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Repensando a formação docente a partir da troca de saberes entre professores na busca pela Geografia Sensível
Rethinking teacher education through the exchange of knowledge among teachers in the quest for Sensitive Geography
Repensando la formación docente a partir del intercambio de saberes entre profesores en la búsqueda por la Geografía Sensible
Revista Cerrados (Unimontes), vol. 17, núm. 2, pp. 193-211, 2019
Universidade Estadual de Montes Claros

https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/

Recepción: 05 Julio 2019

Aprobación: 22 Octubre 2019

Publicación: 29 Octubre 2019

DOI: https://doi.org/10.22238/rc2448269220191702193211

Resumo: Neste estudo relacionado com o ensino de Geografia na escola básica, o principal objetivo é explorar experiências em sala de aula cujos sentidos sejam definidos como relevantes para a aprendizagem junto ao contexto de vivência de educadores e educandos. Propomos uma reflexão sobre o ensino de Geografia, destacando aspectos centrais para realizar uma aprendizagem mais efetiva junto às dimensões do cotidiano. Inspirado pelas ideias de educação espacial de Kaercher e no estudo que relaciona imagens e Geografia de Oliveira Jr., nós definimos como Geografia Sensível o modo para aprender o espaço a partir da valorização do compartilhamento de nossas percepções. Desenvolvemos duas edições de um curso de formação para os professores com o objetivo de promover essa Geografia Sensível através da troca de saberes docentes entre educadores que trabalham em disciplinas de Geografia nas escolas públicas de São Leopoldo, cidade do sul do Brasil. Como conclusões é possível traçar três linhas principais: primeiro, a Geografia Sensível parece ser eficaz, uma vez que a partir das experiências docentes, se mostraram mais dinâmicas e interessantes as aulas em que se consideraram os entendimentos espaciais e as referências dos estudantes e dos professores como centrais em termos de conteúdos; segundo, o desempenho dos professores é muito exposto a problemas sociais, apesar disso, eles são muito capazes de trocar experiências de aprendizado de Geografia e com isso melhorar suas aulas; finalmente, as ferramentas tecnológicas são muito consideradas como expectativa para melhor refletir no ensino os aspectos de nossos espaços de vivência.

Palavras-chave: Geografia Sensível, Formação de professores, Educação Visual.

Abstract: In this study related with Geography teaching in basic school the main objective is to explore experiences in the classroom whose meanings are defined as relevant for learning within the life experience context of educators and students. We propose a reflection on the teaching of Geography, highlighting central aspects to make learning more effective throughout the dimensions of everyday life. Inspired by the Kaecher’s ideas towards space education and in Oliveira Jr. studies related to images and Geography, we name this way to learn the space which values the sharing of our perceptions, Sensitive Geography. We develop two editions of a formation course to teachers in which the main goal was to promote Sensitive Geography through the exchange of teaching knowledge among the educators that work in Geography classes of public schools of São Leopoldo City, south Brazil. As conclusions it is possible to draw three main lines: first, Sensitive Geography seems to be effective considering it is more dynamic and interesting the classes in which is considered the spatial understandings and references of the students and teachers as the main contents; second, teachers’ performance is very exposed to social problems, in spite of it, they are very capable to exchange geography learning experiences to improve their classes; finally technological tools are very considered as expectancy to better reflect in teachings the aspects of our living spaces.

Keywords: Sensitive Geography, Teacher formation, Visual Education.

Resumen: En este estudio relacionado con la enseñanza de la Geografía en la escuela básica, el objetivo principal es explorar las experiencias en el aula cuyos significados se definen como relevantes para el aprendizaje dentro del contexto de la experiencia de educadores y estudiantes. Proponemos una reflexión sobre la enseñanza de la geografía, destacando aspectos centrales para hacer un aprendizaje más efectivo a lo largo de las dimensiones de la vida cotidiana. Inspirado por las ideas de educación espacial de Kaercher y en el estudio que relaciona imágenes y Geografía de Oliveira Jr., definimos como Geografía Sensible el modo para aprender el espacio que valora el compartir de nuestras percepciones. Desarrollamos dos ediciones de un curso de formación para los profesores con el objetivo de promover esa Geografía Sensible a través del intercambio de saberes docentes entre educadores que trabajan en disciplinas de Geografía en las escuelas públicas de São Leopoldo, ciudad del sur de Brasil. Como conclusiones se pueden trazar tres líneas principales: primero, la Geografía Sensible parece ser eficaz, ya que a partir de las experiencias docentes, se mostraron más dinámicas e interesantes las clases en que se consideraron los entendimientos espaciales y las referencias de los estudiantes y de los profesores como centrales en términos de contenidos; En segundo lugar, el desempeño de los profesores está muy expuesto a problemas sociales, a pesar de eso, son muy capaces de intercambiar experiencias de aprendizaje de Geografía y con ello mejorar sus clases; finalmente, las herramientas tecnológicas son muy consideradas como expectativa para mejor reflejar en la enseñanza los aspectos de nuestros espacios de vivencia.

