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ABORDAGEM DO LUGAR NO LIVRO DIDÁTICO DE GEOGRAFIA DO 6º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL[1]
PLACE APPROACH IN A TEXTBOOK OF SPELLING THE 6TH GRADE OF ELEMENTARY SCHOOL
APPROCHE DU LIEU DANS LES MANUELS DE GÉOGRAPHIE AU SIXIÈME ANÉE DU ENSEIGNEMENT OBLIGATOIRE
Revista Cerrados (Unimontes), vol. 14, núm. 2, pp. 125-140, 2016
Universidade Estadual de Montes Claros

https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/

Recepção: 22 Julho 2016

Aprovação: 20 Novembro 2016

DOI: https://doi.org/10.22238/rc24482692v14n22016p125a140

Resumo: O livro didático (LD) é o recurso pedagógico mais utilizado pelos professores e alunos no processo de ensino-aprendizagem, a despeito de não ser o único. A partir dessa consideração, o presente artigo tem como objetivo analisar a utilização do lugar em um livro didático do 6º ano, utilizado na cidade de Formosa - Goiás. Para isso, a metodologia utilizada contou com pesquisa bibliográfica, para destacar a importância da Geografia Escolar e o lugar, seguido de trabalho de campo na escola pesquisada. Por último, análise do livro didático. Os resultados obtidos atestaram que, a utilização do livro nas aulas de Geografia, apesar de possuir elementos favoráveis à condução da aprendizagem de forma mais atraente, problematizadora e instigadora, confere uma perspectiva superficial à abordagem do lugar. Esse resultado contraria o disposto nas orientações referentes à Geografia Escolar, bem como nos documentos oficiais, que apontam a valorização do lugar nas relações de ensino-aprendizagem, por ser uma via de potencialização e valorização do mundo vivido do aluno, mediadores da construção do conhecimento geográfico.

Palavras-chave: Geografia Escolar, Livro didático, Lugar Ensino-Aprendizagem.

Abstract: The textbook (LD) is the pedagogical resource most used by teachers and students in the teaching-learning process, despite not being the only one. From this consideration, this article presents the approach of the place concept in a textbook of 6th year, resource widely used by teachers and students in the teaching- learning process. The analysis included bibliographic survey, to highlight the importance of school geography and place, followed by fieldwork in the research school. The results show that the use of the book in Geography lessons , despite having elements favorable to conduct the learning more attractive , problematical and instigator , gives a superficial perspective of the place approach. This result contradicts the provisions of the guidelines regarding the School Geography and official documents that link the appreciation of the place in educational relations / learning , as a means of empowerment and recovery of the world lived the student , the construction of knowledge mediators geographical.

Keywords: Geography School, Textbook, Place, Teaching-learning.

Mots clés: Géographie scolaire, Manuel, Lieu, Enseignement-apprentissage

INTRODUÇÃO

Na Educação Básica, o processo de ensino-aprendizagem em Geografia utiliza os livros didáticos (LDs) como principal recurso pedagógico na mediação dos conhecimentos escolares. Para Tonini (2011), todos os dias, nas mais diferenciadas partes do mundo, os alunos entram em sala de aula portando livros didáticos. Esses, presentes na vida educacional dos alunos, desde os primeiros anos de escolarização até os últimos, têm a função de auxiliar no desenvolvimento das ações pedagógicas que são implementadas pelos professores.

Considerando-se que, nos anos finais do Ensino Fundamental, o estudo do lugar insere-se no conteúdo programático da disciplina de Geografia, espera-se que os LDs de Geografia desse nível de ensino tratem do assunto, de forma a valorizar o lugar do aluno, para ampliação dos conhecimentos geográficos sistematizados. Deste modo, e de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental (2001), é essencial que seja valorizado o espaço vivido pelos alunos, que deve ser o ponto de partida dos estudos ao longo do terceiro e quarto ciclos. Além disso, a utilização desse conceito deve permitir a compreensão e intercalação das diversas escalas - local, regional, nacional e global -, em suas múltiplas interações no espaço.

