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ARQUEOLOGIA E SEPARATISMO: O CASO DO VAL CAMÔNICA (LOMBARDIA, ITÁLIA)
ARQUEOLOGÍA Y SEPARATISMO: EL CASO DE VAL CAMÔNICA (LOMBARDÍA, ITALIA)
ARCHEOLOGY AND SEPARATISM: THE CASE OF VAL CAMÔNICA (LOMBARDY, ITALY)
Caminhos da História, vol. 27, núm. 1, pp. 95-115, 2022
Universidade Estadual de Montes Claros

Dossiê

Caminhos da História
Universidade Estadual de Montes Claros, Brasil
ISSN: 1517-3771
ISSN-e: 2317-0875
Periodicidade: Semestral
vol. 27, núm. 1, 2022

Recepção: 29 Novembro 2021

Aprovação: 21 Dezembro 2021


Este trabalho está sob uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-Não Derivada 4.0 Internacional.

Resumo: : No Val Camônica (Brescia, Itália) há o maior sítio de arte rupestre da Europa, cuja investigação começou na primeira metade do século XX. Desde então a área se tornou cada vez mais importante para o estudo da (assim chamada) pré-história europeia e desempenhou um papel altamente representativo na busca das antigas raízes das comunidades do vale e, mais em geral, da própria Itália do norte. No final da década de 1980 foi criado o partido da Lega Nord (hoje o partido da Lega), promotor da instituição de um estado independente: a Padania. A partir desse momento, os temas das gravuras rupestres foram adotados, usados e abusados para divulgar ideologias e justificar intenções políticas. O presente texto visa ilustrar brevemente a dinâmica que está por trás do movimento civil e político da então Lega Nord e o esforço das instituições que se apelam à arqueologia para reconstruir o percurso da formação de uma identidade europeia comum a partir da história da Lombardia.

Palavras-chave: Pré-história europeia, Arte rupestre, Val Camônica, Arqueologia e identidades, Arqueologia e política.

Resumen: : En Val Camônica (Brescia, Italia) se encuentra el sitio arqueológico de arte rupestre más grande de Europa y su investigación se inició en la primera mitad del siglo XX. Desde entonces, el área se ha vuelto cada vez más importante para el estudio de la (llamada) Europa prehistórica y ha desempeñado un papel muy representativo en la búsqueda de las raíces antiguas de las comunidades del valle y, de manera más general, del norte de Italia. A finales de la década de 1980, se creó el partido Lega Nord (hoy partido Lega), que promovió la institución de un estado independiente llamado Padania. A partir de ese momento, los temas de los grabados rupestres fueron adoptados, utilizados y abusados ​​para difundir ideologías y justificar intenciones políticas. El presente texto pretende ilustrar brevemente la dinámica detrás del movimiento civil y político de la entonces Lega Nord y los esfuerzos de las instituciones que apelaron a la arqueología para reconstruir el camino hacia la formación de una identidad europea común basada en la historia de Lombardía.

Palabras clave: Prehistoria europea, Arte rupestre, Val Camonica, Arqueología e Identidades, Arqueología y Política.

Abstract: : In Val Camônica (Brescia, Italy) there is the largest archaeological site of rock-art in Europe and its investigation began in the first half of the 20th century. Since then, the area has become increasingly important for the study of (so-called) prehistoric Europe and has played a highly representative role in the search for the ancient roots of the valley communities and, more generally, of northern Italy itself. In the late 1980s, the Lega Nord party (today the Lega party) was created, promoting the institution of an independent state called Padania. From that moment on, the themes of rock engravings were adopted, used and abused to disseminate ideologies and justify political intentions. The present text aims to briefly illustrate the dynamics behind the civil and political movement of the then Lega Nord and use of archaeology by institutions to forge the path towards the formation of a common European identity based on the history of Lombardy.

Keywords: European prehistory, Rock-art, Val Camonica, Archaeology and Identities, Archaeology and politics.

Introdução

Logo após a queda dos regimes autoritários na Europa e o fim dos impérios colonialistas, começou-se a refletir sobre o uso indevido da Arqueologia (e da ciência em geral) para sustentar ideologias descabidas e legitimar atos de violência hedionda. Questionou-se, a partir disso, a relação entre o poder do Estado e as disciplinas que estudam o passado e as suas consequências na construção de superestruturas que levam a sociedade a se reconhecer em um determinado padrão supostamente fundamentado na legitimidade de suas origens.

