Secciones
Referencias
Resumen
Servicios
Descargas
HTML
ePub
PDF
Buscar
Fuente


NOVAS FORMAS COMERCIAIS E AS EXPRESSÕES DA CENTRALIDADE URBANA DE IMPERATRIZ – MA: uma análise a partir da instalação e dinamismo do Imperial Shopping
NEW COMMERCIAL FORMS AND EXPRESSIONS OF URBAN CENTRALITY IN IMPERATRIZ – MA: an analysis of the installation and dynamism of shopping centers
NOUVELLES FORMES COMMERCIALES ET EXPRESSIONS DE LA CENTRALITÉ URBAINE EN IMPERATRIZ – MA: une analyse de I’installation et de la dynamisme des centres commerciaux
Revista Cerrados (Unimontes), vol. 16, núm. 1, pp. 204-232, 2018
Universidade Estadual de Montes Claros

https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/

Recepção: 19 Abril 2018

Aprovação: 19 Junho 2018

Publicado: 30 Junho 2018

DOI: https://doi.org/10.22238/rc2448269220181601204232

Resumo: Neste artigo, são abordados aspectos fundamentais das novas formas comerciais e as expressões da centralidade urbana materializadas na cidade de Imperatriz. De início, são ressaltadas algumas considerações sobre o fenômeno urbano no Brasil que apresenta como traços característicos a complexidade e diversificação. Teve influência nesse cenário, distintas determinações, entre as quais ressaltamos: o desenvolvimento de atividades econômicas variadas que promoveram maior dinamismo das cidades, como é o caso da industrialização que favoreceu a expansão deste processo no centro-sul do país, a modernização do campo na região centro-oeste, influenciada pelo avanço e uso de novas técnicas. Os reflexos desse fenômeno são visíveis na realidade amazônica, onde se insere a cidade de Imperatriz que é objeto central deste estudo. Desse modo, tivemos a inquietação de compreender as expressões da centralidade urbana desenvolvida por esta cidade, através da instalação e dinamismo dos shopping centers. Esta investigação apoiou-se na adoção da abordagem marxista, fundamentada no uso do método dialético por entender que a realidade urbana se constrói de modo contraditório, ou seja, as cidades são edificadas por atores que apresentam interesses distintos. Esta construção método-lógica se apoiou ainda, nas contribuições fornecidas por Trivinos (2011) e Gil (2008). Utilizamos ainda, como técnicas para a coleta de dados: a observação simples e realização de entrevistas semiestruturadas.

Palavras-chave: Palavras- chave: Imperatriz, Centralidade Urbana, Shoppings Centers.

Abstract: In this article it is discussed the key aspects of the new commercial forms and expressions of the urban centrality of Imperatriz. At first, some considerations about the urban phenomenon in Brazil, that poses diverse and complex, are made. This scenario was influenced by different determinations; some of them were the development of many economic activities, that promoted greater dynamism of the cities, as in the case of industrialization, that favored the expansion of this process in the Center-South of this country, the modernization of the countryside in the Central-West, influenced by advancement and the use of new techniques. The reflections of this phenomenon is visible in the Amazon reality, the region where it enters the city of Imperatriz, which is the object of this study. Because of that, we had the anxiety to understand the expressions of the urban centrality developed by this city by the installing and dynamism of the shopping malls. This research is supported by the adoption of the theoretical Marxist approach and on the use of the dialectical method for understanding the urban reality is built in a contradictory way. Those methodological constructions were based on the contributions provided by Trivinos (2011) and Gil (2008). As techniques for data collection the simple observation and the adoption of semi-structured interviews were used.

Keywords: Imperatriz, Urban centrality, Shopping malls.

Résumé: Dans cet article, nous avons mit en évidence les aspects fondamentaux des nouvelles formes commerciales et les expressions de la centralité urbaine de la ville d'Imperatriz. De cette façon, nous soulignons certaines considérations sur le phénomène urbain au Brésil qui sont classifiées comme complexes et diversifiés. Le développement de diverses activités économiques qui ont favorisé un grand dynamisme des villes, comme l'industrialisation qui a permit l'expansion de ce processus dans le centre-sud du pays, la modernisation de la campagne région centre-ouest, qui a été influencée par la progression et l'utilisation de nouvelles techniques, sont des examples de la manière comme ce processus urbain a pu exister dans des différentes régions du Brésil. Les réflexes de ce phénomène sont visibles dans la réalité amazonienne, où est insérée la ville d'Imperatriz qui fait l'objet de cette étude. De cette manière, nous avons eu la curiosité de comprendre les expressions de la centralité urbaine développée par cette ville, à travers l'installation et le dynamisme des centres commerciaux. La recherche est basée sur l’abordage théorique marxiste. Cette dernière est soutenu par l'utilisation de la méthode dialectique, car elle admet que la réalité urbaine est construite de manière contradictoire. Ces constructions méthodologiques étaient basées sur les contributions fournies par Trivinos (2011) et Gil (2008) et nous avons utilisé la simple observation et adoption d'entretiens semi-structurés comme techniques de collecte de données.

Mots clés: Imperatriz, Centralité urbaine, Centres commerciaux.

PALAVRAS INICIAIS

A análise do comércio permite uma melhor compreensão do espaço urbano, na medida em que comércio e cidade são elementos indissociáveis, como podemos comprovar historicamente (PINTAUDI, 1999).

A história da cidade moderna se confunde com o processo de difusão das atividades terciárias. Ao longo do processo de evolução das cidades e o avanço da urbanização no mundo, percebem-se estreitos vínculos entre comércio e cidade. Comércio e serviços são entendidos como elementos vitais, responsáveis pelos processos de formação, estruturação e reestruturação das cidades. Conforme Mumford (1990, p. 379):

O crescimento da cidade comercial foi um processo lento, pois teve de enfrentar resistência tanto na estrutura quanto nos costumes da cidade medieval; e, embora tirasse partido da regularidade barroca e fosse, na verdade, parcialmente responsável por ela, não tinha como usar as extravagâncias da exibição principesca.

Estes fatos indicados reforçam a importância conferida ao comércio e as suas contribuições à difusão do processo de urbanização mundial. Desse modo, o presente artigo está pautado em uma análise das dinâmicas comerciais modernas, em particular, àquelas orientadas a partir dos shopping centers, a fim de entender os papéis e significados que estes têm assumido na dinâmica urbana da cidade de Imperatriz.

