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AVALIAÇÃO DO TRABALHO DE CAMPO NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DE GEOGRAFIA
EVALUATION OF FIELD WORK IN THE GEOGRAPHY TEACHING-LEARNING PROCESS
EVALUACIÓN TRABAJO DE CAMPO EN PROCESO ENSEÑANZA-APRENDIZAJE EN GEOGRAFÍA
Revista Cerrados (Unimontes), vol. 15, núm. 1, pp. 312-329, 2017
Universidade Estadual de Montes Claros

https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/

Recepção: 17 Outubro 2016

Aprovação: 21 Janeiro 2017

DOI: https://doi.org/10.22238/rc24482692v15n12017p312a329

Resumo: O trabalho de campo é um importante recurso metodológico no processo de ensino-aprendizagem, sendo um dos instrumentos de grande interesse para o ensino das mais diversas ciências nos níveis fundamental e médio. No entanto, são poucos os trabalhos que avaliam de forma quantitativa a importância do trabalho de campo, principalmente no que tange o ensino de geografia para escolares. Diante disso, o objetivo desse estudo é compreender a importância do trabalho de campo como método de pesquisa e de atividades didáticas nas aulas de Geografia, através de um método quantitativo. Para isso, utilizou-se da aplicação de um exercício avaliativo a dois grupos de alunos: o grupo controle (grupo formado por 12 alunos que foram submetidos à avaliação após participarem somente das aulas teóricas) e o grupo teste (grupo formado por 10 alunos que foram submetidos à avaliação após participarem das aulas teóricas e do trabalho de campo). Nossas pesquisas mostraram que houve diferença significativa entre os dois grupos. O grupo controle acertou, em média, 43,3% da avaliação, enquanto o grupo teste atingiu índices de acertos próximos a 84% das questões. Portanto é de extrema relevância que as entidades públicas e instituições de ensino invistam nessa prática de ensino, já que o trabalho de campo mostra ser uma atividade muito eficaz para consolidar o aprendizado discente.

Palavras-chave: Geografia, Ensino-aprendizagem, Trabalho de campo.

Abstract: The field work is an important methodological resource in the teaching-learning process, being one of the great interest instruments for the more several sciences teaching in the fundamental and average levels. However, there aren't many jobs that evaluate precisely the importance of field work, mostly in the that tolls the geography teaching for school. Ahead of this, the goal of this study is to evaluate the field work importance as research method and of didactic activities in the Geography classes through a quantitative method. For that, it used the application of an evaluating exercise to two students' groups: The group control (group formed by 12 students who were submitted to the evaluation only after the theoretical classes) and the group test (group formed by 10 students who were submitted to the evaluation after the theoretical classes and the field work). Our researches showed that there was significant difference between both groups. The group control got right, on an average, 43,3% of the evaluation while the group test reached indices of near hit to 84% of the matters. Therefore it is of extreme relevance that the public entities and teaching institutions invest in this teaching practice since the field work be a very effective activity to consolidate the learning of the students.

Keywords: Geography, School, Teaching-learning, Field work.

Resumen: El trabajo de campo es un recurso metodológico importante en el proceso de enseñanza-aprendizaje, siendo uno de los instrumentos de gran interés para la enseñanza de las diversas ciencias en los niveles primario y secundario. Sin embargo, hay pocos estudios que evalúan cuantitativamente la importancia del trabajo de campo, sobre todo, no respetar enseñanza de la geografía a la escuela. Por lo tanto, el objetivo de este estudio es comprender la importancia del trabajo de campo como método de investigación y de actividades de enseñanza en las clases de geografía a través de un método cuantitativo. Para ello, utilice el grupo de estudiantes formulario de evaluación: el grupo de control (grupo de 12 estudiantes que se sometieron a evaluación para asistir sólo a las conferencias) sometidos a evaluación por participar en las conferencias y trabajo de campo). Nuestra investigación muestra que había una diferencia significativa entre los dos grupos. El grupo de control consiguió, en promedio, el 43,3% de la evaluación, mientras que el grupo de prueba alcanzó tasas cercanas al 84% de las preguntas. Por lo tanto, es extremadamente importante que las entidades gubernamentales e instituciones educativas invierten en esta práctica de la enseñanza, ya que el trabajo de campo ha demostrado ser una actividad muy eficaz para consolidar el aprendizaje del estudiante.

