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Editorial
Argumentos - Revista do Departamento de Ciências Sociais da Unimontes, vol.. 18, núm. 2, 2021
Universidade Estadual de Montes Claros

Editorial

Argumentos - Revista do Departamento de Ciências Sociais da Unimontes
Universidade Estadual de Montes Claros, Brasil
ISSN: 2527-2551
ISSN-e: 1806-5627
Periodicidade: Semestral
vol. 18, núm. 2, 2021


Este trabalho está sob uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-Não Derivada 4.0 Internacional.

EDITORIAL

Estimadas(os) leitoras(es) e amantes do futebol,

Desde o dia 16 de março de 2020, a Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes-MG) suspendeu boa parte de suas atividades presenciais. O motivo dessa precavida decisão é o mesmo que aflige, de forma desigual, o mundo: a pandemia da COVID-19. No dia seguinte a essa decisão, o Brasil registrava o seu primeiro óbito (Worldometers.info, 2021). Hoje, 12 de agosto de 2021, atingimos a tenebrosa marca de 566.013 mortes registradas. Essa é a terceira edição da Argumentos que publicamos durante essa que é a maior crise sanitária da história do Brasil. Não é um exercício prazeroso escrever um edital sob tais circunstâncias. Temos que consultar os dados de sites como o Worldometers ou da Organização Mundial da Saúde para saber o número de mortos e, em seguida, comparar com o número de mortos que registramos na edição anterior. Soma-se a isso, pensar o que o Brasil atravessou nesse intervalo de um semestre (nos perguntamos se é pensar ou recolher os cacos...). Um período curto, mas que assusta ao elencar a quantidade de tragédias sociais, econômicas, ambientais e políticas que esse país latino-americano à deriva enfrentou. De fato, nesse momento, um misto de tristeza e revolta toma conta da redação. Podemos muito mais do que isso!

Paralelo à pandemia e nossa tragédia republicana, acompanhamos não apenas o desfile de veículos militares ultrapassados e, literalmente, espalhando fumaça na Praça dos Três Poderes, em Brasília: vemos a agenda esportiva forçar uma retomada a qualquer custo. Mesmo que, para tal, seu principal personagem, o(a) torcedor(a), fique de fora. Foi assim como os Jogos Olímpicos de Tóquio e, há um tempo, tem sido assim com os campeonatos de futebol. No caso brasileiro, se já vivemos um processo avançado de arenização em nossos estádios e, com isso, a expulsão do(a) torcedor(a) popular e seus apetrechos, que dão vida ao jogo – bandeiras, bandeirões, fogos e sinalizadores –, agora, assistimos, do sofá, os jogos com gravações do som de torcidas sendo emitidas através dos alto falantes do estádio. Tão empolgante quanto café descafeinado ou cerveja com 0% de álcool, em meio à grande tragédia, o futebol vai se tornando, cada vez mais, alienado da realidade nacional. Assim foi na Copa América e no “patriotismo” de nossos jogadores desse ano...

Pensando nisso e na importância que o futebol, enquanto tema caro para as Ciências Sociais latino-americanas, a Argumentos traz o dossiê Soy loco por Ti, Futebol, organizado por Georgino Jorge de Souza Neto (Unimontes). O dossiê, que será explicado com maior cuidado no seu texto de abertura, reúne cinco artigos, uma entrevista e uma resenha que, no conjunto, oferecem diversos olhares sobre o movimento de modernização do futebol na América Latina. Nesse importante grupo de pesquisadore(a)s e amantes do futebol, encontramos artigos que vão da Argentina ao México. A tarefa coube a Rodrigo Daskal, Sérgio Settani Giglio e João Manuel Casquinha Malaia Santos, Santiago Salazar e Jacques Ramírez, Sergio Fernández González e, por fim, Gastón Laborido. Soma-se, a esse dossiê, a entrevista realizada por Georgino Jorge de Souza Neto e Sarah Teixeira Soutto Mayor com Pablo Alabarces. Nessa conversa, o sociólogo argentino reflete e traz riquíssimas contribuições ao debate do processo de modernização na América Latina e sua interface com o futebol. O dossiê se encerra com uma resenha do livro Historia social del fútbol: del amateurismo a la profesionalización, do historiador argentino Julio Frydenberg, feita por Sarah Teixeira Soutto Mayor.

