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Entrevista - PROFESSOR WOLFGANG BENZ
Caminhos da História, vol. 29, núm. 1, pp. 8-11, 2024
Universidade Estadual de Montes Claros

Dossiê

Caminhos da História
Universidade Estadual de Montes Claros, Brasil
ISSN: 1517-3771
ISSN-e: 2317-0875
Periodicidade: Semestral
vol. 29, núm. 1, 2024

Recepção: 29 Novembro 2023

Aprovação: 27 Dezembro 2023

Professor Wolfgang Benz, historiador alemão, nascido em 9 de julho de 1941 (82 anos), foi o criador e diretor do “Zentrum für Antissemitismusforschung”, da Universidade Técnica de Berlim, entre 2009 e 2011. Formou-se em História e Ciência Política nas Universidades de Frankfurt, Kiel e Munique, onde trabalhou no “Instituto de História Contemporânea”, desenvolvendo novos temas e abordagens do Nacional-Socialismo e dos fascismos em geral, que mereceram uma ampla revisão e aprofundamento dos métodos de estudo. Foi Professor da Universidade de Sidney, na Austrália, visitou o Brasil por convite da UFRJ/Instituto Goethe e o DAAD, onde fez várias conferências sobre temas inéditos nos estudos dos fascismos. O Professor Wolfgang Benz recebeu e orientou vários estudantes brasileiros na Alemanha, via o Convênio Capes/DAAD.

Recebeu o prestigioso Prêmio Geschwitzer Scholl – nome dos irmãos resistentes alemães Sophie e Hans Scholl, executados pelo Regime Nacional-Socialista em 1943 e o “Prêmio Das polistiche Buch” , da Fundação Friedrich Ebert, pela contribuição aos estudos dos fascismos. O Professor Benz manteve uma permanente postura crítica às tentativas de “nacionalização” ou “apriopriação” do Holocausto por países e grupos, em especial após o fim do “socialismo real” na Europa Central e de Leste, insistindo no cárater “internacional” e exemplar para o conjunto da Humanidade do horror nazista. Nos últimos anos de sua gestão do “Centro de Estudos do Antissemitismo”, foi um crítico a expansão da “Islamofobia” nos países do Leste europeu e apontou graves consequências da má avaliação da expansão dos novos racismos na Europa e no Mundo.

Dentre suas principais obras, podemos citar: Was ist Antisemitismus? ("O que é o Antissemitismo?) Bundeszentrale für politische Bildung. Bonn 2004; Herrschaft und Gesellschaft im nationalsozialistischen Staat. Studien zur Struktur- und Mentalitätsgeschichte. ( “Poder e Sociedade no Estado Nazista. Estudos sobre História das Estruturas e Mentalidades). Fischer, Frankfurt. 1990; The Holocaust: A German Historian Examines the Genocide. Columbia University Press, 2000; Encyclopedia of German Resistance to the Nazi Movement. Continuum International Publishing Group, 1996.

Como pensar hoje o intenso retorno dos debates sobre a natureza do fascismo?

Professor Benz: A grande distância temporal ao fascismo histórico faz parte da tentativa de explicação para tal retorno. As consequências e efeitos do fascismo já não são sentidos pelas novas gerações e, infelizmente, não há lições abstratas da História. Para os nascidos depois da Segunda Guerra Mundial, a ideologia do nacionalismo extremista, com o desenvolvimento do poder por meio da violência, a exclusão de minorias “indesejadas”, os delírios racistas de superioridade são, novamente, atraentes. Não vejo os debates científicos atuais, como a “Querela dos Historiadores” na Alemanha nos anos 1980[1], como a causa da atualidade do debate, mas sim a situação política atual - dificuldades econômicas, o retorno do medo existencial, sentimentos de insatisfação e frustração com os governos, o afastamento da Democracia e resultando na aparentemente “nova” atratividade da ideologia fascista.

Quais seriam, sem dúvida, os casos/países dos chamados fascismos "históricos" - os que realmente existiram entre 1922 e 1945?

Professor Benz: Os regimes fascistas nos quais a ideologia era praticada existiram como cultura “pura” na Itália e na Alemanha, como também na Eslováquia e na Croácia. Variantes com racismo praticado de forma menos violenta ou sem a ânsia de expansão territorial da Alemanha e da Itália, existiram, por sua vez, na Hungria e na Romênia, e por mais tempo persistiu na Espanha e em Portugal. Deve-se notar também que houve movimentos fascistas em toda a Europa e América do Sul, alguns dos quais desenvolveram suas próprias variantes de exercício do poder e desenvolveram sua própria atratividade, como na Argentina ou no Chile.

