Vol. 30, n. 2, jul/dez, 2024
ISSN: 2179-6807 (online)
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VIOLÊNCIA LENTA SOBRE AS POPULAÇÕES URBANO-RIBEIRINHAS: O
CASO DO CÓRREGO DO LEITÃO EM BELO HORIZONTE-MG (1894-1975)
Alessandro Borsagli
1
Brenda Melo Bernardes
2
Amaro Sérgio Marques
3
Resumo: O artigo analisa, a partir do conceito de “violência lenta” de Rob Nixon, alguns dos
processos que levaram à expulsão da população ribeirinha do vale do córrego do Leitão, em Belo
Horizonte, entre os anos de 1894 e 1975. A inserção do curso d’água no traçado planejado da
cidade, ocorrida ao longo do processo de evolução urbana da capital de Minas Gerais ocasionou
não a retirada dos moradores das terras fluviais, mas também acarretou em uma profunda
alteração paisagística e ecossistêmica, onde a imprensa e o poder público tiveram grande
importância nas estratégias de convencimento social para a realização das intervenções. Sob a
perspectiva da violência lenta, observa-se que a má gestão ambiental e a ruptura forçada entre
a população e o curso d’água a partir de valores impostos à sociedade ao longo do século XX
contribuíram para o apagamento de parte das memórias das populações que habitavam o vale,
antes dos processos que acarretaram em sua expulsão, sendo que na atualidade as terras do
vale se encontram entre as mais valorizadas da cidade de Belo Horizonte.
Palavras-chave: Belo Horizonte. Violência Lenta. Meio Ambiente. Geografia Urbana.
Comunidade.
SLOW VIOLENCE ABOUT URBAN-RIVERSIDE POPULATIONS: THE CASE OF THE LEITÃO STREAM
IN BELO HORIZONTE-MG (1894-1975)
Abstract: The article analyses, based on Rob Nixon's concept of "slow violence", some of the
processes that led to the expulsion of the riverside population from the Leitão stream valley in
Belo Horizonte between 1894 and 1975. The insertion of the watercourse into the planned
layout of the city, which took place during the process of urban evolution of the capital of Minas
Gerais, not only led to the removal of the residents from the river lands, but also resulted in
profound landscape and ecosystem changes, in which the press and public authorities played a
major role in the strategies of social persuasion for the realization of the interventions. From
the perspective of Slow Violence, it can be seen that poor environmental management and the
1
PPGG-TIE Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8789-
012X. E-mail: borsagli@gmail.com
2
Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5603-3202. E-mail:
brenda.mbernardes@gmail.com
3
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro/PUC RIO. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4697-
3572. E-mail: amarosergiomarques@gmail.com
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forced rupture between the population and the watercourse based on values imposed on
society throughout the 20th century have contributed to the erasure of part of the memories of
the people who inhabited the valley before the processes that led to their expulsion, and today
the land in the valley is among the most highly valued in the city of Belo Horizonte.
Keywords: Belo Horizonte. Slow Violence. Environment. Urban Geography. Community.
VIOLENCIA LENTA CONTRA LAS POBLACIONES URBANAS RIBEREÑAS: EL CASO DEL ARROYO
LEITÃO EN BELO HORIZONTE-MG (1894-1975)
Resumen: El artículo analiza, a partir del concepto de «violencia lenta» de Rob Nixon, algunos
de los procesos que condujeron a la expulsión de la población ribereña del valle del arroyo
Leitão, en Belo Horizonte, entre 1894 y 1975. La inserción del curso de agua en el trazado
planificado de la ciudad, que tuvo lugar durante el proceso de evolución urbana de la capital de
Minas Gerais, no sólo condujo a la expulsión de los habitantes de las tierras ribereñas, sino que
también provocó profundos cambios paisajísticos y ecosistémicos, en los que la prensa y los
poderes públicos desempeñaron un papel fundamental en las estrategias de persuasión social
para la realización de las intervenciones. Desde la perspectiva de la Violencia Lenta, se observa
que la mala gestión ambiental y la ruptura forzada entre la población y el curso de agua, basada
en valores impuestos a la sociedad a lo largo del siglo XX, han contribuido a borrar parte de la
memoria de las personas que habitaban el valle antes de los procesos que condujeron a su
expulsión, y hoy las tierras del valle se encuentran entre las más valoradas de la ciudad de Belo
Horizonte.
