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GUERRA OCULTA – OPERAÇÃO KANTOKEUN
GUERRA OCULTA – OPERACIÓN KANTOKEUN
HIDDEN WAR –KANTOKEUN OPERATION
Caminhos da História, vol. 29, núm. 1, pp. 12-27, 2024
Universidade Estadual de Montes Claros

Dossiê

Caminhos da História
Universidade Estadual de Montes Claros, Brasil
ISSN: 1517-3771
ISSN-e: 2317-0875
Periodicidade: Semestral
vol. 29, núm. 1, 2024

Recepção: 28 Novembro 2023

Aprovação: 28 Dezembro 2023

Resumo: “Guerra Oculta” traduz bem a visão com a qual o Ocidental, principalmente com o advento da Guerra Fria, tratou as hostilidades envolvendo a União Soviética e o Império do Japão entra 1937 a 1945. Durante tal período dois grandiosos exércitos testaram o que havia de mais moderno em equipamento e estratégias. Lutaram na terra, céu e na água, exerceram uma diplomacia vigorosa e constituíram um dos momentos mais importantes da Segunda Guerra Mundial e seus conflitos prévios, no Extremo Oriente, somente após a derrota do Japão envolveria os Estados Unidos e o Reino Unido. A derrotada japonesa em 1939 para os soviéticos obrigou o governo de Tóquio a lutar no Oceano Pacífico desviando o foco anterior do Imperialismo/Militarismo japonês, ocasionando o fatídico ataque à Pearl Harbor. As operações soviéticas que evitaram que o Japão penetrasse na Mongólia e na URSS e freasse as suas ações na China, são até hoje largamente desconhecida, favorecendo uma visão de contenção do imperialismo japonês somente por parte de Washington. Podemos, a partir da análise do conflito levar luz a uma série de eventos centrais que orientaram os imperialismos fascistas nos anos de 1930 e 1940.

Palavras-chave: URSS, Exército Vermelho, Mongólia, Exército Japonês, Segunda Guerra Mundial.

Resumen: “Guerra Oculta” traduce bien la visión con la que Occidente, principalmente con el advenimiento de la Guerra Fría, trató las hostilidades que involucraron a la Unión Soviética y al Imperio de Japón entre 1937 y 1945. Durante este período, dos grandes ejércitos probaron lo que Allí estaban los equipos y estrategias más modernos. Lucharon en tierra, cielo y agua, ejercieron una vigorosa diplomacia y constituyeron uno de los momentos más importantes de la Segunda Guerra Mundial y sus conflictos anteriores, en el Lejano Oriente, sólo después de la derrota de Japón involucraría a Estados Unidos y a lo Reino Unido. La derrota japonesa ante los soviéticos en 1939 obligó al gobierno de Tokio a luchar en el Océano Pacífico, desviando el foco anterior del imperialismo/militarismo japonés, provocando el fatídico ataque a Pearl Harbor. Las operaciones soviéticas que impidieron a Japón penetrar en Mongolia y la URSS y detener sus acciones en China, son todavía en gran medida desconocidas hoy en día, favoreciendo una visión de contención del imperialismo japonés únicamente por parte de Washington. A partir del análisis del conflicto, podemos arrojar luz sobre una serie de acontecimientos centrales que guiaron al imperialismo fascista en las décadas de 1930 y 1940.

Palabras clave: URSS, Ejército Rojo, Mongolia, Ejército Japonés, Segunda Guerra Mundial.

Abstract: “Hidden War” translates well the vision with which the West, mainly with the advent of the Cold War, treated the hostilities that involved the Soviet Union and the Empire of Japan between 1937 and 1945. During this period, two large armies They tested what the most modern equipment and strategies were there. They fought on land, sky and water, exercised vigorous diplomacy and constituted one of the most important moments of World War II and its previous conflicts, in the Far East, only after Japan's defeat would it involve the United States and the United Kingdom. The Japanese defeat by the Soviets in 1939 forced the Tokyo government to fight in the Pacific Ocean, diverting the previous focus of Japanese imperialism/militarism, causing the fateful attack on Pearl Harbor. The Soviet operations that prevented Japan from penetrating Mongolia and the USSR and halting its actions in China are still largely unknown today, favoring a vision of containment of Japanese imperialism solely by Washington. From the analysis of the conflict, we can shed light on a series of central events that guided fascist imperialism in the 1930s and 1940s.

Keywords: USSR, Red Army, Mongolia, Japanese Army, World War II.

Origens do Conflito

O conflito Nipo-Soviético acontecido entre 11 de maio e 16 de setembro de 1939 é pouco conhecido no ocidente. Sendo inclusive, ignorado como parte da Segunda Guerra Mundial, que costumeiramente é lembrada a partir da Invasão Nazista da Polônia[1]. A Guerra Nipo-Soviética costuma ser analisada no Ocidente como um conflito fronteiriço, parte da Guerra Sino-Nipônica, iniciada em 1931 com a ocupação da Manchúria pelas forças japonesas. Essa falta de “atenção” ao referido conflito obedece ao paradigma constituído a partir da Guerra Fria de se ignorar propositalmente as ações exitosas do Exército Vermelho.

Os japoneses denominam a referida batalha de “Incidente de Nomonhan”, já os soviéticos costumam denominar o conflito nipo-soviético de 1939[2] de Batalha de Khalkhin Gol, em alusão ao Rio Khalkhin Gol que fica no Leste da Mongólia, marcando a fronteira com a Manchúria. A luta contra os japoneses em 1939 está dentro do contexto que os soviéticos denominam de “Proteção das Fronteiras Soviéticas”. Também fazem parte desse período a Guerra de Inverno (Finlândia - 30 de novembro de 1939 a 13 de março de 1940) e a ocupação do Irã em parceria com os ingleses na data de 25 de agosto de 1941. Essas operações visavam impedir que o Eixo criasse “cabeças de pontes” para violar o território soviético, levando-os a lutar uma guerra em duas ou mais frentes.