Palabras clave: Geografía Sensible, Formación de professores, Educación Visual.

INTRODUÇÃO

Este artigo resulta de uma pesquisa de doutorado em que nós, Juliano Timmers e Nestor Kaercher, produzimos um texto a quatro mãos, o primeiro na condição de orientando e o segundo na de orientador. Nossa questão fundamental era sugerir um modo de interagir com a Geografia não apenas como um conjunto de métodos fechados de ensino, mas sim como uma experiência mais aprofundada que nos permitisse delinear nossa própria concepção de mundo, descrevendo, portanto, uma ontologia. Denominamos essa maneira de abordar o Espaço Geográfico de Geografia Sensível. Atentos a essa maneira de perceber o espaço ao redor, educador e educandos se percebem mais como agentes para pensar e contemplar suas experiências cotidianas, compartilhando-as em sala de aula de maneira a refletir o espaço vivido e as dinâmicas que nos afetam. Com o intuito de estabelecer um canal de diálogo entre educadores para delinear essa Geografia Sensível, foi encaminhada junto a professores de Geografia do Ensino Fundamental do município de São Leopoldo, cidade da região metropolitana de Porto Alegre (RS), uma atividade de extensão promovida pela UFRGS que aconteceu em duas edições.

Nossa proposta de trabalho com os educadores se valeu do uso de imagens nas aulas de Geografia como temática geral a partir da qual buscaríamos destacar aspectos de aprendizagem significativos segundo a avaliação dos docentes. A partir dos relatos dos professores, buscamos trocar experiências de sala de aula nas quais o olhar geográfico colaborasse com aprendizagens mais elaboradas nas quais as referências espaciais utilizadas tivessem familiaridade com o espaço conhecido pelos educandos. Além de indicar procedimentos de ensino e modos mais promissores de interação educador/educandos, as falas dos professores com quem conversamos nos indicaram algumas das inquietações, aspirações e dos dilemas dos educadores de Geografia do Ensino Básico.

Mais do que forjar um conceito que colaborasse com o ensino de Geografia, a Geografia Sensível, nossa intenção com o presente estudo era desenvolver um espaço de conversação entre nossos pares do ensino. No âmbito desse intercâmbio docente verificamos que temos muito o que colaborar com a formação uns dos outros a partir da troca de ideias para melhor nos relacionarmos com a Geografia e o seu ensino, considerando o dinamismo e a diversidade dos espaços em que nos inserimos.

A produção espacial hoje e o ensino de Geografia

Um caminho necessário para situarmos o ensino de Geografia em nosso tempo se descreve pelas maneiras a partir das quais pensarmos o espaço geográfico na atualidade. Nesse âmbito situam-se as formas de produção espacial, o que nos liga a totalidade complexa do mundo globalizado em que vivemos. Consideramos o espaço atual a partir da abordagem de Milton Santos (2012) que o descreve a partir daquilo que o autor chama de meio técnico-científico-informacional. Nas espacialidades determinadas por essa racionalidade, as técnicas avançadas têm interligado o planeta, conectando diversos locais e dando forma a globalização, sobretudo a partir de sentidos ligados a lógica, perversa por vezes, da reprodução capitalista (SANTOS, 2017).

Compreendemos de qualquer forma que as determinações sobre o espaço encaminhadas por grupos hegemônicos não encontram liberdade irrestrita para se sobreporem a outras ordens, locais, manifestas por grupos diversos em inúmeros lugares pelo planeta. Há resistências, rugosidades no espaço e são elas que definem inclusive outras possibilidades para a globalização, de acordo ainda com Milton Santos (2017), no que concordamos com ele. As resistências estão prenhes de vivências, modos de ser, culturas locais concebidas a partir de encontros espontâneos entre diferentes culturas que se hibridizam. Os exemplos são inúmeros, talvez o principal e mais evidente para nós seja o que chamamos genericamente de cultura brasileira, na verdade um enorme amálgama de elementos culturais que incluem elementos identitários diversos. Nesse contexto, o entendimento que nos é caro, é o de espaço como formado por pontos de encontro, como locus da diversidade de culturas e povos, o que nos permite reconfigurar a partir de outros valores a globalização, de modo que aí ela

[...] não é um movimento único de acolhimento (não deve ser imaginado como uma expansão externa do ocidente e de outros centros de poder econômico através de uma face passiva de "espaço"). É um fazer de espaço(s), uma reconfiguração ativa e uma reunião através de práticas e relações de uma multiplicidade de trajetórias e é aí que reside a política. (MASSEY, 2008, p. 83)

Há uma dificuldade, política, para concebermos o espaço em que nos situamos a partir da valorização do conjunto de culturas e histórias localizadas no país. Há arranjos sistemáticos, complexos, nos quais o lugar de diversas culturas se secundariza em relação a ordens externas, principalmente as que reforçam os interesses econômicos hegemônicos. Esse processo ocorre a partir dos direcionamentos de sentido que participam do jogo social, escolhas que em seu conjunto legitimam modos de (re)ler, de adaptar histórias pessoais, familiares, definindo assim