Palabras-clave: Belo Horizonte. Violencia Lenta. Medio Ambiente. Geografía Urbana.
Comunidad.
INTRODUÇÃO
A cidade de Belo Horizonte, vislumbrada, planejada e construída entre os anos
de 1893 e 1897 no sítio do antigo arraial do Curral del Rey tem como uma de suas
características a rápida transformação do espaço urbano, adaptado e modificado de
acordo com os interesses dos grupos dominantes (re)surgidos no advento da República
no ano de 1889.
Fruto da imposição técnica e racional sobre o território, dos anseios políticos que
buscavam romper com o passado colonial e tortuoso das cidades mineiras, a nova
capital mineira acabou por se colocar na vanguarda da aplicabilidade dos ideais
higienistas, sanitaristas e do rompimento com o meio natural, ao mesmo tempo em que
toda a vida civil deveria ser controlada e norteada pelas políticas de desenvolvimento
urbano, ou seja, a ideia de ordenar as funções sociais da cidade e a maneira de se ocupar
o território era o caminho para se buscar o pleno progresso, no caso da cidade pode-se
destacar a ideia da busca por melhores condições de vida das classes mais abastadas.
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Sob essa perspectiva, foi imposto um ordenamento territorial que seria pautado
por um desenho urbano elaborado pela equipe do engenheiro Aarão Reis, aos moldes
do urbanismo racional e progressista a partir da delimitação dos limites de uma cidade
oficial por uma grande avenida (Avenida do Contorno), deixando de fora desse anel as
áreas destinadas à população de menor poder aquisitivo.
Nesse contexto, desde a chegada da Comissão Construtora da Nova Capital
(CCNC) ao arraial de Belo Horizonte (antigo arraial do Curral del Rey) no ano de 1894 até
a consolidação da metrópole mineira, ocorrida na primeira metade da década de 1970,
as classes menos favorecidas principalmente a população negra e parda - sofrem
impacto direto com as políticas impostas pelo Estado para a capital, desde processos de
migração/expulsão dos seus locais de origem até a perda de identidade cultural com o
território, políticas em grande parte apoiadas por uma ampla parcela da sociedade civil
e pelos meios de comunicação (Borsagli, 2016, p.24).
Nesse sentido, o artigo busca analisar, a partir do conceito de Violência Lenta de
Nixon (2011), alguns dos processos que levaram à expulsão da população ribeirinha do
vale do córrego do Leitão em Belo Horizonte, entre os anos de 1894 e 1975. A inserção
do curso d’água no traçado planejado da cidade, ocorrida ao longo do processo de
evolução urbana da capital de Minas Gerais, ocasionou não a retirada dos moradores
das terras fluviais, mas também acarretou uma profunda alteração paisagística e
ecossistêmica, onde a imprensa e o poder público tiveram grande importância nas
estratégias de convencimento social para a realização das intervenções.
A escolha do vale do córrego do Leitão como objeto de análise se faz por
diferentes motivos: em primeiro lugar, os processos que levaram à plena urbanização
da bacia ocorreram de maneira mais lenta em relação às demais bacias hidrográficas
que se encontram dentro dos limites da Avenida do Contorno (vales dos córregos do
Acaba Mundo e Serra, afluentes do ribeirão Arrudas), fato que acabou preservando por
décadas a paisagem rural em parte do vale.
As políticas urbanas para a região também foram fatores preponderantes para a
escolha, uma vez que a porção do vale a montante da região central de Belo Horizonte
foi gradativamente ocupada ao longo das cadas pela população de maior poder
aquisitivo, ao mesmo tempo em que as obras de urbanização acabaram por expulsar os
antigos moradores e ribeirinhos que habitavam o vale.