O Pacto Anti-Komintern, assinado em 25 de novembro de 1936 pelo Japão e pela Alemanha, aumentou a preocupação do governo soviético com relação as suas fronteiras, já que a presença japonesa na Manchúria assinalava que o desejo de Hitler em destruir a União Soviética estava mais perto, com a parceria firmada entre Tóquio e Berlim. Além do perigo da guerra em duas frentes, estava em debate no governo soviético, a fragilidade das suas defesas no Oriente, onde a baixa densidade populacional e debilidade de alguns componentes das suas forças militares eram motivo de preocupação de Moscou.

O nome de “Guerra Oculta” faz jus ao referido objeto em questão, já que no Ocidente se ignora não só a referida batalha, como também as táticas empregadas e as questões diplomáticas envolta desse fato. A importância da Batalha de Khalkhin Gol para o STAKVA[3] pode ser medida pelo seu comandante, ninguém menos que Gueorgui Konstantínovitch Júkov, foi o destacado para comandar a defesa da região e impedir a todo custo que os japoneses avançassem para dentro das fronteiras soviéticas, forjando qualquer tipo situação, que favorecesse a aproximação dos nazistas pelo Oeste.

O império japonês começou analisar a viabilidade de se apoderar da Sibéria e do Extremo Oriente Soviético ainda em 1918. A Guerra Civil Soviética[4], que visava desestabilizar o governo soviético recém constituído, assim como, dividir e anexar partes do que foi o antigo Império Russo. Os japoneses como parte dessa força invasora, apostavam na excelente oportunidade para expandir suas fronteiras mais para o Oriente. Em 1905 já havia se apoderado de um conjunto de ilhas russas no Oceano Pacífico.

No início de 1920, as forças de ocupação japonesas na União Soviética contavam com mais de 100 mil homens. Esse poderoso exército enfrentou uma forte oposição, não só pelas forças regulares soviéticas, mas também pelo movimento de guerrilheiros soviéticos. Com a vitória política e militar dos bolcheviques diante dos Exércitos Brancos a partir de 1921 e a pressão diplomática das potências ocidentais, a ocupação japonesa passou a ficar insustentável.

No entanto, Tóquio não esqueceu sobre esses planos após o fracasso da Expedição Siberiana. Ao longo da década de 1920, o Estado-Maior das Forças Terrestres do Japão Imperial continuou a desenvolver planos de guerra contra a União Soviética. “O Japão deve avançar pelo menos até o lago Baikal, considerar as províncias do Extremo Oriente uma parte do seu Império e criar assentamentos militares na região por muitos anos”, disse, em 1931, o adido militar da embaixada japonesa em Moscou, Tenente-Coronel Kasahara Yukio (PALACIOS, 2020, p. 12).

Depois que os japoneses capturaram a Manchúria (parte nordeste da China), em 1932, o desejo de tomar partes da União Soviética e da Mongólia voltou a fazer parte do plano expansionista do imperador Hirohito. Dessa região, os japoneses passaram a planejar o assalto à URSS a partir do território mongol, onde teriam posição ainda melhor para atacar a URSS. Para tanto, o Comando japonês na região, deu início a construção de aeródromos e ferrovias que levavam à fronteira soviética. Assim como, iniciou toda uma preparação tática das tropas estacionadas na região visando combater o Exército Vermelho. As tropas japonesas na região eram denominadas de Exército de Kwantung, considerado uma unidade de elite dentro das forças imperiais japonesas, teve Hideki Tojo como seu comandante.

Os soviéticos perceberam que a entrada do Japão na Manchúria era demais ameaçadora, por isso, empreenderam um plano de fortalecimento de suas defesas fronteiriças em parceria com o governo mongol. Foram construídas estradas, depósitos de armas e aeródromos. Além de todo apoio técnico e material para o exército mongol. Os soviéticos tinham clareza que o isolamento diplomático que lhe era imposto pelo Ocidente, favoreceria o avanço japonês contra as suas fronteiras. Por isso, os soviéticos estabeleceram um plano defensivo em paralelo com um ofensivo, que visava não só deter qualquer intento japonês, mas também criar condições que impedissem os japoneses de manterem a sua capacidade ofensiva ativa (MINASÍAN, 1975, p. 18).

Os japoneses liderados por Hideki Tojo chegaram a ter 700 mil homens no Exército de Kwantung no período de 1937 a 1941, momento de maior tensão com os soviéticos. O conceito que Tojo defendia era o de “Guerra Total”, onde toda a capacidade da nação seria disponibilizada para uma luta com todos os meios. Isso ficou claro na Ordem 1.488 de 25 de abril de 1939, que falava da necessidade de se iniciar um conflito com a URSS, para derrotá-la, afastando assim, toda e qualquer ameaça no Noroeste Asiático (PALACIOS, 2020, p. 12). Tanto o Japão quanto a União Soviética empreendiam uma política profunda na área de Defesa. As duas nações estavam voltando todos os seus esforços nacionais para a construção de poderosas forças armadas e o estabelecimento de doutrinas militares para toda a população, em preparação para um ambiente de guerra geral.