Palavras clave: Geografia; Enseñanza-aprendizaje; El trabajo de campo.

Palabras clave: Geografia, Enseñanza-aprendizaje, El trabajo de campo.

INTRODUÇÃO

Desde Alexander Von Humboldt (1769-1859) e Karl Ritter (1779-1859), iniciantes da Geografia moderna, no século XIX, a compreensão espacial vem se modificando, sobretudo, a partir das quatro últimas décadas, devido à inserção dos satélites, utilização de computadores e Internet, o que fez com que o ensino da Geografia passasse por grandes progressos (READER, 2016). Atualmente, a Geografia não se limita apenas a estudar os aspectos físicos e humanos do mundo, através das descrições de rios, lagos, oceanos, montanhas, populações e economias, como fez a Geografia Tradicional. Essa nova Geografia dedica-se ao estudo integrado do espaço geográfico.

Segundo Braun (2007), partir da utilização do trabalho de campo, a Geografia pode desempenhar vários papéis, no que concerne à configuração in loco da realidade existente. O professor de Geografia que inserir em suas aulas o trabalho de campo realizará um trabalho de grande relevância, uma vez que essa atividade constitui um instrumento de extrema importância para a construção do conhecimento geográfico.

Este artigo tem como objetivo avaliar importância do trabalho de campo para o processo de ensino-aprendizagem de Geografia, sendo o estudo realizado em duas etapas: na primeira etapa, foi ministrado a 29 alunos frequentes do primeiro ano do ensino médio da Escola Estadual Dom Aristides Porto, aulas teóricas referentes à vegetação, clima e solo do Cerrado, da Caatinga e da região ecótone do Norte de Minas; na segunda etapa, foi realizado um trabalho de campo na OVIVE (Organização Vida Verde), localizada no município de Montes Claros-MG, com todos os 29 educandos do primeiro ano do ensino médio. A aula de campo foi constituída por caminhadas pelos perímetros da ONG até o parque Sapucaia, localizados na Serra do Mel, mostrando vegetação, clima e solos característicos da região.

Os procedimentos metodológicos foram norteados pelos princípios de pesquisa empírica, qualitativa e quantitativa. Utilizou-se como instrumento para coleta de dados, aplicação de um exercício avaliativo a dois grupos de alunos: o grupo controle (grupo formado por 12 alunos que foram submetidos à avaliação após participarem somente das aulas teóricas) e o grupo teste (grupo formado por 10 alunos que foram submetidos à avaliação após participarem das aulas teóricas e do trabalho de campo), ambos sorteados aleatoriamente.

Esse trabalho ressalta a necessidade de o docente experimentar situações de aprendizagem e participar de trabalhos extraclasses, uma vez que essa prática vem permitir que os alunos obtenham, a partir com o contato com a realidade, uma melhor compreensão. Nesse processo, ele terá chance de interagir e buscar novas informações que contribuam para a formação escolar, formando assim, alunos críticos e disseminadores de conhecimento. Desta maneira, os trabalhos de campo desempenhados na disciplina de Geografia, objetivam a obtenção de um contato maior com o objeto de estudo desta disciplina.

Neste sentido, os resultados obtidos durante o trabalho de campo mostram uma maneira de instigar a aprendizagem em Geografia, e, assim, reconhecer a necessidade do trabalho de campo, que pode envolver não somente os estudos da disciplina, como também de outras, em torno de uma melhor aprendizagem (SILVA, 2000).

TRABALHO DE CAMPO EM GEOGRAFIA

A Geografia Crítica enfatiza a importância do trabalho de campo para que seja possível propiciar ao aluno um interesse pela disciplina e pelo lugar em que vive, além de um melhor entrosamento com o espaço. Vale ressaltar que o trabalho de campo se baseia, também, na observação, o que permite aos alunos um olhar especialmente sensível sobre os elementos da paisagem, aguçando um senso crítico e investigador sobre o espaço (SILVA; MELO, 2008).

Desse modo, o trabalho de campo é uma prática de ensino que contém todos os pré-requisitos desse novo processo de ensino-aprendizagem, uma vez que faz interagir educando e professores da disciplina de Geografia com outras áreas afins. De acordo com Nunes (2000, p. 96), “o trabalho de campo é uma alternativa para exercitar a leitura da realidade, contribuindo para a compreensão desta, (...) envolve também um planejamento (projeto) e exploração de resultados”.