[...] princípios que adquirem eficácia a partir de regras opacas e aparentemente impessoais, que de forma subpolítica e subliminar, condenam classes sociais inteiras ao não reconhecimento social e a baixa auto-estima e, a partir disso, à legitimação de um acesso diferencial a bens e serviços escassos. (SOUZA, 2006, p.76)

O espaço, segundo nossa proposta de leitura, se descreve assim como uma espécie de jogo no qual as forças diferentes interagem para determinar o estado da psicosfera, influenciando de modo dinâmico os sentidos dos imaginários dos indivíduos e seus grupos sociais de acordo com os interesses do grupo hegemônico.

Em um mundo marcado pelo estabelecimento de uma esfera informacional saturada de signos, se faz muito relevante refletirmos sobre linguagens, bem como o conjunto dos signos e seus significados, a partir da chamada semiótica. Para Barthes (1971) conteúdo e forma se relacionam como os pontos de uma mesma linha, o que equivale a dizer que se influenciam mutuamente. No contexto atual a forma dos signos, os meios que os propagam e as definições de seus sentidos encontram-se bastante interligados a partir de espaços de comunicação que não apenas são homogeneizados por grandes agentes midiáticos, mas também, e cada vez mais, se forjam a partir de uma miríade de produtores individualizados de conteúdos. Consideremos para dar um leito mais objetivo a nosso percurso de análise da produção espacial contemporânea algumas mudanças significativas na geografia dos meios de produção da informação.

O espaço contemporâneo se descreve muito a partir da profusão de telas, as quais são cada vez mais onipresentes como mediadoras da nossa experiência cotidiana (LIPOVETSKI; SERROY, 2009). Conhecemos as telas, principalmente, por meio dos já banalizados dispositivos móveis, os quais derivam por sua vez da renovação técnica que por mais que em termos práticos se apresente a partir de racionalidades e usos diversos, constituem um conjunto de técnicas de comunicação desenvolvida e difundida primariamente para servir de suporte às lógicas de acumulação de capital, sustentando o funcionamento do sistema econômico dominante. Como já colocamos anteriormente, não há um sentido único no âmbito da esfera simbólica, mas certamente há forças desiguais que nesse espaço se enfrentam. De qualquer forma, podemos usar nesse contexto, as especificidades da dimensão visual como meio para refletirmos aspectos espaciais na atualidade.

Há diversas discussões teóricas quanto a relação que estabelecemos com objetos visuais que se encontram disponíveis para um número cada vez mais amplo de pessoas hoje. Aos objetos visuais como as fotografias, ligam-se formas de ver. É possível dizer que há formas de ver consagradas no passado, as quais delineiam certos disciplinamentos. A forma como convencionamos nossa visita aos museus, por exemplo. Esses espaços determinaram massivamente o modo como contemplamos obras de arte. Há atualmente maneiras muito inovadoras e diferenciadas de ver, as quais se associam a técnicas e hábitos que se popularizam no século XXI, como é o caso dos óculos de realidade virtual em jogos eletrônicos (Figura 1).


Figura 1
Fotografia exibindo um óculos de realidade virtual
Juliano Timmers (2017). A simulação de ambientes artificiais renovados para experimentar o espaço.

A discussão sobre aspectos visuais, visibilidade, questões ligadas ao olhar têm tido cada vez mais destaque na Geografia contemporânea. Isso ocorre, pois a experiência banal de cada um de nós é crescentemente marcada pelo meio informacional, sobretudo a comunicação visual. Gomes (2013) destaca como a organização espacial participa das estratégias para ampliar a visibilidade das coisas. Ele destaca ainda que o fato de ver se une a uma ideia espacial que se associa a trama locacional de um plano de mirada. Podemos usar como exemplo dessa associação entre modo de ver e arranjo espacial definido, o gosto por nós desenvolvido para contemplarmos paisagens naturais. O autor salienta que os chamados belvederes são construções arquitetadas para valorizar determinados panoramas, os quais são preponderantes em certas formas de olhar e perceber paisagens. Esse aspecto não se dirige exclusivamente às paisagens naturais, ele se dá igualmente com paisagens urbanas tão marcadas pela miscelânea de arquiteturas e os excessivos outdoors.

Sinteticamente não há como explicar de forma fácil a nossa relação com o espaço geográfico atual, sobretudo através dos aspectos simbólicos/imagéticos pelos quais essa produção espacial em muito se expressa. Por outro lado, apesar da dinâmica mutação de sentidos do universo visual reproduzido diariamente, é importante salientar que há percursos delineados e objetivos, os quais podem nos conduzir para melhores entendimentos - geográficos e consequentemente sobre nossa própria existência. É notório que a relação que estabelecemos entre Geografia e imagens, torna-se menos marcada pelo entendimento das imagens do mundo e liga-se mais a noção de mundo das imagens. Não queremos dizer com isso que há difundida uma relação elaborada entre os sujeitos e as imagens. Há, certamente, um cotidiano mais marcado pela mediação com imagens, talvez como em nenhum outro momento da história humana. Do semáforo no trânsito, às cores dos fios elétricos nossa vida está repleta de imagens e elementos visuais das quais depende nosso bem-estar. A partir dessa marca é fundamental pensarmos nas implicações educativas dessa condição espacial, o que pode colaborar para redefinirmos nosso entendimento sobre o potencial do professor de Geografia nesse contexto.

