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Revista Desenvolvimento Social, vol. 30, n. 2, jul/dez, 2024
PPGDS/Unimontes-MG
urbanidade, esses grupos seguem marginalizados, vivenciando as cidades mais como
espaços de exclusão do que de emancipação, sendo maioria entre as vítimas da
gentrificação e habitando favelas, áreas de risco e zonas de sacrifício. As cidades do país,
além disso, em muito foram e mantêm-se erguidas por mão-de-obra de ascendência
africana ou indígena, seja a outrora escravizada, seja, atualmente, a que ocupa postos
precarizados nos canteiros de obras ou autoconstrói devido à falta de moradia digna.
Este dossiê da Revista Desenvolvimento Social reúne, então, contribuições que
vêm em auxílio à compreensão de como dimensões de “raça” e “etnicidade” podem
operar como tecnologias de hierarquização social, impactando tanto a vida de
indivíduos e grupos quanto a produção de territorialidades e territórios urbanos,
influenciando políticas públicas, modos de habitar e práticas espaciais insurgentes.
O artigo que abre os trabalhos é “A dimensão racial da desigualdade e
segregação socioeconômica em Brasília”, de Rogério Rezende e Hilde Heynen.
Esmiuçando a segregação racial na capital federal, o texto argumenta que, embora
Brasília tenha sido projetada sob certo utopismo igualitário ancorado no amplo acesso
à boa arquitetura, consolidou-se como um território de profundas desigualdades,
especialmente na exclusão da população mais pobre e negra. Examina, ainda,
dialogando com estudos sobre segregação racial nos Estados Unidos e na África do Sul,
como a ideologia da “democracia racial” influenciou a urbanização brasileira,
invisibilizando dinâmicas raciais. Por fim, analisa a construção e o desenvolvimento de
Brasília, revelando como decisões iniciais de projeto, pensadas para promover
diversidade, acabaram reforçando mecanismos de segregação.
No artigo "Como surge um quilombo: institucionalização da identidade do
Kilombo Família Souza na garantia de direitos", Daniel Henrique de Menezes Dias analisa
a experiência de aquilombamento da Família Souza, originada na antiga Curral Del Rey
(atual Belo Horizonte). O texto apresenta, de forma cronológica, a luta desse grupo pelo
reconhecimento como comunidade tradicional. Com base na perspectiva do Atlântico
Negro, de Paul Gilroy, o autor investiga como os processos de reconhecimento jurídico
e político dos quilombos funcionam como estratégias de resistência e afirmação
territorial. Também aborda o impacto da certificação da Fundação Cultural Palmares em
meio a disputas judiciais e narrativas sobre a posse da terra, destacando a persistência