Sabe-se que estas plataformas do comércio moderno tiveram a sua implantação nesta cidade a partir dos anos 1990 em razão dos reinvestimentos de capitais antes obtidos no campo. Observa-se desde então, a emergência da atividade comercial, representada nesta cidade, através do comércio atacadista e varejista. A partir de 1980 os capitais gerados no campo foram transferidos em grande parte para as atividades terciárias, tendo destaque a participação do comércio atacadista e varejista. Diante desta importância assumida pelas atividades terciárias, em particular, os Shopping Centers é que destacamos as principais indagações que constituíram a base da problematização deste estudo.

§ Como é possível compreender a natureza e os significados da estrutura comercial moderna de Imperatriz representada, pelos Shopping Centers?

§ Quando foram implantadas as plataformas modernas do comércio de Imperatriz? Como elas estão estruturadas no espaço urbano de Imperatriz?

§ Que relações e importância estas estruturas comerciais, em particular o Imperial Shopping, apresentam com relação aos demais municípios da região?

§ Qual importância e significados o Imperial Shopping tem exercido para a cidade de Imperatriz e para a região Sulmaranhense?

Com base nas indagações antes indicadas é que foram formulados os objetivos deste estudo. Os objetivos em uma investigação científica expressam as metas elaboradas para a obtenção de resultados da pesquisa. Eles são delineados a partir de aspectos mais amplos e de alcance a curto prazo, expressos através de suas delimitações. Indicamos a seguir as principais finalidades estabelecidas para este estudo.

§ Compreender a natureza e os significados da estrutura comercial moderna de Imperatriz, representada nesse caso, pelo Imperial Shopping;

§ Reconhecer as formas modernas do comércio de Imperatriz, implantadas nesta cidade, a partir da década de 1990 e as suas configurações atuais;

§ Investigar que relações as estruturas comerciais representadas pelos Shopping Centers apresentam com os demais municípios da região Sulmaranhense;

§ Entender qual é a importância e os significados do Imperial Shopping para a cidade de Imperatriz e para a região Sulmaranhense.

As respostas aos questionamentos apresentados na problematização deste projeto bem como o alcance dos objetivos propostos estão diretamente relacionadas aos pressupostos teóricos e à metodologia adotada para esta investigação científica. É sobre estes aspectos que iremos discorrer a seguir.

No que se refere à estruturação deste estudo, inicialmente são enfatizadas as motivações que nos levaram a desenvolver esta pesquisa, bem como a sua problemática e as finalidades que foram delineadas para este estudo. Estas ideias integram as considerações iniciais deste ensaio.

Posteriormente, realizou-se uma breve reflexão acerca dos aspectos peculiares que motivaram o desenvolvimento da urbanização, sendo que a complexidade e a diversificação traduzem elementos essenciais desta dinâmica. A tarefa proposta a seguir foi a de entender, com base na heterogeneidade da urbanização brasileira, as características que esta assume no contexto regional amazônico.

Diante do reconhecimento destas especificidades, tivemos a preocupação de compreender os reflexos da urbanização amazônica na materialização da dinâmica urbana da cidade de Imperatriz, sendo que a interpretação que buscamos fazer baseou-se em uma análise das dinâmicas promovidas pelas plataformas modernas de comércio estabelecidas nesta cidade, particularmente, o dinamismo promovido pelo Imperial Shopping.

ASPECTOS PECULIARES DA URBANIZAÇÃO BRASILEIRA

O Brasil, assim como a grande maioria dos países da América Latina, conheceu um acelerado processo de urbanização no século XX, principalmente, após a década de 1950. De acordo com Maricato (2001, p. 66) “em 1940, a população urbana brasileira era de 26,3% do total. Já em 2010, essa população passou para 84,4%. Se quantificada de forma absoluta, percebe-se que em 1940, 18,8 milhões de habitantes residiam em áreas urbanas. Em 2010, esta população saltou para aproximadamente 160 milhões”. Em um curto espaço de tempo, os centros urbanos no Brasil abrigaram mais de 125 milhões de pessoas. Com isto, tem se observado um crescimento exacerbado das cidades brasileiras.

A urbanização brasileira faz parte de um fenômeno marcante à realidade mundial, sendo considerado um fenômeno recente. Suas características estão expressas no cenário das cidades brasileiras, resultando de vários fatores, entre os quais cabe mencionar:

a) O êxodo rural, que, por sua vez, está ligado ao excedente de mão-de-obra do campo;

b) A industrialização tardia e a modernização das atividades agrícolas, conjugada à concentração de pessoas nas grandes cidades, sobretudo, no centro-sul do país;

c) O aumento do poder aquisitivo da população, favorecido pela expansão do capital industrial e financeiro e pela difusão da agroindústria no país;

d) A inovação tecnológica e o aumento da produtividade das indústrias de bens de consumo, para suprirem as necessidades da vida urbana.

e) Uma maior articulação produtiva entre as regiões favorecida pelo avanço dos meios de transporte, resultando em uma divisão territorial do trabalho intensa.

Estes elementos apontados denotam os avanços dos processos de modernização materializados no território brasileiro que implicaram em seu reordenamento territorial. Devido à extensão continental do Brasil e as particularidades que são inerentes às suas regiões, é possível afirmar que suas cidades se apresentam cada vez mais distintas e complexas. O processo de urbanização presente no território brasileiro traz consigo características da heterogeneidade desse fenômeno. Conforme Santos (1996, p. 58-60):

A complexa organização territorial e urbana do Brasil guarda profundas diferenças entre suas regiões. Em 1960, é a Região Sudeste a mais urbanizada, com índice de urbanização de 82,79%. A menos urbanizada é a Nordeste, com 50,44% de urbanos, quando a taxa de urbanização do Brasil era de 65,57%. A partir dos anos 1960 e na década de 1970, verifica-se que estas mudanças não são, apenas quantitativas, mas, qualitativas. [...] A urbanização ganha novo conteúdo e nova dinâmica, graças aos processos de modernização que o país conhece e que explicam a nova situação.

Segundo Santos (1996, p. 36) “num espaço de tempo relativamente curto, a sociedade brasileira viu instalar sobre o território nacional uma gama de conteúdo crescente de ciência, técnica e informação”. Os processos de modernização introduzidos no país desde então, trouxeram implicações imediatas na urbanização brasileira. Como parte dessas dinâmicas, a tabela 1, indicada a seguir, enfatiza aspectos dessa dinâmica.