Arqueologias estreitamente identificadas com políticas de Estado ou a serviço do Estado correm sempre um alto risco de serem distorcidas, na medida em que são induzidas à manipulação de evidências de modo a promover os interesses da ideologia dominante. Ora sustentando políticas de dominação sobre outros povos, ora justificando controle sobre territórios reivindicados, ou ainda criando elos simbólicos com passados gloriosos para a construção de histórias contínuas que justifiquem o presente (Khol & Fawcett 1995: 4[1]), entre várias outras possibilidades. (Lima, 2007, p. 13)

A questão do papel da Arqueologia e da História na criação das identidades e de seu uso como ferramenta do nacionalismo, portanto, não são assuntos inéditos nem pouco debatidos (Diaz-Andreu, 2006). Contudo, a difusão de abordagens cientificamente mais corretas e constantemente questionadas, com base na evolução das sociedades, pelos estudiosos das ciências humanas não impediu que certos grupos e movimentos fizessem um uso impróprio do passado, fundando a sua interpretação a partir de conceitos ultrapassados ou puramente baseados em opiniões e sentimentos políticos. Essa leitura descolada do rigor que os estudos do passado demandam, e forçada a se encaixar em um espaço mental frequentemente limitado pelas barreiras das ideologias, alimenta no consciente coletivo intolerância e medo das mudanças.

O texto a seguir ilustra o caso do movimento separatista surgido na Itália do Norte e que deu vida, no final da década de 1980, ao partido político da Lega Nord, que hoje – com o nome de Lega – tem uma representatividade bem estabelecida no governo nacional e que transformou as suas causas regionalistas em batalhas federalistas que envolvem a Itália inteira. Ao longo da sua jornada, o movimento procurou nos vestígios arqueológicos do seu território uma ligação com o seu passado que explicasse e justificasse a necessidade de criar um estado independente, o estado da Padânia. Entendemos que os que se definem padanos são aqueles habitantes do norte da Itália que não se reconhecem plenamente na identidade italiana e que ainda hoje sonham com a criação de um estado independente. Por isso, devido a seus novos rumos, o partido da Lega não necessariamente representa a totalidade dos padanos.

O texto não tem a pretensão de ser exaustivo sobre a questão sociopolítica ligada à evolução do partido da Lega e nem sobre a questão do separatismo: esses temas além de não serem da minha alçada, não cabem na temática aqui proposta[2]. O meu objetivo é tecer uma reflexão sobre o uso do passado como arma de legitimação de ideologias políticas e sobre o papel da Arqueologia e da História, praticadas com rigor científico, na luta contra esse tipo de manipulação nociva.

Além disso, a questão do nacionalismo e da identidade nos remete à tão atual situação dos migrantes clandestinos que alcançam o continente europeu, a custo de suas próprias vidas. Há alguns anos, assistimos a um fenômeno parecido com aquela fase do império romano que os livros de escola mais obsoletos chamavam de “invasão dos povos bárbaros”: pessoas de países geograficamente e culturalmente longínquos a procura de uma vida mais segura. O papel da História e da Arqueologia, nesse caso, seria o de lembrar que os europeus (também os que se mostram relutantes a aceitar as ondas migratórias) são o resultado de milhares de cruzamentos entre pessoas procedentes dos mais diferentes lugares. Pessoas que contribuíram à formação das identidades europeias como as conhecemos hoje.

A arte rupestre no Val Camônica: uma narrativa da pré-história[3] europeia

O Val Camônica (ou Valcamónica ou Valle Camônica) é um dos maiores vales dos Alpes centrais, na Lombardia Oriental (fig. 1), tendo cerca de 90 km de comprimento. Começa a partir do Passo del Tonale, a 1.883 metros de altitude, e termina em Corna Trentapassi, no município de Pisogne, perto do lago de Iseo. Tem uma área de cerca de 1.335 km.. É atravessado em toda sua extensão pelo rio Oglio, que começa em Ponte di Legno e termina no lago Sebino entre Pisogne e Costa Volpino. O termo Val Camonica vem do latim Vallis Camunnorum, que significa "o Vale dos Camunni", o nome pelo qual os romanos chamavam os habitantes desse território. A maior parte do vale está incluído no território administrativo da província[4] de Bréscia, o restante na província de Bérgamo. A população (cerca de 120 mil habitantes) se distribui em 45 municípios.


Fig. 1
Localização do Val Camônica, na região Lombardia
Reelaboração de imagens retiradas de: https://it.wikipedia.org/wiki/File:Valcamonicaposizioneit.png.e https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=3471427. Acessados em 18/11/2021.

A história da Europa antes da expansão do poderio de Roma narra a epopeia dos povos que se movimentaram dentro do continente vindo dos vizinhos territórios da Asia e da África. Os fluxos dos grupos humanos deram vida a um palimpsesto de tradições que plasmou as identidades do continente. A arte é testemunha dos protagonistas diretos dessa história.

As gravuras rupestres do Val Camônica têm uma gama de imagens abstratas e simbólicas, mas também de obras realísticas de caráter descritivo. A presença humana no vale remonta entre 40 mil e 33 mil anos atrás, durante um período de recessão das geleiras quaternárias. Mas quando as geleiras se formaram novamente, vemos um hiato na presença de vestígios humanos até o final da última glaciação (15 mil anos atrás). Entre o VIII e o V milénio a.C., grupos de caçadores frequentavam o sítio nas estações mais quentes e são eles os autores das gravuras mais antigas do Val Camônica. Nessa fase – chamada “semi-naturalística” – os elementos centrais são o animal de grande porte e as atividades de caça (fig. 2).