Nessa perspectiva, o presente trabalho objetiva analisar como o conceito lugar é considerado em um livro didático aprovado pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), triênio 2014-2016, utilizado numa das escolas estaduais da cidade de Formosa/GO, no 6º ano do Ensino Fundamental. A metodologia utilizada para alcance desse objetivo pautou-se por: pesquisa bibliográfica, para destacar a importância da Geografia Escolar e do conceito de lugar; identificação do LD utilizado na escola pesquisada e análise do livro didático em questão.

Nesta análise, os temas lugar e LD conjugam-se no processo de ensino-aprendizagem de Geografia, no intuito de ressaltar a relevância do mundo vivido do aluno para a construção, reconstrução e ampliação dos conhecimentos geográficos.

Geografia Escolar e o lugar: inter-relações para ensinar/aprender Geografia

O ensino de Geografia constitui-se uma oportunidade de estudar o espaço construído cotidianamente pelos seres humanos, em suas relações recíprocas com o meio ambiente, o que explica sua relação com a prática da cidadania. Nesse sentido, e de acordo com Ponstuschka et al (2009) a Geografia, como ciência humana, pesquisa o espaço produzido pelas sociedades humanas, considerando-o como resultado do movimento de uma sociedade e suas contradições e nas relações estabelecidas entre os grupos sociais e a natureza em diversos tempos históricos.

Tal qualificação evidencia a importância desse ramo de conhecimento, notadamente quando se considera os processos de formação inicial e continuada dos professores da Educação Básica, que aí encontram os fundamentos teóricos para embasar uma prática pedagógica, que subsidie os processos de construção da cidadania. Cavalcanti (2010) corrobora com essa ideia ao afirmar que, no Brasil, as linhas de pesquisa referentes ao ensino de Geografia: têm sido produzidas com o intuito de compreender a dinâmica desse processo e de indicar caminhos e abordagens que melhor resultados produzem (ou podem produzir) na aprendizagem e na formação do cidadão.

Nesse sentido, afirma que o ensino de Geografia contribui para a formação da cidadania por meio da prática de construção e reconstrução de conhecimentos, habilidades e valores, que ampliam a capacidade de crianças e jovens compreenderem o mundo em que vivem e atuam, numa escola organizada como um espaço aberto e vivo de culturas (CAVALCANTI, 2012).

Considerações como esta, nos permitem deduzir que o reconhecimento e valorização do espaço vivido do aluno, a compreensão do seu lugar, são fundamentais ao entendimento do mundo e de suas contradições. Do mesmo modo, observa-se que alguns pesquisadores da Geografia Escolar, entre os quais se destacam os citados neste trabalho, propõem a valorização do cotidiano dos alunos, para a significação dos conteúdos e a própria construção da noção de cidadania. Nesse sentido, deve pautar-se, como sugere Callai (2012, p.71), na perspectiva de “compreender o lugar para compreender o mundo”, isto é, conduzir à reflexão sobre o espaço geográfico por meio de seu lugar e, a partir daí, relacioná-lo a outros contextos, inclusive o global, numa articulação que supere a perspectiva linear de consideração das escalas.

Callai (2011) ressalta que o lugar é um espaço construído como resultado da vida das pessoas, dos grupos que nele vivem, das formas como trabalham, como produzem, como se alimentam e como fazem e usufruem do lazer, é a própria realidade, o lugar onde se vive caracterizado pela experiência e pelo mundo vivido.

