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potência de emancipação, e não como uma regulação conservadora;
explicita como ela opera na construção de identidades étnico-racial
(GOMES, 2020, p.21).
Com os nossos corpos inseridos, começamos outros debates necessários, tais
como: permanência estudantil, currículo plural com autoras/es negras/os, negras/as
quilombolas e indígenas. A educação superior esteve e está estruturada para o
estudante branco ou para aqueles que se embranqueceram no meio do processo.
Por isso, é importante que a produção de conhecimento seja diversa e plural.
As ações afirmativas devem afirmar as nossas presenças no território acadêmico que se
diferem inclusive entre nós, e isso para nós não é um problema. Não somos apenas
corpos presentes, somos corpos pensantes
Os saberes nas comunidades tradicionais são coletivos, plurais e alcançam a
todos por meio de saberes e modos próprios. O povo negro quilombola carrega na
memória, no espírito e no corpo as heranças ancestrais que atravessam o tempo e
permanecem vivas em nossas danças, ritmos, batuques e no cotidiano.
Os nossos territórios são solos sagrados:
Para o povo quilombola, a terra não é só um pedaço de chão, mas um
conjunto material e imaterial da vida desses povos, que se constitui em um
espaço cultural, político e territorial, que buscamos dentro do aparelho
estatal como cidadãos e como povos que somos. O que se reivindica, em
suma, é o respeito às diferenças e ao exercício pleno dos direitos de um
povo, que manteve seu território protegido durante um longo tempo sem a
presença do aparelho estatal. Não se trata de uma usurpação de poder ou
de competência, trata-se, em específico, da defesa de nossos territórios
históricos e da nossa história (DIAS, 2019, p. 43).
Na minha casa, os ensinamentos perpassam a escuta, a reflexão e a ação,
sendo assim desde muito novos, eu, meus irmãos, primos e primas ouvíamos: “estude,
estudar é o único bem que não vão roubar de vocês!”. Essa fala ouvíamos
principalmente das matriarcas, que era importante estudar para ter um futuro
diferente delas. E muitas de nós ouvimos e praticamos, outras não. A maioria parou no
ensino fundamental.
Eu ouvi atentamente e segui em frente o sonho de ser “letrada”, era um sonho
coletivo, sonho das mulheres da minha família.
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Revista Desenvolvimento Social, vol. 28, n. 2, jul/dez, 2022
PPGDS/Unimontes-MG