Os soviéticos desde 1936 mantinham na região 16 divisões, 1200 aviões e centenas de carros de combates, o que no primeiro momento perecia um grande contingente, era visto por Moscou como insuficiente, devido à grande extensão da região a ser patrulhada. Os soviéticos naquele momento utilizavam a “Teoria da Guerra em Profundidade”, que visava ataques rápidos e contundentes a fim de inutilizar a capacidade logística do inimigo, comprometendo a sua retaguarda. Logo os soviéticos iniciaram ações de inteligência para entender o tamanho e o tipo das forças japonesas, conhecendo e suas rotas e a sua capacidade de mobilização. Os japoneses em contra partida, utilizavam a sua experiência sobre o terreno para conhecer detalhes do Exército Vermelho, chineses de foram recrutados como espiões, formando uma grande rede de informação em favor dos nipônicos.

Com a conjuntura internacional ao seu favor, os japoneses iniciaram as hostilidades contra a União Soviética ainda em 1937. Em 30 de junho, eles lançaram um duro ataque contra um conjunto de embarcações soviéticas que transitavam no Rio Amur[5]. O que mais chamou a atenção dos soviéticos foi o assassinato de marinheiros que nadavam para as margens e estavam desarmados, depois que suas embarcações foram destruídas. Ao todo, 37 soviéticos foram mortos e 5 barcos afundados, outros ficaram seriamente avariados. O ataque foi uma resposta japonesa a ocupação soviética da Ilha de Kanchaztu, que era contestada pelos soviéticos a muito tempo. Os japoneses acreditavam que tal ação, iniciaria a tão esperada guerra contra a União Soviética, mas o governo soviético decidiu usar a diplomacia. A partir de uma rodada de negociações com Tóquio, Moscou decidiu entregar a ilha aos japoneses e dar o assunto como encerrado.

A resposta soviética foi dada pelo incremento do apoio a resistência chinesa. A partir desse conflito, os soviéticos entenderam que a melhor maneira de desgastar os japoneses era auxiliar a luta dos chineses. As cifras do apoio soviético aos chineses chegaram a 300 milhões de dólares ao final de 1937. Esse valor foi usado na aquisição de armamentos dos próprios soviéticos, de 1937 a 1939, foram mais de 900 aeronaves soviéticas vendidas aos chineses (PALACIOS, 2020, p. 26). A Segunda Guerra Sino-Nipônica teve início em 1937 (KULKOV, 1984, p. 53), com o famoso “Incidente da Ponte Marco Polo”[6], onde uma pequena escaramuça entre tropas japonesas e chinesas virou uma invasão em larga escala por parte dos japoneses. O conflito na verdade teve início em 1931, quando o Japão invadiu a China e anexou a Manchúria[7]. Em 1937, ele voltou porque os japoneses esperam qualquer motivo para avançar contra as regiões centrais da China, o pequeno período de trégua, nunca foi realmente seguido pelos nipônicos.

Com o prolongamento dos conflitos na China e o avanço do fascismo na Europa, os soviéticos viram a necessidade de tomar medidas que evitassem uma guerra em duas frentes, nesse sentido, os soviéticos em acordo com os mongóis, penetraram na província Sinkiang. Isso despertou mais uma vez os japoneses, que já se mostravam insatisfeitos com o apoio de Moscou a Chiang Kai-Shiek e os vários pequenos conflitos que aconteciam a cerca de um ano contra as tropas soviéticas-mongal na fronteira da Manchúria. No dia 9 de julho de 1938, as forças soviéticas do Exército do Extremo-Oriente partiram para conquistar o Monte Changkufeng, estratégico ponto da região.

O Monte Changkufeng, de 1150 metros, estava a cerca de 5 km ao norte do ponto fronteiriço soviético com a Manchúria e a Coreia. O controle desse enclave, entre os Rios Tyumen (ao Oeste) e o Lago Khasan (a Leste), garantia o domínio total da região. Para os japoneses, essa elevação permitia controlar a Ferrovia Rashin-Hsinking, principal via de comunicação entre o Reino de Manchukuo e o Norte da China e também, lhe oferecia um ponto estratégico para ameaçar a Baía de Poset[8], 10 km ao sul de onde os soviéticos construíram um estaleiro de submarinos. Para os soviéticos, o controle de Changkufeng garantia a defesa de Vladivostok, área do Oceano Pacífico vital para o comércio soviético. Os soviéticos denominaram o referido conflito como “Batalha do Lago Khasan”[9] e os japoneses denominaram de “Incidente de Changkufeng”.

O ataque soviético à Changkufeng pegou os japoneses em uma situação delicada, já que o grosso de suas forças estava empenhada na conquistas das cidades chinesas de Wuchang, Hayang e Hankou (PALACIOS, 2020, p. 28), importante eixo de comunicação Norte e Sul da China. Deu-se a partir desse momento um longo e duro debate entre os militares japoneses do Kwantung e o Alto Comando em Tókio, os primeiros exigiam um contra-ataque imediato, porque entendiam a ofensiva soviética como o início de uma grande operação de guerra. Já o imperador Hirohito e seus conselheiros militares, temiam atacar os soviéticos sem um preparo prévio, coisa que só poderia ocorrer a partir do fim das operações na Região Central da China.

Depois de consultado, o imperador japonês em 20 de julho, deu a sua palavra, proibido qualquer ação e ordenando aguardar a ação da diplomacia, que já se encontrava em conversa com os soviéticos. Tal decisão gerou muita inquietação entre os militares japoneses do Exército Kwantung, como também nos do Exército Chosen[10], a mais poderosa unidade na região. Houve inclusive, ameaças de rebelião e de desafio à ordem do imperador. Aproveitando-se dessa vacilação japonesa, os soviéticos estenderam a ofensiva em direção ao Norte de Shachaofeng, cerca de 2,5 Km de Changkufeng. Essa ação foi tratada como uma provocação pelos japoneses, que contrariando as ordens do imperador, atacaram a posição no dia 29, que foi tomada depois de uma batalha brutal, onde o contingente soviético foi todo aniquilado.

