A IMPORTÂNCIA DA RELAÇÃO ALUNO-PROFESSOR NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM
THE IMPORTANCE OF THE STUDENT-TEACHER RELATIONSHIP IN PHYSICAL EDUCATION CLASSES IN THE TEACHING-LEARNING PROCESS
LA IMPORTANCIA DE LA RELACIÓN ALUMNO-PROFESOR EN LAS CLASES DE EDUCACIÓN FÍSICA EN EL PROCESO DE ENSEÑANZA-APRENDIZAJE
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Nelziane Aparecida Lopes Rodrigues[1] Universidade Estadual de Montes Claros – MG |
Marcus Vinicius da Silva[2] Academia da Força Aérea - AFA |
RESUMO
Este artigo investiga a relação entre professor e aluno nas aulas de Educação Física, enfatizando sua influência no processo de ensino-aprendizagem. O objetivo é analisar como fatores afetivos e metodológicos impactam o desenvolvimento integral dos alunos. A metodologia adotada foi uma revisão bibliográfica integrativa, com a seleção de 11 artigos publicados entre 2010 e 2023. Os principais resultados revelaram que a interação professor-aluno é crucial, promovendo um ambiente de empatia e diálogo, o que facilita a aprendizagem e o respeito mútuo. Além disso, a afetividade foi identificada como um elemento essencial para o interesse dos alunos nas atividades. A conclusão aponta que a relação saudável entre professor e aluno não apenas melhora o desempenho acadêmico, mas também contribui para o desenvolvimento de competências socioemocionais, tornando o ambiente escolar mais acolhedor e eficaz. Portanto, recomenda-se que os educadores de Educação Física adotem práticas que priorizem essa interação, promovendo um ensino que atenda às necessidades individuais e coletivas dos estudantes, contribuindo assim para uma formação mais completa e crítica.
Palavras-chave: Relação professor-aluno. Afetividade. Desenvolvimento integral.
ABSTRACT
This article investigates the relationship between teacher and student in Physical Education classes, emphasizing its influence on the teaching-learning process. The objective is to analyze how effective and methodological factors impact the integral development of students. The methodology adopted was an integrative bibliographic review, with the selection of 11 articles published between 2010 and 2023. The main results revealed that teacher-student interaction is crucial, promoting an environment of empathy and dialogue, which facilitates learning and respect mutual. Furthermore, affectivity was identified as an essential element for students’ interest in activities. The conclusion points out that a healthy relationship between teacher and student not only improves academic performance but also contributes to the development of socio-emotional skills, making the school environment more welcoming and effective. Therefore, it is recommended that Physical Education educators adopt practices that prioritize this interaction, promoting teaching that meets the individual and collective needs of students, thus contributing to a more complete and critical training.
Keywords: Teacher-student relationship. Affection, integral development.
Este artículo investiga la relación entre profesor y alumno en las clases de Educación Física, enfatizando su influencia en el proceso de enseñanza-aprendizaje. El objetivo es analizar cómo los factores afectivos y metodológicos impactan en el desarrollo integral de los estudiantes. La metodología adoptada fue una revisión bibliográfica integradora, con la selección de 11 artículos publicados entre 2010 y 2023. Los principales resultados revelaron que la interacción docente-alumno es crucial, promoviendo un ambiente de empatía y diálogo, que facilita el aprendizaje y el respeto mutuo. Además, la afectividad fue identificada como un elemento esencial para el interés de los estudiantes por las actividades. La conclusión señala que una relación sana entre profesor y alumno no sólo mejora el rendimiento académico, sino que también contribuye al desarrollo de habilidades socioemocionales, haciendo que el ambiente escolar sea más acogedor y eficaz. Por lo tanto, se recomienda que los educadores de Educación Física adopten prácticas que prioricen esta interacción, promoviendo una enseñanza que atienda las necesidades individuales y colectivas de los estudiantes, contribuyendo así a una formación más completa y crítica.
Palabras clave: Relación docente-alumno. Afectividad. Desarrollo integral.