Tabela 1
Evolução Regional da População Urbana no Brasil (1950-2010) - %

IBGE. Censos Demográficos (1950-2010). Organização: Jailson de Macedo Sousa (2013).

Os dados expostos na tabela 1 evidenciam o célere crescimento demográfico e urbano registrado no território brasileiro a partir da década de 1950. Importa considerar que este crescimento se manifestou de forma distinta e desigual entre as suas regiões. A região Sudeste, por reunir a maior parte das indústrias do país, foi a que recebeu grandes fluxos migratórios oriundos de áreas rurais, “expulsos” da modernização do campo, através do êxodo rural. Observa-se ainda nesse cenário, sobretudo, entre as décadas de 1950 e 1980, que esta região é a que apresenta as maiores taxas de população urbana dos últimos 70 anos. A partir de 1960, com 57%, foi a primeira região a registrar uma superioridade de habitantes vivendo nas cidades em relação à população rural.

No que concerne à região Centro-Oeste, o processo de urbanização teve como fator determinante à sua expansão, a construção da capital federal, ou seja, de Brasília em 1960, atraindo milhares de trabalhadores, a maior parte deles oriundos das regiões Norte e Nordeste. Associado a este fator, cabe destacar também, a modernização do campo que também se apresenta como elemento inerente ao avanço da urbanização desta região.

Até a década de 1960, a Região Norte era a segunda mais urbanizada do país. Porém, a concentração da economia do país na região Sudeste e o fluxo de migrantes dessa para outras regiões, fez com que o crescimento relativo da população urbana diminuísse. Na região nordeste, a frágil urbanização esteve apoiada nos fluxos migratórios para o restante do país. Além disso, o débil desenvolvimento econômico das cidades nordestinas não foi capaz de atrair a população rural.

Os dados expostos na tabela 1 confirmam o avanço do processo de urbanização nestas regiões, sendo motivado, também pela intensificação da divisão territorial do trabalho que passou a atuar de modo mais incisivo nestes espaços. Para Santos (1996):

A partir do momento em que o território brasileiro se torna efetivamente integrado e se constitui como mercado único, o que à primeira vista aparece como evolução divergente é, na verdade, um movimento convergente. Há uma lógica comum aos diversos subespaços do país. Essa lógica é dada pela divisão territorial do trabalho em escala, que privilegia todas as esferas regionais do território brasileiro. O centro-oeste (e mesmo a Amazônia) apresentou-se desde a década de sessenta como extremamente receptivos aos novos fenômenos da urbanização, já que suas terras eram praticamente virgens, não possuindo infraestrutura de monta, nem outros investimentos fixos vindos do passado (SANTOS, 1996, p. 61).

A atual fase de organização do território brasileiro tem sido marcada pela consolidação do fenômeno urbano. No entanto, este processo tem se edificado de modo desigual, sendo explicado em razão das distintas formas de atuação da divisão territorial do trabalho. A diferença entre as taxas de urbanização das regiões brasileiras está intimamente ligada à forma como, nelas, a divisão do trabalho sucessivamente se deu, ou seja, pela maneira diferente como em cada momento foram afetadas pela divisão regional do trabalho (SANTOS, 1996).

Ao considerarmos estas diferenciações e as particularidades que o fenômeno urbano assume nas distintas regiões do país é que buscamos situar a realidade da urbanização em que a cidade de Imperatriz encontra-se inserida: a realidade amazônica. Com vistas de apreender alguns dos elementos que tem singularizado o processo de urbanização difundido na Amazônia brasileira é que apresentamos a seguir algumas considerações acerca da dinâmica urbana que é peculiar a esta macrorregião.

URBANIZAÇÃO AMAZÔNICA: características e significados

A Amazônia brasileira passou a despertar, desde a segunda metade do século XX a atenção e os interesses do capital e do Estado que prontamente planejaram ações pautadas na sua modernização. Bertha Becker (1982) nessa direção, afirma:

Modifica-se a percepção da Amazônia, que assume posição-chave frente às prioridades políticas de ordem interna e externa. A Amazônia passa a ser percebida como região de imensas possibilidades, verdadeira fronteira de recursos. Por seu valor estratégico e pelo alto valor dos recursos naturais, a região é capaz de atrair inovações e efeitos difusores do desenvolvimento, tais como: capitais, tecnologia, população, tanto de centros nacionais como de centros mundiais, tornando-se verdadeiro campo de atração de forças externas. (BECKER, 1982, p. 650).

Desde a década de 1950, a Amazônia brasileira vem conhecendo intensas mudanças. Tratam-se de transformações de ordem demográfica, econômica, ambiental, política e culturais. Estas mudanças ocorreram em razão da adoção de várias ações socioeconômicas comandadas pelo Estado, promovendo uma reestruturação desta região, o Mapa 1 mostra a localização geográfica da Amazônia Legal.

A ocupação da Amazônia tornou-se uma prioridade durante os governos militares, que tinham como objetivo a implantação redes de integração espacial, que visavam a modernização desta região e a sua conexão aos espaços produtivos do país e do mundo. No conjunto dessas redes, tiveram destaque: as redes rodoviárias, de comunicações e as redes de cidades, ou seja, as redes urbanas. Desse modo, Becker (1991) enfatiza:

A ocupação da Amazônia se torna prioridade máxima após o golpe de 1964, quando, fundamentado na doutrina de segurança nacional, o objetivo básico do governo militar torna-se a implantação de um projeto de modernização nacional, acelerando uma radical reestruturação do país, incluindo a redistribuição territorial de investimentos e de mão-de-obra, sob forte controle social. (BECKER, 1991, p. 12).


Mapa 1
Amazônia Legal - Localização geográfica
SOUSA, 2015.

Nesse cenário, tanto o Estado, quanto o capital passaram a enxergar esta região como um espaço gerador de novas realidades. Antes disso, as cidades eram, em sua maioria, pequenas e tinham sua produção voltada à subsistência. No conjunto destas mudanças materializadas na Amazônia brasileira, teve destaque às ações empreendidas pelos governos militares. O Estado e capital, conduziram esse processo de reestruturação regional por meio da adoção de várias estratégias, conforme assevera o quadro 1 abaixo.

Quadro 1
Estratégias recentes de ocupação da Amazônia (1953-1988)

BECKER, 1991. Organização: SOUSA, 2011.