Na mesma tarde os soviéticos responderam atacando os japoneses que haviam reconquistado Shachaofeng, duas companhias do 119º Regimento de Infantaria Soviética contra-atacaram com fúria o 75º Regimento de Infantaria Japonês. Mesmo reforçados com blindados, os soviéticos tiveram dificuldade para desalojar os japoneses, que havia incrementado a posição com canhões. Depois de quase dois dias de lutas incessantes, os soviéticos ainda não tinham conseguido avançar. Rechaçada a ação soviética de reconquista de Shachaofeng, o Comando Japonês decidiu assaltar o Monte Changkufeng e concluir a vitória. Depois de violentos choques, os japoneses estavam de volta.

Os japoneses aproveitando a escuridão da madrugada do dia 31 de julho cruzaram silenciosamente o Rio Tyumen, penetrando nas primeiras posições defensivas dos soviéticos, gerando confusão na linha do Exército Vermelho. O combate se transformou em uma carnificina, devido ao corpo-a-corpo, que se prolongou durante toda a noite. Nas primeiras horas da manhã, os japoneses conseguiram se impor e dominaram totalmente a situação, infringindo mais uma derrota aos soviéticos. O Comando Japonês deu ordem para se realizar uma cerimônia e hastear a bandeira do “Sol Nascente” ao meio dia no alto do Changkufeng (PALACIOS, 2020, p. 31).

No dia 1 de agosto, o Comando Soviético iniciou as tratativas para reverter a derrota. Em Khabarovsk, QG do Exército Vermelho na região, o General Grigori Shtern, veterano da Guerra Civil Espanhola ordenou um contra-ataque eminente. No mesmo dia, o General Shtern lançou a primeira ofensiva com cerca de 3 mil homens contra Changkufeng, sentido a pressão do Exército Vermelho, o Alto Mando Japonês decidiu enviar para a região a 19ª Divisão de Infantaria. Depois de quase três dias de duros combates, os soviéticos decidiram usar seus aviões bombardeiros para apoiar a infantaria.

A Força Aérea Vermelha foi paulatinamente destroçando as forças japonesas, que não conseguia se defender tão bem no ar, onde os caças soviéticos sobressaiam na caça e na escolta dos bombardeiros, em pouco tempo os japoneses foram perdendo a capacidade defensiva em terra, e os soviéticos passaram a avançar. Para piorar a situação dos japoneses, os soviéticos deslocaram para a área uma força artilheira muito maior do que a dos japoneses, dando com isso, mais vantagens para a escalada da infantaria soviética. A situação extremamente grave dos defensores do Monte Changkufeng logo chegou a Tóquio, que decidiu apelar para a diplomacia, enquanto tentava reforçar as suas defesas. No dia 10 de agosto de 1938, os embaixadores do Japão e da União Soviética, chegaram a um ponto de acordo e declaram um cessar fogo.

Esse cessar fogo permitiu aos japoneses se retirarem “com honra”, já que não precisaram se render e nem recuar. Contudo, tiveram que se deslocar para a margem Oeste do Rio Tyumen, criando uma nova fronteira entre os dois contendores. Os soviéticos além de terem ampliado o seu território com a conquista do Eixo Changkufeng – Shachaofeng, que além de extenso era importante estrategicamente, também recobraram a moral combativa frente os nipônicos, sentindo-se vingado do ataque sofrido em 1937, onde não pode reagir.

O governo soviético analisou que a paz foi um bom negócio, já que a Oeste, mais precisamente na Europa Ocidental, as condições políticas estavam se deteriorando com o avanço nazista. Em final de setembro de 1938, a União Soviética sofreu um duro golpe com os Acordos de Munique, que os soviéticos passaram a chamar de “Traição de Munique”, onde as potências ocidentais, em especial Inglaterra e França, permitiram que Hitler avançasse em direção ao Leste, anexando territórios e se aproximando da fronteira soviética. Quebrando toda a política de segurança edificada nos últimos 10 anos, principalmente com a Tchecoslováquia, com quem os soviéticos firmaram um pacto de proteção mutua. Com a destruição desse jovem país, o pacto desaparecia e a fronteira soviética ficava diretamente exposta diante dos fascistas.

Os soviéticos entendiam que desde a anexação da Áustria pelos nazistas em março de 1938, passando pela anexação dos Sudetos, Boêmia Moravia, Silencia e Primeira República Tchecoslovaca em outubro desse mesmo ano, eram ações que facilitavam o transito das tropas fascistas do Pacto Anti-Kominter em direção ao Leste Europeu, ameaçando diretamente a União Soviética, que estava também, envolvida na defesa das suas fronteiras orientais, correndo o risco de ser pega em uma guerra em duas frentes (KULKOV, 1984, p. 51).

Os soviéticos tinham preocupações adicionais no Oriente, mesmo com o exército japonês em luta contra os chineses, sua capacidade combativa se elevava. A economia japonesa seguia valorizando a industrialização e perseguindo o abastecimento de matérias essenciais para a sua máquina de guerra. Nesse sentido, os Estados Unidos tiveram um grande papel, já que foram parceiros comerciais do Japão durante todo o tempo de agressão nipônica à China. A exportação de produtos estratégicos aumentou em 83% durante os seis meses anteriores à invasão japonesa à China, essa parceria só foi encerrada em 1941, quando do ataque japonês à Pearl Harbor.