INTRODUÇÃO
A relação entre aluno e professor e sua conexão com o processo de ensino e aprendizagem têm sido amplamente discutidas em estudos e pesquisas, como os realizados por Pereira e Neto (2020), Belo, Oliveira e Silva (2021) e Alves (2023). De acordo com esses autores, diversos fatores contribuem para o sucesso desse processo, sendo a relação entre aluno e professor um fator de influência direta. A afetividade que emerge dessa interação é necessária para a construção do conhecimento, pois está intrinsecamente ligada à empatia e à compreensão mútua, segundo Veras e Ferreira (2010). Alves (2023) identifica que, quando há afinidade entre duas pessoas, o diálogo flui naturalmente de forma mais saudável. Essa tese também se aplica ao ambiente escolar, contribuindo para o desenvolvimento do respeito mútuo.
Além disso, com base na pedagogia da presença de Costa (2002), é importante destacar que o professor deve compreender o papel fundamental de sua atuação pedagógica. Uma boa relação com seus alunos, por exemplo, impacta na formação de indivíduos críticos, participativos e ativos, cada vez mais engajados e comprometidos com os estudos.
Diversos pesquisadores apontam a interação entre professor e aluno como um fator positivo no processo de ensino-aprendizagem. A interação entre o professor de Educação Física e seus alunos, em particular, merece ser investigada, já que um relacionamento saudável facilita tanto o desenvolvimento intelectual quanto o afetivo dos envolvidos. A troca de experiências entre professor e aluno contribui para que o educando se torne um indivíduo capaz de discutir, refletir e trocar ideias, promovendo um relacionamento mais harmonioso dentro da sala de aula (Silva, 2012).
Embora o tema seja amplamente discutido, poucos estudos abordam como essa relação se manifesta em disciplinas práticas, como a Educação Física, e como afeta tanto o desenvolvimento cognitivo quanto emocional dos alunos nesse contexto. A maioria dos estudos foca em disciplinas teóricas, sem considerar as especificidades desse contexto mais corporal e interativo. Por esse motivo, torna-se especialmente relevante investigar a importância da relação aluno-professor nas aulas de Educação Física, onde o contato presencial e dinâmico pode ser um fator crucial para o desenvolvimento integral dos estudantes. Ainda que o professor de Educação Física seja frequentemente um dos mais estimados pelos alunos, é fundamental que ele avalie sua relação com eles (Pereira; Neto, 2020).
Este estudo justifica-se pela necessidade de investigar a influência da relação entre professor e aluno no processo de ensino-aprendizagem nas aulas de Educação Física. Os professores, como formadores de opinião, precisam estar preparados para contribuir para o desenvolvimento integral dos estudantes; caso contrário, o ensino perde parte de sua riqueza ao focar exclusivamente no aspecto cognitivo. Ao reconhecer a escola como um espaço de encontros entre pessoas, torna-se mais claro como a aprendizagem é complexa e poderosa (Leal, 2020).
Portanto, o presente estudo visa investigar como a relação professor-aluno, considerando fatores afetivos e metodológicos, influencia o desenvolvimento integral do aluno em aulas de Educação Física, com o objetivo preencher essas lacunas na literatura.
METODOLOGIA
Essa pesquisa é uma revisão bibliográfica integrativa de literatura. Para construção deste artigo, optou-se por realizar a coleta de dados nas bases de dados científicas reconhecidas Google Acadêmico e periódicos CAPES. Além disso, consultou-se o documento norteador da Educação Básica brasileira, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que valoriza a relação aluno-professor nas aulas de educação física, reconhecendo-a como essencial para promover o desenvolvimento integral, personalizar o ensino, criar um ambiente de aprendizagem positivo e construir valores éticos e sociais.
Para a busca de dados, foram utilizados os seguintes descritores: “relação aluno/professor”, “afetividade aluno/professor” e “aluno/professor no processo de ensino aprendizagem”. Após a escolha desses descritores, as buscas seguiram critérios específicos para seleção dos artigos: relação direta com os descritores escolhidos, semelhança dos títulos, idioma de publicação em Língua Portuguesa e período das publicações de 2010 a 2023. Esse recorte temporal reflete avanços pedagógicos e a influência de políticas recentes, como a BNCC, que impactaram significativamente a dinâmica professor-aluno e as abordagens no ensino da educação física.
Após o filtro inicial, foram analisados títulos de interesse. Dos 418 artigos encontrados no Google Acadêmico e 6 nos periódicos CAPES, 51 foram selecionados pela semelhança temática; os demais 373 foram descartados por não relacionarem com o tema proposto. Em seguida, os resumos dos 51 artigos selecionados foram lidos e analisados. Após essa análise, 30 artigos foram escolhidos para leitura integral, enquanto 21 foram excluídos por falta de relevância para o estudo. Posteriormente, realizados fichamentos detalhados e, após uma leitura minuciosa, selecionaram-se 11 artigos que contribuíram significativamente na pesquisa.