A urbanização ocorrida na Amazônia neste período não foi decorrente da expansão da fronteira agrícola, como ocorreu no início do século no centro-sul, mas das ações conduzidas pelo Estado para incorporar esta macrorregião ao capitalismo moderno. A partir da implantação desses projetos econômicos, o êxodo rural passou a vigorar nessa região, pois um grande número de camponeses que se deparavam sem trabalho, foram atraídos e passaram a buscar as cidades para residir e desenvolver alguma atividade econômica, sobretudo, em localidades onde as frentes de trabalhos estavam presentes. Segundo Lima (2008, p.93) “O processo de urbanização presente na região da Amazônia legal, sobretudo, na Amazônia oriental, se deu após a adoção de uma série de medidas que objetivaram as ligações dessa região com o restante do país”. O Estado instituiu no ano de 1953, a SPVEA - Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia, baseando-se em uma política desenvolvimentista, com a intenção de integrar a Amazônia economicamente às demais regiões produtivas do país, tendo como preocupação incorporar e valorizar este espaço.

A década de 1960 confirma um dinamismo crescente à região amazônica, marcado desde então, pela intensificação do processo de ocupação e povoamento regional e a sua urbanização. Alguns instrumentos foram essenciais para este dinamismo, como por exemplo, a construção da rodovia Belém-Brasília e toda a política territorial do Estado. A política de desenvolvimento regional expressa por meio dos projetos de colonização regional e investimentos em infraestrutura desencadearam intensa de ocupação com a chegada de imigrantes do nordeste e sul do Brasil. Segundo Becker (2005, p. 405):

[...] É a partir de 1960 que se intensifica o processo de urbanização regional, a princípio com a construção da rodovia Belém-Brasília e, a seguir com a política territorial do Estado, a “política de integração nacional”, que intensificou os fluxos de mercadorias (bens e serviços), energia (trabalho, imigração, dinheiro) e informação (inovações e comunicações e envolveu uma política urbana e migratória [...]

A implantação da rodovia Belém-Brasília foi um marco para a integração da Amazônia com o Centro-Sul do Brasil, e também dinamizou o processo de crescimento urbano da região Sulmaranhense. Sobre uma possível definição da região Sulmaranhense, Sousa (2015) enfatiza: “não há limites precisos nem recortes institucionais estabelecidos para definir o que é esta região, no entanto, sabe-se que ela abriga grande parte dos municípios que estão inseridos na porção central, sul e sudoeste do estado do Maranhão”. O mapa 2 visualiza a localização da região Sulmaranhense.


Mapa 2
Região Sulmaranhense - Localização geográfica
SOUSA, 2015.

Os reflexos dessas mudanças processadas na região amazônica puderam ser notados nos diferentes subespaços desta macrorregião, apresentando implicações diretas na porção oriental da Amazônia brasileira, especialmente, em seus núcleos urbanos. O principal palco do acontecer dessas mudanças é, sem dúvidas, a cidade. Nesse sentido, destacamos a seguir, os reflexos desse processo de reestruturação regional, considerando o dinamismo particularizado na cidade de Imperatriz, uma vez que este núcleo urbano se apresenta como um dos principais situados na porção oriental da Amazônia brasileira.

OS REFLEXOS DA URBANIZAÇÃO AMAZÔNICA NA PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO DE IMPERATRIZ-MA

Com vistas de apreender alguns elementos deste dinamismo que tem mobilizado o processo de urbanização regional amazônico é que situamos alguns dos reflexos destas mudanças de ordem socioeconômica materializadas no município de Imperatriz, uma vez que esta cidade se beneficiou diretamente em razão das intervenções guiadas pelo Estado e pelo capital que foram difundidas na Amazônia brasileira. Conforme Sousa (2015):

O município de Imperatriz encontra-se localizado[1] no sudoeste do estado do Maranhão e na região também denominada de Sulmaranhense. [...] teve a sua instalação no final do século XIX, ou seja, no ano de 1856 e apresenta conforme os dados obtidos por meio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas - IBGE (2013) área territorial equivalendo a 1.367,9 km². Sua taxa de densidade demográfica corresponde a 180,82 hab/km2, dispondo de um Índice de Desenvolvimento Humano Municipal – IDHM considerado alto, equivalendo a 0,731 (SOUSA, 2015, p. 307).

A urbanização difundida na cidade de Imperatriz ganhou impulso a partir de 1950. Entre os fatores que determinaram este dinamismo destacam-se: a construção da rodovia Belém-Brasília, o desenvolvimento da economia ciclotímica e a sua consequente transferência para o setor terciário que se consolidou a partir dos anos 1980. Desde então, as atividades terciárias cidade passaram a exercer forte domínio nesta cidade, irradiando-se também para a região Sulmaranhense. A este respeito, Sousa (2015) enfatiza:

As atividades terciárias (comércio e serviços) passaram desde a década de 1980, a exercer papéis primordiais no interior da economia urbana de Imperatriz. Os segmentos vinculados ao comércio atacadista e varejista se impuseram com intensa vitalidade, denotando importante participação no cenário regional. Esta influência emanada a partir do comércio atacadista e varejista tem se irradiado para além dos limites internos do município de Imperatriz, tendo se projetado também, para as regiões: central, sudoeste e sul do estado do Maranhão e para o extremo norte do Tocantins e para as regiões sudeste e sul do Pará (SOUSA, 2015, p. 318).

A centralidade das atividades terciárias materializada na cidade de Imperatriz é confirmada em razão da composição e estruturação do seu Produto Interno Bruto- PIB, que sinalizou no ano de 2014 para uma participação de 78,77% no conjunto da produção econômica deste município. Este fato confirma a relevância deste segmento para economia de Imperatriz, sendo refletida, inclusive para a sua região de influência[2].


Mapa 3
Imperatriz- MA – Localização geográfica no estado do Maranhão
Laila Santos Silva, 2018.

Sabe-se que as plataformas modernas de comércio, representadas principalmente, pelos shopping centers constituem em uma realidade concreta presente no território brasileiro. Desde 1980 têm sido crescente a participação destas atividades econômicas, sobretudo, nas metrópoles e em cidades médias do Brasil. Nessa direção, são úteis as contribuições teóricas fornecidas por Sposito et al (2007)

A concentração econômica no terciário, observada em alguns ramos do setor, desde a década de 1980, promoveu a expansão territorial e a multiplicação das redes de estabelecimentos comerciais e de serviços, gerando, nesse caso, descentralização espacial dos capitais comerciais e de serviços de grande porte, que passaram a abranger a maior parte do território brasileiro. (SPOSITO, et. Al., 2007, p. 55-56).