Fig. 2
Representação de caça de grandes animais.
https://www.shorthistory.org/prehistory/valcamonica-prehistoric-culture/. Acessado em 18/11/2021.

O período sucessivo, o neolítico (V e IV milênio a.C.), foi caraterizado por migrações e movimentação populacional, cujas causas principais foram as mudanças climáticas, da flora e da fauna que transformaram o aspeto do meio ambiente. Parece que justamente nesse período estabeleceram-se no Val Camônica os antepassados dos povos que os romanos chamaram camunni, vennoneti o triumplini, que eram grupos de caçadores que também praticavam a agricultura e a domesticação de animais. O estilo artístico das gravuras mudou drasticamente e o ser humano se tornou o tema central das representações. Trata-se de representações esquemáticas que narram a vida social, cultual e econômica desses grupos; do lado das cenas de vida cotidiana, com a representação dos animais domésticos, das atividades agrícolas (fig. 3) e da caça, encontram-se as expressões simbólicas ligadas a cultos de caráter agrícola, como o do sol e da chuva. No final do neolítico as representações simbólicas (principalmente figuras antropomorfas representando seres divinos ligados à natureza e à cosmologia) aumentaram e difundiram-se em toda a área alpina.


Fig. 3
Cena agrícola: um par de bois puxa uma carroça.
tellincamuno.wordpress.com. Acessado em 18/11/2021.

A partir de 2.500 a.C. e na idade do Bronze (até 1.200 a.C.), o elemento central das gravuras era representado pelo culto das armas e dos espíritos guerreiros (fig. 5). Essa mudança se deu provavelmente pelo avanço dos conhecimentos técnicos sobre a manufatura dos metais, que também trouxe riqueza, e por isso as armas de metal passaram a exercer uma agência marcante no universo religioso e simbólico das populações. Na transição entre a idade do Bronze e a Idade do Ferro (entre 1.000 e 800 a.C.) verificou-se um longo período de mudanças climáticas, caracterizadas por um frio muito intenso. Isso provocou o isolamento dos vales alpinas; logo, cada uma das populações habitantes desses vales desenvolveu características étnicas e culturais próprias com tipologias diferentes não apenas na linguagem, mas também na arte rupestre e na cultura material (Anati, 2004). Na idade do Ferro, depois dessa longa fase de isolamento, criaram-se pequenas tribos frequentemente em luta entre si pela posse do território. Os petróglifos mostram cenas de batalha entre guerreiros armados; também apresentam muitas representações semelhantes às encontradas na arte de outras partes da Europa, sinal do contato dos povos alpinos com os demais grupos assentados no continente europeu, principalmente Etruscos, Villanovianos, Venetos e Celtas (Anati, 2008, p. 281 e ss.).


Fig. 4
Cena de batalha entre guerreiros.
https://italian-traditions.com/it/arte-preistorica-della-val-camonica-rupestre/. Acessado em 18/11/2021.

Quando os romanos chegaram no Val Camônica, em 16 a.C., encontraram uma população com uma estrutura sócio-política regida por chefes e articulada em um sistema de tribos com uma organização hierárquica. A classe privilegiada morava em casas com estrutura de pedra, enquanto a maioria da população, que vivia de agricultura, caça e criação, morava em cabanas de madeira (fig. 5). Pelas figuras rupestres e pelas pesquisas arqueológicas sabemos que esta população, pouco antes do encontro com os romanos, usava carroças e o arado, conhecia a manufatura dos metais (em particular ferro, que se encontrava abundante in loco), comerciava com as populações circundantes, produzia uma cerâmica elaborada e era capaz de escrever em letras etruscas. Os camunos tinham uma religião politeísta com divindades que refletiam e representavam a economia e a sociedade de artesãos, agricultores, comerciantes e guerreiros. Essa realidade de pequenas comunidades que se governavam autonomamente reflete a imagem de grande parte da Europa, onde algumas confederações mais relevantes, como os Etruscos ou os Vénetos, estavam já adquirindo conotações políticas mais definidas. Esta organização tribal encontrou o seu fim com a expansão romana (Anati, 2004). Na época do domínio romano, os vales padanos foram povoados por colônias celtas, instituídas pelos próprios romanos no âmbito de reformas agrárias e administrativas (Corti, 1995).


Fig. 5
Representação de cabanas, I séc. a.C.
https://www.pinterest.it. Acessado em: 22/01/2021

Local e global no Val Camônica: breve histórico da pesquisa arqueológica

No começo das investigações no Val Camônica e no Valtellina, a arte rupestre da Lombardia era considerada como uma manifestação da época celta, pertencente aos últimos séculos antes de Cristo. Depois de 50 anos de pesquisa arqueológica essa visão está ultrapassada e podemos distinguir períodos diversos e uma sucessão de horizontes culturais do final do Paleolítico até a chegada dos romanos (Anati, 2008). Por meio da reconstrução da história regional da Lombardia conseguimos entender melhor a formação da civilização europeia.