Um modo de viver e ensinar o espaço geográfico, a Geografia Sensível

A partir da análise anteriormente desenvolvida buscamos delinear que o universo imagético define um outro patamar para nossas relações espaciais, as quais hoje se mostram muito mais virtualizadas, mediadas por telas e imagens nelas inscritas. Os elementos simbólicos se tornam mais presentes em nossa realidade informacional. Considerando esses fatores é importante ponderar que a dimensão educacional, sobretudo a escolar, se faça transformada por tais processos. Pensando em sugerir ideias junto a uma educação mais entronizada com os distintos modos de viver que se liga a experiência espacial de cada um, propomos a Geografia Sensível. Por Geografia Sensível entendemos tanto uma concepção ontológica, isto é, que sugere um modo de ser no mundo, como uma concepção de ensino de Geografia a qual não seccione a sala de aula e o mundo, bem como os olhares que se constituem em ambos. Segundo nosso entendimento, é bastante difícil ao professor de Geografia estabelecer uma relação de sujeito com o espaço geográfico a qual é pouco refletida na escola. A partir das bases do que chamaremos de Geografia Sensível é fundamental que o educador estabeleça uma relação dinâmica e de permanente curiosidade crítica, estética com o espaço que o envolve, decorrendo desse estado, consequentemente, que o educador instigue o educando a desenvolver a mesma postura epistemológica tanto em sala de aula como fora dela.

Essa concepção de mundo que se desdobra em práticas de ensino, reconfigura-se, sobretudo, no modo como qualificamos a Geografia em sentido amplo. Entendemos que partir da Geografia Sensível a relação do sujeito com o mundo se faz em um processo contínuo de aprendizagem em uma interação dinâmica com o meio em que vivemos.

O ensino de Geografia pode se estabelecer sobre parâmetros que nos permitam ir muito além da alfabetização cartográfica, a qual também é importante. Por que não ensinamos a Geografia como nos sugerem Kaercher e Tonini (2017) considerando aspectos como felicidade e sofrimento? Entendemos que a relação entre uma concepção ontológica e a dimensão espacial deve ter primazia para a Geografia Sensível, pois é a partir dela que serão influenciadas as práticas de ensino em sala de aula, as quais necessitarão fundamentar-se sobre abordagens que valorizem todos os nossos sentidos - entre eles conferimos destaque ao sentido da visão -, de modo que se manifestem e se reconheçam formas vivas, dinâmicas de contemplar nossa condição geográfica. Segundo Nelson Rego (2009), os aspectos ontológicos ao serem considerados junto ensino de Geografia podem qualificar aulas diferenciadas, mais relevantes. Já Kaercher sugere que:

Pensar na importância e na influência do espaço, na fisicidade das coisas e na geograficidade de nossa existência é uma das grandes contribuições que a geografia pode dar. A geografia é um pretexto para pensarmos nossa existência, uma forma de "ler-pensar" filosoficamente as coisas e as relações e influências que elas têm no nosso dia-a-dia, porque "olhar as coisas" implica pensar no que os seres humanos pensam delas. (KAERCHER, 2007 p. 16)

autor frisa o “olhar as coisas”, o que pode se converter em um “perceber aspectos da geografia de uma imagem”, que nesse sentido pode se configurar em um convite para pensarmos de modo complexo, plural e, o que é mais difícil, de forma conjunta e construtiva considerando quem temos sido e do que tem se constituído nossas relações. Um ponto importante quanto a nossa reflexão se refere ao fato do educador experimentar um olhar curioso, interessado pelos fenômenos que o cercam e levar isso como uma postura permanente que se estende à sala de aula e a qual é compartilhada com os educandos.

O autor frisa o “olhar as coisas”, o que pode se converter em um “perceber aspectos da geografia de uma imagem”, que nesse sentido pode se configurar em um convite para pensarmos de modo complexo, plural e, o que é mais difícil, de forma conjunta e construtiva considerando quem temos sido e do que tem se constituído nossas relações. Um ponto importante quanto a nossa reflexão se refere ao fato do educador experimentar um olhar curioso, interessado pelos fenômenos que o cercam e levar isso como uma postura permanente que se estende à sala de aula e a qual é compartilhada com os educandos.