Considera-se necessário a realização de uma interpretação das dinâmicas que são peculiares ao terciário moderno presente em Imperatriz, considerando nesse cenário, o dinamismo socioeconômicos assumido pelos shopping centers. É reconhecido que estas estruturas comerciais modernas passaram a fazer parte do dinamismo econômico desta cidade, denotando forte participação no conjunto da economia urbana de Imperatriz.

O DINAMISMO DAS PLATAFORMAS MODERNAS DE COMÉRCIO NA CIDADE DE IMPERATRIZ: uma abordagem a partir do Imperial Shopping

Os shopping centers surgiram nos Estados Unidos após a segunda guerra mundial e estão relacionados com a expansão dos subúrbios e com o advento do automóvel. Estudos indicam que o primeiro shopping center foi o Northgate, inaugurado em 1° de maio de 1950, nos arredores da cidade de Seatle. Este empreendimento comercial foi projetado pelo o arquiteto John Graham Jr. Já no Brasil, a inauguração do primeiro shopping deu-se em 27 de novembro de 1966, o shopping center Iguatemi, marcando deste modo, uma nova forma de organização comercial no país (RYBCZYNSKI, 1996).

Com relação à estruturação desses equipamentos, temos diferenças na escala espaço temporal dos shopping estadunidenses em relação aos implantados no Brasil. Ao analisar a evolução, dos Shopping Centers no Brasil, Pintaudi (1992) pondera:

Shopping Center significa um empreendimento de iniciativa privada que reúne, em um ou mais edifícios contíguos, lojas alugadas para comércio varejista ou serviços. Distinguem-se umas das outras não somente pelo tipo de mercadoria que vendem (o tenant mix planejado pela empresa que prevê a presença de lojas do mesmo ramo para permitir a compra por comparação), como também por sua natureza distinta (lojas-âncora e lojas de comércio especializado e serviços - que pode ou não pertencer a redes). A estrutura e funcionamento do empreendimento são controlados por um setor administrativo, necessário para o funcionamento dos shopping centers. É o setor cuja responsabilidade é zelar pela reprodução do capital da empresa. Além disso, está a presença de um parque de estacionamento, cujo tamanho depende do seu porte e da sua localização. (PINTAUDI, 1992, p. 16).

Os shopping centers passaram a fazer parte da nova realidade urbana das cidades médias brasileiras desde a década de 1980 no Brasil, resultando assim, nos processos de descentralização em muitos casos das atividades comerciais e de serviços para atender públicos determinados com mais conforto e comodidade. A tabela 2, indicada a seguir retrata a distribuição dos shopping centers no território brasileiro neste período recente, ou seja, enfatiza o levantamento da quantidade atual de shopping centers encontrados nas diferentes regiões do país.

Tabela 2
Distribuição dos shopping centers no território brasileiro, 2017

ABRASCE, 2017.

No Brasil, a distribuição de shopping centers entre as suas regiões é ainda muito desigual. Segundo dados da Associação Brasileira de Shopping Center – ABRASCE (2017), o país possui atualmente 562 empreendimentos, dos quais 53% estão situados na região Sudeste e apenas 4,8% na região Norte. A instalação de shopping centers na cidade de Imperatriz está associada à esta ideia de comodidade e descentralização das atividades econômicas. Este é caso do Imperial Shopping. Localizada na mesorregião do Oeste Maranhense, a economia da cidade de Imperatriz é movimentada, principalmente, pelo setor terciário, conforme mencionado antes, uma vez que predomina na estrutura urbana desta cidade a forte participação do comércio de mercadorias (tanto no varejo, quanto no atacado) e também a prestação de serviços, com destaque no campo da saúde e da educação superior.

Desde o ano 2000 têm ocorrido mudanças significativas em relação às formas de organização do comércio de Imperatriz. No ano de 1996, ocorreu a instalação da primeira plataforma de comércio moderna. Sobre o dinamismo dos Shopping Centers nesta cidade, Sousa (2015) enfatiza de início a instalação do Timbira Shopping que ocorreu em 1996.

Localizado na área central, o Timbira Shopping foi inaugurado no mês de outubro de 1996. Apresenta uma área total de 6.400m², com a capacidade de abrigar 80 lojas, sendo que dispõe de uma sala de cinema e uma praça de alimentação. Já o Tocantins Shopping, localiza-se no centro de Imperatriz, constituiu o segundo shopping center instalado nesta cidade no ano de 2010. Dispõe de uma área total equivalente a 15.000m2, sendo que 5.700m2 equivale à sua área bruta locável. Está apto a abrigar 110 lojas e conta com três salas de cinema e uma praça de alimentação. (SOUSA, 2015, p.415).

No entanto, é possível notar mudanças significativas nesse cenário, em razão dos processos de desconcentração das atividades econômicas, em particular, as atividades comerciais e de serviços que passaram a abrigar esta modalidade moderna de comércio para fora da órbita do centro tradicional da cidade de Imperatriz, expandindo-se para outras áreas da cidade, como é o caso de diversos subespaços da cidade de Imperatriz que passaram a exercer os papéis de subcentros. Além da área que abriga o Imperial Shopping, temos em Imperatriz outros exemplos. A este respeito são válidas as contribuições fornecidas por Fernandes (2012) este processo é confirmado:

A partir do distanciamento ou mesmo das ligações com o centro tradicional, nota- se o surgimento dessas novas centralidades como estratégia de oferta de produtos e mão-de-obra ao consumidor local, sem que o mesmo tenha que se deslocar até o centro tradicional (FERNANDES, 2012, p. 69).

Este processo de desconcentração é visível na cidade de Imperatriz em função da instalação dos estabelecimentos comerciais e de serviços para fora da órbita do centro principal da cidade. O Imperial Shopping, instalado na cidade de Imperatriz no ano de 2012, faz parte deste cenário de desconcentração. Às margens da Rodovia Belém-Brasília fora do centro tradicional de comércio, o shopping conta com a capacidade de 177 lojas além de um amplo estacionamento. Sousa (2015) nessa direção comenta:

O Imperial Shopping é outro empreendimento desta natureza. Situado no bairro Jardim São Luís às margens da rodovia Belém-Brasília, este shopping teve a sua instalação no ano de 2012. Trata-se do maior e mais diversificado equipamento comercial dedicado ao setor varejista de Imperatriz (SOUSA, 2015, p. 415).


Foto 1
Vista parcial Imperial Shopping
Laila Santos Silva, 2018.