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A metodologia adotada baseou-se ainda numa revisão sistemática da literatura,
a partir do uso de buscadores em sites como Scielo, Portal Capes e outros, bem como
do uso de artigos, livros, teses e dissertações que abordam esse tema. Também foram
utilizadas imagens aéreas e fotografias antigas para a caracterização do território em
análise.
É diante deste contexto que o estudo e as análises contidas neste artigo, tendo
como perspectiva o conceito de violência lenta nos processos de evolução
urbana/expulsão do vale do Leitão visam contribuir para a compreensão da dinâmica
dos processos e desdobramentos que caracterizam a desigualdade estrutural e, porque
não dizer - racismo ambiental - que se encontra arraigada na sociedade brasileira, da
qual a cidade de Belo Horizonte e os seus processos geográficos, históricos, urbanos e
sociais são um exemplo concreto do conflito entre o racional e a formalidade que, em
algum momento, se torna informal (Borsagli, 2017, p.99).
VIOLÊNCIA LENTA E O PROCESSO DE EVOLUÇÃO URBANA DE BELO HORIZONTE
O conceito de violência lenta é denominado por Nixon (2011, p.2) como uma
violência que ocorre de maneira gradual e fora de vista, uma violência de destruição
atrasada que se encontra dispersa pelo tempo e pelo espaço, uma violência de atrito
que normalmente não é vista como violência de fato. Ou seja, é uma violência que
escapa das percepções das sociedades e da qual não existe uma ampla sensibilidade a
respeito:
A violência pode ser entendida como uma ão que é imediata no tempo,
explosiva e espetacular no espaço, e que eclode com uma visibilidade instantânea.
Acredito que precisamos engajar em um tipo diferente de violência, a violência que não
é espetacular nem instantânea, mas gradual e cumulativa, cujas repercussões
calamitosas se movem através de uma série de escalas temporais (Nixon, 2011, p. 2).
A violência lenta, de acordo com o autor, também se manifesta em diferentes
contextos como o ambiental, nas relações de poder e no âmbito social, onde é claro que
as populações que vivem à margem da sociedade e da economia, além das minorias
étnicas são as mais afetadas (Berth, 2023). Nesse contexto, trazendo para as questões
de cunho social e ambiental, a ideia de violência lenta se manifesta não sobre as
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populações economicamente menos favorecidas, mas também no meio ambiente,
onde a marginalização ambiental em meio urbano é clara (Borsagli, 2016, p.38) e
ocorre de forma gradual e algumas vezes de maneira furtiva.
A violência lenta se torna, aos poucos, naturalizada no cotidiano das sociedades,
ao mesmo tempo em que a mídia venera o espetacular e as políticas públicas se
estruturam em torno de uma imediata necessidade de resultados, mas também
possibilitar a consolidação de um capitalismo dinâmico, rápido e, em consequência,
excludente e segregador. Nesse sentido, o autor observa que,
Estamos em uma era de turbo-capitalismo acelerado, em que o presente
parece mais abreviado do que costumava ser - pelo menos para as classes
privilegiadas do mundo que vivem cercadas por economizadores de tempo
tecnológicos que muitas vezes agravam a sensação de não ter tempo
suficiente. Consequentemente, um dos desafios mais urgentes de nossa
época é como ajustar nossa atenção, que está se atenção que está se
desgastando rapidamente às lentas erosões da justiça ambiental (NIXON,
2011, p.8).
Dentro dessa premissa, os centros urbanos são territórios de disputas intensas e
contínuas, onde a violência lenta é praticada constantemente frente ao imediatismo dos
agentes que se apropriam dos espaços. Em todo esse contexto, é importante observar
que, ao mesmo tempo em que a violência lenta é regular e mutável, a população
socioeconomicamente menos favorecida precisa buscar a sobrevivência diária em meio
às rupturas impostas pela cidade e para a cidade, formal ou informal:
Assim como o pícaro, os moradores de favelas com problemas
ambientais estão empenhados na sobrevivência imediata,
improvisando de dia para dia, de hora para hora. hora a hora. Seu
elemento temporal é "agora", suas vidas estão sujeitas à tirania do
eterno hoje. No entanto, coletivamente, os da cidade estão ligados de
forma complexa ao passado e ao futuro por meio das metamorfoses
provocadas pela toxicidade, pela busca da justiça social e por sua
relação coletiva com o tempo apocalíptico (NIXON, 2011, p.58).