Com a anexação ao território romano, a civilização camuna perdeu a autonomia administrativa e com ela o sistema simbólico que estava à base das representações das gravuras rupestres de idade pré-histórica; mesmo assim ainda em época romana e medieval os habitantes do vale não perderam o hábito de gravar imagens representativas, embora com menor intensidade e com referência a uma linguagem simbólica diferente, conforme as mudanças culturais ocorridas no curso da história. Mas ao longo do tempo as gravuras foram esquecidas e escondidas pela vegetação. No começo do século XX, um eminente estudioso de Bréscia se interessou para aquelas poucas gravuras que tinham permanecido visíveis na paisagem e começou uma mais profunda investigação (Anati, 2008, p. 47). Desde então o interesse por parte dos estudiosos, não apenas locais, cresceu. Nos anos do nazismo, o professor Franz Altheim e a sua assistente Erica Trautmann, da universidade de Berlim, foram no Val Camônica em busca dos povos arianos (Arnold, 1990). Eles publicaram vários artigos para demonstrar a tese da origem indo-germanica dos povos alpinos, usando a arqueologia do Val Camônica como instrumento apologético da “raça pura”. Depois da Segunda Guerra Mundial, a pesquisa arqueológica no vale foi abandonada até os anos 50, quando o maior estudioso, ainda vivo, dos petróglifos do Val Camônica, Emmanuel Anati, iniciou um projeto de estudo e valorização do sítio. Em 1956 ele fundou a “missão Anati” que foi substituída, em 1964, pelo “Centro camuno de estudos históricos” (CCSP: Centro Camuno di Studi Preistorici). Graças à instituição desse Centro as investigações e as descobertas de novas gravuras foram se multiplicando e acabaram sendo conhecidas pela inteira comunidade científica europeia e internacional. Em 1979, o Val Camônica foi o primeiro sítio pré-histórico inscrito na Lista do Patrimônio Mundial da UNESCO (http://whc.unesco.org/en/list/) e passou a representar um dos mais emblemáticos sítios de arte rupestre na história da Europa. O CCSP recebeu o suporte de outras instituições internacionais como o ICOMOS (International Council on Monuments and Sites) e o CIPSH (Conseil International de la Philosophie et des Sciences Humanes).

Nascimento e evolução da Lega Nord: ideologia e política

No começo do século XX, o termo Padânia indicava uma região geográfica correspondente ao território italiano ao norte dos Apeninos. Entre 1989 e 1991 criou-se o partido da Lega Nord[5], movimento político independentista, que reunia todos os pequenos partidos populares regionais (Lega Lombarda, Liga Veneta, Piemonte autonomista etc.) que surgiram e se multiplicaram na década de 1980. Os autonomistas da Lega Nord afirmavam que grande parte da Itália setentrional e centro-setentrional é habitada por povos distintos por idioma, hábitos, tradições e história, chamados “nações da Padânia”, que fazem parte de um único povo padano (fig. 6). Segundo eles, os padanos foram obrigados a participar das lutas para a unificação do estado italiano (séc. XIX) e, consequentemente, a fazer parte dele. Esse sentimento de parte oprimida gerou o desejo de separar as nações padanas da República Italiana e de criar uma república federativa da Padânia, no respeito das diferenças e peculiaridades de cada uma dessas nações. Em 1994 o partido da Lega Nord apresentou-se às eleições administrativas ao lado dos partidos de centro-direita (liderados por Berlusconi) e conseguiu se tornar uma força de governo no parlamento. Em 15 de setembro de 1996, Umberto Bossi fez uma declaração de independência

Nós, povos da Padânia, solenemente proclamamos: a Padânia é uma república federativa independente e soberana. Nós oferecemos, um para outro, como mútuo compromisso, nossas vidas, nossos bens e a nossa sagrada honra (www.wikisource.org)

A proposta da formação de uma “república do norte” não encontrou realização e o líder do partido, Umberto Bossi, resolveu mudar estratégia política e propôs a modificação da Constituição Italiana para criar uma república federativa. Em 2006, portanto, teve um referendum constitucional para promover essa reforma, que foi reprovado pela população italiana. Não obstante a Padânia não seja um estado independente, os secessionistas promoveram ativamente a sua concepção como entidade política por meio da criação e manutenção de estruturas e órgãos representativos das “nações da Padânia” e também por meio de iniciativas esportivas e sociais[6] de caráter independentista: eles têm uma capital (Milão), um hino oficial (“Va, pensiero”, um coro do Nabucco por Giuseppe Verdi) e uma bandeira.


Fig. 6
Representação da Padania proposta pela Lega Nord no mapa da Itália
https://xadrezverbal.com/2014/06/18/fronteiras-invisiveis-da-europa-padania/. Acessado em: 22/11/2022.