Na perspectiva de valorização do lugar vivido pelo aluno, Castellar afirma que: “compreender a geografia do lugar em que vive o aluno significa conhecer e apreender intelectualmente a cidade, a cultura urbana, a paisagem, os fluxos de pessoas e mercadorias, as áreas de lazer, os fenômenos e objetos existentes no espaço urbano e rural” (2010, p. 44-45). Assim, pode-se afirmar, que trazer para sala de aula o cotidiano vivido pelo aluno traduz-se numa oportunidade efetiva de significação de conhecimentos, que tende possibilitar uma aprendizagem diferenciada, no sentido de estabelecer a própria vivência do educando como parâmetro de reflexão sobre a realidade.

O lugar constitui-se uns dos principais arranjos para construção didática da disciplina escolar. Nesse ponto de vista, seus sujeitos - professores e alunos - devem conhecer a relevância de ensinar e aprender Geografia, a partir dessa categoria de análise do espaço geográfico, para a compreensão do mundo. Callai (1999) afirma que um aluno, ao compreender a realidade em que vive, conseguirá perceber que o espaço é uma construção social. Por conseguinte, aprenderá com mais facilidade, a partir de um aprendizado vinculado ao seu cotidiano. Nessa lógica, o conhecimento geográfico escolar deve, sempre que possível, retratar a realidade do aluno, estabelecê-la como ponto de referência, parâmetro de comparação, no sentido de avançar na compreensão da realidade para além de seu lugar, mas a partir dele perceber a complexa construção social do espaço.

Essas considerações confirmam a importância desse conceito no âmbito das relações de ensino/aprendizagem em Geografia. Nesse aspecto, uma análise que estabeleça uma associação entre livro didático, enquanto instrumento pedagógico, e o lugar, enquanto categoria de análise do espaço geográfico constitui-se relevante às questões relativas à construção da aprendizagem do aluno em Geografia. Desse modo, identificar como se dá a abordagem do lugar nos livros didáticos do 6º ano do Ensino Fundamental é importante, pois é nesse momento que o aluno tem uma relação mais aprofundada com essa área de estudo, como disciplina específica, na qual a valorização do lugar pode ser decisiva ao seu interesse nos conhecimentos geográficos, e também, elemento significativo da dinâmica de aprendizagem.

METODOLOGIA DA PESQUISA

A pesquisa que subsidia este artigo é de base qualitativa. A esse respeito, Bogdan e Biklen (2006) pontuam que as características centrais de uma pesquisa qualitativa são: descrição; interesse pelo processo e não apenas pelo resultado da pesquisa; considerar o pesquisador como instrumento chave para o desenvolvimento do trabalho; questionamento do objeto de investigação e análise indutiva das informações produzidas.

No que se refere à análise do LD utilizado pelos professores, elencamos alguns critérios para a análise do lugar nesse importante recurso pedagógico (SOUZA, 2012; CARVALHO SOBRINHO, 2014):

Ø Apresentação geral do livro a ser analisado (capa, páginas, autor/autores, editora, ano de edição).

Ø Análises das ilustrações, imagens, representações cartográficas, gráficos, quadros e tabelas.

Ø Fidedignidade de informações e ausência ou presença de preconceitos;

Ø Identificação de estímulo à observação, investigação, análise, síntese, criatividade e interpretação, entre outros, a partir do lugar Formosa;

Ø Análise das atividades, no sentido de identificação das possibilidades de desenvolvimento de competências e habilidades.

Ø Número de páginas dedicadas ao conteúdo lugar;

Ø Articulação da categoria lugar com os Parâmetros Curriculares Nacionais;

Ø Tratamento da categoria lugar ao longo do livro.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

O livro didático (Figura 1) analisado integra a coleção Projeto Araribá editado pela editora Moderna, constitui-se uma das coleções de livros adotados pela rede estadual de ensino do município de Formosa/GO, no triênio 2014 até 2016, de autoria de Fernando Carlo Vedovate, que é mestre em ciências, na área de concentração em Geografia Humana, pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.