Neste estudo, optou-se por realizar o levantamento de dados relativos à dinâmica comercial e as expressões de centralidades exercidas através da plataforma comercial, representada pelo Imperial Shopping por ser o maior e mais completo shopping da região Sulmaranhense, o que atrai um fluxo bem atípico fora do centro tradicional de comércio.

Com vistas de aprender a natureza e os significados da centralidade econômica exercida pelo Imperial Shopping é que apresentamos alguns resultados obtidos por meio de pesquisa empírica que foi realizada em três momentos distintos no ano de 2017. Antes, porém, é necessário enfatizar a metodologia que serviu à construção deste estudo.


Mapa 4
Shopping Centers de Imperatriz- MA - Localização geográfica
Laila Santos Silva, 2017.

A metodologia nos estudos científicos, implica na adoção por parte do pesquisador, de métodos de abordagem, utilizando-se teorias reconhecidas em um dado campo do conhecimento, bem como métodos científicos e técnicas de pesquisa que servem de suporte à construção de determinado estudo.

Nesta pesquisa, optamos por trabalhar com a abordagem marxista, por entender que ao estudar as formas-conteúdos da dinâmica comercial de Imperatriz, estamos tratando de aspectos da realidade social que se inscreve no tecido urbano. Estes aspectos são constituídos de uma dinamicidade que é edificada pela sociedade. Dito isto, assevera-se que a abordagem marxista foi útil, em razão de trabalhar com estes aspectos dinâmicos e contraditórios que são inerentes à realidade social.

A abordagem marxista, conforme Trivinos (2011, p. 49) se “fundamenta em três aspectos principais: o materialismo dialético, o materialismo histórico e a economia política”. A utilização desta abordagem também encontra explicações coerentes em face da utilização do método dialético. Conforme Gil (2008, p. 14) “A dialética fornece as bases para uma interpretação dinâmica e totalizante da realidade, já que estabelece que os fatos sociais não podem ser entendidos quando considerados isoladamente, abstraídos de suas influências políticas, econômicas e culturais”. No que concerne às técnicas de pesquisa que foram utilizadas nesta investigação, destacamos a adoção da observação simples, amparada na construção conceitual delineada através dos estudos realizados por Gil (2002). A observação simples é a técnica:

[...] em que o pesquisador, permanecendo alheio à comunidade, grupo ou situação que pretende estudar, observa de maneira espontânea os fatos que aí ocorrem. Neste procedimento, o pesquisador é muito mais um espectador que um ator. É uma técnica utilizada para caso em que os fatos são de conhecimento público, necessita de um planejamento cuidadoso, e definição dos objetivos da pesquisa. (GIL, 2002, p.105)

Associados a estes instrumentos destacados, interessa enfatizar que esta pesquisa primou pela adoção da abordagem qualitativa. Nessa perspectiva, são válidas as contribuições fornecidas por Carlos Brandão (2009, p. 23), “em qualquer campo das ciências, e, mais do que em todos os outros, naqueles em que o ser humano é um ator central ou coadjuvante, os nossos métodos devem ser entendidos como pontes que unem as formas e estratégias de pensar”. Ainda sobre os papéis e importância do uso da pesquisa qualitativa, convém enfatizar as contribuições teóricas destacadas por Chizzotti (2003):

A pesquisa qualitativa recobre, hoje, um campo transdisciplinar, envolvendo as ciências humanas e sociais, assumindo tradições ou multiparadigmas de análise, derivadas do positivismo, da fenomenologia, da hermenêutica, do marxismo, da teoria crítica e do construtivismo, e adotando multimétodos de investigação para o estudo de um fenômeno situado no local em que ocorre, e enfim, procurando tanto encontrar o sentido desse fenômeno quanto interpretar os significados que as pessoas dão a eles.(CHIZZOTTI, 2003, p. 221)

A motivação que nos levou a escolha do Imperial Shopping como objeto de estudo se deu principalmente ao fato deste ser o maior e mais complexo empreendimento das formas modernas de comércio de Imperatriz. A facilidade de acesso, pois está localizado às margens da rodovia Belém-Brasília o que, em tese, proporciona um fluxo significativo de pessoas que vem de municípios circunvizinhos à Imperatriz, visto que para adentrar a cidade as pessoas necessariamente passam pelo shopping.

A pesquisa de campo foi realizada em três momentos distintos ocorridos entre os meses de julho de 2017 a abril de 2018. No primeiro momento, ocorrido no mês de julho de 2017, buscamos identificar os principais tipos de estabelecimentos comerciais do Imperial Shopping. A segunda etapa, ocorreu no mês de novembro de 2018. Nesta etapa, buscamos fazer um levantamento dos estabelecimentos, para fins de organização de uma tipologia destes por meio da realização de entrevistas formais semiestruturadas com os lojistas (gerentes e/ou encarregados).

A terceira etapa da pesquisa foi realizada no mês de abril de 2018. Tivemos a preocupação neste estágio da pesquisa de realizar entrevistas com os clientes dos estabelecimentos comerciais do Imperial Shopping, a fim de entender a natureza e os significados da centralidade econômica que este empreendimento comercial tem assumido no cenário intraurbano de Imperatriz e no contexto regional Sulmaranhense.

Foram contabilizados o número de estabelecimentos comerciais por segmentos, através de uma observação simples, onde constatou-se o número de 129 estabelecimentos ativos, além da observação da dinâmica do shopping através. Parcelas significativas dos lojistas se mostraram sensíveis às respostas das entrevistas e fizeram questão de expor seus pensamentos a respeito da importância do Imperial Shopping à cidade de Imperatriz.

Estes instrumentos metodológicos foram fundamentais para este processo de investigação científica, uma vez que permitiu responder as questões levantadas na problematização do estudo e forneceram as direções adequadas para a compreensão do exercício da centralidade conduzida a partir do dinamismo dos shopping centers.

Tendo em vista a necessidade de refletir sobre as novas formas comerciais e as expressões da centralidade de Imperatriz, buscou-se entender os papeis difundidos pelos Shopping e o dinamismo que têm produzido em níveis local e regional. Os dados expostos na tabela 3 abaixo, destacam aspectos da estrutura comercial do Imperial Shopping que encontra-se localizado em Imperatriz. Nesse sentido, são enfatizadas a quantidade de estabelecimentos comerciais deste empreendimento. Além desta informação, também buscou-se identificar os principais segmentos comerciais encontrados neste shopping.