Ao longo dos anos, a Lega Nord foi se aproximando cada vez mais às ideologias da extrema direita, procurando alianças até com os partidos de ideologia fascista (Casa Pound, Forza Nuova e Fratelli d’Italia). Hoje a Lega Nord, cujo líder é Matteo Salvini, tem um nome menos excludente para poder abrir as portas a movimentos e partidos políticos das regiões da Itália inteira. No final de 2017 foi apresentado um novo partido no Diário Oficial, a Lega per Salvini Premier (Liga para Salvini primeiro-ministro). O estatuto desse partido é substancialmente idêntico ao da velha Lega Nord, mas apela mais para ideias federalistas e nacionalistas do que para a independência da Padânia (questão abandonada em prol de um alcance eleitoral mais amplo). Publicamente, agora, o partido da Lega tem como finalidade "a transformação pacífica do Estado italiano em um Estado federal moderno através de métodos democráticos e eleitorais" e "promove e apoia a liberdade e a soberania dos povos europeus" (rainews.it). Também as bandeiras nas propagandas eleitorais mudaram bastante, apresentando-se mais simples e sem os símbolos que até então haviam caraterizado o partido.

Em busca das raízes

Quando foi criado o partido da Lega Nord, o brasão da bandeira oficial da Padânia era o “Sol das Alpes”, verde em fundo branco, que é um símbolo muito antigo, usado em várias partes da Europa seja como decoração seja como, de fato, brasão (fig. 8). A Lega Nord o adotou na década de 1990. Segundo uma interpretação política, as seis pontas representariam as seis famílias etnolinguísticas da Padânia: galo-itálico, vêneto, tirolês, friulano, ladino e ocitano-arpitano (Oneto, 1995).


Fig. 8
O Sol das Alpes em várias representações, sendo a primeira o brasão da Lega Nord.
Imagens retiradas da internet de livre acesso.

A região Lombardia, por sua vez, escolheu como brasão a Rosa Camuna (fig. 9), símbolo estritamente ligado à sua antiga história. Este símbolo, presente nas gravuras do Val Camônica (fig. 10), está ligado à cosmologia e à esfera ritual do povo camuno, o mais antigo morador da região e também o autor das gravuras que atribuíram à Lombardia uma grande importância no contexto histórico-arqueológico europeu.


Fig. 9
O brasão oficial da região Lombardia se inspira à imagem da Rosa Camuna, que se encontra em várias gravuras rupestres do Val Camônica.
Reelaboração de imagens retiradas de https://it.wikipedia.org/wiki/Simboli_della_Lombardia. Acessado em: 22/11/2021.

A consciência desse rico passado está bem presente entre os independentistas que se apropriaram de nomes e símbolos dos camunos e dos povos de tradição celta com sua linguagem (fig. 10).


Fig. 10
Propaganda e programa de um evento social organizado pelos “jovens camunos”. Além das denominações, a imagem reúne uma série de símbolos e representações que ressaltam o pertencimento à antiga cultura camuna e celta. Ao lado, os personagens da história em quadrinhos “Asterix” (galos, então celtas) enquanto estão esculpindo o símbolo da Lega Nord.

Existia, assim, entre os padanos um difuso desejo de se reapropriar do passado, por meio da sua simbologia, da herança linguística – evidente na toponomástica e nos dialetos locais – e dos aspetos culturais, particularmente presentes na vivência do território; a ligação às montanhas foi um dos aspetos mais ressaltados, visto como evidência de uma continuidade sem emenda do estilo de vida desde tempos antiguíssimos. Os que, ainda hoje, se definem “padanos”, principalmente os que moram nos centros menores e mais isolados, realmente percebem certo desconforto e consequentemente carregam uma incapacidade a se conformar às mudanças do mundo contemporâneo, que tende à globalização e ameaça achatar as peculiaridades das culturas. Eles não se identificam com o resto do povo italiano, se sentem explorados por um estado que não quiseram e que não respeita o seu estilo de vida, a sua maneira de enxergar a sociedade e a sua relação com o território. Justamente por isso, para todos eles se tornou muito importante encontrar uma explicação desse desconforto nas suas próprias raízes:

Para os nossos fins, o que nos importa é sobretudo conhecer ou, melhor, reconhecer o que nas formas da paisagem, nas tradições, nas tipologias dos assentamentos, nas formas arquitetônicas, na toponomástica, na cultura popular, reflete uma linhagem étnica que se possa identificar. Além disso, nos interessa conhecer/reconhecer a linhagem étnica do nosso temperamento, da nossa psicologia coletiva e, talvez, no profundo, também da nossa espiritualidade. (Corti, 1995, p. 8. Tradução da autora)

Os padanos da velha guarda queriam ter voz e participar da construção do seu passado, descuidado – na opinião de alguns – pelo poder institucional. Segundo eles, a excessiva atenção para a história romana desvalorizou a cultura da qual eles sentem-se herdeiros e os desnaturalizou. Os esforços dos estudiosos de ideologia separatista é para demonstrar, por meio da história, da arqueologia e também das ciências biológicas, que a cultura romana (que para os italianos desempenhou um papel fundamental na formação da identidade nacional) não contribuiu em maneira marcante à caracterização do povo padano, que, pelo contrário, sempre manteve um estilo de vida peculiar devido principalmente a dois fatores: o contato e a vivência com os povos do norte da Europa de origem celta e o fato de eles viverem nas montanhas.