O livro possui capa pouco resistente feito com material que é fácil amassar ou mesmo rasgar. Sua encadernação é do tipo brochura, com papel branco, fácil de sujar e por conseguinte, prejudica sua durabilidade. Possui 215 páginas, fonte legível, com espaçamento de 1,5 cm, entre as linhas, o que possibilita boa visualização para leitura. Rico em ilustrações, apresenta várias imagens, gráficos, tabelas, mapas, charges, entre outros recursos com cores diferenciadas, que complementam a ideia da textualidade escrita, além de um glossário.

A capa apresenta a imagem de um Folião do carnaval de Veneza (Itália), o que por si só já é razão de questionamento: trata-se de uma imagem que representa a cultura carnavalesca de outro país, em detrimento das que se relacionam ao lugar Brasil, seja região, estado ou cidade brasileira.


Figura 1
Capa do livro Projeto Araribá
Brasil, MEC. PNLD, 2014, p.121.

Na apresentação o autor explica que o livro ajudará o aluno a conhecer lugares do Brasil e do mundo e perceber semelhanças e diferenças entre eles. Assim, é dividido em oito unidades, subdivididas em temas, de acordo com objetivos pedagógicos, conforme o quadro 1 que se segue.

Em relação ao valor didático, o livro apresenta exemplos que fazem referência aos textos complementares, bem como as suas imagens, gráficos e tabelas. Seu conteúdo atende ao disposto nos Parâmetros Curriculares Nacionais, pois a Geografia se apresenta como uma possibilidade de leitura e compreensão do mundo. Nesse sentido vincula o estudo da natureza e a sua relação com o homem, trabalha com o campo, a cidade e suas transformações, além de destacar a cartografia como um instrumento que possibilita a aproximação entre os lugares. Apresenta linguagem clara e palatável à compreensão por parte do aluno. Entretanto, o livro foi organizado sem a preocupação de relacionar os conteúdos e temas das unidades, tornando-os fechados em si mesmos. Desse modo, não estabelece ligação com conteúdo anterior, o que deixa de fornecer uma sequência sistemática ao aluno, no percurso de sua aprendizagem.

Quadro 1
Organização do Livro Didático

Autores, 2016.

As imagens, fotos, gravuras, tabelas e gráficos são referenciados, e todas possuem fonte e datas. As informações estão, de modo geral atualizadas. Notou-se, porém, que a abordagem relativa ao campo é feita estritamente pelo viés econômico, omitindo-se as demais problemáticas de ordem social, cultural e ambiental associadas.

Observa-se que não há o intuito de partir da realidade, de seu cotidiano. Nesse sentido, o livro não valoriza o lugar como conteúdo, nem tampouco como categoria de análise do espaço geográfico. O conteúdo lugar encontra-se em apenas uma página, insuficiente ao tratamento adequado do tema. O autor não abre a possibilidade de menção ao lugar do aluno, como ponto de referência à compreensão de determinados conteúdos.

Apesar disso, no que se refere ao conceito lugar, o autor destaca que, " o lugar é uma porção ou parte do espaço onde vivemos nosso dia a dia […] Nossa casa, nossa rua, nossa escola, a casa de um amigo, de um parente, o bairro são exemplos de lugares com os quais criamos uma identidade, ou seja, que tem importância e significado para nós" (VEDOVARTE, 2012, p. 10).

As imagens, desenhos, gráficos, tabelas, representações cartográficas são nítidas, sendo um relevante aspecto para boa visualização do que se queira transmitir e relacionar. Nesse sentido, as imagens do respectivo livro (Figura 2) instigam a curiosidade e se relacionam ao texto.

Conforme pode ser observado, a imagem A apresenta gráfico referente às pessoas ocupadas por setor de atividade – 2006; a B representa a dinâmica interna e externa da Cordilheira Mesoceânica; a C uma tabela que representa os principais destinos turísticos internacionais no Brasil em 2009; e a D uma representação da previsão do tempo no Brasil em 09/11/2011.