O contexto da produção do espaço da cidade capitalista, esbarra sempre no
contexto da produção formal ou informal da cidade, corrobora para essa afirmação,
Grostein (2001, p.14), para a qual as metrópoles no Brasil concentram uma significativa
parcela da pobreza, que ao apropriar do espaço urbano, são quase sempre alocadas em
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áreas pouco servidas de investimentos públicos. Nessa medida, existe o crescimento
exponencial da informalidade - pela ausência do planejamento urbano e de políticas
públicas de habitação - ampliando assim as diferenças socioambientais, bem como o
abismo social, que separa a cidade rica - das áreas com boa infraestrutura física, das
áreas pobres e periféricas.
Nesse contexto, é possível estabelecer uma conexão direta entre a violência
lenta e o racismo ambiental, que basicamente é executado pela incursão do
capitalismo e pelo negligenciamento estatal (Filgueiras, 2021, p.189). O racismo
ambiental abarca ainda, como observado por Pacheco (2006), as ações pautadas em
“injustiças ambientais e sociais que recaem sobre os grupos populacionais vulneráveis”.
A ausência de direitos civis, políticos e sociais vai ao encontro do conceito de racismo
ambiental, ou seja, existe, ainda que de maneira “velada” por parte do poder público, a
ausência de cidadania é visível para essa população que sofre, assim como o meio
ambiente, violências diversas e, ao longo do século XX, explícitas.
Fica claro que a violência que ocorre nos grandes centros urbanos brasileiros não
se restringe a uma violência imediata, explosiva, e sim a uma violência lenta, gradual e
agressiva, no entanto, quase invisível dentro da escala temporal que existe entre elas.
No ambiente da cidade industrial e moderna, a ruptura é parte de um processo que leva
não a remoção/expulsão da população menos favorecida, mas também a perdas de
ordem ecossistêmica e paisagística, onde as porções do território de paisagens
predominantemente rurais aos poucos são adaptadas para integrar a cidade, ou
marginalizadas pela própria cidade e pelos agentes transformadores do espaço, uma vez
que a remoção forçada envolve adaptações agonizantes para acomodações precárias e
terrenos geralmente áridos e hostis, envolvendo ainda um desafio adicional imposto
pela violência temporal: a sobrevivência em um local destruído, com o presente cortado,
arrancado em um deslocamento involuntário de um tecido luminoso que tinha um
significado estendido do tempo no local (Nixon, 2011, p.162).
No caso de Belo Horizonte, cidade imaginada no cerne dos ideais positivistas e
concebida nos moldes das cidades burguesas liberais surgidas durante a Revolução
Industrial, a remoção forçada surge ao mesmo tempo da escolha do sítio para a
construção da nova capital. A expulsão dos habitantes menos abastados do antigo
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arraial do Curral del Rey, logo após a chegada da CCNC ao local, pode ser considerada a
primeira violência, realizada sob anuência do Estado, ocorrida no sítio da nova capital.
Para se ter ideia, dentro dos preceitos higienistas e sanitaristas que nortearam
não a construção da capital, mas também as reformas urbanas ocorridas nos
principais centros urbanos brasileiros durante o período da República Velha (1889-
1930), cronistas e funcionários da CCNC como Alfredo Camarate e Fábio Nunes Leal por
diversas vezes afirmaram que a população do arraial era atrofiada e fraca, doentia e
defeituosa (Minas Geraes, 1894, p.14) e não eram com certeza dignos deste torrão de
primor, pelo clima, pela posição, pela beleza os seus possuidores em 1894 (Minas
Gerais, 1894, p.15).
