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A constituição da Comissão Regional, que deu origem à Articulação
Rosalino, passou a discutir em Minas Gerais a criação de uma política
estadual. O projeto de lei estava sendo discutido na ALMG, mas os trâmites
internos na Assembleia encontravam muitas barreiras. A oportunidade
surgiu no final do ano de 2013, em uma das negociações com a bancada do
governador Anastasia, o projeto de lei entrou no pacote em contrapartida
da aprovação das demandas fiscais do governo. (...) O projeto de lei foi
aprovado pela ALMG e, em 14 de janeiro de 2014, o governador Anastasia
promulgou a lei. E, depois, com o governo de Pimentel, a política estadual
foi regulamentada com a criação da Comissão Estadual de Povos e
Comunidades Tradicionais (DAYRELL, 2019 p. 313).
Os membros da primeira composição da CEPCT-MG para o 1º mandato
(2015-2017) foram empossados no I Encontro Estadual de Povos e Comunidades
Tradicionais, realizado em outubro de 2015, em Belo Horizonte. Durante três dias, o
encontro possibilitou um momento de troca entre os diversos segmentos identitários
de povos e comunidades tradicionais, atores do governo e entidades da sociedade civil,
ambiente pelo qual foi definida a composição da Comissão, a quem passou a competir
ações de elaboração, acompanhamento e monitoramento da execução do Plano
Estadual para o Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais
por intermédio de agências como a presidência, o plenário, a secretaria executiva,
câmaras técnicas e grupos de trabalho.
Em termos práticos, o que se percebeu ao longo dos 1º e 2º mandatos entre
2015-2020, visto que houve renovação automática, foi um grande movimento no
sentido da emissão de certidões de autodefinição, documento oficial que muito tem
contribuído na visibilização das lutas e identidades regionais, e propagandeado pelo
Governo de Minas Gerais como o primeiro passo para a regularização de territórios
tradicionalmente ocupados12.Ocorre que, após certificadas, as comunidades ficaram à
mercê da burocracia estatal, sobretudo após 2019 e a onda de direita que elegeu
12 Em cartilha intitulada “Fluxograma para titulação de territórios coletivos – MG”, publicada em 2018
pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agrário (SEDA), a certidão emitida pela CEPCT-MG seria,
em tese, o primeiro passo que resultaria no processo de titulação de territórios tradicionais. No
documento, são apresentados os procedimentos para que uma determinada comunidade ou segmento
identitário obtenha o documento autodeclaratório, a saber: 1) envio de ofício à presidência/secretaria
executiva contendo breve relato; 2) recebido o documento, é realizada visita técnica de comitiva e
elaboração de relatório de visita; 3) apresentação de relatório e petição para deliberação em plenário; 4)
caso aprovada, a autorização é encaminhada à superintendência competente para devidas providências
legais (MINAS GERAIS, 2018 p. 6). Passados cinco anos da publicação da cartilha, a metodologia jamais
conseguiu ser aplicada em nenhum caso específico.
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Revista Desenvolvimento Social, vol. 29, n. 1, jan/jun, 2023
PPGDS/Unimontes-MG