Trata-se, também, de uma ferramenta de apreciação geográfica, pois admite o reconhecimento do local, e faz parte de artifício de investigação, pois, permite a inserção do estudante no próprio objeto a ser estudado. Entretanto, é sempre bom pensar no uso de novas tecnologias, a fim de sempre usá-las ao nosso serviço (SUERTEGARAY, 2002).

É de extrema relevância que os educadores insiram na vida escolar dos educandos não somente trabalhos de campo, mas, também, trabalhos transdisciplinares, como multi e/ou pluridisciplinares, visando a um melhor aproveitamento do aprendizado nos estudos de Geografia. Como afirma Candiotto (2001, p. 35) “A atuação dos profissionais é crucial para o êxito de projeto interdisciplinar, pois, devem associar teoria e prática, avaliando constantemente o trabalho interdisciplinar tanto no nível da pesquisa quanto no ensino”.

Deste modo, o estudo do trabalho de campo é uma atividade extraclasse muito utilizada na Geografia, e pode obter resultados excelentes. Em uma visita ao campo, o aluno depara-se com diversas situações vivenciadas no seu cotidiano, porém, pouco entendidas e exploradas didaticamente. Sabe-se também que o trabalho de campo é uma atividade que pode ser utilizada em qualquer disciplina escolar, modificando o objeto a ser estudado.

Nos estudos de Geografia, os educadores não devem considerar o trabalho de campo apenas como estudo do meio, mas como “uma alternativa concreta de se viabilizar teoricamente o propósito de ultrapassar a reflexão da sala de aula, como forma de praticar a leitura do real, sendo assim, um momento ímpar da práxis teórica” (NUNES, 2000, p. 97).

Nesta perspectiva, o trabalho de campo não deve ser avaliado como uma perda de tempo, mas sim, como uma condição na qual o aluno é visto como agente ativo no processo ensino-aprendizagem, estreitando a relação aluno-professor, ou seja, é uma oportunidade de trabalhar conteúdos universais e específicos, usando um instrumento que detém a atenção do discente, além de ser uma forma de levar a uma modificação de atitude do educando.

O professor frente à nova realidade e Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs

É notória a necessidade dos professores de todos os estados brasileiros por metodologias que facilitem a compreensão da disciplina por seus alunos e novas abordagens teóricas, como ficou evidenciado no Primeiro Encontro Nacional de Ensino de Geografia (ENEG), ocorrido em Brasília em 1987. Na atualidade, o trabalho de campo tem sido visto como um importante recurso metodológico no processo de ensino-aprendizagem, sendo um dos instrumentos de grande interesse para o ensino dessa ciência no ensino fundamental e médio (PONTUSCHKA, PAGANELLI e CACETE, 2007).

Desta maneira, o atual ensino de Geografia no Brasil vive um momento complexo, em virtude das profundas e numerosas mudanças, tanto geográfico quanto políticas, e, segundo Zuba (2006, p. 112), “em matéria tecnológica e transformações sociais, torna-se necessário que os professores reflitam como mediar tal diversidade no ensino”. Com a chegada desses recursos tecnológicos, instiga-se uma série de mudanças no sistema educacional público, principalmente no que se refere ao papel dos educadores no processo de ensino-aprendizagem. Como ressalta Teixeira (2000, p. 88) “a Geografia que surge tem um novo papel ideológico, sendo preciso buscar novas técnicas e nova linguagem, que deem conta das novas tarefas impostas pelas transformações ocorridas”.

Percebe-se que o sistema educacional está cada vez mais em consonância com as novas tecnologias, exigindo dos educadores e educandos das escolas públicas e particulares uma postura diferente frente a essas novas tecnologias (computadores, satélites, internet), em especial, no ensino de Geografia (VISENTINI, 1995), em que as exigências de apoio técnico tendem a serem maiores.

Os professores, especialmente de Geografia do ensino médio, entendem que esse recurso tem grande contribuição, entretanto, eles necessitam encontrar outros recursos, que chamem a atenção dos alunos, modificando suas aulas tradicionais, em que os estudantes, para conseguirem-se sobressair numa prova de Geografia, eram obrigados a decorar uma série de nomes (países, estados, clima), ou seja, aquele maçante processo de memorização de conteúdo (TEIXEIRA, 2000).