Os preceitos segregacionistas são bastante claros nas palavras de Camarate e
Nunes Leal que, alinhados com o discurso oficial, buscaram criar justificativas para a
remoção forçada da população do arraial. Nesse contexto, como observado por Nixon
(2011, p.3) em relação à violência lenta, “um desafio importante é representacional:
como conceber histórias, imagens e símbolos cativantes adequados à violência
disseminada, mas elusiva de efeitos deferidos”.
Na busca incessante por justificativas da expulsão dos curralenses do seu arraial,
Nunes Leal afirmou que nunca sairia do arraial algum indivíduo ilustre que o tiraria das
trevas da ignorância e da indolência, observando ainda que a quase totalidade das
crianças do Curral del Rey andavam descalços, exemplos que, para o secretário, atestam
um atraso incompatível com os planos para a nova capital, ao afirmar que os habitantes
no futuro ficarão surpreendidos de ter habitado nela uma população tão mesquinha, e
não haver, há muitos anos, sido escolhido este arraial para a construção de uma grande
cidade. (Minas Gerais, 1894, p.4).
A expulsão dos moradores se deu em um curto espaço de tempo, sendo então
obrigados a buscarem novos locais de moradia nos arrabaldes da nova capital, em
particular os povoados do Calafate e Piteiras, transformados em bairros suburbanos
nos primeiros anos da nova capital (Aguiar, 2006, p.293). Em menor escala os povoados
de Cachoeira, João Carlos, Bento Pires e Cardoso também receberam os curralenses
expulsos ou parcialmente indenizados pelo Estado, como Dias (1897, p.85), pároco e
testemunha das expulsões ocorridas no arraial, observou ao falar da emigração forçada
do arraial quando, por muitas vezes com lágrimas nos olhos, os curralenses se
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queixarem da sorte, pelas peripécias e amarguras porque iam tão bruscamente
passando. Era uma cena triste e comovedora essa da emigração da maioria dos
habitantes para outras paragens mais recônditas e solitárias do querido Curral d’El Rei”.
É importante ressaltar que muitos dos curralenses expulsos acabaram
construindo novas moradias nas primeiras aglomerações informais da capital, o Alto da
Estação e o Leitão, consideradas as primeiras favelas de Belo Horizonte e desaparecidas
logo após a inauguração da capital com a criação do bairro operário do Barro Preto no
ano de 1902 (Borsagli, 2016, p.80). A ppria planta da nova capital (Figura 1) é bastante
excludente no ponto de vista socioeconômico, uma vez que a especulação imobiliária e
as normas para construção nos lotes dentro da Avenida do Contorno vedavam a
permanência definitiva da população de menor poder aquisitivo na cidade planejada.
Figura 1 Planta da nova capital de Minas Gerais (Belo Horizonte), 1895. Fonte: modificado de
Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte.
Nesse sentido, fica claro que uma violência lenta, gradual, agressiva e tão
característica nos processos de formação e consolidação da capital mineira se iniciou
nesse momento (1894-1897) com a instauração de preceitos e valores gradativamente
absorvidos pela infante sociedade republicana burguesa, herdeira e responsável ainda
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pela manutenção de uma desigualdade socioeconômica agravada ao longo do período
imperial (Soares, 2019, p.10).
Dento desse contexto, não tem como desassociar a violência pela população
socioeconomicamente vulnerável, do racismo ambiental. A maneira como se deu a
expulsão para regiões que não possuem sequer um chafariz para prover de águas os
seus habitantes, demonstra o quão falho e negligente eram os valores, a falta de
cidadania e principalmente as leis, que não obrigava o estado a dar o devido suporte
para os grupos socialmente vulneráveis, que então “contavam com a própria sorte para
sobreviver” (Filgueira, 2021, p.188), ao mesmo tempo em que o poder público ignora as
suas mazelas e a sua própria existência, ressaltando que uma parcela considerável dos
curralenses expulsos do arraial consistia de populações não-brancas.