É a partir dos sentidos que revelamos nossas percepções e capturamos signos que podem ser reconfigurados em nosso imaginário pessoal. Entre os sentidos a visão parece ser colocada em evidência na cultura urbana globalizada do século XXI. Por essa razão é fundamental falar a partir de pedagogias das imagens. A partir delas é possível abordar questões importantes como a dos direitos de minorias. A partir das imagens podemos discutir com maior agilidade seus sentidos/signos, os quais de pronto no sugerem questionamentos objetivos para fora das imagens uma vez que os educandos interagem muito com os textos visuais na atualidade. Nesse contexto vale considerar a abordagem de questionamentos ou de educação pelas imagens (OLIVEIRA JR, 2009), isto é, quando a própria imagem dispõe os signos que nos levam a envolver-se mais com os elementos nela inscritos, obtendo-se daí as reflexões.

O ensino de Geografia, portanto, pode refletir o entendimento de que as imagens portam geografias com as quais os educandos interagem, indo além da prática ainda convencional de que o espaço nas imagens é uma janela para o mundo (OLIVEIRA JR. 2013). Uma fotografia de Paris não reflete de modo acabado o que é a Geografia dessa espacialidade, mas sim expõe uma produção visual construída a partir dela. O mesmo pode se dizer da música produzida em um país, a qual é uma sonoridade entre tantas outras que podem ser produzidas a partir de um território definido. O importante é que as referências espaciais sejam familiares para os envolvidos no fazer de sala de aula e que a partir delas possamos repensar nosso lugar no mundo bem como obter novas experiências derivadas do convívio com o outro.

O conteúdo da Geografia nesse contexto de ensino se estabelece na relação do educando com um objeto seja ele visual ou sonoro. É fundamental compreender que o conteúdo não está no objeto em si, sobretudo por que as interpretações daí derivadas podem não ser homogêneas, mas sim múltiplas, ainda que alguns sentidos possam ser mais evidentes. Nesse ponto, entretanto, é importante pontuarmos algumas questões de ordem filosófica que delimitam abordagens diferentes sobre as linguagens, especificamente as visuais que aqui consideramos.

Autores ligados ao ensino de Geografia como Wenceslao de Oliveira Jr. contemplam imagens a partir da filosofia da diferença, do devir como propõe Gilles Deleuze. Segundo esse entendimento a ideia de sujeito se encontra em permanente diferenciação, derivando na medida em que a experiência com o mundo constantemente nos modifica, nos transforma em algo diferente. Pautamos essa perspectiva, uma vez que conferimos maior consistência ao sujeito que interage com os objetos do mundo, interpretando-os. No âmbito de nossa elaboração conceitual, os aspectos ligados a filosofia marxista se fazem mais presentes, principalmente a partir da ideia de que forjamos modos de ser a partir da existência que é nossa condição fundamental (SARTRE, 1952). Por essa razão a própria noção de sensível se diferencia. Em uma abordagem deleuzeana o sensível se refere a qualquer objeto que pode influenciar mobilizações que alteram a noção que o indivíduo tem de si mesmo. Já em uma ontologia existencialista há maior importância para o sujeito a partir de sua atividade para definir a si mesmo.

O existencialismo sartreano se caracterizou por buscar uma conciliação, difícil, entre a fenomenologia e o marxismo. Nessa conciliação os elementos radicais que marcam a influência da sociedade capitalista sobre o sujeito, cederam em Sartre espaço para aqueles elementos que justamente validam em sua filosofia a afirmação existencial do ser no indivíduo por ele mesmo (LUKÁCS, 2018). Há certamente uma fragilidade nessa concepção filosófica que não anuncia uma medida clara quanto aquilo que ignora em sua concepção dos fatores ligados ao capital e das limitações que esse proporciona como efeitos sobre as práxis influenciadas pelo existencialismo. Apesar dessas limitações, consideramos importante adequar ao entendimento da Geografia Sensível uma condição de maior destaque para aqueles que protagonizam a sala de aula na sua relação com outros sujeitos, instituições ou mesmo com agentes hegemônicos.

Finalmente da perspectiva pedagógica a Geografia Sensível valoriza as relações dialógicas como sugeridas por Freire (1996). Há nessa abordagem do pedagogo brasileiro uma necessidade do educando de se reconhecer ao longo do processo de ensino/aprendizagem no universo cultural produzido, o que possui um paralelo com o que valorizamos para o ensino de Geografia, isto é, o princípio de que se faz fundamental, segundo pensamos, que o educador e o educando se reconheçam, se identifiquem no espaço geográfico e assim o contemplem em sala de aula. Vale ainda apontar que consideramos a promoção daquilo que Morin (2000) define como conhecimento pertinente. Este se manifesta especificamente no ensino de Geografia quando os educadores propõem abordagens geográficas pautadas tanto por princípios morais ligados ao direito a vida, como pelo respeito aos outros seres humanos e demais seres vivos.