Durante o ano de 1937 os Estados Unidos exportaram para o Japão mais de 5,5 milhões de toneladas de petróleo. Além disso, houve também crescimento no fornecimento de material militar. Em 1939, comparativamente a 1938, foi dada ao Japão, a possibilidade de comprar dos Estados Unidos 10 vezes mais sucata de metal. Washington também forneceu à Tóquio novos tornos para as fábricas de avião, no valor de 3 milhões de dólares. Países como Inglaterra e França, também incrementaram seu comércio com o Japão nesse período (KULKOV, 1984, p. 55).

A ameaça japonesa na região estava sendo mapeada desde 1936, quando o governo soviético assinou um tratado de amizade com a Mongólia, colocando-a baixo a sua proteção (ZHUKOV, 1969, p. 194). Contudo, os conflitos nos de 1937 e 1938, fizeram com que os soviéticos aumentassem a sua vigilância da região e também auxiliasse na preparação das forças mongóis. No dia 1 de novembro de 1938, unidades mongóis que patrulhavam a fronteira com o Manchúria, atacaram três soldados japoneses, matando dois e ferido um, que conseguiu retornar a sua base. Foi a partir desse incidente, que os japoneses, já insatisfeitos com o ocorrido em Changkufeng meses atrás, resolveram expedir uma ordem: “Princípios para a Solução das Disputas Fronteiriças entre os Soviéticos e Manchukuo”. Onde se autorizava a qualquer soldado japonês a atacar sem ordens, quem cruzasse a fronteira (PALACIOS, 2020, p. 38). Tal situação acirrou de vez os ânimos e passou a ser visto pelos soviéticos como um estado de guerra.

A Guerra Total em ambos os lados

Os soviéticos preparam o seu 57º Exército para operar em profundidade e escalar as ações no âmbito da “guerra total” (RZHESHEVSKI, 1979), era preciso deter a capacidade japonesa de guerrear, caso contrário, não seria possível lutar à Oeste contra as forças fascistas. Para tanto, os soviéticos reforçaram o seu exército na região com o que tinha de melhor, projetistas, pesquisadores e cientistas foram mobilizados para analisar o material inimigo e apresentar soluções rápidas, caso o material bélico soviético não fosse compatível. Boa parte da produção agrícola da região (Mongólia e URSS) foi direcionada a abastecer as forças soviéticas na região. O STAVKA foi orientado a priorizar a guerra com o Japão, para tanto, Jukov foi nomeado Comandante das forças do Extremo Oriente, com plenos poderes para angariar todos os meios civis e militares para a vitória.

Os japoneses tinham objetivos claros: Cerca e destruir as tropas mongol-soviéticas a leste do Rio Khalkhin Gol; Cruzar o Rio em direção a sua margem ocidental a fim de abater as reservas soviéticas; Tomar e ampliar a cabeça de ponte a oeste do Rio Khalkhin Gol, visando operações posteriores. Essas ações deveriam ser iniciadas na primeira metade de julho e serem concluídas no início do outono, com as tropas nipônicas dentro do território mongol (ZHUKOV, 1969, p. 198). Havia instruções rígidas para que se evitasse lutar no inverno, as condições climáticas eram muito extremas, por isso, o calendário precisa ser cumprido.

Como determinando por Tóquio, as forças japonesas passaram a intensificar a vigilância das fronteiras, às forças mongóis que patrulhavam a fronteira e frequentemente postavam-se dentro do território chineses tinham que ser detidas, ações como essas, poderiam ser o prenuncio de uma nova invasão em larga escala. Na noite entre 10 e 11 de maio de 1939, unidades japonesas detectaram uma patrulha mongol no povoado Nomanhan, de imediato iniciaram um ataque. Os mongóis respondem o fogo e o Comando Japonês decidiu transferir para a região um contingente maior para apoiar as suas forças em Nomanhan. Atentos a movimentação japonesa, os soviéticos também resolveram apoiar os seus companheiros da República Popular da Mongólia, enviando tanques, aviões e cavalaria.

Entre os dias 17 e 20 de maio, uma série de combates aéreos tomaram os céus da região, onde soviéticos e japoneses passaram a duelar. Nesse momento, a concentração de tropas soviéticas eram maiores e mais bem armadas do que as japonesas na região da Ponte de Kawatama, cerca de 65 km a noroeste de Nomanhan. No dia 28 os japoneses decidiram avançar em direção às tropas soviéticas no Rio Khalkhin Gol. No dia 29, os soviéticos demonstraram a sua enorme superioridade militar com o uso de canhões e tanques que os japoneses não podiam deter, devido a defasagem de suas armas. Os japoneses diante de tamanho revés utilizaram a sua “Carga Banzai”[11], plenamente neutralizadas pelas metralhadoras soviéticas. Todas as táticas acumuladas nos anos de luta contra os chineses estavam sendo desmontadas pelos soviéticos.

Essa primeira Batalha de Nomanhan terminou no dia 29 de maio de 1939, com uma retirada total das forças japonesas. A humilhação foi grande, já que o número de mortos e de perdas materiais por parte dos japoneses foi surpreendente para o Comando Nipônico, que acreditava em uma vitória arrasadora na Vila de Nomanhan e também nas margens do Rio Khalkhin Gol. Tal coisa levou a ampliação da presença soviética e mongol no Oeste da Manchúria e uma inflexão nas forças japonesas. Contudo, ambos os governos (japonês e soviético), tinha interesse em adiar a escalada do conflito. Havia um interesse mutuo de se prepararem melhor a partir da concentração de mais forças na região.

Os líderes do Exército de Kwantung, não concordavam com a pausa e exigiam de Tóquio o direito de lutarem até a morte. O descontentamento com a maneira que o Alto Comando Imperial estava tratando a guerra com os soviéticos gerava uma série de descontentamento entre os oficias do Kwantung. O interesse belicista de avançar sobre a Mongólia derrotando os soviéticos foi maior. Isso ensejou a uma série de combates aéreos entre as referidas forças no final de junho. E também muitas escaramuças nas linhas de contato entre os dois exércitos na fronteira, que nunca fora bem definida.