O VALE DO CÓRREGO DO LEITÃO E A VIOLÊNCIA CONTRA AS POPULAÇÕES
RIBEIRINHAS
Os preceitos que nortearam a construção da capital, de fato, influenciaram a
relação entre a cidade e os elementos naturais, em particular os cursos d’água, vistos
como obstáculos para o pleno desenvolvimento do tecido urbano da capital e que
deveriam ser controlados e adaptados ao traçado da cidade em um momento
oportuno (Borsagli, 2016, p.84).
Em um primeiro momento, o vale do córrego do Leitão, entre os anos de 1897 e
1923, não apresentou alterações significativas nas porções da bacia localizadas a
montante da região central, mantendo por duas décadas a sua ruralidade com a criação
da Colônia Agrícola Afonso Pena no ano de 1899, assentada nas terras das fazendas
Capão e Leitão. As terras da bacia à montante da Avenida do Contorno (que ainda só
existia em projeto), incluindo a sede da fazenda do Leitão, continuaram a manter a sua
vocação agrícola, fornecendo víveres para a nova capital.
A partir da década de 1920, o vale do Leitão tornou-se prioritário para a
expansão da cidade planejada, e a ruralidade que contrastava com a cidade formal-
racional passou a ser sucessivamente criticada pelas administrações municipais e pelos
periódicos da capital. Ao mesmo tempo em que a região foi urbanizada, a população
operária moradora da margem esquerda do curso d’água foi removida da região e
reassentada no antigo Pasto da Prefeitura (bairro Concórdia) deixando para trás não só
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o seu modo de vida, mas também os seus costumes e o seu cotidiano (Figuras 2 e 3),
uma vez que foram reassentados a uma distância da cidade planejada.
Foi um período que as favelas foram sendo removidas da zona urbana e
gradualmente empurradas para a zona suburbana. Em alguns casos, após a remoção,
muitos moradores se assentavam nas proximidades do antigo núcleo e a favela voltava
a existir, como o caso da Pedreira Prado Lopes. Não existia uma política efetiva de
reassentamento e a população operária e imigrante era expulsa e obrigada a procurar
outro local para morar, prioritariamente em áreas mais afastadas do centro de Belo
Horizonte.
Figura 2- Construção da rede de esgotos do Bairro Operário do Barro Preto, 1929. Após a
conclusão das obras as casas foram demolidas e as matas derrubadas para a expansão urbana.
Fonte: Museu Histórico Abílio Barreto.
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Figura 3 - Abertura da rede de esgotos no Barro Preto, 1929. Ao fundo uma das casas do bairro
operário em processo de demolição. Fonte: Museu Histórico Abílio Barreto
Um exemplo da violência cometida nas remoções ocorridas no vale do Leitão no
período 1925-1945 foi a Favela da Barroca, que existiu na região compreendida entre a
Praça Raul Soares, Sanatório Belo Horizonte e o 12º Batalhão de Infantaria. Os
moradores da favela chegaram à região nos primeiros anos da nova capital, sendo os
últimos expulsos por volta de 1942 à base da marreta (Borsagli, 2017, p.189), no início
da urbanização das terras que formaram o bairro Santo Agostinho. Os moradores
expulsos formaram o Morro do Querosene e a Vila dos Marmiteiros, áreas então
consideradas periféricas e que se encontram fora dos limites da Contorno.
As rápidas transformações ocorridas no espaço geográfico da capital
continuaram a promover a remoção dos moradores que se encontravam assentados em
áreas consideradas prioritárias para a expansão urbana de Belo Horizonte. As remoções,
por um tempo, foram feitas por intermédio do Departamento Municipal de Habitação e
Bairros Populares (DBP), responsável por uma das mais notáveis remoções ocorridas no
vale do Leitão, realizada com o intuito da construção de uma barragem de retenção de
água visando a mitigação dos transbordamentos que ocorriam com frequência no vale
(Borsagli, 2016, p.252).