Figura 2
Imagens que espacializam o conteúdo de geografia livro didático
Vedovate, 2012, p. 206, 55, 205, 117.

A única página que se dedicou ao conteúdo lugar expressa três imagens (Figura 3), que mostram pessoas em interação com o espaço em que vivem e denotam uma relação de pertencimento e identidade a esse: a primeira mostra algumas crianças indígenas brincando na aldeia; a segunda, crianças em um campo de futebol, na cidade de Pirenópolis/GO; a terceira mostra alguns frequentadores de uma praça. Tais imagens estão ligadas ao conteúdo lugar na seção prevista para tal tema. Entretanto, a abordagem é superficial e não a enquadra como categoria analítica para compreensão do espaço geográfico, nem a utiliza como elemento de mediação pedagógica para construção de outros conteúdos. Infere-se a partir daí a pouca importância dada pelo autor ao tema.


Figura 3
Imagens relacionadas ao lugar no livro didático
Vedovate, 2012, p.19.

As atividades propostas nas várias unidades pouco valorizam o lugar, pois dificilmente conduz o aluno a pensar o seu lugar para resolvê-las. A exceção se dá na unidade correspondente ao tema, mas mesmo assim, com pouca profundidade. Vale lembrar que, de forma geral, o livro não evidencia qualquer tipo de preocupação com o conceito, nem tampouco suas possibilidades de uso orientadas à aprendizagem do aluno. Todavia, deve-se ressaltar, que o professor pode redimensionar os conteúdos e aplicá-los ao lugar, considerando-o elemento de mediação pedagógica orientado à significação de conteúdos, que permitirão uma compreensão mais efetiva dos fenômenos geográficos por parte do aluno.

Tal consideração reafirma a importância do conceito lugar ao processo de aprendizagem dos alunos em Geografia. Ao se considerar essa premissa, pode-se efetuar algumas considerações acerca do livro didático de Geografia. Esse deve promover a inserção do aluno no processo de aprendizagem, para que se (re)conheça como sujeito atuante no seu mundo vivido, com implicações concretas em seu mundo não vivido. A partir do aguçamento da curiosidade do aluno, deve criar as condições para que seja compreendida a ideia de que o espaço é uma construção social, onde ele se insere.

Independente do modo pelo qual um livro venha a ser usado pelo professor, vale destacar que "[...] o pior livro pode ficar bom na sala de um bom professor e o melhor livro desanda na sala de um mau professor. Pois o melhor livro repita-se mais uma vez, é apenas um livro, instrumento auxiliar da aprendizagem" (LAJOLO, 1996, p. 08).

A esse respeito cabe mencionar que um processo de ensino-aprendizagem exitoso não deve se restringir apenas ao livro didático: não há como transferir a responsabilidade dos conhecimentos para esse instrumento, mesmo que seja o mais utilizado pelo professorado brasileiro.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Professores e alunos dependem de instrumentos pedagógicos para a condução do processo de ensino-aprendizagem. Nesse contexto, o livro didático se constitui como instrumento pedagógico relevante para a educação básica. Tal fato é confirmado pelo expressivo número de obras distribuídas por meio do Programa Nacional do Livro Didático/PNLD, ano após ano, e a dependência deste material por parte dos docentes.

Esse trabalho associou as temáticas lugar e livro didático, por meio da verificação do conceito em um livro do 6º ano do Ensino Fundamental. Nesse sentido, constatou que o livro didático analisado, mesmo considerado atraente à aprendizagem, mostrou-se limitado à abordagem do conceito de lugar, relegando-o à posição de uma definição. Por conseguinte, eliminou seu potencial de tornar o processo de ensino/aprendizagem mais atraente, problematizador e instigador.