Depois de muita pressão dos líderes do Kwantung sobre o Comando Militar Japoneses em Tóquio, o mesmo decidiu aprovar um plano de ataque que retomasse Nomanhan, restabelecesse as fronteiras de Manchukuo e colocasse fim a ameaça de soviéticos e mongóis. No dia 1 de julho de 1939, os japoneses reuniram uma força de 15 mil homens e atacaram os soviéticos nos arredores do Monte Bain-Tsagan, depois de terem cruzado silenciosamente o Rio Khalkhin Gol. O ataque em profundidade dos japoneses foi detido pelos soviéticos, entretanto, um segundo contingente nipônico atacou pelo outro lado do Rio Khalkhin Gol. Que também foi detido pelos soviéticos, que mostraram a superioridade de seus blindados e artilharia, fazendo os japoneses passarem para a defensiva.

No dia 3 de julho, as forças japonesas comandadas pelo General Komatsubara, tiveram que se retirar baixo ataque violento da aviação soviética. Os japoneses fugiram para a margem Leste do Rio Halha devido ao perigo de cerco. A retirada nipônica da face oriental do Monte Bain-Tsagan se tornou uma tragédia, tamanha as perdas sofridas. No dia 5, os japoneses concluíram a sua retirada, deixando muitos soldados e equipamentos destroçados no caminho. O único lugar onde os japoneses conseguiram fazer frente aos soviéticos, foi no céu, onde os soviéticos Polikarpov I-16 travaram uma luta icônica contra os japoneses Nakagima Ki-27.

A ação em profundidade com emprego combinado de tanques, tropas motorizadas, aviação e artilharia móvel (autopropulsada), foi uma tática usada por Jukov naquele momento. A mesma tinha componentes inovadores, principalmente o emprego de forças blindadas em grande quantidade ladeadas pela infantaria. Tal coisa se tornou uma característica de Jukov, um oficial de cavalaria que se tornou um entusiasta da arma blindada (PALACIOS, 2020, p. 60). No dia 7 de julho, os japoneses atacaram novamente, desta vez iniciaram com um violento bombardeio aéreo noturno, pegando os soviéticos de surpresa. Utilizaram unidade de engenharia para destruir as pontes soviéticas sobre o Rio Khalkhin Gol, visando cortar o seu abastecimento.

Os japoneses sentiram o bom momento e intensificaram o ataque com forças de infantaria e cavalaria, foi quando os soviéticos atacaram com tanques BT-7 escoltados por uma forte força de infantaria e apoiados por um grupo de artilharia móvel. Tal ação, escrutinada por Jukov teve um impacto devastador entre as tropas imperiais japoneses, que foram desbaratadas e cercadas, o número de baixas cresceu em uma velocidade espantosa, levando o General Komatsubara a suspender o ataque e se retirar do campo de batalha. O uso avançado de blindados por parte dos soviéticos, já apontavam para uma tendência que seria confirmada durante a Segunda Guerra Mundial na Europa.

Cada vez mais tropas chegavam ao Rio Khalkhin Gol, tanto soviéticas, quanto japoneses. Isso levou a uma escalada gigante na região, com o envio para a frente de combate o que possuam de melhor em material bélico os dois países. Cada vez mais, se tinha noção de que não se tratava de um conflito fronteiriço, como muito tempo o Ocidente tratou o conflito nipo-soviético. Os japoneses possuíam um plano claro de dominar a China, a Mongólia e parte oriental da União Soviética e esse desejo fazia sim parte de um contexto maior, que envolvia as forças fascistas que evoluíam em direção à URSS. Isso foi confirmado quando do conhecimento da Operação Kantokeun[12].

No início de agosto de 1939, o Japão tinha suspendido toda e qualquer operação contra os soviéticos. Havia a necessidade de avançar nas regiões norte da China, a prioridade era avançar na conquista de matérias primas essenciais para a máquina de guerra japonesa. Nesse sentido, os japoneses tentaram contatos diplomáticos com Moscou, para obter uma solução para o conflito. Os interlocutores soviéticos negaram qualquer tipo de contato, a ordem do governo soviético era resolver o problema imediatamente no campo de batalha e afastar de vez a ameaça nipônica das fronteiras da Mongólia e da União Soviética. Josef Stálin solicitou de Jukov um plano de ação, algo que estabilizasse a frente de batalha do Oriente em favor dos soviéticos (PALACIOS, 2020, p. 62).

Entre os dias 7 e 8 de agosto de 1939, os soviéticos fizeram uma série de ações pequenas na margem oriental do Rio Halha, o objetivo era ampliar a cabeça de ponte e sondar as forças japonesas. Entre 19 e 20 do mesmo mês, uma avalanche de tropas soviético-mongóis nas margens do Rio Khalkhin Gol. A ideia era produzir outro ataque em profundidade. No dia 20 de agosto de 1939, os soviéticos iniciaram a sua ofensiva. Com 150 bombardeiros e 100 caças, os soviéticos atacaram toda a extensão das linhas japonesas, que ficaram completamente atônitos, demorando inclusive a organizar uma resposta. Jukov comenta que o ataque aconteceu em um domingo, onde os japoneses sem suspeitarem de nada, derem descanso para vários de seus homens (ZHUKOV, 1969, p. 209).