Nas montanhas não apenas nós nos sentimos protegidos do “mundo exterior”, mas também nos sentimos distantes das angustiantes obrigações burocráticas com frequência sadicamente impostas pelo aparato público à nossa vida social e individual, e alienas à nossa cultura. O afastamento das cidades transfiguradas pela substituição das linguagens arquitetônicas tradicionais com as arquiteturas banais “racionalistas” e pela onda da imigração, não significa também a busca de valores tradicionais, estéticos, mas também mais difusamente culturais, morais e humanos? A paixão de muitos lombardos “étnicos” para as montanhas é explicada em conclusão pela busca inconsciente da própria identidade de povo, negada ou parcialmente perdida (Corti, 1995, p. 16. Tradução da autora).

Ingold (2004) coloca que o organismo não pode se formar independentemente do contexto em que vive. Querendo interpretar esse relato de um ponto de vista bio-antropológico, pode-se afirmar que este pode ser considerado um exemplo de inseparabilidade entre pessoa e ambiente, e de como o aspecto social de uma comunidade é construído por meio da vivência num determinado contexto ambiental. Os Alpes e os vales da Padânia imprimiram nos povos que as habitaram umas características peculiares e sempre tiveram parte ativa na vida das comunidades. As gravuras rupestres são parte de uma atividade de interlocução dos antigos habitantes com o próprio ambiente; elas contam a história da vivência entre pessoas e natureza, e revelam espaços significativos no passado. No Val Camônica a história não passa simplesmente pela paisagem, mas nela fica e através dela o passado é conhecido, experienciado e assimilado pelos habitantes (Oliver, 2010). É esse passado que os padanos quiseram conhecer e valorizar e com o qual criaram laços.

Em 1996, foi instituído o “ritual da ampola”, supostamente de origem celta. Até 2011, todo ano as nações padanas reuniam-se em Veneza para celebrar o independentismo padano e verter a água do rio Pó, contida numa ampola, nas águas da lagoa[7]. O rio Pó percorre horizontalmente de oeste para leste o vale padano; ele constitui um marco na paisagem, assim como os numerosos lagos subalpinos, e representa um dos recursos da área. No patamar sagrado do “ritual da ampola” os padanos reafirmavam a sua identidade e recriavam uma ligação ancestral com o território: uma forma híbrida de espiritualidade que une o rito pagão à tradição católica, religião efetivamente praticada pela maioria da população. Como em muitas outras comunidades, a ligação com o território exprime-se em formas rituais, que fortalecem os laços sociais numa identificação coletiva com a natureza, que se torna um espírito, uma divindade a ser respeitada e homenageada (Descola, 1996).

O “lado obscuro” do movimento padano...

Nos anos das batalhas separatistas da Lega Nord, os povos padanos estavam procurando uma legitimação historicamente válida para a sua ideologia separatista, numa contínua resistência ao Estado por meio de atos de provocação que frequentemente se manifestavam (e continuam se manifestando em muitas ocasiões), infelizmente, em intolerância e numa linguagem obscena e ofensiva.

A partir do final dos anos ’60, muitos italianos do sul migraram nas grandes cidades do norte para trabalhar como operários nas muitas e prósperas indústrias. Naquela época a onda migratória dos meridionais (os habitantes da Itália do sul) provocou as primeiras manifestações de intolerância e racismo, e passou-se a definir o povo do sul da Itália “terún[8]. Hoje os inimigos dos padanos são outros; eles sentem-se ameaçados por grupos de seres humanos não caucásicos e não europeus. Principal alvo de sua hostilidade são as pessoas que alcançam o território italiano clandestinamente, a maioria dos quais de origem africana e de religião muçulmana. Se no final do século XX os padanos percebiam os italianos do sul, que falavam o mesmo idioma e praticavam a mesma fé, tão diferentes, podemos imaginar o choque provocado pela onda migratória de povos africanos. O federalismo é visto como uma maneira eficaz para administrar autonomamente o problema da imigração e outros.

Os padanos já se identificaram com os nativos americanos, que foram conquistados pelos “imigrantes” (europeus!) e por eles exterminados e obrigados a viver em reservas (fig. 12). Na propaganda era forte a apropriação de discursos próprios de povos oprimidos e o apelo ao medo do diferente (fig. 13). O medo de perder as próprias tradições e serem dominados por outra civilização é muito forte ainda hoje, de fato, Matteo Salvini usou a carta da luta à imigração clandestina até, pelo menos, 2020. Nesse ano a pandemia de SARS-CoV-2 mudou completamente as perspectivas e fez com que os holofotes do medo coletivo apontassem para uma ameaça real e que, sim, estava mudando de verdade e de repente o estilo de vida dos italianos (Tizian, 2021).