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O Conjunto Santa Maria, construído entre os anos de 1955 e 1963 é o primeiro
conjunto habitacional da capital mineira e os blocos de moradias receberam os
moradores que se encontravam assentados no entorno da Cerâmica Santa Maria,
demolida para a construção da Barragem Santa Lúcia. Nesse contexto, é importante
observar que o conjunto foi construído a poucos metros do antigo aterro sanitário de
Belo Horizonte (Boca do Lixo), em área insalubre e até então não interessava ao
mercado imobiliário, ou seja, era uma área desprovida dos equipamentos urbanos
básicos como saneamento básico e transporte público.
Nesse caso, não houve uma violência concreta sobre os moradores removidos,
mas sim uma violência lenta e “invisível” que engloba não só o seu modo de vida, com
a ruptura forçada da população ribeirinha com o curso d’água, utilizado para lavagem
de roupas e irrigação de hortas, mas também pela supressão de um espaço rural que
não interessava ao poder público, ou seja, a perda de identidade e de percepção com o
território era interessante para que os planos políticos-fundiários fossem executados de
maneira plena e sem interferência dos movimentos pró-moradia surgidos no período:
Aqui tinha duas fazendas. (...) Era a fazenda do Diomar era em baixo,
quase no final donde que é... Que eles fizeram aquela pracinha ali, pracinha
da Lagoa, no final da Lagoa. Ali era a fazenda do Diomar. E no rrego que
construíram os moinhos d’água. E aqui, nesse rumo aqui a cima, era a
fazenda do Anastásia. (...) A família Anastásia (risos). Um pedaço desse
terreno aqui era deles. A Casa da Fazendinha, ali estava dentro do terreno
do Diomar. Ali era Colônia Afonso Pena. Dentro da lagoa tinha a olaria velha
e tinha aquela fazenda. (...) Essa fazenda tinha tomador de conta, mas eles
não interferiam...Que eles passavam mesmo a fazenda. Tinha gente que
tomava conta, mas os proprietários não moravam mais. Era mesmo a
fazenda, demarcando aqueles territórios ali. (...) Que quando eles fizeram o
reservatório em cima, estragaram o terreno, né!? Então, qualquer dia eles
pararam de pagar imposto. A prefeitura também... Então, ficou aquele
negócio que nem era da Prefeitura e nem era dos fazendeiros (PEREIRA,
2012, p.119).
A autora realiza ainda observações a respeito da relação da população ribeirinha
com o curso d’água:
Esse Córrego do Leitão, eu cansei de pegar piaba nele até no mercado. (...)
Então, hoje... Essa BR, onde é que é a [Avenida] Nossa Senhora do Carmo
hoje, também foi aberta na mesma época que nós viemos pr‟aqui. Que
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existia um trilho de tropa que saía em Nova Lima, que era dos tropeiros. Mais
nada. (PEREIRA, 2012, p.130).
Ou seja, os valores impostos para a sociedade de forma lenta e gradual acabaram
por garantir o apoio às obras de remoção/expulsão dos moradores não do vale do
Leitão, mas também das margens de inúmeros cursos d’água do município de Belo
Horizonte, onde a salubridade e a promessa de erradicação dos transbordamentos
foram e ainda são utilizados como propaganda para que as remoções aconteçam.
As últimas remoções ocorridas no vale do Leitão foram realizadas entre os anos
de 1967 e 1975 (Figura 4), durante a Ditadura Militar no Brasil. As remoções faziam parte
das obras de reforma urbana iniciadas dois anos após o golpe militar de 1964 e
patrocinadas pelos Estados Unidos da América, visando adaptar os grandes centros
urbanos à nova realidade viária, onde o veículo individual se tornou o protagonista das
políticas urbanas do Brasil (Borsagli, 2016, p.247).
Figura 4: Obras de canalização do Leitão, 1970. Em destaque a Favela da Alvorada, removida
no ano de 1971 para a continuidade das obras. Fonte: Arquivo Público da Cidade de Belo
Horizonte.
