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Revista Desenvolvimento Social, vol. 28, n. 1, jan/jun, 2022
PPGDS/Unimontes-MG
A partir de uma abordagem de perto e de dentro (MAGNANI, 2002),
buscou-se
compreender não só as características e dinâmicas mais gerais do Santa Marina, como
o uso das instalações para práticas esportivas e culturais, mas também as percepções,
motivações e afetividades dos frequentadores em relação ao clube. Entretanto, ao
contrário de uma etnografia clássica, em que um pesquisador tradicionalmente passava
longos períodos de tempo dentro de determinado contexto cultural, neste caso, o curto
período de duração do trabalho de campo, tornaram necessária a adaptação do método
etnográfico para o desenho desta pesquisa. Durante 10 dias, entre os meses de
novembro e dezembro de 2021, quatro etnógrafos/as,
de forma coletiva e
compartilhada, realizaram uma pesquisa de campo que tinha como objetivo explorar as
práticas e dinâmicas constitutivas do Santa Marina para compreender as relações
estabelecidas entre os diversos atores sociais, e também ao conjunto de categorizações
locais, acionadas cotidianamente para fazer referência ao que é vivenciado e praticado
no clube, produzindo, assim, sentidos sobre o Santa Marina.
Assim, por meio da etnografia, foi possível acessar, de forma muito direta, suas
escolhas e engajamentos nas atividades, suas trajetórias e rotinas, como interagem uns
com os outros e como avaliam a importância e significados do Santa Marina em suas
vidas, configurando formas específicas de construção identitária e de pertencimento ao
clube. Portanto, trata-se de um contexto esportivo, cultural e de lazer que apresenta
questões essenciais para pensar os modos de viver a cidade. Por isso, a partir do Santa
Marina é possível problematizar a heterogeneidade do próprio contexto urbano em
dinâmicas mais ampliadas de construção de vínculos citadinos.
Por fim, os mapas georreferenciados foram elaborados com bases de dados
disponibilizadas pelo Portal GeoSampa (Prefeitura Municipal de SP), informações
disponibilizadas pelos/as varzeanos/as que contribuíram com a pesquisa e informativos
Na abordagem de perto e de dentro reproduz-se um dos preceitos clássicos da prática etnográfica, a
observação participante, por meio da qual o pesquisador não somente conversa com os diferentes atores
sociais, como também observa e participa das atividades realizadas nos períodos de pesquisa. Essa
dimensão fina do campo, uma observação distanciada, “de longe e de fora”, não conseguiria apreender.
Somente a partir da observação sistemática e da permanência intensiva em campo se desenvolve uma
perspectiva de perto e de dentro, “(...) a partir dos arranjos dos próprios atores sociais, ou seja, das formas
por meio das quais eles se vêm para transitar pela cidade, usufruir seus serviços, utilizar seus
equipamentos, estabelecer encontros e trocas nas mais diferentes esferas – religiosidade, trabalho, lazer,
cultura, participação política ou associativa etc.” (MAGNANI, 2002, p. 132).
Enrico Spaggiari, Mariana Hangai, Rodrigo Valentim Chiquetto e Yuri Bassichetto Tambucci.