Em seis dias de batalha, as forças japonesas foram cercadas e aniquiladas na região de Nomanhan. A ação soviética levou ao desmantelamento do 6º Exército Imperial Japonês[13], durante os dias 27 e 28, os japoneses fizeram um esforço hercúleo para romper o cerco, causando muitas baixas na infantaria soviética, contudo, não conseguiram dar um passo, as poucas tropas que escaparam fizeram de maneira desordenada e individualmente. Jukov ordenou que de imediato a aviação de bombardeio atacasse todo o interior do anel com força máxima, os japoneses deveriam ser batidos. Não tendo outra opção, os japoneses que estavam fora do cerco, começaram a abandonar o campo de batalha em uma fuga desesperada. No dia 30 de agosto, o 6º Exército Japonês deixou de operar, sendo considerado derrotado e deixando de existir. Envergonhado com a derrota, o General Komatsubara[14] pediu a sua aposentadoria no início de 1940.

A partir da aniquilação das forças japonesas na região de Nomanhan, o governo nipônico se apressou em contatar diplomaticamente Moscou. Temiam os japoneses que os soviéticos empreendessem novos avanços. Por isso, o Ministro do Exterior Japonês Yosuke Matsuoka foi à Moscou, a partir de então, realizou uma série de encontro com seu colega soviético Viatcheslav Molotov. Essas reuniões resultaram no compromisso japonês de aceitar a fronteira reclamada inicialmente por soviéticos e mongóis e também respeitar um acordo de paz. O tratado definitivo foi assinado em 13 de março de 1941 (Pacto de Neutralidade Soviético – Japonês).

É necessário observar que essa foi a maior derrota da história do Japão moderno até então. Teve um impacto grande em todo mundo a vitória soviética sobre o Japão, ainda mais em um ambiente onde a guerra perigava ser a política global. Os soviéticos tiveram outra vitória, no mês de agosto de 1939, quando da assinatura do “Pacto de Não Agressão Alemão – Soviético”, firmado no dia 23. Podemos inclusive, questionar se esse Pacto seria assinado, caso os soviéticos tivessem sido derrotados pelos japoneses e as condições na Fronteira Oriental estivessem em degradação. O Exército Nipônico era visto como grandioso e invencível, a sua derrota foi interpretada por todos como um grande feito, elevando a moral dos soviéticos diante de todo o mundo.

Durante o ano de 1940, os japoneses pensaram em reorganizar o Exército de Kwantung, de engrossá-lo com mais 300 mil homens e uma série de veículos blindados, além de uma nova e poderosa cavalaria. Contudo, a falta de matérias primas, principalmente petróleo, fizeram com que Tóquio desistisse dos planos. Os setores mais belicosos do Exército Japonês, sonhavam em retornar a luta contra os soviéticos e contavam com esse reaparelhamento de suas forças em Manchukuo. Contudo, o governo japonês não possuía planos para o Noroeste Asiático, a sua ideia era se expandir para o Sudeste, onde abundavam algumas das mais importantes matérias primas.

O Plano Kantokuen, que foi muito comentado na época, significava um acrônimo de "Kantokuen", de (Kan togun Toku shu En shu), ou Manobras Especiais do Exército de Kwantung. Elaborado em 1940 pelos setores mais radicais do Exército Japonês, contava com o apoio de Hideki Tojo e tinha como o seu principal defensor o General Tanaka[15]. Era edificado da seguinte forma: A fase inicial previa um ataque contra Primorye que seria seguido por outro ataque ao Norte contra Blagoveshchensk e Kuibyshevka. No segundo momento, uma penetração na fronteira ao sul do Lago Khanka para superar as principais linhas defensivas soviéticas e ameaçar Vladivostok. Simultaneamente, um ataque ao sul de Iman (agora Dalnerechensk) para completar o isolamento da Província Marítima, deveria se cortar a Ferrovia Transiberiana e bloquear qualquer reforço que chegassem do norte. Assim, imaginava o Exército Japonês estrangular as forças soviéticas na região e controlar a Baía de Amur, ponta chave para uso da frota naval japonesa.

No norte da Manchúria, o objetivo era manter a linha do Rio Amur antes de fazer a transição ofensiva contra Blagoveshchensk. Enquanto isso, forças adjacentes, forçariam o passo em direção às Sacalinas, tanto na parte terrestre quanto na marítima. Caso a primeira fase fosse exitosa, deveria ser posta em prática uma segunda etapa, que incluía a captura de Khabarovsk, Komsomolsk, Skovorodino, Sovetskaya Gavan e Nikolayevsk. Além disso, operações anfíbias contra Petropavlovsk-Kamchatsky e outras partes da Península de Kamchatka. O imperador Hirohito chegou a dar o seu consentimento para a aplicação do plano, contudo, a conjuntura da guerra na União Soviética, o fez cancelar a execução em setembro de 1941.

Por mais que o governo japonês estivesse visando outros objetivos na Ásia, o pacto que fazia parte junto com Alemanha e Itália (Eixo) lhe cobrava compromissos. Hitler insistiu durante toda a fase preparatória da Operação Barba-Ruiva[16], que o governo japonês se juntasse a ele, atacando novamente a União Soviética na fronteira oriental em apoio ao ataque alemão. Ribbentrop[17] solicitou ao embaixador alemão em Tóquio Eugen Ott, que discutisse com os japoneses uma operação do Exército de Kwantung contra Vladivostok, seguindo de um avanço para o Oeste da Ásia. Contudo, os objetivos japoneses eram outros. Em julho de 1941, com a Invasão à União Soviética evoluindo, o próprio Adolf Hitler decidiu pressionar os japoneses, procurou o embaixador nipônico em Berlim Hiroshi Oshima, para solicitar que o Exército de Kwantung fizesse uma operação em larga escala contra os soviéticos, em troca, oferecia um grande apoio logístico e operacional na luta contra os estadunidenses (PALACIOS, 2020, p. 72).