RESULTADOS
Os resultados foram obtidos por meio da análise e comparação dos descritores mencionados. A partir dessa análise, foram selecionados e estudados em profundidade 11 artigos, dos quais 2 pertencem à área da psicologia e 9 à área da educação.
Figura 1. Fluxograma da seleção de artigos

Fonte: Proprio autor.
No que diz respeito às datas de publicações, observou-se que o artigo mais antigo encontrado nas buscas e incluído no estudo em questão foi do ano de 2010 e o mais recente de 2023. Foi possível observar que houve um declínio nas pesquisas realizadas sobre o tema desde então.
Quadro 1. Artigos incluídos na revisão
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Título |
Objetivos |
Principais Resultados |
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Belotti, Faria (2010) |
Relação Professor/Aluno |
Discutir as mudanças no ensino-aprendizagem ligadas ao relacionamento entre professores e alunos. |
Houve mudança no papel do professor e também do aluno, mas não o suficiente. O educador ainda não está preparado para os novos tempos. |
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Cunha (2010) |
Representação do “bom” professor: o "bom" professor em geral e o "bom" professor de Educação Física |
Sintetizar o perfil do “bom” professor, em geral e na Educação Física. |
A formação deve ter dimensão interrogativa: O que fazer para transformar e atualizar? |
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Bulgraen (2010) |
O papel do professor e sua mediação nos processos de elaboração do conhecimento |
Destacar a importância do papel mediador do professor. |
Cabe ao professor mediar o “saber elaborado” com as vivências do aluno, promovendo uma aprendizagem crítica. |
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Veras e Ferreira (2010) |
A afetividade na relação professor-aluno e suas implicações na aprendizagem, em contexto universitário |
Investigar como a postura do professor influencia a experiência de aprendizagem dos universitários. |
Relações afetivas positivas resultam em experiências de aprendizagem favoráveis. |
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Souza e Paixão (2015) |
A prática do bom professor de Educação Física na perspectiva dos alunos do ensino médio |
Analisar a prática pedagógica do professor de EF considerado “bom” pelos alunos. |
Práticas seguem um padrão; há resistência à adoção de novas teorias, métodos e estratégias. |
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Boutin (2017) |
A relação entre professor-aluno no centro do processo educativo |
Definir a noção de relação professor-aluno destacando suas dimensões pedagógica e socioafetiva. |
As duas dimensões devem ser vistas como complementares. |
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Melo (2018) |
Estratégias utilizadas no processo de ensino e aprendizagem: concepções de alunos e professores de EF |
Investigar estratégias significativas de ensino-aprendizagem segundo alunos e professores de EF. |
Aulas diversificadas (teoria e prática) são consideradas mais significativas. |
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Pereira e Neto (2020) |
Interação professor de Educação Física e os estudantes de ensino médio em Juazeiro do Norte-CE |
Identificar a interação professor-estudante no ensino médio em escola pública. |
A relação professor-aluno é central para boa convivência e essencial no processo de ensino-aprendizagem. |
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Souza e Coutinho (2020) |
Relação Professor–Aluno e Afetividade: Uma Revisão Integrativa |
Investigar produções acadêmicas (2015-2019) sobre relação professor-aluno e afetividade. |
Baixo percentual de produções com foco direto em afetividade, embora o tema seja citado no contexto. |
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Belo, Oliveira e Silva (2021) |
Reflexos da relação professor-aluno para a aprendizagem no contexto formal de ensino |
Explicitar como a relação professor-aluno contribui para a aprendizagem escolar. |
Relações afetivas somadas a intervenções pedagógicas promovem mudanças de atitudes de professores e alunos. |
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Alves (2023) |
A afetividade na relação de ensino-aprendizagem: uma revisão bibliográfica |
Contextualizar os efeitos da afetividade entre professor e aluno no processo educacional. |
A afetividade abre espaço para a aprendizagem ao promover relações e compreensão de sentimentos em sala de aula. |
Fonte: Proprio autor.
DISCUSSÃO
Na prática docente, o educador enfrenta o desafio constante de construir vínculos interpessoais significativos com os alunos, ajustando as estratégias pedagógicas para assegurar que os objetivos de ensino sejam atingidos (Melo, 2013).