O levantamento realizado em agosto de 2017 demonstra a quantidade de estabelecimentos por segmento do Imperial Shopping. Com relação os dados expostos na tabela 3, foi possível constatar no conjunto dos diversos segmentos econômicos presentes no Imperial Shopping, dos 129 dos estabelecimentos catalogados, 30 estão vinculados ao segmento de alimentação, o que representa 23,25% dos estabelecimentos.

Foi possível constatar ainda em relação aos segmentos econômicos que apresentam maior destaque no Imperial Shopping, que os setores de confecções e calçados responderam respectivamente por 19 e 10 estabelecimentos, representando nesse caso, um valor percentual de 22,47%. Os setores de alimentação, confecção e calçados corresponderam a um total de 45,72%, quase metade de todos os segmentos do shopping.

Tabela 3
Imperial Shopping- segmentos e quantidade de estabelecimentos, 2017

Imperial Shopping – Pesquisa Direta, 2017. Organização: Laila Santos Silva, 2017.

A partir das observações feitas e das entrevistas realizadas, foi possível constatar que as lojas com maior representatividade no que diz respeito a fluxo são principalmente lojas que estão ligadas a franquias de renome nacional como é o caso da Riachuelo, C&A, Avenida, Lojas Americanas, além da franquia regional do Armazém Paraíba.

Outro fator importante observado na realização da pesquisa diz respeito à quantidade de estabelecimentos que estão relacionados ao setor de alimentação. No Imperial shopping é possível encontrar desde comida japonesa a guaraná da Amazônia. As franquias nacionais como Bobs, Burguer King, Giraffa, e Subway possuem um destaque maior visto que algumas só são comercializadas neste Shopping Center.

Outra questão importante no processo de desenvolvimento da pesquisa está associada à quantidade de empregos gerados neste estabelecimento comercial. No entanto, obteve-se parte das informações[3]. A administração do shopping enfatizou que os empregos diretamente ligados a parte administrativa, isto é, de quem faz o gerenciamento do shopping, equivalem a 119 colaboradores, conforme demonstra a tabela 4 a seguir.

Tabela 4
Número de funcionários administrativo Imperial Shopping

Imperial Shopping – Administração, 2017. Organização: Laila Santos Silva, 2017.

De acordo com a administração, os setores de segurança e limpeza são os que apresentam o maior número de colaboradores. Estes setores são formados por empresas terceirizadas que prestam serviços ao Imperial Shopping. O terceiro maior segmento apresentado é o de auditores que é composto por estagiários que fazem pesquisas de mercado e satisfação nas lojas dispostas no Imperial Shopping.

Outro questionamento levantado através da entrevista, diz respeito a identificação do fluxo médio de clientes encontrados neste empreendimento comercial. Sendo que foi destacado pela administração, que há uma média de 469.000 clientes mensal e 15.000 clientes diários. Estudos realizados por Sousa (2015) através de sua tese de doutorado, procuraram identificar estes fluxos dos clientes que buscam com frequência as mercadorias, produtos e serviços ofertados neste empreendimento comercial.

Os dados dispostos no gráfico 1, expõem os resultados obtidos através de pesquisa direta com comerciantes e clientes no ano de 2015 e confirmam que são expressivos os fluxos de pessoas oriundas de localidades do extremo norte do estado do Tocantins, do sul/sudeste do Pará e ainda, das regiões central, sudoeste e sul do estado do Maranhão. Dito isto, confirma-se a centralidade econômica e urbana exercida por este shopping.


Gráfico 1
Imperatriz/MA - Fluxos do comércio varejista moderno, 2015
Jailson de Macedo Sousa, 2015.

Constatamos assim, que o comércio varejista, representado neste estudo pelas novas plataformas comerciais, isto é, pelos shopping centers têm papel de destaque no contexto urbano desta cidade, ao passo que atende pessoas do centro-sul do Maranhão, do extremo norte do Estado do Tocantins e do Sul e Sudeste do Pará, tendo representação significativa no que diz respeito a geração de empregos e prestação de serviços. Com vistas de reforçar a centralidade econômica e urbana exercida pelo Imperial Shopping, bem como seu significado é que destacamos algumas falas obtidas através de roteiro de entrevista encaminhado aos comerciantes.

Com a criação do Imperial Shopping nós podemos observar o desenvolvimento da cidade de Imperatriz, a quantidade de empregos gerados além do fato do shopping se localizar as margens da BR-010 que fez com que ele se tornasse um cartão postal da cidade atraindo um fluxo muito grande de pessoas das cidades vizinhas. (Comerciante 1. Entrevista realiza no mês de junho de 2017).

A importância do shopping sem dúvidas é a movimentação da economia. A localização deste shopping é bastante estratégica, aqui na BR todos que entram e saem da cidade passam por aqui, outro fator bem importante é a proximidade com o aeroporto e com um hotel. Pessoas de fora que vem do aeroporto e se hospedam nesse hotel não precisam entrar de fato na cidade, pegar transito... eles conseguem ter conforto e diversidade aqui do lado. (Comerciante 2. Entrevista realiza no mês de junho de 2017).

Para mim, a maior importância do Shopping é a geração de emprego. Nós que trabalhamos aqui percebemos que todos os dias tem gente nova aqui atrás de emprego e com isso sabemos que a economia é movimentada. Além disso nós percebemos muita gente de cidades menores vem para o shopping atrás principalmente de lazer e compras. Para nós aqui da cidade o Imperial Shopping acaba sendo o único local de lazer da cidade. (Comerciante 3. Entrevista realiza no mês de junho de 2017).

As entrevistas realizadas com os comerciantes e clientes do Imperial Shopping asseveram a importância que este shopping center vem exercendo no interior da economia urbana de Imperatriz. Este se explica em face das políticas regionais que se centralizam em Imperatriz e também em razão da centralidade econômica que a cidade exerce através das atividades terciárias. A centralidade, nesse sentido, não é apenas econômica. Arrais (2007), por exemplo, considera a presença e influência da centralidade política como uma via necessária à compreensão do processo de produção do espaço regional.

A produção de uma região não ocorre por obra do acaso, fato importante para contraposição à visão substancialista e liberal de que o sucesso ou insucesso da região é de responsabilidade dela mesma, desviando o foco das relações sociais construídas por atores sociais ao longo de sua história, daí o componente político como tradução das relações sociais no espaço regional. Na realidade, um conceito político de região pode ser uma outra forma de falar de relações de poder, de gestão e controle de um espaço coeso por uma diversidade de atores sociais. (ARRAIS, 2007, p. 32).