Há de se ressaltar a responsabilidade das escolas e dos educadores, que devem contribuir na formação de alunos críticos, que vivem em um mundo que se transforma e se renova a cada dia. Junqueira (2001, p. 75) ressalta que “o mundo se transforma constantemente, a informação e a tecnologia possuem relação direta com a construção do conhecimento, e o educador passa por um momento de mudanças na maneira de ensinar”.

No que tange aos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNS –nota-se também, que não há um debate sobre o trabalho de campo no ensino de Geografia para os alunos do Ensino Fundamental e Médio. Percebe-se que existem somente algumas sugestões didáticas relacionadas ao estudo do meio (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 1997).

Percebe-se que no contexto atual, não há uma discussão sobre o trabalho de campo na disciplina de Geografia, principalmente no que tange aos PCNS - Parâmetros Curriculares Nacionais, e, de acordo Nunes (2000), nos PCNS:

Há apenas algumas propostas didáticas colocando o Estudo do Meio como recurso didático interessante, por meio do qual os alunos podem construir e reconstruir imagens e percepções que têm da paisagem local. Também aparecem os termos excursões ou passeios didáticos como recursos para exercitar a observação da paisagem. Chega-se a utilizar o termo estudo de campo como sinônimo de Estudo do Meio. (NUNES, 2000, p. 97).

Com relação ao método, observa-se que há uma maneira de trabalhar os conteúdos a partir do espaço adjacente da escola, da vivência e do cotidiano do aluno. Ressalta-se que o estudo da Geografia deverá promover a interação de “fatores naturais, sociais, econômicos e políticos” a partir de uma análise do lugar (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 1997). Deste modo sugere-se ir além da informação e descrição do espaço geográfico, dos conceitos (lugar, paisagem, região e território).

Segundo o Ministério Da Educação (1997), nos Parâmetros Curriculares Nacionais, referente ao Meio Ambiente e à Saúde, o professor tem o dever de:

Oferecer aos alunos a maior diversidade possível de experiências, uma visão abrangente que englobe diversas realidades e, ao mesmo tempo, uma visão contextualizada da realidade ambiental, o que inclui, além do ambiente físico, as suas condições sociais e culturais. (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 1997, p. 48).

No que concerne a tais procedimentos, observa-se uma hipótese mais eficaz e diferente em que o aluno aprende através de sua vivência, pois uma saída ao campo ajuda a estimulá-lo a pensar sobre fatos do dia a dia, adequando os conteúdos ao cotidiano do aluno. Assim, este apreenderá com mais facilidade sobre as circunstâncias relacionadas ao ambiente afetam a qualidade de vida tanto local como global.

Desta maneira, nas aulas de Geografia, os alunos do Ensino Fundamental e Médio deveriam associar a teoria com a prática. No entanto, os professores de Geografia sabem que o trabalho de campo é essencial no processo de ensino-aprendizagem, pois percebem que é através do contato com a realidade que o aluno consegue assimilar a teoria vista em sala de aula, proporcionando a ele, em muitos casos, um melhor aprendizado nos diversos temas debatidos em classe.

Há de ressaltar, que a Geografia desempenha também outras funções. Uma delas é a de grafar o território através da construção de novas territorialidades, sendo que o trabalho de campo constitui para os geógrafos uma maneira de observar empiricamente a realidade do outro.

Nessa perspectiva, entende-se que o geógrafo é visto como o sujeito e o campo como objeto de estudo do sujeito. Portanto, ir ao campo significa analisar o espaço vivido pelo sujeito, para uma posterior formação do conhecimento. Segundo Braun (2007, p. 256): “O trabalho de campo significa observar. (…) permite tanto a observação íntima de certos aspectos de comportamento do espaço, como descrevê-los de forma útil”.