A relação entre professor e aluno é o centro do processo de ensino-aprendizagem, e essa interação tem se transformado em resposta às novas demandas e expectativas da educação contemporânea. Embora o papel de ambos tenha evoluído significativamente, ainda persiste uma lacuna na formação de educadores para uma prática pedagógica inclusiva e adaptativa, conforme observam Belotti e Faria (2010). Cunha (2010) destaca que o perfil do "bom" professor, seja na educação geral ou na Educação Física, envolve mais do que habilidades técnicas, requerendo uma postura crítica e reflexiva frente à própria prática. Veras e Ferreira (2010) reforçam essa perspectiva ao apontarem para a importância de uma mediação ativa no processo de construção do conhecimento, onde ensinar não é apenas transmitir conteúdos, mas também conectar saberes com as vivências dos estudantes, proporcionando uma aprendizagem mais significativa. A afetividade, por sua vez, torna-se um elemento essencial nesse contexto, conforme evidenciado por Souza e Paixão (2015), ao sugerirem que relações positivas entre professor e aluno podem potencializar a experiência de aprendizagem. Assim, o ensino contemporâneo se configura como uma prática complexa que une competência técnica e sensibilidade humana.
Conforme as perspectivas de Paulo Freire, o diálogo se destaca como uma ferramenta essencial para a formação dos sujeitos, integrando um debate profundo sobre a prática educacional. Para Freire, a verdadeira prática dialógica no ensino só é possível quando o educador reconhece o diálogo como um elemento intrinsecamente humano, com potencial de estimular tanto a reflexão quanto a ação dos participantes. O autor enfatiza ainda que o diálogo é uma necessidade existencial, pois, além de promover o encontro entre o refletir e o agir voltados para a transformação e humanização do mundo, não deve se limitar ao ato de transmitir ideias de uma pessoa para outra, tampouco a uma simples troca de ideias sem profundidade (Freire, 2005, p. 91).
Ainda de acordo com Freire:
O professor autoritário, o professor licencioso, o professor competente, sério, o professor incompetente, irresponsável, o professor amoroso, o professor malamado, sempre com raiva do mundo e das pessoas, frio, burocrático, racionalista, nenhum deles passa pelos alunos sem deixar sua marca (Freire, 1996, p. 73).
Diante disso, o autor ressalta que o perfil e a atitude do professor impactam profundamente a dinâmica em sala de aula e deixam marcas duradouras no desenvolvimento dos alunos. Cada estilo de ensino, seja positivo ou negativo, contribui de forma significativa para a experiência de aprendizagem e a formação do estudante. Quando o professor reconhece a responsabilidade e o impacto de sua postura, ele consegue promover um ambiente educativo acolhedor e estimulante, capaz de motivar o aluno a se engajar e a desenvolver-se de maneira integral. Considerando o pressuposto, o educador deve atuar como mediador do conhecimento, incentivando o pensar, a empatia e a curiosidade nos alunos. Em vez de se posicionar como detentor único do saber, apenas transmitindo regras e teorias, ele deve adotar uma postura de humildade, reconhecendo que até mesmo uma pessoa analfabeta carrega um conhecimento valioso: a experiência de vida (Gadotti, 1999).
A Educação Física, por exemplo, é uma disciplina que visa formar o indivíduo de maneira integral, contribuindo para a inserção dos alunos no universo sociocultural para que eles se envolvam ativamente nos projetos e na constante reconstrução desse meio (Bulgraen, 2010). Silva, 2012 acrescenta que essa conexão é essencial para o processo de aprendizagem, pois com um relacionamento positivo entre o professor e o aluno no ambiente escolar o aprendizado torna-se eficaz, pois passa a ter participação mais engajada de ambas as partes.
De acordo com as diretrizes da BNCC, o acolhimento é um aspecto essencial para o êxito escolar, estendendo-se para além das metas acadêmicas e exercendo impactos significativos no desenvolvimento integral dos estudantes, preparando-os não apenas para os desafios escolares, mas também para a vida em sociedade. Nessa perspectiva, o professor de Educação Física não deve ser apenas um transmissor de técnicas e regras esportivas, mas também um facilitador que promove um ambiente de confiança e respeito. A BNCC ressalta, por exemplo, a importância de valorizar a diversidade e de fomentar um clima de acolhimento e diálogo nas aulas, o que é fundamental para que os alunos se sintam à vontade e motivados a participar das atividades físicas propostas.