Fig. 12
Propagandas políticas da Lega Nord. Na primeira imagem, o slogan é “Imigrantes clandestinos: torture-os! É legítima defesa”; na segunda “Sim à polenta. Não ao cous. Orgulhosos das nossas tradições”. A terceira imagem é uma propaganda da Lega Nord contra a imigração: “Eles sofreram a imigração. Agora moram nas reservas! Reflita sobre isso”.
Imagens retiradas da internet de acesso livre.


Fig. 13
Propagandas políticas da Lega Nord. Na primeira imagem, o slogan é “Acorda Emiliano! Adivinha quem é o último...”; na segunda “Gostarias de um governo assim? Ministro da defesa. Acorda””; na terceira imagem: “Gostarias de um governo assim? Ministro do comércio. Acorda!”.
http://billmurray.it/leganord/. Acessado em: 23/11/2021.

... e a resposta da Arqueologia

Por meio da pesquisa arqueológica no Val Camônica, a Lombardia iniciou um percurso de recuperação do seu antigo passado. Objetivo da região (órgão do Estado) não é valorizar as suas próprias origens para usar como argumentação “contra”, como chave para ressaltar uma diferença étnica historicamente demonstrável e que separe os lombardos dos italianos e da Europa, mas, sim, para ler e inserir a própria “microhistória” no mais amplo contexto da história europeia. Para demonstrar como o povo camuno fez parte, junto com as demais civilizações que seguiram, da criação de uma identidade coletiva e unificadora. Embora as diferenças entre as várias tribos, os camunos não ficavam isolados nas montanhas, longe de qualquer contato com o resto do mundo; as gravuras rupestres demonstram justamente o contrário, assim como a adoção do alfabeto etrusco e depois latino (ambos presentes nas gravuras) e as influências halogênicas estilísticas evidentes nas gravuras. Num período em que, na Itália, os estudos arqueológicos e históricos estavam mais interessados na civilização greco-romana, a arqueologia no Val Camônica abriu um novo caminho nos estudos da pré-história italiana e europeia; também ofereceu uma perspectiva muito diferente sobre a importância de um tipo de documento não escrito mas que, mesmo assim, conta com muita eficácia uma história complexa, nos mostrando uma parte de história que estaria esquecida, por causa da sua ausência nas fontes romanas. A redescoberta desse passado não apenas passou a constituir um recurso para a economia da área[9], mas sobretudo abriu a possibilidade de refletir sobre o presente

Hoje a Europa tenta colonizar a si mesma. Parece um regresso às origens. Os europeus, hoje como aos tempos do paleolítico e do neolítico, devem conviver com recém-chegados, com novas ondas de colonizadores, que sem dúvida terão um certo peso na vida futura do continente. Tradições velhas e novas, ontem como hoje, marcarão o destino da Europa. Para os neandertais, o Homo Sapiens que chegava de longe era um invasor; para os clãs de caçadores paleolíticos, os povos neolíticos que chegavam de longe em busca de terras para cultivar e de trabalho para sobreviver, eram os “extracomunitários”[10], intrusos, desestabilizadores do status quo que mudariam a própria identidade da Europa. O encontro com o outro deu a capacidade de externalização e de difusão que transformou o mundo inteiro [...]. O passado pode nos fazer meditar sobre o presente? Para onde está indo a Europa hoje? (Anati, 2008, p. 315. Tradução da autora)

Considerações finais

Os grand-tour dos jovens aristocráticos e burgueses dos países mais ricos da Europa, iniciados já a partir do século XVII, tinham como destino privilegiado aquelas terras em que os antigos gregos e romanos habitaram. O próprio interesse dos primeiros estudos histórico-arqueológicos era dirigido à descoberta de evidências que pudessem demonstrar a grandeza da civilização europeia e, no mesmo tempo, legitimar as empreitadas colonialistas no nome de uma suposta superioridade da cultura europeia, direta herdeira dos gregos e dos romanos (Dietler, 2005). Nesse contexto, é fácil entender o porquê do atraso dos estudos pré-históricos no ambiente acadêmico italiano e o impacto das pesquisas no Val Camônica. Até então a presença romana era a que dominava a memória histórica do lugar; o avanço das pesquisas chegaram justamente em uma época (os anos ’60) em que o encontro entre italianos do norte e do sul, filhos de experiências históricas e de ambientes muito diferentes, levou a um confronto que despertou uma consciência identitária antes despercebida, e sucessivamente aos primeiros movimentos políticos secessionistas. Isso sugere um cuidado particular em se valer da abordagem multivocal. A recuperação do passado camuno e celta é apreciável, além de necessária para a arqueologia europeia, mas a manipulação dos fatos, a descontextualização e a separação da realidade padana antiga do mais amplo panorama mediterrânico, pode transformar a arqueologia num mero instrumento do discurso político, em vez que a considerar CCSP uma ferramenta para gerar conhecimento.

