Para além do espaço/tempo de trabalho: estranhamento e adoecimento no corte de cana

Beyond working space / time: strangeness and illness in cutting cane

Autores

  • Tainá Reis Universidade Federal de São Carlos - UFSCar

Palavras-chave:

corte de cana, trabalho, sociabilidade, adoecimento, estranhamento.

Resumo

O conceito de estranhamento, proposto por Marx, permite compreender o trabalho como criador de sociabilidade. Assim, apresenta-se neste artigo o aprofundamento do estranhamento nas relações sociais de cortadores de cana adoecidos. A pesquisa é qualitativa e contou com entrevistas semiestruturadas e observação direta em campo empírico - Araçuaí/MG, local de origem desses trabalhadores. Camponeses expropriados são proletarizados e submetidos a condições precárias de trabalho no corte de cana. O cortador de cana, sujeito estranhado, ser genérico cindido, ao adoecer deixa de ser força de trabalho, mas permanece cindido em suas relações. Impedido de vender a força de trabalho, está fora das relações de trabalho, mas permanece dentro de relações sociais mediadas pela mercadoria; não deixa de ser mercadoria, torna-se mercadoria descartada. O estranhamento não desaparece, mas se aprofunda. Esse é um dos processos decorrentes do trabalho nos canaviais, que se estende para fora do espaço/tempo de trabalho.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Tainá Reis, Universidade Federal de São Carlos - UFSCar

Doutoranda em Sociologia no PPGS-UFSCar, bolsista CNPQ e membro do grupo TRAMA (coordenado pela orientadora, Profa Maria Aparecida de Moraes Silva), tem se dedicado a estudos sobre as consequências sociais e subjetivas do adoecimento no corte de cana. 

Referências

ALVES, F. Por que morrem os cortadores de cana? Saúde e Sociedade. São Paulo. v. 15, n.03, set/dez, 2006.

________. Migração de trabalhadores rurais do Maranhão e Piauí para o corte da cana em São Paulo. In: NOVAES, José Roberto e ALVES, Francisco (orgs.). Migrantes: trabalho e trabalhadores no complexo agroindustrial canavieiro (os heróis do agronegócio brasileiro). São Carlos: EdUFSCar. 2007.

_________. Processo de trabalho e danos à saúde dos cortadores de cana. InterfacEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente. São Paulo, v.3, n.2, abr./ ago. 2008.

ANTUNES, R. A corrosão do trabalho e a precarização estrutural. In: LOURENÇO, Edvânia Ângela de Souza, NAVARRO, Vera Lúcia. O avesso do trabalho III. Saúde do trabalhador e questões contemporâneas. São Paulo: Outras Expressões. 2013.

BOLTANSKI, L. As classes sociais e o corpo. Rio de Janeiro: Edições Graal. 1979.

BOTELHO, M.I.V. O eterno reencontro entre o passado e o presente: um
estudo sobre as práticas culturais no Vale do Jequitinhonha. 1999. Tese (Doutorado em Sociologia) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo. 1999.

DEJOURS, C. A loucura do trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho. São Paulo: Cortez. 1987.

FERREIRA, J. O corpo sígnico. In: ALVES, P. C.; MINAYO, M.C.S. (orgs). Saúde e doença: um olhar antropológico. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 1994.

GAUDEMAR, J. P. Mobilidade do Trabalho e Acumulação do Capital. Editora Estampa. 1977.

GIANNOTTI, J. A. O ardil do trabalho. In: ________. Trabalho e reflexão: ensaios para uma dialética da sociabilidade. São Paulo: Editora Brasiliense. 1984.

GUANAIS, J. B. Pagamento por produção, intensificação do trabalho e superexploração na agroindústria canavieira brasileira. 2016. Tese (Doutorado em Sociologia) - Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, UNICAMP, Campinas. 2016.

LAAT, E. F. Trabalho e risco no corte manual de cana-de-açúcar: A maratona perigosa nos canaviais. 2010. Tese (Doutorado em engenharia de Produção) - Faculdade de Engenharia, Arquitetura e Urbanismo, Universidade Metodista de Piracicaba, Santa Bárbara D’oeste. 2010.

LEITE, A. C. G. A modernização do Vale do Jequitinhonha mineiro e o processo de formação do trabalhador “boia fria” em suas condições regionais de mobilidade do trabalho. Dissertação (Mestrado em Geografia) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo. 2011.