Em uma sociedade de pluralidades, a vida é frequentemente vista como um sistema, possibilitando considerar cada relação construída como geradora de significados (Belotti, Faria, 2010). Segundo esses autores, se o objetivo da escola é integrar os indivíduos à sociedade, é necessário garantir que as crianças se sintam capazes de absorver os ensinamentos. Partindo desse pressuposto, é importante que o professor conheça seu aluno, que o trate como parte integrante do processo de ensino aprendizagem, promovendo a escuta ativa e estreitando os laços entre os discentes.
Entretanto, é imperioso ter limites. Zagury (1999), conforme mencionado por Belotti e Faria (2010), acredita que é importante uma relação de amizade entre educador e educando, no entanto defende a hierarquia, em que cada individuo deve exercer seu papel. O desafio é encontrar esse equilíbrio entre ter um bom relacionamento com os discentes, tratá-los de forma amorosa e empática sem ultrapassar os limites éticos da profissão. Além disso, o professor deve saber conduzir e equilibrar essa relação, para que as aulas de Educação Física não sejam reconhecidas como mero momento de lazer e descontração, conforme alerta (Souza; Paixão, 2015). Essa relação deve ser, antes de tudo, pautada pelo respeito. Paulo Freire (1996), citado por Belo, Oliveira e Silva (2021), destaca a importância de construir uma relação de respeito entre professor e aluno, afinal é essa condição que oportuniza ao docente realizar seu trabalho de maneira eficaz e contribuir para a transformação na aprendizagem e na vida dos estudantes.
Ao ser comparada com as demais disciplinas da grade curricular da educação básica, a Educação Física apresenta-se de forma diferenciada, tendo em vista sua particularidade que tem como objeto de estudo o movimento humano difundido pelas diversas práticas corporais e culturais. Dessa maneira, a alegria, descontração, diversão e o prazer são sentimentos oriundos da prática da Educação Física. Entretanto, essa mesma particularidade pode levar a interpretações equivocadas sobre a área, seja pelos alunos, comunidade ou mesmo pelos próprios professores de Educação Física (Souza; Paixão, 2015).
Diante de tanta informação e da necessidade de se adequar às exigências atuais, de uma maneira geral, percebe-se que o desânimo impera nas escolas, seja por parte dos professores ou dos alunos. Entre os motivos desse descontentamento estão a desvalorização que o professor enfrenta e a exaustiva lista de conteúdos e habilidades que vêm nos planos de curso, acarretando aulas robotizadas, sem aquela preocupação se os alunos estão aprendendo ou não, se estão gostando ou não, apenas como forma de concluir aquele trabalho delegado. Em outras palavras, o professor, que é pressionado a aplicar todas as habilidades previstas, vê-se encurralado e prefere correr contra o tempo para aplicar todo planejamento a realizar aulas que se encaixe à realidade dos alunos. Tudo isso gera a indisciplina dentro da sala de aula, muitas vezes não há respeito com a figura do professor e este encontra dificuldades de implementar estratégias de comunicação assertiva, para mudar esse cenário. Diante disso, observa-se que o grande desafio está em reverter essa situação, essa relação de desencontros e indiferenças que geram conflitos e pré-conceitos à imagem do professor (Belotti; Faria, 2010).
Dessa forma, a arte de ensinar ou educar deve ser realizada com entusiasmo, pois só assim acontecerá de forma fluida o processo de ensino-aprendizagem. Entretanto, alguns educadores têm dificuldade de interagir com o aluno (Belotti; Faria, 2010). Sob essa ótica, percebe-se que há um despreparo no corpo docente para trabalhar com as diferenças e limitações do educando. Falta diálogo positivo entre aluno e professor.
A estagnação profissional pode levar a esse desanimo e à falta de relevância no ensino, especialmente para aqueles que deixam de buscar atualizações nas habilidades necessárias à pratica educacional, principalmente no que diz respeito às habilidades socioemocionais que são tão bem salientadas na BNCC. Por esse motivo, conforme esclarece (Cunha, 2010) a autoavaliação, a atualização contínua e a formação continuada devem ser usadas para o combate à estagnação e à insatisfação, pois estimulam e promovem o entusiasmo.