A interpretação que buscamos fazer acerca desta centralidade comandada pela cidade de Imperatriz só adquire explicações contundentes se associarmos ao mesmo tempo a dimensão política às dimensões econômicas conforme afirmado acima.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Constatamos por meio deste estudo que o comércio varejista, representado pelos Shopping Centers tem papel de destaque no contexto urbano e econômico da cidade de Imperatriz, ao passo que atrai pessoas do centro-sul do Maranhão e adjacências e tem uma significativa parcela na geração de empregos e prestação de serviços desta cidade. O que pudemos concluir ao fim deste estudo, é que esta centralidade assumida pelo Imperial shopping se confirma pela ascensão econômica de sua população, pelo ambiente proporcionado por este à população, isto é, o conforto e comodidade, pela quantidade e diversidade de serviços ofertados em um único ambiente e pela flexibilização do horário de funcionamento.

Para compreender este dinamismo socioeconômico que tem sido peculiar à cidade de Imperatriz, em particular, àquele assumido pelos shopping centers nos propomos a refletir sobre a evolução das atividades terciárias difundidas nesta cidade, a partir de 1980. Esta interpretação pautou-se, primordialmente, na busca pelo entendimento dos significados da centralidade exercida pelas plataformas modernas de comércio, representadas nesse caso, pelo Imperial shopping. A partir desta interpretação fica a nossa inquietação em compartilhar por meio deste estudo o papel adquirido por este segmento comercial e o dinamismo econômico gerado por ele que reforça a centralidade exercida pela cidade de Imperatriz- MA no interior da região Sulmaranhense.

As entrevistas realizadas com os comerciantes e clientes do Imperial Shopping quando associadas aos dados estatísticos coletados em órgãos oficiais confirmaram a centralidade exercida pelo Imperial Shopping. As expressões desta centralidade que é ao mesmo tempo econômica e urbana se materializam tanto em razão do fluxo de clientes, como também em face de produtos e serviços que são ofertados nesta plataforma moderna de comércio, que atende às populações de Imperatriz e da região Sulmaranhense.

REFERÊNCIAS

ABRASCE – Associação Brasileira de Shopping Centers. Disponível em: < www.abrasce.com.br >. Acesso em 20/04/2018.

ARRAIS, Tadeu Pereira Alencar. A região como arena política: um estudo sobre a produção da região urbana Centro-Goiano. Goiânia: Vieira, 2017. 258 p.

BECKER, Berta K. Geopolítica da Amazônia: a nova fronteira de recursos. Jorge Zahar Editores: Rio de Janeiro, 1982.

_______. Amazônia. São Paulo: Ática, 1991.

_______. Dinâmica urbana na Amazônia. In: ______Clécio Campolina Diniz, Mauro Borges Lemos. Economia e território. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005.

CHIZZOTTI, Antonio. A pesquisa qualitativa em ciências humanas e sociais: evolução e desafios. Braga. Revista Portuguesa de Educação, año/vol. 16.

FERNANDES, Patrícia da Silva. Descentralização econômica e as expressões de novas centralidades na cidade: uma reflexão a partir da instalação e expansão dos serviços bancários no bairro Nova Imperatriz. Imperatriz: Ética, 2011. 111 p.

GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa? 4. ed. –. São Paulo: Atlas, 2002.

_____. Métodos e técnicas de pesquisa social. 1ed. – 17 reimpresso. São Paulo: Atlas, 2008.

IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Cidades. Imperatriz- MA. Disponível em: http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=210530&search=maranhao|imperatriz Acessado em: 01/02/2017

LIMA, Rosirene Martins. O rural no urbano: uma análise do processo de produção do espaço urbano de Imperatriz-MA. Imperatriz, MA: Ética, 2008.

MARICATO, Ermínia. Brasil, cidades: alternativas para a crise urbana. Petrópolis: Vozes, 2001. 204 p.

MUMFORD, Lewis, 1895- 1990. A cidade na história: suas origens, transformações e perspectivas. Lewis Mumford; tradução Neil R. da Silva. 5º ed. – São Paulo: Martins Fontes, 2008.

PINTAUDI, S.M.; FRÚGOLI JR. H. (org.) ShoppingCenters: espaço, cultura e modernidade nas cidades brasileiras. São Paulo, Editora da Universidade Estadual Paulista, 1992.

________. As formas do comércio urbano. In: CARLOS, Ana Fani Alessandri. (Org.). Novos Caminhos da Geografia. São Paulo: Contexto, 2005, v, p. 143-159.

RYBCZYNSKI, Witold. Casa: Pequena História de Uma Idéia. Rio de Janeiro, Record, 1996.

SANTOS, Milton. A nova urbanização diversificação e complexidade. In: A urbanização brasileira. 2. ed. São Paulo: Hucitec, 1996.

SOUSA, Jailson de Macedo. O regional e urbano no sul do Maranhão: delimitações conceituais e realidades empíricas. Imperatriz: Ética, 2013.

_______. Enredos da dinâmica urbano-regional Sulmaranhense: reflexões a partir da centralidade econômica de Açailândia, Balsas e Imperatriz. (Tese de Doutorado). Universidade Federal de Uberlândia, 2015.

_______. Reestruturação urbano-regional amazônica e seus reflexos na produção do espaço urbano de Imperatriz-MA. Caderno de Geografia, v. 28, n. 52, 2018. p. 79-105.

SILVA, Laila Santos. Novas formas comerciais e as expressões da centralidade urbana de Imperatriz-MA: uma análise a partir da instalação e dinamismo do Imperial Shopping. 2018. 78 f. Monografia (Graduação em Geografia), Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão, Imperatriz, 2018.

SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão. (Organização) Cidades médias: espaços em transição. 1. ed.—São Paulo: Expressão Popular, 2007.

TRIVIÑOS, Augusto N. S. Introdução à pesquisa em Ciências Sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 2011.

Notas

[1] Verificar Mapa 3 na página 13. Mapa de localização geográfica do município de Imperatriz.
[2] Para melhor compreensão desta regionalização sugere-se as contribuições fornecidas por Sousa (2013); (2015) e (2018).
[3] Mesmo tendo encaminhado previamente um roteiro com indagações acerca da classificação dos estabelecimentos comerciais do shopping à administração, só foi possível repassar por parte desta, as informações que estão contidas na tabela 4.


Buscar:
Ir a la Página
IR
Visualizador XML-JATS4R. Desarrollado por