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Apresentação do dossiê ITINERÁRIOS DO LAZER Espaços, práticas, sujeitos, sentidos e significados
Argumentos - Revista do Departamento de Ciências Sociais da Unimontes, vol. 20, núm. 1, pp. 4-6, 2023
Universidade Estadual de Montes Claros

Dossiê

Argumentos - Revista do Departamento de Ciências Sociais da Unimontes
Universidade Estadual de Montes Claros, Brasil
ISSN: 2527-2551
ISSN-e: 1806-5627
Periodicidade: Semestral
vol. 20, núm. 1, 2023

Recepção: 09 Fevereiro 2023

Aprovação: 18 Março 2023


Este trabalho está sob uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-Não Derivada 4.0 Internacional.

Este dossiê Itinerários do Lazer: espaços, práticas, sujeitos, sentidos e significados, resulta de um esforço coletivo iniciado em 2021, de reunir pesquisas que têm nos lazeres a base de suas investigações. Na ocasião, Igor Maciel da Silva, Sarah Teixeira Soutto Mayor e Cleber Dias, organizaram na Revista Caminhos da História o dossiê Histórias das diversões: algumas possibilidades investigativas[1]. Esta experiência e a necessidade de cooperar continuamente com as produções do Lazer – aquelas filiadas diretamente ao Campo de estudos ou as que buscam nos lazeres as respostas para as suas inquietações – propusemos a construção deste dossiê.

Nosso objetivo foi organizar e apresentar de modo sistematizado outras narrativas para somar ao trabalho anterior e aos próximos que a comunidade interessada venha a realizar. Acrescenta-se a isso a intenção de fomentar a circulação de estudos sobre o lazer em periódicos científicos não atrelados diretamente ao Campo do Lazer[2], fortalecendo o diálogo interdisciplinar que o alimenta.

Dias e Ribeiro (2022) afirmam que, “de diversos modos, o ser humano é um brincalhão” (p. 24). A partir do entendimento de que o lazer e as diversões relacionam-se diretamente com a vida cotidiana – e não são simplesmente parte dela –, confirma-se a pertinência do fenômeno.

Não queremos conceituar o que é lazer, pois, por exemplo, em cada recorte temporal, a cada trajeto, caminho definido ou desviante, em cada vivência e perspectiva, tal entendimento pode ser singular. Desse modo, reunimos artigos que se dedicam a diferentes manifestações sem ter a pretensão de fazer entender que tais temáticas sejam definidoras, pois novamente Dias e Ribeiro (2022), destacam que seria uma difícil ação a de mencionar todas as atividades que definem o que se chama de lazer.

Dentre tantas interpretações possíveis, o lazer é um encontro da fruição com a função. Podemos desenhá-lo, então, como o cinema da vida, a rotina descansando em câmera lenta e de repente na velocidade máxima da distração. É a existência em série, cujos capítulos, naquele espaço, naquela prática, com aquele grupo ou solo, espera uma nova oportunidade para que o roteiro seja vivenciado a cada nova participação. É, ainda, uma transversal que atravessa o tempo e toda a urbanidade; entretendo, recreando, divertindo, passeando também pelos interiores, casas, aglomerados, becos, vielas, viadutos, vilas, várzeas, estradas, trilhos, trilhas e rotas marítimas ainda não descobertas. Pode ser movido a pé, a cavalo, de carro, de bicicleta, costurando uma via de escalada, ondeando com a prancha de surfe ou deslizando com o skate no concreto asfalto; no arranjo dos tambores, em ritmo próprio, com ou sem velas acesas nas mãos; com o corpo e a mente inertes ou já em movimento – tanto faz. Sobretudo, o lazer acontece, não sendo apenas o oposto do trabalho, tampouco privilégio de certos grupos.

A partir disso, os itinerários apresentados abordam lazeres vários e abarcam diferentes espaços, práticas, sujeitos, sentidos e significados. Privilegiam as características de serem ações desobrigadas e por vezes provocadas por uma ou diversas fontes motivadoras, as quais as investigações científicas nos ajudam a perceber: o prazer, o trabalho, a política, o partido, a resistência, a residência, a escola, o dia, a noite, o verbo, o sujeito.