A distinção entre "Movimentos Fascistas" e "Regimes Fascistas" - isto é, quando os fascistas estão de fato no poder - é ainda válida para os propósitos dos estudos sobre novos fascismos?

Professor Benz: A distinção entre Movimentos Fascistas (como existia, por exemplo, na Grã-Bretanha, Holanda ou Noruega) e Regimes Fascistas é sem dúvida necessária e correta. No entanto, o problema central parece-me ser a observação da respectiva sociedade estudada, as afinidades com a ideologia do fascismo e a vontade de aceitá-la por seus membros.

É possível refletir sobre a distinção entre “Fascismos Históricos” e “Fascismos Contemporâneos ou Atuais”?

Professor Benz: Claro, as atuais tendências fascistas e os movimentos fascismos devem ser comparados com as formas do fascismo histórico e seus regimes. O quadro de referência consiste na experiência histórica. Ao mesmo tempo, devo alertar contra a denúncia precipitada de estruturas autoritárias ou eventos fenomenológicos como o “renascimento” do nacional-socialismo de Hitler ou o fascismo de Mussolini. Neste sentido considero, portanto, a teoria do totalitarismo um erro fatal.

É possível que formas fascistas sejam vitoriosas hoje em países não europeus, como é o caso de Bolsonaro no Brasil ou mesmo de Trump nos Estados Unidos.

Professor Benz: Ideologias e estruturas fascistas me parecem tão bem-sucedidas hoje em países não europeus em razão da falta de experiência, nestes países, com os regimes fascistas realmente existentes e suas terríveis consequências. Isso se aplica aos seguidores de Trump nos EUA, bem como ao regimento de Putin na Rússia. A outrora luta conjunta dos EUA e da União Soviética contra o fascismo hitlerista nem suavizou as diferenças entre as duas nações e sua constituição social, nem impediu a atratividade posterior do pensamento e da ação fascista para as gerações posteriores. As transições suaves de estruturas autoritárias para fascistas devem ser levadas em consideração. Isso se aplica tanto aos conservadores quanto às sociedades de esquerda.

Notas

[1] “Querela dos Historiadores” (“Historikerstreit”) sobre a natureza do nazismo havida na Alemanha nos anos iniciais da década de 1980 envolvendo historiadores e filósofos, deslanchada pelo Historiador Ernst Nolte ao procurar “encerrar o passado da Alemanha” e “normalizar” o Holocausto comparando-o com outros eventos brutais, como o Stalinismo. Nolte pedia, assim, o encerramento de “um passado que não passa’ e que seria um ônus para a moderna Alemanha. Contra tal processo de normalização da brutalidade ergueram-se outros historiadores e filósofos como Jürgen Habermas. Ao lado de Nolte estavam o jornalista Joachim Fest e os historiadores Andreas Hillgruber , Klaus Hildebrand , Rainer Zitelmann , Hagen Schulze e Michael Stürmer. Na postura contrária, opondo-se ao que chamavam de “normalização” do Holocausto, estavam, além do filósofo Jürgen Habermas, os historiadores Hans-Ulrich Wehler , Jürgen Kocka , Hans Mommsen , Martin Broszat , Heinrich August Winkler , Eberhard Jäckel e Wolfgang Mommsen . Karl Dietrich Bracher e Richard Löwenthal defenderam uma postura de compromisso. Daí a importância de crítica aos conceitos “guarda-chuva”, como utilizados durante a Guerra Fria, comparando diferentes sistemas de poder como sendo todos igualmente “Totalitários”. A maioria dos historiadores, na contramão de Nolte, insistiram que o Holocausto não deveria ser comparado a outros genocídios contemporâneos. O debate foi reaberto no ano 2000 quando Ernst Nolte foi agraciado com o “Prêmio Konrad Adenauer para a Ciência”.

Autor notes

i titular

Professor titular aposentado de História Moderna e Contemporânea da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). E-mail: chicotempo@uol.com.br. Orcid: https://orcid.org/0000-0002-3925-7327.

ii Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Montes Claros. Correio eletrônico: felipecazetta@yahoo.com.br. Orcid: https://orcid.org/0000-0002-2110-7531.

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