Trocando saberes e experiências entre professores de Geografia do ensino básico

Considerando os delineamentos sobre Geografia Sensível, isto é, sobre um ensino do espaço geográfico que reflita melhor as vivências de agentes de sala de aula, buscamos realizar uma atividade de extensão com professores que ministravam aulas de Geografia na rede municipal de educação de São Leopoldo, cidade da Região Metropolitana de Porto Alegre (RS). A atividade foi idealizada com o objetivo de estabelecer uma troca de saberes docentes cujo foi condutor seria o uso de imagens nas aulas de Geografia, mas o interesse maior era promover uma discussão sobre o que mobiliza aulas mais interativas e interessantes tanto para nós educadores como para os educandos. Desse compartilhamento docente buscávamos valorizar o saber didático dos professores a partir da exposição e troca de experiências significativas de aprendizagem e também analisar a partir da sala de aula aquilo que denominamos como Geografia Sensível.

É importante antes de passarmos a descrição e análise dos encontros, fazer uma pequena ressalva conceitual. Apesar de ser comum o uso do termo “extensão” (universitária), corroboramos com Freire (1983), sobre a noção de que há uma importante questão de ordem semântica por trás desse termo, a qual revela profundas implicações políticas. Nesse contexto se percebe nitidamente que o termo extensão não é o mais adequado se considerarmos uma relação educativa que se pretende dialógica, na qual todos podem educar-se uns aos outros, estabelecendo assim uma troca, um processo de comunicação facilitado entre os saberes universitários e os populares, criando sínteses. Por isso o conceito de comunicação seria o mais cabível conceitualmente quanto a atividade com os professores que pretendíamos encaminhar. É importante frisar ainda que nosso encontro não objetivava provar nossa proposta de ensino de Geografia, mas sim refleti-la a partir de um compartilhamento de saberes quanto aquilo que faz de uma aula uma experiência relevante.

Estabelecido esse preâmbulo vamos a descrição dos procedimentos. Encaminhamos duas edições dessa atividade na rede municipal de ensino de São Leopoldo - uma em fins de 2017 e outra no início de 2018 -, ambas com o suporte institucional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Ambas as edições apresentaram a mesma estrutura, dividida em quatro partes, a saber, (1) encontro inicial do educador com promotor da atividade - no caso o orientando da tese da qual deriva esse texto que também é professor de tal rede de ensino; (2) leitura de um texto de apoio, (3) encontro final com todos os professores participantes e (4) redação de um relatório com as impressões sobre a atividade.

Na primeira edição tivemos apenas três professores conosco, os quais foram convidados a participar considerando a baixa adesão de inscritos via internet. Os fatores que motivaram tal situação pareceram se descrever em função das dinâmicas de final do ano letivo, nas quais os professores tendem a estarem mais assoberbados. Outro fator se descreveu pelo desincentivo da rede municipal de educação da cidade que não abona horas dos educadores para participarem de formações. Além disso, poucos dias antes do prazo final estipulado para as inscrições, foram realizadas visitas às escolas para se estabelecer um convite direto aos educadores para participar de nossa proposta. Para nossa surpresa muitas escolas estavam sem acesso à internet ou não possuíam um professor de Geografia - utilizavam substitutos para as vagas.

Já na segunda edição, em 2018, a situação não apresentou significativa melhora quanto a adesão. Tivemos quatro inscritos, sendo dois professores remanescentes da edição anterior, os quais mostraram-se bastante entusiasmados em participar de nossas discussões. Se no ano anterior a rotina de provas e fechamentos de conceitos truncou uma maior adesão dos educadores a nossa atividade, em 2018 a greve dos caminhoneiros prejudicou o andamento da mesma, sobretudo no que se refere ao fechamento de agendas para que nos encontrássemos presencialmente ao final da atividade. Em razão dessa situação tivemos de realizar nosso contato final via Skype.

Sobre o perfil dos professores que estiveram conosco nas duas edições, podemos sintetizar que dos cinco diferentes educadores, todos possuíam então mais de quarenta anos, sendo que dois deles já possuíam mais de sessenta anos. A maioria totalizava 40 horas de trabalho semanal. Apenas um tinha formação superior em História e não em Geografia. Todos possuíam algum tipo de especialização, sendo que um concluía um mestrado e outro era graduado em outra área, o que evidenciava um perfil de profissionais familiarizados com aspectos de aperfeiçoamento no trabalho. Vale lembrar que a rede de ensino em questão possui um plano de carreira com pouco estímulo à progressão funcional para aqueles que dedicam-se a atividades de formação como a nossa de até 20 horas.

Felizmente, apesar das muitas dificuldades para o encaminhamento de nossa proposta, realizamos contatos muito proveitosos entre nós educadores. Vamos as descrições desses contatos e quais impressões tivemos deles à luz da Geografia Sensível. Como havíamos combinado com os professores, tanto na tese como no presente texto, manter-se-á os nomes dos professores em anonimato.