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Por ter sido realizada em um período obscuro da história contemporânea do
Brasil, não se tem mais informações a respeito da realização das remoções, apenas que
os trabalhos de expulsão dos moradores das margens do Leitão (Figura 5), dentre quais
se destaca a Favela da Alvorada, foram realizados com a ajuda do Departamento de
Ordem Política e Social (DOPS), órgão responsável pela repressão dos movimentos
sociais e populares durante o Estado Novo e principalmente durante a Ditadura Militar
no Brasil (1964-1985), sendo os moradores deslocados para o Morro do Papagaio, favela
assentada às margens do córrego do Leitão desde a década de 1950.
Nesse contexto, é importante observar que as obras de abertura da Avenida
Prudente de Morais foram concluídas no ano de 1972, e as obras de construção da
barragem Santa Lúcia foram finalizadas no final de 1975, pondo fim às remoções das
populações ribeirinhas do vale do Leitão, que nesse momento se resumiam a
pouquíssimas famílias, que até a segunda metade da década de 1980 acabaram por
vender suas moradias para grupos imobiliários interessados na verticalização do vale.
Figura 5: Obras de canalização do Leitão, 1970. Detalhe para as moradias da Favela da
Alvorada, removida no ano de 1971 para a continuidade das obras. Fonte: Arquivo Público da
Cidade de Belo Horizonte.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao analisar as sucessivas intervenções realizadas no vale do córrego do Leitão,
fica claro que o conceito de Rob Nixon explicita que a violência, nesse caso, não se
resume apenas às perdas ambientais ocorridas pelo processo de urbanização e
canalização do curso d’água, mas também às populações ribeirinhas que, diante da
espetacularização midiática e do imediatismo político promovido pelo poder público e
pelos veículos de comunicação, foram expulsas ao longo do período analisado por
diversas vezes e quase pelos mesmos motivos, ou seja, uma violência temporalmente
dispersa e velada perante a sociedade civil.
Em conexão com as observações realizadas pelo autor em sua obra Slow
Violence and the Environmentalism of the Poor (2011) a parceria entre os governos e as
instituições fundiárias responsáveis não pela especulação imobiliária, mas também
pelas profundas mudanças que se verificam no espaço urbano de Belo Horizonte ao
longo dos seus cento e vinte cinco anos de existência, explícita a violência destrutiva do
capitalismo na formação do espaço urbano, em geral modificado e adaptado de acordo
com os interesses das classes dominantes, e onde a má gestão ambiental é notória.
Ademais, não é possível desassociar os eventos que se sucederam no vale com o
racismo ambiental praticado com as populações ribeirinhas. A identidade ética e a
origem da população moradora do vale durante o recorte temporal aqui analisado
foram determinantes para a maneira com que o estado tratou uma população que
muitas vezes era vista como não-cidadãos, invisíveis e desprovida de direitos civis,
sociais e políticos. É uma questão que merece maior aprofundamento, mas é notável
que a identidade étnica foi determinante para os desenlaces aqui abordados.
A plena urbanização da porção do vale do rrego do Leitão compreendida entre
a Avenida Prudente de Morais e o trecho a montante do Morro do Papagaio acabou por
extinguir não as reminiscências rurais que existiam na região, desaparecida por
completo na segunda metade da década de 1980, mas também a memória e a
identidade dos primeiros moradores do vale, atualmente urbanizado em quase sua
totalidade. Das colônias e da paisagem rural, restou apenas a Casa da Fazendinha, em
meio à informalidade do morro e sob as vistas dos bairros Santo Antônio, Vila Paris, São
Bento e Santa Lúcia.
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Enfim, o conceito de violência lenta expõe inúmeras nuances e permite múltiplas
análises sobre a maneira em que se deram os processos urbanos e geohistóricos de
ocupação de territórios que, em alguns casos, não deveriam ser ocupados e nem
modificados, como os fundos de vale em meio urbano, respeitando não só as variáveis
ambientais e físicas das bacias, mas também as relações históricas que são estabelecidas
entre os habitantes tradicionais das planícies de inundação e o meio ambiente.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao PPGG-TIE PUC Minas pelo suporte técnico, a CAPES
pelo suporte financeiro e ao DAU, PPGArq e Pro-Reitoria de Ensino e de Pesquisa da
PUC-Rio.
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