Oliveira e Pereira (2009) falam que o “rigor científico na aplicação de teorias, métodos e técnicas” assegura imparcialidade. O CCSP desenvolve a sua pesquisa em harmonia com as demais instituições culturais europeias, num esforço acadêmico e científico para alcançar um conhecimento amplo e quanto mais objetivo. O Val Camônica, junto com os outros sítios de arte rupestre do resto da Europa, é testemunha de um dos numerosos processos que ao longo dos milênios levaram à formação da identidade europeia. A ação por parte da Lega Nord de recortar apenas um pedaço de história e abstraí-lo do contexto da história milenária e multiétnica do Mediterrâneo, para demonstrar a própria distinção étnica, a meu ver, resulta ridículo e perigosamente racista. O que os padanos talvez não lembrem é que a história da Itália, assim como a da Europa, é uma história de conquistas, de encontros e trocas, e que todos nós somos filhos de celtas, árabes, púnicos, gregos, romanos, ostrogodos, bizantinos e de todas as gentes que se movimentaram no grande cenário mediterrânico. A Europa é o resultado dessa mistura.

Em conclusão, tomo a liberdade de expressar uma reflexão pessoal, que poderá parecer banal, mas que acho oportuna no contexto da temática aqui apresentada. Apesar de todas as dificuldades que a carreira de arqueóloga comportou e comporta, me sinto privilegiada por ter tido a oportunidade de aprender a refletir sobre a nossa condição humana por meio do estudo do passado. A Arqueologia e a História, estudos mais do que necessários em quaisquer tempo e lugar, carregam uma responsabilidade muito grande: o dever da honestidade intelectual que só pode se realizar quando nós, praticantes dessas duas disciplinas, permanecemos mente abertos, humildes e colaborativos. Dependendo do seu uso, o conhecimento do passado pode contribuir à realização de um mundo consciente de suas origens e, por isso, aberto ao novo e resiliente ou, ao contrário, de um mundo excludente, intolerante e desumano.

Referências bibliográficas

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Notas

[1] KHOL, Philip; FAWCETT, Claire. Archaeology in the service of the State: Theoretical considerations. In: KHOL, Philip; FAWCETT, Claire (Eds.). Nationalism, Politics and the Practice of Archaeology. Cambridge: Cambridge University Press, 1995, p. 3-18.
[2] Para quem quiser aprofundar os temas sugiro a leitura de ROMEO, 2019 e BIAZI, 2019.
[3] Usamos a palavra pré-história para significar o estudo daquele período da história do Mediterrâneo antigo anterior ao final da idade do Ferro, ou seja, o séc. VIII a.C.
[4] No ordenamento administrativo italiano a provincia é uma entidade territorial autônoma, intermédia entre o município e a região, formada por um conjunto de municípios, o mais importante dos quais constitui a sua capital (TRECCANI, Vocabolario on-line).
[5] Cujo nome completo, no início, era Lega Nord per l’indipendenza della Padania (Liga Norte para a independência da Padânia). Em 1995, o nome mudou para Lega Nord Italia Federale e, em 1997, para Lega Nord.
[6] Tem meios de informação como Radio “Padania Libera” e o jornal “La Padania”. Existe um time de futebol que participa aos torneios organizados pelos estados que reivindicam a independência (como o Tibet), um concurso de beleza, “Miss Padania”, e uma competição ciclística “Il giro di Padania” (em alternativa ao “Giro d’Italia”).
[7] Em 2012 o líder da Lega Nord, Umberto Bossi, resolveu abandonar o ritual e substituí-lo com um encontro culinário em que o prato principal é a polenta, prato típico da tradição padana (www.secoloditalia.it).
[8] No passado o termo “terrone” era usado para indicar os grandes proprietários de terras. Nos anos ’60 passou a caracterizar, com uma acepção fortemente depreciativa, os meridionais, ou seja os italianos do sul cujo maior recurso era o trabalho da terra e a agricultura.
[9] O lema oficial do vale é “Valcamonica, la valle dei segni” (Val Camônica, o vale dos signos). Muitas atividades comerciais adotaram nomes ligados ao sítio arqueológico: Hotel Camuno, Hotel Graffitipark, Grandhotel Rosa Camuna etc.
[10] Com a expressão “extracomunitário” indica-se os cidadãos de países que estão fora da Comunidade Europeia. Considerando o grande número de emigrantes de origem africana, hoje a definição é principalmente usada (frequentemente em termos depreciativos) para os clandestinos africanos que chegam às costas italianas.

Autor notes

1 Doutora em Arqueologia pelo Programa de Pós-Graduação do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo. Pesquisadora de pós-doutorado e bolsista FAPESP, Faculdade de Ciências Humanas e Sociais –UNESP Campus de Franca (SP). Integrante dos laboratórios LABECA/MAE/USP e G.LEIR/UNESP/Franca; coordenadora do Lab.Arque/UNESP/Franca, vl.monaco@unesp.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2370-9007.

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