Os autores Bruno Adriano Rodrigues da Silva e Victor Andrade de Melo, em Uma agremiação a serviço do bairro: o Vila Isabel Futebol Clube (1910-1941), discutem a trajetória dessa agremiação, fundada em 1910, dedicando atenção a sua participação no delineamento de um perfil para o bairro no qual se encontrava, e percebendo como suas ações se imbricavam com o entorno de sua sede. A opção por investigar essa associação esportiva deveu-se a sua conformação societária. Seus membros eram oriundos de estratos médio e alto que viviam em Vila Isabel ou nas redondezas, não pertencendo, todavia, aos mais elevados escalões socioeconômicos que moravam nos bairros mais valorizados do Rio de Janeiro. O clube era uma expressão de uma “elite intermediária” da cidade. Além disso, teve que lidar com a heterogeneidade social da região onde se localizava. “Pequeno, mas de grandes iniciativas”: assim se referiu ao Vila Isabel um cronista por ocasião de seu décimo aniversário. Os autores consideram que essas características permitiram perceber algo dos movimentos societários da cidade, bem como sua inserção nos registros espaciais.

No artigo de Igor Monteiro Silva, intitulado de Virus in motion: notas sobre turismo mochileiro em tempos de pandemia, o autor tematiza algumas repercussões da pandemia do COVID-19 entre mochileiros, também conhecidos como backpackers. A partir de uma pesquisa de inspiração etnográfica e dados de plataformas digitais e redes sociais, dá luz a diferentes questões. São elas: os efeitos político-sociais do Corona vírus entre sujeitos que ainda estavam “na estrada”, provocando ações de lida com situações de fechamento de fronteiras, conflitos com agentes dos Estados receptores e com a comunidade local, estigmatizações, voos de repatriação, constituição de redes de solidariedade para abrigo, alimentação e cuidados também emocionais e; o posicionamento, diante da pandemia, de plataformas digitais e redes sociais virtuais, responsáveis em grande medida pelo estímulo e provisão de informações para a realização dos empreendimentos viáticos de muitos mochileiros.

A autora Lucília Alvim Côrtes, na pesquisa intitulada O turismo como instrumento de lazer e transformação, demonstra por meio de diferentes técnicas de pesquisa o papel educacional do turismo, bem como a relevância da atividade turística enquanto ferramenta de lazer transformadora e capaz de contribuir para o desenvolvimento de competências interculturais. A narrativa observa não apenas o desenvolvimento de competências em grupos específicos de turistas, mas os impactos positivos e negativos nas populações envolvidas na atividade turística. A partir de indicadores aplicados à educação para o turismo, foram analisados os impactos das atividades turísticas de cunho educacional no desenvolvimento de competências naqueles que participam direta ou indiretamente dessas atividades. O estudo ilumina, nas atividades de lazer em geral, um potencial formador e mobilizador. Seus resultados indicam a relevância dos impactos das atividades turísticas em distintos setores da sociedade e em escala global.

Cristiane Miryam Drumond de Brito, Raquel de Magalhães Borges e Cláudia Franco Monteiro, no artigo A festa como modo de existir e resistir ao lazer colonizado, se desafiaram a pensar lazeres contra coloniais, ou a festa, como os entendem. A primeira ideia que têm é de que a festa existe e resiste desde antes da colonização até os dias atuais, e, mesmo com várias tentativas de apagamento, ela está presente. Circularam pelo pensamento de Nêgo Bispo, que as provocou a refletir sobre a festa nas tradições afrodiaspóricas e indígenas e sua resistência em algumas comunidades e, em especial, no grupo cultural belo-horizontino Meninas de Sinhá. Tais ideias as conduziram à superação do lazer, por sua linearidade, e as aproximaram da circularidade da festa. Levando-as a entender que é preciso (re)criar, (re)apropriar o tempo festivo. Assim, a contra colonização consiste num paradigma urgente a repercutir no Campo dos Estudos do Lazer com potencial para acessar fronteiras exaltadas pela diversidade e como caminho para o envolvimento em vivências orgânicas e sensíveis, em que circulam saberes e memórias.