Assim, o trabalho de campo é um recurso metodológico do ensino-aprendizagem que vem sendo apreciado na Geografia como um dos instrumentos de maior interesse ao lecionar essa disciplina. No entanto, muitos professores consideram o trabalho de campo como uma atividade cansativa, preferindo o discurso desgastado das salas de aula. Desse modo, no decorrer desse processo, encontram-se diversas dificuldades como, por exemplo, o problema em deslocar os alunos até um local apropriado para a aula de campo. Esses professores, assim, acabam reproduzindo uma Geografia tradicional, baseada na transmissão dos conteúdos, sem se preocuparem com a real aprendizagem dos discentes.

METODOLOGIA

Caracterização da área de estudo

O presente trabalho foi realizado na Escola Estadual Dom Aristides Porto, localizada no bairro Morrinhos, região central do município de Montes Claros, Norte de Minas, Latitude sul: 16° 43’ 41”; longitude oeste: 43° 52’ 54”, altitude: 638m. O município está inserido na área mineira do polígono da seca ou RMNE (Região Mineira do Nordeste) (MAPA 01).

A cidade de Montes Claros abrange uma área de 3.576,76Km2, concentrando uma população que está em torno de 342.586 habitantes (IBGE 2006). Sua vegetação é mista, entre campos, cerrados, chapadas, matas (primeira classe) e caatingas (segunda).

O clima apresenta-se quente e seco, com temperatura mínima anual de 16ºC e máxima anual de 29ºC. O período chuvoso ocorre entre os meses de setembro a dezembro, com maior incidência no mês de dezembro, o relevo apresenta-se em forma de morros ondulados, a exemplo temos o morro Dois Irmãos, um dos cartões-postais do município. A fauna e flora são bastante variadas, apresentando quase todas as espécies da região.


Mapa 01
Localização do Município de Montes Claros - MG.
IBGE, 2014. Org. RODRIGUES, 2014.

Caracterização da escola

A escola está localizada à Rua Capitão Enéas, 170, Morrinhos, na cidade Montes Claros-MG. Possui um espaço físico composto de amplo pátio, quadra de esporte, auditório coberto para comemorações, cantina, biblioteca, salas para a diretoria, para a supervisora pedagógica, vice-diretora, secretaria, recursos humanos, banheiro para funcionários, sala de professores, banheiro masculino e feminino para os educandos, 16 salas de aula, com turmas, desde a fase introdutória até o ensino médio. Dispõe ainda de um corpo administrativo e técnico -pedagógico com qualificação desde o ensino médio até o ensino superior de educação.

Sua prática pedagógica está voltada para a realidade dos educandos e a valorização dos seus conhecimentos prévios. Os critérios de avaliação são feitos através de notas e conceitos, com a participação de todo corpo docente, sendo que a escola emprega no seu processo de ensino-aprendizagem vários projetos de leitura, poesias, trabalhos, exploração das datas comemorativas com o emprego de atividades diversificadas.

A dificuldade da escola em desenvolver seu trabalho se dá por vários fatores, como falta de ajuda dos pais, baixo nível de escolaridade dos mesmos, dentre outros, frutos de grande desestruturação familiar, segundo os próprios professores. Observando os educandos e educadores, percebeu-se que as aulas são bastante interativas e dialogadas, sobre assuntos diversos da vida coloquial e revisão dos conteúdos trabalhados antes, para posteriormente iniciar as matérias do dia. A participação e assiduidade da turma são bastante satisfatórias.

Organização Vida Verde[1] - Área de estudo do Trabalho de Campo

A Organização Vida Verde - OVIVE, é uma ONG que foi criada pelo ambientalista e funcionário da COPASA – Soter Magno Carmo, em dezembro de 2003, com o objetivo recuperar a serra da Sapucaia (localizada na Serra do Mel), uma das principais áreas de preservação do cerrado do município da cidade de Montes Claros, devido às queimadas provocadas pela ação antrópica e fatores naturais (fogo).

Averiguando a ausência de ações de preservação no local, o atual presidente Soter Magno Carmo, juntamente, com um grupo de voluntários fundou a OVIVE – Organização Vida Verde, com o objetivo de educar, conscientizar e preservar o meio ambiente, e, sobretudo, proteger a área da Serra da Sapucaia.

Em parceria com o Ministério do Meio Ambiente, desenvolve um projeto de Educação Ambiental denominado “Sala Verde”, sendo que, em parceria com o Corpo de Bombeiros Militar, possui uma Brigada de Combate a Incêndios Florestais.