A revista Argumentos, como de praxe, tem a sua seção para artigos abertos e que dialogam com temáticas condizentes às Ciências Sociais. O primeiro deles, mantém o futebol como tema de análise. Seu título é O futebol como um instrumento de inserção étnica no Rio de Janeiro: 1888-1930 e foi escrito por William E. Nunes Pereira e Luiz Vinícius de Azevedo. O texto analisa um processo de consolidação do futebol carioca ocorrido no período de transição entre os séculos XIX e XX. Os autores exploram esse esporte através da construção da identidade nacional, inserção social e do sentimento de representatividade étnica no Brasil. No artigo seguinte, Revisitando Canais e Lagoas, de Octavio Brandão, Filipe Pinheiro retoma a obra do intelectual marxista Octavio Brandão (1896-1980).

Seu objetivo, nesse artigo, é destacar o papel específico desse livro na formação da visão de mundo do próprio Octavio Brandão, bem como foi um trabalho essencial para situar o seu posicionamento nacionalista e anti-imperialista: duas palavras tão em falta em nosso vocabulário político atual!

O artigo seguinte, Ganhando a vida? Estratégias adotadas por travestis trabalhadoras do sexo nas ruas de Montes Claros, MG, é escrito por Giovanni Campos Fonseca, Thiago Gonçalves da Silva e Rose Elizabeth Cabral Barbosa. Através de entrevistas semiestruturadas com duas participantes, os autores analisam algumas das estratégias adotadas por travestis trabalhadoras do sexo na cidade de Montes Claros, no Norte de Minas Gerais. Em seguida, temos o artigo Ética, economia e subsistência humana através do mercado, de Álvaro Maia Batista. Por meio de um referencial teórico centrado, sobretudo, no filósofo lituano Emmanuel Levinas, mas, também, em Karl Polanyi e Norbert Elias, o autor discute a relação entre ética, economia e subsistência humana, que, nas sociedades urbanas, ocorre através do mercado. Por último, mas não menos importante, trazemos o artigo Índice de Desenvolvimento Humano Eficiente e Sustentável (IDHES): Uma Proposta Alternativa, escrito a seis mãos. Os economistas Thiago Costa Soares, Cassiano Ricardo Dalberto e Liana Bohn trazem contribuições para repensar a forma com que o IDH vem sendo utilizado. Para tal, discutem sobre o uso do IDHES, que se vale da utilização de recursos no âmbito da educação e da saúde, e também da emissão de dióxido de carbono (CO2) para medir o índice de desenvolvimento em países de alta e baixa renda. Certamente, esse é um artigo que nos auxilia a enriquecer um debate que precisa ganhar a pauta nas eleições de 2022: a descarbonização da economia brasileira.

Já na seção Resenhas, a qual fecha a presente edição, contamos com a resenha de Érika Catarina de Melo Alves, sobre o livro As cores da masculinidade: experiências interseccionais e práticas de poder na Nossa América, de Mara Viveros Vigoya e publicado, em 2018, pela Papéis Selvagens Edições. Melo Alves, responsável pela resenha, demonstra como essa obra é provocativa e insurgente no que se declara de imediato a delinear: compreender as relações da masculinidade para além do binarismo de gênero numa determinada região geopolítica, a América Latina. Cuidadosamente, ela examina cada um dos capítulos que compõe o livro, demonstra os diálogos teóricos estabelecidos pela autora, suas análises sobre temas como masculinidade, poder, legitimação, sexualidade negra, branquitude, paternidade e violência estrutural ao longo de nossa América.

Por fim, gostaríamos de agradecer ao próprio organizador do dossiê, Georgino Jorge de Souza Neto, por ter disponibilizado uma cópia do quadro “Futebol, alegria do povo”, que ilustra a capa desta edição da Argumentos, de autoria de Georgino Junior. Para os leitores de nossa estimada e tão sofrida América Latina, Georgino Junior foi um importante escritor e artista plástico montes-clarense. Cansado, esse despojado atleticano nos deixou em 2018. Partiu um pouco antes da consumação do que talvez seja a maior farsa política vivida por esse país e na qual estamos mergulhados agora....

Boa leitura e que possamos seguir firmes na lida para conter a velocidade da pandemia!

Editor-chefe, Gustavo Dias, e Comissão Editorial



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