A primeira professora com quem se teve contato iniciou-se cedo no magistério, agregando bastantes anos de experiência no ensino de Geografia. Ela relatara ter buscado uma especialização na área de multimídias para atualizar-se. Nem todos os educadores, como ela, tiveram humildade para reconhecer que suas aulas apresentavam-se menos atrativas com a passagem do tempo. Além de constatar um problema em suas aulas, a professora teve a iniciativa de se reinventar e realçar suas aulas, criando novas metodologias, mais atrativas e mais condizentes com a situação dos educandos de hoje. Ela revelou que incrementa suas aulas com diversos instrumentos, desde um canal do YouTube até grupos no “whats” com suas turmas. Apesar de considerar a informática e por extensão a internet como meios significativos para aprendizagens, a professora revela usá-las com precaução, pois sabe que existem alguns educandos sem acesso a dispositivos móveis ou a internet, além de alguns deles ainda apresentarem pouco interesse nas propostas escolares, sobretudo em função de contingências familiares negativas que os desmobilizam em sentido amplo. A maior proximidade do trabalho dessa educadora com o que definimos como Geografia Sensível se dera quando ela expressara que nós educadores buscamos encantar nossos educandos na mesma medida em que buscamos nos encantar. Nesse sentido ela relatara ter usado em uma turma de sexto ano em aplicativo em seu celular chamado Solar Walk Lite (Figura 2). As informações sobre os planetas do sistema solar disponibilizadas a partir de imagens de computação gráfica envolveram os educandos e a própria educadora que direcionou suas aulas a partir da curiosidade gerada a partir do aplicativo.


Figura 2
Aplicativo de celular Solar Walk Lite utilizado em aula por um dos professores participantes da atividade de extensão
captura de tela de Juliano Timmers. Com tal aplicativo de celular a professora proporcionou uma aula muita atrativa para seus educandos o que os estimulou a desenvolver os conteúdos a partir do recurso utilizado.

Foi observada uma aula de um educador que trabalhava com turmas de Ensino de Jovens e Adultos (EJA) a noite. O professor utilizara fotografias que ele mesmo obtivera das formações lacustres do sul para descrever processos naturais e incentivar aos educandos para redigirem um texto sobre a relação deles com os recursos hídricos. O professor explorara com desenvoltura detalhes dessas fotos devido tanto ao conhecimento que ele tinha da área, bem como pelo fato de ser dele a produção das imagens. Essa aula envolveu o grupo, mobilizando a autoria do educador nas fotos e dos educandos no texto. A boa adesão a proposta de ensino pareceu ter dado-se em função do carisma e da experiência do educador em conduzir a aula a partir de fotografias obtidas por ele, o que chamou a atenção dos educandos do EJA que necessitam mais desse dinamismo para contraporem as muitas dificuldades que encontram para estudar. A experiência do educador em buscar o intimismo nessa aula compartilhando com os educandos suas produções fotográficas sobre paisagens locais, emulou uma proximidade afetiva que facilitou o encaminhamento de sua proposta educativa.

Um outro educador ministrava aulas de Geografia para complementar sua carga horária, uma vez que é formado apenas em História. Esse nos relatara que a atividade por nós proposta lhe ajudara muito a melhorar sua performance em uma área para a qual ele não tivera formação específica. O professor relatara que buscou trabalhar o espaço urbano em uma saída de campo com uma de suas turmas na cidade de Triunfo (RS). Lá ele propôs a análise da paisagem local, sugerindo interpretações históricas, revelando que a cidade materializa na sua paisagem presente elementos do passado. Ele sugeriu aos educandos, portanto, uma investigação por meio do olhar. Nesse sentido nos descreveu que os estudantes se espantaram ao visitar o porão de uma antiga casa grande hoje transformada em um museu. Ali descobriram que no passado aquele lugar escuro e insalubre era o espaço da casa reservado aos escravos. A aprendizagem que aliara Geografia e História mobilizou a autoria dos educandos por meio de fotografias, a partir das quais os educandos realizariam um relatório de campo. A educação pelo olhar junto ao espaço urbano revelara-se uma rica estratégia de ensino a qual os educandos poderiam desenvolver para além do seu tempo junto a escola, incorporando esse tipo de observação ao seu cotidiano. O professor ainda nos relatara que um dos aspectos muito gratificantes da atividade fora o caráter mais leve e familiar - conversa com colegas -, com o qual se dera os contatos, o que contrasta com o modelo convencional de curso de formação em sala de aula.

Também houve observação de aula dos novos professores que estiveram conosco na segunda edição. Nela o professor também expôs muitas marcas daquilo que buscamos sintetizar sob o rótulo Geografia Sensível. Primeiramente, assim como o professor do EJA, ele buscou emular em sala de aula um envolvimento afetivo. Era visível seu gosto pela Geografia, sendo a tarefa dele infundir esse envolvimento junto aos educandos - a temática era atmosfera em um sexto ano do ensino fundamental. Para atrair o interesse dos educandos, o professor se cercou de muitos recursos visuais com desenhos e vídeos que ele trouxera em seu notebook. Além disso, esse professor demonstrou muita experiência no contato com os educandos, sua fala era permeada de deixas as quais eram pontuadas por perguntas pertinentes dos educandos. O educador dominava o fator tempo para apresentar a temática de modo compreensível. Fora da sala de aula, esse educador se dissera um incentivador do uso de tecnologias na educação, mas se colocara como um crítico do modo como a escola viabiliza esses recursos. Disse ainda que se pudesse aboliria as salas de informática, pois pensa que o acesso à internet deveria estar em toda a escola por meio de um sinal Wi-Fi compartilhado.