A ONG atua junto às comunidades locais por meio de visitas às escolas estaduais, municipais e particulares, nas quais realiza palestras educativas, promove passeios e excursões ecológicas, estimulando crianças a manter contato com o meio ambiente, visando formar cidadãos sensíveis à causa da preservação e à viabilidade de que é possível “agir localmente e pensar globalmente”.

Uma das ações já praticada pela ONG é o plantio de mais de 5.000 mudas de árvores na região. O projeto conta atualmente com mais de 250 associados voluntários, incluindo vários empregados da COPASA em Montes Claros.

Coleta e Análise estatística dos dados

O presente estudo refere-se a uma pesquisa de levantamento, com caráter quantitativo descritivo, de delineamento transversal, com abordagem exploratória. Realizada nos meses de Outubro e Novembro de 2014.

Estudo transversal é o estudo no qual se acompanha o comportamento de uma ou mais variáveis em grupos de sujeitos que se encontram em momentos diferentes e estudo descritivo é uma pesquisa na qual o pesquisador restringe-se a descrever o fenômeno observado, sem inferir relações de causalidade entre variáveis estudadas (APPOLINÁRIO, 2004).

O universo da pesquisa foi constituído por 29 alunos do primeiro ano do ensino médio, frequentes à escola nos meses da pesquisa. Os critérios de inclusão eram: ser discente regularmente matriculado na Escola Estadual Dom Aristides Porto e ser encontrado em sala de aula no momento da pesquisa. Já os critérios de exclusão eram: não estar matriculado na referida escola, recusar a participar da pesquisa e não ser encontrado no local, no momento da realização da pesquisa.

Os discentes foram informados sobre a pesquisa, sendo solicitada a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido por seus pais. Aos 29 alunos foram ministradas aulas teóricas referentes à vegetação, clima e solo do Cerrado e Caatinga e da região ecótone do Norte de Minas.

Posteriormente, foram selecionados, aleatoriamente, 12 escolares para responderem ao questionário constituído por 10 questões objetivas, que contemplassem os temas estudados, de provas utilizadas no PAES (Programa de Avaliação seriada para acesso ao Ensino Superior) e do vestibular Tradicional da Universidade Estadual de Montes Claros-UNIMONTES. Esse grupo constituirá o grupo controle de nossa pesquisa.

Em um segundo momento, foi realizado um trabalho de campo na OVIVE (Organização Vida Verde), localizada no município de Montes Claros-MG, com todos os 29 educandos do primeiro ano do ensino médio. Nessa ocasião foram ministradas aulas de campo pela bióloga Larissa Maia Marinho e pelo ambientalista e presidente da ONG Soter Magno Carmo. A aula de campo foi constituída por caminhadas pelos perímetros da ONG e parque Sapucaia, localizados na Serra do Mel, mostrando a vegetação e solos característicos da região e, explanações sobre o clima e desequilíbrios ambientais causados pelas ações fatores naturais e antrópicas como queimadas e desmatamento.

Posteriormente, foram selecionados, aleatoriamente, 10 escolares para responderem ao mesmo questionário constituído por 10 questões objetivas. Esses estudantes não haviam respondido ao questionário no primeiro momento da pesquisa, ou seja, após o término da aula teórica e, portanto, esse grupo constituirá o grupo teste de nossa pesquisa.

Ao fim das atividades teóricas e de campo, foram recolhidos dos alunos, um relatório analítico das aulas realizadas durante a pesquisa.

Foram analisados dados como a percentagem de acertos entre o grupo controle e teste distribuídas por gênero e comparados por análise de variância (ANOVA), com um valor de p < 0.01 utilizando o programa Origin 6.0 (Microcal Software Inc.).

O estudo seguiu os aspectos éticos recomendados pela Resolução 196/96 sobre Pesquisa Envolvendo Seres Humanos, bem como os princípios éticos contidos na Declaração de Helsinki (1964, reformulada em 1975, 1983, 1989, 1996 e 2000).

RESULTADOS

Nossas pesquisas mostram que houve diferença significativa entre o grupo controle (Grupo formado por alunos que foram submetidos à avaliação, após participarem somente das aulas teóricas) e o grupo teste (grupo formado por alunos que foram submetidos à avaliação após a participarem das aulas teóricas e do trabalho de campo. O grupo controle acertou, em média, 43,3% da avaliação, enquanto o grupo teste ultrapassou a média de 84% de acerto das questões.