A questão que se impõe, no momento, e que sinaliza a continuidade da investigação, diz respeito à verificação do tema, no sentido de identificar como os professores, que usam os LDs como recurso de mediação pedagógica, consideram o lugar: se apenas o restringem a um conteúdo estabelecido ou se, efetivamente, o utilizam como categoria para construção de significados associados aos conteúdos do livro. No presente caso, não há valorização nem da temática, nem de seu potencial, o que pode indicar a necessidade de incremento às orientações de uso, feitas no “Livro do Professor”.

O livro que foi analisado nessa pesquisa compõe o PNLD 2014, o qual se encerra ao término de 2016. Após isto, outro triênio do programa, o PNLD 2017-2019, entrará em vigor e novamente milhões de livros serão distribuídos a todo o país. Desta maneira, como forma de vislumbrar uma formação e a valorização do espaço vivido pelo aluno e de sua formação enquanto sujeito, novas pesquisas devem ser realizadas, para verificar se o potencial de uso do conceito em pauta continua relegado a uma posição inferior, de um lado, e como, efetivamente, conduzir os envolvidos na relação ensino/aprendizagem à construção de conhecimento por meio do lugar, de outro.

Referências

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Geografia (terceiro e Quarto Ciclo do Ensino Fundamental): Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 2001, 156 p.

BOGDAN, R. C.; BIKLEN, S. K. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Porto: Porto Editora, 2006.

CALLAI, H. C. Estudar o lugar para compreender o mundo. In: CASTROGIOVANNI, A. C. (Org.). Ensino de geografia: práticas e textualizações no cotidiano. Porto Alegre: Mediação, 2012.

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____________. A Geografia escolar - e os conteúdos da Geografia. Anekumene, v. 1, n. 1, p. 128–139, 2011.

CASTELLAR, S. M. V. Educação: Formação e didática. In: MORAIS, E. M. B.; MORAES, L. B. Formação de professores: conteúdos e metodologias no ensino de Geografia. Goiânia: Nepeg, 2010.

CARVALHO SOBRINHO, H. A categoria lugar no livro didático de Geografia: abordagens e contribuições no processo de ensino/aprendizagem. 2014. 144 p. Monografia (Graduação em Geografia) – Câmpus Formosa, Universidade Estadual de Goiás, Formosa, GO, 2014.

CAVALCANTI, L. S. A Geografia e a realidade escolar contemporânea: Avanços, caminhos, alternativas. In: Anais do I Seminário Nacional: Currículo em movimento - Perspectivas Atuais, Belo Horizonte, novembro de 2010.

_____________. A geografia escolar e a cidade: Ensaios de Geografia para a vida urbana cotidiana. Campinas, SP: Papirus, 2012.

_____________.Geografia, escola e construção de conhecimento: Geografia e a construção de conceitos no ensino. Campinas, SP: Papirus, 1998.

LAJOLO, M. Livro didático: um (quase) manual de usuário. Em Aberto, Brasília, ano 16, n.69, jan./mar. 1996, p. 3-9.

PONTUSCHKA, N. N.; PAGANELLI, T. I.; CACETE. N. H. Para ensinar e aprender Geografia. 3. ed. São Paulo: Editora Cortez, 2009, 383 p.

SOUZA. F. E. As "geografias" das escolas no campo do município de Goiás: instrumento na valorização do território do camponês? São Paulo: UNESP, 2012. Tese (Doutorado) Programa de Pós - Graduação em Geografia, Universidade Estadual Paulista, São Paulo, 2012.

TONINI, Ivaine Maria. O ensino de Geografia e suas composições curriculares: Livro Didático: textualidades em rede? Porto AlegAAQV1467re: Ufrgs, 2011.

VEDOVATE, F. C. Projeto Araribá: Geografia. Orgs. Editora Moderna. 3. Ed.: São Paulo-SP, 6º Ano. 2012.

Notas

[1] As reflexões apresentadas neste artigo fazem parte de estudos desenvolvidos no Grupo de Pesquisa Ensino, Aprendizagem e Formação de professores em Geografia do departamento de Geografia da Universidade de Brasília – GEAF/UnB.


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