Com o fracasso da Operação Barba-Ruiva e especialmente o insucesso da Operação Tufão[18], as solicitações de Hitler junto aos japoneses foram aumentando, ao passo que o desejo japonês de lutar contra a URSS, diminuía cada vez mais. Os japoneses só voltaram a falar sobre a União Soviética em 1942, quando o Ministro japonês Hideki Tojo afirmou que a vitória alemã em Stalingrado mudaria as relações nipo-soviéticas (PITILLO, 2014, p. 42). Tojo um fanático anticomunista ansiava para se vingar dos soviéticos, contudo, como em Nomanhan em 1939, a Stalingrado de 1942, foi novamente lugar de uma grande vitória do Exército Vermelho.

Os soviéticos voltaram a lutar contra o Japão em 1945, quando da Operação Tempestade de Agosto, a operação de limpeza da Manchúria aconteceu de 9 a 20 de agosto, onde mais uma vez soviéticos e mongóis lutaram contra forças de elite do Império Japonês. A batalha envolveu cerca de 1,5 milhões de soviéticos e mongóis de uma lado e 1 milhão de japoneses do outro. Como em 1939, os comunistas lançaram ações em profundidade com uso combinado de vários meios. A retumbante vitória soviética libertou a Manchúria e também a Península Coreana, abalando todas as possessões japonesas na Ásia continental.

Abalado pela perda da parte principal de seu exército para os soviéticos, cercado por forças anglo-estadunidenses no Oceano Pacífico, atacado com duas bombas atômicas e vítima de uma série de ações guerrilheiras de nacionais que lutavam contra as anexações japonesas, o imperador Hirohito não teve escolha a não ser se render em 2 de setembro de 1945. Os soviéticos aproveitaram para recuperar também as Ilhas Curillas, perdidas na Guerra de 1905 para o Japão. Esse arquipélago de várias ilhas faz parte da região da Sacalina, local cobiçado pelo Japão até hoje.

As debilidades apresentadas pelos japoneses na luta em 1939 contra os soviéticos estavam ligadas diretamente a falta de aço e petróleo. Seus tanques eram frágeis e seus canhões possuíam calibres defasados. Havia falta de caminhões e rebocadores de artilharia. As táticas apresentadas também eram pobres e estavam galgadas no uso primaz da cavalaria. Jukov classificou como “atrasado” o material bélico japonês (ZHUKOV, 1969, p. 220). Contudo, ressaltou a qualidade e a disposição dos soldados japoneses, principalmente no combate corpo-a-corpo. Todos esses problemas técnicos permaneceram em 1945, quando os soviéticos voltaram a enfrentá-los.

Referências bibliográficas

KULKOV, E.; RJECHEVSKI, O.; TCHELICHEV, I. A Verdade e a Mentira sobre a Segunda Guerra Mundial. Lisboa: Edições Avante, 1984.

MINASIÁN, M. La Gran Guerra Patria de La Union Soviética. Moscú: Editorial Progreso, 1975.

PALACIOS, A. G. La Guerra Oculta. 2. ed. Madrid: HRM Ediciones, 2020.

PITILLO, J. C. P. Aço Vermelho Os Segredos da Vitória Soviética na Segunda Guerra Mundial. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Multifoco, 2014.

RZHESHEVSKI, O. Lecciones de La Segunda Guerra Mundial. Moscú: Editorial de La Agencia de Prensa Nóvosti, 1979.

ZHUKOV, G. K. Memorias y Meditaciones. Habana: Instituto Cubano Del Libro, 1969.

Notas

[1] 1 de Setembro de 1939.
[2] Houve um segundo conflito em 1945, denominado pelos soviéticos de Tempestade de Agosto. Que foi a limpeza da Manchúria e região, que acarretou na derrota das forças japonesas na China, com consequências em todo o Sudeste Asiático.
[3] Estado Maior Geral Soviético
[4] A Guerra Civil Soviética aconteceu de 1918 a 1923. A luta entre socialistas e reacionários, propiciou a invasão do território soviético por uma força estrangeira composta por 16 países. Que objetivava ajudar as forças conservadoras a retomarem o poder e impedir que o socialismo triunfasse com a Revolução de Outubro de 1917.
[5] O Rio Amur fica entre Manchúria e a URSS e é conhecido pelos chineses como Rio do Dragão Negro.
[6] A referida ponte fica a cerca de 15 Km de Pequim e é uma obra histórica, construída em 1192.
[7] Região no leste da China.
[8] Litoral do Krai, que da acesso ao Mar do Japão.
[9] Existe hoje um Museu Russo na região em homenagem aos mortos do conflito.
[10] Nome da 19º Divisão de Infantaria do Império do Japão que atuava na Coreia.
[11] Ataque frontal da infantaria japonesa.
[12] Plano Operacional criado pelo Estado-Maior do Exército Imperial Japonês para uma invasão e ocupação do Extremo Oriente Soviético em consonância com as forças fascistas em junho de 1941.
[13] Nova designação para o Exército de Kwantung.
[14] O referido General havia sido durante muito tempo adido militar japonês na URSS.
[15] Shizuichi Tanaka, Comandante da 13º Divisão Japonesa, um dos mais conceituados militares japoneses.
[16] Operação de ataque à URSS.
[17] Joachin von Ribbentrop, Ministro das Relações Exteriores do Terceiro Reich.
[18] Plano de ataque a Moscou.

Autor notes

i Mestre em História Comparada (UFRJ). Doutor em História Social (UNIRIO) e membro do NUCLEAS-UERJ (Núcleo de Estudos das Américas). Especialista em Segunda Guerra Mundial. E-mail: jcpitillo@hotmail.com. ORCID: https://orcid.org/0009-0006-4896-3238.

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