Nota-se que a formação inicial que é ofertada nas instituições para os cursos de licenciatura em Educação Física acontece de maneira acrítica, privilegiando o “saber fazer para ensinar” em detrimento do “saber aprender a aprender” e o “saber o que e como ensinar”. (Souza; Paixão, 2015) identificam que toda essa formação foca na dimensão esportiva, que ainda está associada ao paradigma do máximo rendimento e da seleção dos alunos mais habilidosos. Partindo disso, nota-se que os alunos não apresentam afinidade com o professor e posteriormente com as aulas, porque são “artificiais”, “robotizadas”. A falta de explicação criativa e a incapacidade de estimular questionamentos sobre a disciplina impactam negativamente a relação do professor com os alunos e o processo de ensino-aprendizagem
Em face do exposto, acrescenta-se que, em um primeiro momento, é fundamental conhecer o aluno e seus anseios para então adequar as práticas de ensino à sua realidade. A didática deve valorizar a aquisição de atitudes essenciais como empatia, calor humano, diálogo, amizade e respeito. Aproximar-se do aluno possibilita uma compreensão e apropriação da sua realidade e assim será possível realizar um trabalho que faça sentido para ele. Nessa perspectiva, Cunha (2012) demonstra que os alunos se envolvem mais nas aulas de professores que integram o conteúdo com outras áreas do conhecimento, explicam claramente os objetivos de estudo e formulam questionamentos que estimulam o interesse pela aprendizagem. Souza e Paixão (2015) acrescentam que a proximidade entre aluno e professor facilita a discussão de temas como comportamento, valores éticos, responsabilidades sociais, habilidades socioemocionais e conduta respeitosa, dentro e fora da escola, contribuindo tanto para o processo de ensino-aprendizagem quanto para o desenvolvimento de qualidades essenciais à sociedade contemporânea.
Vale ressaltar, portanto, que a Educação Física contribui para o desenvolvimento integral do aluno, abordando aspectos físicos, emocionais, sociais e cognitivos. Uma relação positiva entre aluno e professor é essencial para alcançar esse objetivo, pois facilita a construção de vínculos afetivos que encorajam os alunos a explorar suas habilidades, superar desafios e desenvolver competências socioemocionais, como o trabalho em equipe, a resiliência e a autoconfiança.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante da investigação e dos resultados apresentados, e considerando a metodologia adotada, pode-se afirmar que a pesquisa trouxe discussões relevantes, incentivando a reflexão dos professores de Educação Física sobre sua prática pedagógica.
A partir da análise dos artigos mencionados, foi possível notar que se discutiu consideravelmente sobre o assunto, mas ainda precisa de muitos aprofundamentos, principalmente no que diz respeito ao equilíbrio entre uma boa relação entre aluno e professor de Educação Fisica e sua postura enquanto hierarquia.
Além disso, conforme discutido, a relação aluno-professor é um elemento central nas aulas de Educação Física. Ela não apenas facilita o aprendizado e o desenvolvimento físico, mas também contribui para a formação integral do aluno, promovendo valores essenciais à vida em sociedade. A personalização do ensino depende da capacidade do professor em compreender as necessidades individuais dos alunos e adaptar suas práticas pedagógicas de forma eficaz. Ao estabelecer uma boa relação com os alunos, o professor pode identificar melhor essas necessidades e oferecer suporte adequado, maximizando o potencial de cada estudante.
Portanto, pode-se concluir que a interação entre aluno e professor influencia diretamente o processo de ensino-aprendizagem nas aulas de Educação Física. Uma relação harmoniosa, pautada na empatia e no respeito, contribui significativamente para o desenvolvimento integral dos alunos.
REFERÊNCIAS
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AVALIAÇÃO
Avaliação por pares duplo cega (double blind peer review)
HISTÓRICO
Submetido: 30 de março de 2025.
Aprovado: 15 de maio de 2025.
Publicado: 27 de maio de 2025.
[1] Acadêmica da Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES, Montes Claros, Minas Gerais, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0009-0004-0196-5020. Lattes: http://lattes.cnpq.br/3888504207147731. E-mail: nelziane.rodrigues@educacao.mg.gov.br.
[2] Professor na Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES., Montes Claros -MG Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8309-2032. Lattes: http://lattes.cnpq.br/5474829884334058. E-mail: marcusviniciusmvs1@fab.mil.br