Quando comparados os gêneros, não se percebeu diferença significativa em nenhum dos grupos avaliados. Entre os alunos pertencentes aos grupos controles houve uma média de 42,5 % para ambos os gêneros. Já no grupo teste, a média ficou em torno de 83% (gráfico 1).


Gráfico 1
Percentagem de acerto entre os alunos do grupo controle e do grupo teste, separados por gênero. Para p< 0,05 não houve diferença significativa entre as amostras masculinas e femininas nos dois grupos testados.
Pesquisa Empírica, 2008. Org. RODRIGUES, 2008.

Quando comparados a percentagens de acerto de cada questão utilizada na avaliação, percebeu-se que as questões 1, 3, 9 e 10 obtiveram, respectivamente, maiores discrepâncias entre os alunos do grupo controle e teste.


Gráfico 2
Percentagem de acerto entre os alunos do grupo controle (barras claras) e grupo teste (barras escuras) separados por questão.
Pesquisa Empírica, 2008. Org. RODRIGUES, 2008.

A partir da análise dos relatórios entregues posteriormente às atividades teóricas e de campo, percebeu-se através dos textos, satisfação e conscientização dos alunos. O quadro abaixo mostra 04 frases que mais se destacaram e que, em essência, se repetiram nos relatórios.

Quadro 1
SATISFAÇÃO E CONSCIENTIZAÇÃO

Autores, 2017.

DISCUSSÃO

Muito se discute sobre a importância do trabalho de campo para o ensino-aprendizagem. No entanto, a grande maioria dos trabalhos está voltada para o segmento universitário, são subjetivos e com generalizações argumentativas (MAYRING, 2002). Como corrobora Nunes (2000, p. 97), “o Trabalho de Campo aparece ligado ao nível acadêmico, não havendo nenhuma referência a ele no ensino fundamental e médio”.

Geralmente, esses estudos são feitos através da observação qualitativa das contribuições do trabalho de campo para o ensino da Geografia, como afirma, Candiotto (2001); Junqueira (2001); Nunes (2000). Entretanto, são escassos na literatura estudos que abordem esse tema de forma quantitativa, ou seja, que estabeleçam padrões de comportamento que possam ser mensurados.

Com a aplicação de uma avaliação padronizada a um grupo de alunos submetidos ao trabalho de campo e a outro grupo submetido apenas a ministrações, acreditamos mensurar a real contribuição do trabalho de campo para o ensino e aprendizagem de Geografia. Sendo assim, nosso estudo, possui um caráter pioneiro, já que abordamos o trabalho de campo em escolares e agregamos às metodologias qualitativas, dados quantitativos.

Em nossa análise qualitativa, percebemos que durante a realização do presente trabalho, os alunos mostraram-se motivados a perguntar e a questionar as informações do espaço geográfico onde estavam inseridos e que, atentamente, eram observados. O aluno deparou-se com diversas situações vivenciadas no seu cotidiano, porém pouco entendidas e exploradas didaticamente. Adquiriram olhar especialmente diferente sobre os elementos da paisagem, aguçando um senso crítico e investigador sobre o espaço.

A partir da análise dos relatórios entregues posteriormente às atividades teóricas e de campo, percebeu-se, através dos textos, que mostravam satisfação e conscientização dos alunos. Frases - I.E.; “(...) A partir do passeio ao parque, aprendemos muitas coisas que não sabíamos antes (...)” e “(...) Eu não achava que era tão importante a preservação do meio ambiente (...)” - foram bastante frequentes.

Quantitativamente, com a inserção do trabalho de campo, percebeu-se, uma melhora substancial nos resultados das avaliações aplicadas aos estudantes do primeiro ano de uma escola pública de Montes Claros-MG, após terem participado de uma aula expositiva. Houve uma diferença estatística significativa de quase 100% no aproveitamento da avaliação do grupo teste em relação grupo controle. O índice de acertos dos alunos pertencentes ao grupo controle foi de 43,3% das questões e do grupo teste de 84,0% das questões. Isso mostra o quão relevante é essa metodologia, visto que os dois grupos foram submetidos às mesmas questões, constituindo diferença entre eles, apenas a participação nas atividades do trabalho de campo. Corroborando, quantitativamente, análises qualitativas já previstas por Candiotto:

