retido na bexiga >400 mL em pacientes que não apresentam micção espontânea(14);
na clínica de reabilitação volume de urina retido na bexiga >100 mL pós-micção espontânea (14); no período
pós-operatório dificuldade para a micção espontânea após seis horas da cirurgia
ou dificuldade para a micção espontânea após seis horas da remoção do cateter
urinário de demora ou ainda volume de urina retido na bexiga ≥400 mL(15).
A opinião
dos experts permitiu ainda incorporar alguns itens ao documento, como a
higienização das mãos, a limpeza do equipamento, itens relacionados à anamnese
e ao registro de enfermagem. A higienização das mãos é uma medida importante,
que deve sempre ser relembrado aos profissionais de saúde. É reconhecida como
um elemento fundamental para diminuir a incidência de infecções hospitalares,
uma vez que as mãos dos profissionais de saúde representam um dos principais
mecanismos de transmissão das infecções relacionadas à assistência à saúde(16).
A limpeza
do US deve ser realizada com o produto indicado pelo fabricante do equipamento,
uma vez que os transdutores dos aparelhos de ultrassom são utensílios frágeis, que
contêm um arranjo de cristais piezoelétricos,
revestidos por um recipiente composto de plástico e borracha, e o uso de
produtos abrasivos pode danificá-los(17).
Os
registros de enfermagem consistem na forma de comunicação escrita de
informações relacionadas ao paciente e aos cuidados prestados ao mesmo(18).
Foi ainda
acrescentado no item Anamnese as sugestões “perdas urinárias” e “agitação do
paciente sem motivo aparente”, visando melhorar o método subjetivo da avaliação
clínica e também, valorizar a opinião do paciente sobre a sua condição de
saúde.
A RU é
diagnóstico de enfermagem frequente na prática clínica, direciona intervenções
e a mensuração dos resultados, o que aprimora a comunicação entre a equipe de
enfermagem e os demais profissionais e oferece informações sobre as
contribuições na qualidade do atendimento em saúde. O diagnóstico de enfermagem
é estabelecido na prática clínica em virtude do pensamento crítico e análise de
dados resultantes da entrevista, exame físico e leitura de exames(2).
A criação de um protocolo de avaliação clínica para o diagnóstico de enfermagem
de RU em pacientes adultos colabora para a adequação das práticas.
Protocolos
construídos baseados em evidências indicam as melhores opções de cuidado. Têm a
intenção de aprimorar a assistência prestada, contribuir com o uso de práticas cientificamente
sustentadas, minimizar a variabilidade das informações e condutas entre os
membros da equipe de saúde e determinar limites de ação e cooperação entre os
diferentes profissionais(5).
CONCLUSÃO
O protocolo de diagnóstico de enfermagem de RU em pacientes
adultos construído nesse estudo mapeou as melhores evidências sobre o assunto e
buscou consenso entre especialistas para reforçar itens relevantes. Proposto na língua portuguesa dentro do novo acordo
ortográfico, e a opinião dos experts demonstrou que o conteúdo abordado é
apropriado e pertinente ao uso.
Espera-se
que o protocolo validado possa contribuir com
intervenções e ações seguras, na perspectiva de superação das dificuldades
vivenciadas pelo enfermeiro na execução do diagnóstico da RU, colaborar
para o debate e a reflexão sobre a assistência ao paciente adulto em RU tanto
no ensino, como na prática clínica.
Acredita-se que futuras pesquisas nessa temática são essenciais
para avaliação da aplicação prática e viabilidade do uso do protocolo em
diferentes realidades assistenciais.
Não há conflitos de interesses.
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