O trabalho de Marcelo Yokoi, Na rua se faz trabalho: música e religiosidade entre rastafaris na periferia paulistana, diz dos aspectos da organização de um grupo formado por rastafaris, o Instituto Cultural Bola de Fogo, apresentando reflexões sobre a prática do nyahbinghi a partir do trabalho de campo realizado nas apresentações-rituais. O autor traz algumas considerações históricas sobre o rastafari e sua musicalidade, o que remente a uma política contra o colonialismo e a colonialidade, demonstrando que os tempos passado e presente confluem, bem como o material e o espiritual, trazendo conhecimento ancestral e benesses curativas. A partir do contexto estudado demonstra a importância da política e da religião emergindo nas ruas e espaços públicos na cidade.

Já Renato Müller Pinto e Alexandre Barbosa Pereira, em Dores e delícias no aprendizado: ócio, lazer e trabalho na formação em Dança, esmiúçam, a partir de etnografia realizada junto aos processos de aprendizagem em um curso de graduação em Dança, as diferentes maneiras pelas quais a compreensão sobre lazer e trabalho aparecem. Os autores destacam que a formação do artista da Dança não se resume ao percurso universitário, e investigam de que maneira o lazer participa da formação desses sujeitos. Assim, para além desse contexto formal de aprendizagem da Dança, a pesquisa menciona a maneira pela qual os alunos, em suas atividades de lazer, refinam as suas sensibilidades.

O texto de Jaider Fernandes Reis, O livro de cabeceira de Peter Greenaway: silêncio, som, palavra, prazer, personagem, apresenta o filme The Pillow Book (O livro de cabeceira), do diretor britânico Peter Greenaway. Inspirado em um clássico da literatura japonesa do século dez, constrói uma narrativa que evidencia as relações entre texto, imagem e som para tratar sobre temas como arte, prazer, sexo, literatura e escrita. O objetivo do autor foi apresentar a obra e destacar elementos utilizados por Greenaway em sua narrativa audiovisual: a imagem, que foi denominada de livro do silêncio; a música, denominada de livro do som; e a escrita, denominada de livro das palavras; a intertextualidade, denominada como livro do prazer; a construção da personagem, denominada de livro das mulheres-personagens. Tal escolha se deu para homenagear a forma como o diretor retoma no filme as referências ao diário de Sei Shonagon.

Por fim, Bárbara Côrtes Loureiro e Igor Maciel da Silva apresentam a entrevista realizada com José Guilherme Cantor Magnani – Professor Aposentado Sênior do Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Magnani é notadamente uma das mais presentes referências atuais da Antropologia Urbana brasileira.

Desejamos somar aos itinerários do lazer – nas perspectivas coletiva e pessoal. Desejamos ótimas leituras.

Referências

DIAS, Cleber; RIBEIRO, Wecisley. Genoma do lazer no Brasil. In: DIAS, Cleber; RIBEIRO. Brincadeira é coisa séria: cultura e economia política no Brasil contemporâneo, 1 ed., Belo Horizonte: Editora Sarerê, 2022, p. 23-27.

Notas

[1] O dossiê completo está disponível em: v. 26 n. 1 (2021) | Caminhos da História (unimontes.br) Acesso em: 6 jan. 2023.
[2] Dois exemplos de periódicos do Campo do Lazer são: Licere e RBEL – Revista Brasileira de Estudos do Lazer.

Autor notes

i Doutor em Estudos do Lazer pela Universidade Federal de Minas Gerais. E-mail: professorigormaciel@gmail.com Orcid: https://orcid.org/0000-0002-6560-0475.
ii Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal de São Paulo. E-mail: l.barbaracortes@gmail.com Orcid: https://orcid.org/0000-0001-9257-683X.
iii Doutor em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense com pós-doutorados em Estudos do Lazer e em História. E-mail: rafael.soares@unirio.br Orcid: http://orcid.org/0000-0001-7071-3725.

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