(...) Os Estudos do Meio e Trabalhos de Campo são duas atividades extra-sala de aula muito utilizadas em geografia e que podem ter resultados bastante satisfatórios. (...) os alunos têm a oportunidade de associar a observação ao que é trabalhado em sala de aula. (CANDIOTO, 2001, p. 40)

Quando analisados, segundo ao gênero dos estudantes, os dados mostram que não houve diferença significativa entre homens e mulheres tanto no grupo controle quanto no grupo teste (Gráfico 1). No entanto, através de nossos resultados, percebeu-se ainda que questões essencialmente ilustrativas fossem 100% aproveitadas pelo grupo que participou do Trabalho de Campo. Acreditamos que a aprendizagem a partir do contato visual com o solo, vegetação e outros elementos naturais, favoreceram a resolução desse tipo de questão.

Nessa perspectiva, acreditamos ser de extrema relevância que as entidades públicas e os meios escolares invistam nessa prática de ensino por saber que o trabalho de campo é uma atividade eficaz, sendo que este deveria ser sempre usado como recurso didático, mesmo porque, estudos de tais naturezas, podem ser realizados em qualquer ambiente. No entanto, algumas áreas como parques, praças e espaços públicos disponíveis, são mais adequadas à criança, jovens e adolescentes por possuírem maior segurança (CANDIOTTO, 2001).

Dessa forma, os discentes do ensino médio terão uma melhor compreensão do espaço geográfico, bem como de conceitos geográficos fundamentais, além de interagir e buscar novas informações que contribuam para formação escolar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através de nossos estudos com escolares do primeiro ano do ensino médio de uma escola pública da cidade de Montes Claros/MG, percebe-se que a utilização do trabalho de campo como uma prática no processo ensino-aprendizagem é uma ferramenta que promove a construção do conhecimento das ciências geográficas.

O trabalho de campo aumentou, consideravelmente, o rendimento dos alunos em provas de vestibulares e foi visto como um forte aliado na compreensão desta disciplina. Acreditamos que a aprendizagem, a partir do contato visual do solo, vegetação e outros elementos naturais, favoreceram a resolução desse tipo de questão. O aluno se depara com diversas situações vivenciadas no seu cotidiano, porém pouco entendidas e exploradas didaticamente.

Desta maneira, o presente estudo mostrou uma maneira de o docente sair de uma metodologia tradicional, tornando o processo ensino-aprendizagem mais dinâmico e atrativo aos discentes. Portanto, é de extrema relevância que as entidades públicas e instituições de ensino invistam nessa prática de ensino, uma vez que, o trabalho de campo se mostra uma atividade eficaz e deveria ser sempre ser usado como recurso didático.

REFERÊNCIAS

APPOLINÁRIO, F. Dicionário de metodologia científica: um guia para produção do conhecimento científico. São Paulo: Editora Atlas, 2004. 300 p.

BRAUN, Ani Maria Swarowsky. Rompendo os muros da sala de aula: O Trabalho de Campo na aprendizagem de Geografia. Ágora. Santa Cruz do Sul, v. 13, n. 1, p. 250-272, jan./jun. 2007. Disponível em: . Acesso em: 28/12/2016.

CANDIOTTO, Luciano Zanetti Pessoa. Interdisciplinaridade em estudos do meio e trabalhos de campo: Uma prática possível. Olhares e Trilhas. Ano2. No. 2. p.33-46. 2001. Disponível em: . Acesso em: 28/12/2016.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Cidades: Montes Claros. Dados do Censo Demográfico, 2014. Disponível em: . Acesso em: 25 dez. 2016.

JUNQUEIRA, Adalto Reis Martins. Trabalho de campo e transdisciplinaridade: uma experiência de ensino. Olhares e Trilhas. Ano2. No. 2. p.71-78. 2001. Disponível em: . Acesso em: 28/12/2016.

MAYRING, Ph. . Einführung in die qualitative Sozialforschung. Introdução à pesquisa social qualitativa]. (5ª ed.). Weinheim: Beltz, 2002.

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Notas

[1] OVIVE (Organização Vida Verde) – informações retiradas do site da COPASA. Disponível em: Acesso em: 28 dez. 2016.


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