_________. O campesinato do Vale do Jequitinhonha: da sua formação no processo de imposição do trabalho à crise da (sua) reprodução capitalista. 2015. Tese (Doutorado em Geografia) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo. 2015.

LOURENÇO, E. A. S. Alienação e agravos à saúde dos trabalhadores no setor sucroenergético. In________, NAVARRO, Vera Lúcia. O avesso do trabalho III. Saúde do trabalhador e questões contemporâneas. São Paulo: Outras Expressões. 2013.

MAIA, C. J. “Lugar” e “trecho”: migrações, gênero e reciprocidade em comunidades camponesas no Jequitinhonha. 2000. Tese (Doutorado em Extensão Rural) - Universidade Federal de Viçosa. Viçosa. 2000.

MARX, K. Manuscritos Econômicos Filosóficos. São Paulo: Boitempo Editorial. 2010.

NAVARRO, V. L. Trabalho e trabalhadores do calçado: a indústria calçadista de Franca (SP): das origens artesanais à reestruturação produtiva. 1. ed. São Paulo: Expressão Popular. 2006.

PRAZERES, T. J. Na costura do sapato, o desmanche das operárias: um estudo das condições de trabalho e saúde das pespontadeiras da indústria de calçados em Franca (SP). 2010. Dissertação (Mestrado em Ciências Médicas) - Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto. 2010.

RAMALHO, C. C. Os migrantes cortadores de cana do Vale do Jequitinhonha: entre a superexploração e a resistência. 2014. Dissertação (Mestrado em Política Social) - Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas, Universidade do Espírito Santo, Vitória. 2014.

RANIERI, J. A câmara escura: alienação e estranhamento em Marx. São Paulo: Boitempo editorial. 2001.

REIS. T. Trabalho e gênero: reflexões sobre o adoecimento no corte de cana. Revista Ruris, Campinas, v.11, n, 1, março, 2017.

RIBEIRO, H. P. A violência oculta do trabalho: as lesões por esforços repetitivos. Rio de Janeiro: Fiocruz. 1999.

SCOPINHO, R.A. et al. Novas tecnologias e saúde do trabalhador: a mecanização do corte da cana-de-açúcar. Caderno Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 1, n. 15, jan/mar, 1999.

SERVILHA, M. M. O Vale do Jequitinhonha: entre a di-visão pela probreza e sua ressignificação pela identidade regional. 2012. Tese (Doutorado em Geografia). Universidade Federal Fluminense, Niterói. 2012.

SILVA, M.A.M. Errantes no fim do século. São Paulo: Fundação Editora UNESP. 1999.

_________. Mortes e acidentes nas profundezas do “mar de cana” e dos laranjais paulistas. InterfacEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente, São Paulo, v.3, n.2, abr/ago, 2008.

________. VERÇOZA, L. V., BUENO, J. D. A imagem do etanol como “desenvolvimento 21 sustentável” e a (nova) morfologia do trabalho. Caderno CRH, v.26, n.68, Salvador, mai/ago. 2013

SILVEIRA, P. Da alienação ao fetichismo - formas de subjetivação e de objetivação. In: ________; DORAY, Bernard. (orgs) Elementos para uma teoria marxista da subjetividade. São Paulo: Vértice. 1989.

VERÇOZA, L. V. Os saltos de “canguru” nos canaviais alagoanos. Um estudo sobre trabalho e saúde. 2016. Tese (Doutorado em Sociologia) - Centro de Educação e Ciências Humanas, UFSCar, São Carlos. 2016.

VINUTO, J. A amostragem em bola de neve na pesquisa qualitativa: um debate em aberto. Temáticas, v.44, Campinas, ago/dez. 2014.

WEIL, S. A condição operária e outros estudos sobre a opressão. São Paulo: Paz e Terra. 1996

Downloads

Publicado

2017-05-01

Como Citar

Reis, T. . (2017). Para além do espaço/tempo de trabalho: estranhamento e adoecimento no corte de cana: Beyond working space / time: strangeness and illness in cutting cane. Argumentos - Revista Do Departamento De Ciências Sociais Da Unimontes, 14(1), 50–70. Recuperado de https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/argumentos/article/view/1155

Edição

Seção

Artigos