Já outra professora busca desenvolver em sala de aula o exercício de uma interação curiosa e crítica junto ao espaço a nossa volta. A escola em que trabalha promove saídas de campo ao litoral gaúcho de modo que ela consegue propor atividades mais elaboradas a partir de suas aulas de Geografia. Ela se disse uma grande interessada em didáticas que envolvam o cinema na escola. Em um de seus relatos ela revelara que um educando lhe enviara fotos de viagem em que ele afirmou ter percebido aspectos naturais ensinados por ela na paisagem de uma reserva natural do RS quando ele passava a beira da estrada - percebeu ainda aspectos sociais com caminhões parados em função da ocasião da greve dos caminhoneiros. A professora se revelara muito entusiasmada com esse retorno do educando pois é isso que ela incentiva ser desenvolvido com sua prática, isto é, uma forma de perceber a Geografia, o que não se restringe ao tempo limitado pelas aulas e sim se incorpora a vida dos educandos no seu cotidiano. Tal entendimento descreve com clareza o que definimos como pressuposto da Geografia Sensível.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir das ideias referidas a partir da Geografia Sensível, podemos colocar que elas se definem como um referencial válido para o ensino de Geografia. Não trata-se de um receituário com um pacote fechado de metodologias. Implica mais em desenvolver condições mais amplas para perceber o espaço geográfico e a partir dessa abordagem, ensiná-lo. Como havíamos destacado, nosso objetivo junto a atividade que promovemos não era realizar uma observação de campo e com isso provar a Geografia Sensível. Buscamos promover um encontro de professores como um caminho para pensarmos juntos essa Geografia Sensível, para trocarmos experiências que a refletissem a partir do diálogo sobre nossas práticas docentes as quais se prestaram como um parâmetro de formação entre nós, os educadores de Geografia. Nesse contexto nos reconhecemos como detentores de saberes didáticos significativos oriundos de nossas experiências de vida, de nossa experiência didática. Compartilhamos saberes educativos nos quais efetivamente se refletiram metodologias diversas, mas que possuíam em comum um interesse em perceber a Geografia do nosso dia a dia, sendo essa a abordagem que incentivamos que seja referendada junto a Geografia escolar.

Como valorizamos uma abordagem geográfica que envolvesse o espaço vivido, esse modo de ensinar Geografia se conjuga às lastimáveis situações de precariedade que encontram lugar na escola pública. Aí o educador se vê pressionado por situações que tendem a fazê-lo reproduzir essa precariedade em aulas pouco elaboradas, mas que, por outro lado, podem também obrigá-lo a reinventar-se tanto no modo de perceber a sua geografia como na maneira de encarar a sala de aula e seus educandos. É também reflexo da problemática estrutural do ensino público nacional a inserção dos meios tecnológicos escolares. Considerando a primeira parte do presente artigo, é importante que o ensino de Geografia desenvolva saberes que permitam aos educandos refletir sobre suas relações com o espaço geográfico na interação com tecnologias. Essa tarefa representa um desafio pois exige práticas em que se exercite um distanciamento analítico para pensar os usos cotidianos da tecnologia, ainda que, por outro lado, os meios tecnológicos sejam cada vez mais demandamos como instrumentos didáticos que venham a colaborar com o ensino escolar.

Ainda que desenvolvam aulas muito significativas em termos de aprendizagens junto ao espaço vivido, do referido desafio citado os professores parecem estar mais ávidos para incrementar a segunda parte. Eles compreendem a tecnologia como uma condicionante espacial que nos cerca, sobretudo por meio de dispositivos que portam telas e expõem imagens. Ainda assim, é importante frisar que tais recursos não são autoexplicativos. O fato de utilizá-los em sala de aula não garante aprendizagens significativas. Por essa razão que se denota como primordial a promoção de trocas de saberes entre os docentes, de modo a ampliar nossa percepção do mundo através do entendimento do outro, eis o que incentivamos com a Geografia Sensível. A tecnologia nesse contexto é mais um meio para interagirmos com o espaço geográfico. Não queremos afirmar que os recursos tecnológicos são dispensáveis e que não incentivemos o desenvolvimento de suas infraestruturas nas escolas cuja instalação é muito diversa e por vezes aquém da esperada. De qualquer forma a aspiração para qualificar o ensino de Geografia pelo uso da tecnologia se faz louvável na medida em que venha a refletir o espaço em que vivemos e que se desenvolva através da promoção de saberes pertinentes a questões existenciais relevantes e que nos situem em mais felizes espaços de diversidade social e ambiental.

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