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Editorial
Argumentos - Revista do Departamento de Ciências Sociais da Unimontes, vol.. 18, núm. 1, 2021
Universidade Estadual de Montes Claros

Editorial

Argumentos - Revista do Departamento de Ciências Sociais da Unimontes
Universidade Estadual de Montes Claros, Brasil
ISSN: 2527-2551
ISSN-e: 1806-5627
Periodicidade: Semestral
vol. 18, núm. 1, 2021

EDITORIAL

Estimadas(os) leitoras(es),

Desde o dia 16 de março de 2020, a Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes-MG) suspendeu boa parte de suas atividades presenciais. O motivo dessa precavida decisão é o mesmo que aflige, de forma desigual, o mundo: a pandemia da COVID-19. De lá para cá, tivemos um salto exponencial dos casos de infecção e morte causadas pelo vírus, mas, também, pela péssima política sanitária adotada pelo governo federal. Entre promessas milagrosas como sementes de feijão benzidas e a aplicação retal de ozônio, assistimos à promoção do uso de hidroxicloroquina e ivermectina, sem comprovação cientifica alguma, pelo próprio governo federal. Ao mesmo tempo, assistimos, passivelmente, aos cortes brutais no investimento científico e, ainda, às sistemáticas sabotagens do governo federal sobre nossos centros de pesquisa, que buscam desenvolver e democratizar a tão aguardada vacina. Paralelo a isso, presenciamos, com grande angústia, o lento desenrolar da vacinação em estados da federação, onde seus governadores adotaram postura crítica em relação ao quadro pandêmico vivido no Brasil. Sem insumos médicos e com péssimas relações internacionais, esse país, que agoniza com o forte processo de desindustrialização, iniciado na década de 1990 e selado pelo famigerado Consenso de Washington, encontra-se cada vez mais isolado e jogado à sinistra combinação de negacionismo e fanatismo. Da beira do precipício social, avistamos os 240 mil mortos notificados.

Novas cepas circulam com tamanha intensidade pelo país. Indiferentemente a tudo isso, nosso governo federal dá prioridade à aprovação da autonomia do Banco Central, com o intuito de blindar o capital especulativo, e emite decretos flexibilizando o uso de armas. Muitas dessas, certamente, têm um destino certo: abastecer milícias nas periferias nacionais e municiar invasores de terras quilombolas e indígenas. Sem um auxílio emergencial em caráter contínuo, sem um plano nacional de vacina e o crescente desemprego estrutural, populações historicamente marginalizadas nesse grande e desigual Brasil são as maiores vítimas. Em entrevista realizada por Lethicia Pechim para o programa Saúde com Ciência (UFMG), o professor Unaí Tupinambás, alerta que

A prevalência dessas condições [que favorecem a COVID-19] é muito maior na população negra e periférica, que não tem condições de acesso à saúde e à boa alimentação. Já tem o risco inerente da condição prévia de saúde e esses determinantes sociais impactam muito negativamente na evolução da covid-19.

Vidas precárias expostas ao sabor do neoliberalismo e ao rápido espalhamento do vírus.

Para trazer maior embasamento sociológico e político acerca do tema, nessa edição, a Argumentos traz o dossiê Desigualdades e Discriminação Étnico-raciais, organizado por Doriam Borges (PPCIS/UERJ) e Maria Railma Alves (Unimontes). O dossiê, que será explicado com maior cuidado no seu texto de abertura, reúne cinco artigos e uma entrevista que oferecem um rico panorama sobre o estado atual das desigualdades raciais no Brasil. Nesse importante grupo de pesquisadores, encontram-se Luciana Pinto, Sidmara Cristina de Souza e André Augusto Pereira Brandão, Rubens Alves da Silva, Emerson do Nascimento e Luciana Santana e Luiz Mello. Soma-se, a esse dossiê, a entrevista realizada por Maria Railma Alves, Antônio Dimas Cardoso e Doriam Borges, com Joaze Bernardino-Costa, importante intelectual brasileiro no campo dos estudos do pós-colonialismo, das teorias decoloniais, dos intelectuais negros, das teorias da diáspora, das ações afirmativas e do trabalho doméstico, com ênfase na questão da condição das populações negras no Brasil.

A revista Argumentos, como de praxe, tem a sua seção para artigos abertos e que dialogam com temáticas condizentes às Ciências Sociais. Dado ao aumento da submissão de artigos que temos recebido nos últimos dois anos, o Comitê Editorial resolveu ampliar essa seção. Nosso objetivo é seguir crescendo, solidamente, e atendendo, de forma mais ética possível, a crescente demanda por publicações exigida pela CAPES. Dessa forma, a seção Artigos conta, agora, com cinco artigos. O primeiro deles, intitulado Gênero e cidadania: reflexões sobre a participação política das mulheres no processo eleitoral de 2018 no Brasil, é de autoria de Licemar Vieira Melo e Thaís da Rosa Alves. O texto analisa a cidadania na perspectiva específica de gênero, ao propor reflexões sobre a participação política das mulheres no processo eleitoral brasileiro de 2018. As autoras tecem reflexões em torno da construção histórica e consolidação da cidadania, e da participação política das mulheres no Brasil, para depois discutir, especificamente, a participação das mulheres no processo eleitoral de 2018. Os dois artigos seguintes, Percepção docente sobre a avaliação interna no ensino geral angolano e A formação de professores primários em Moçambique: qual modelo a adotar?, oferecem, ao nosso público, a chance de conhecer o debate educacional que vem sendo desenvolvido na África Lusófona. Em particular, na Angola e Moçambique. No primeiro texto, Balbina Uarinhenga e Rosenilton Silva de Oliveira, a partir de entrevistas realizadas com professores do I e II ciclos que atuam em escolas no município do Lubalo (Província da Lunda-Norte), buscam compreender como os próprios docentes compreendem os processos avaliativos institucionais que visam aferir não o aprendizado em si do corpo discente, mas as ações da própria instituição escolar. Já no artigo seguinte, Wilson Profírio Nicaquela, através de uma revisão bibliográfica, analisou os diferentes modelos de formação de professores para o ensino básico em Moçambique.

O quarto artigo publicado, Relação entre representação descritiva e substantiva: o caso da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), é de Anne Karoline Rodrigues Vieira. Por meio de uma revisão bibliográfica focada em representação descritiva e coleta de dados referentes aos projetos apresentados pelos deputados mineiros nas 11ª (1987-1991) e 17ª (2011-2015) legislaturas da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, a autora buscou detectar a existência ou não da relação entre representação descritiva e representação substantiva, ao se analisar a atuação para minorias sociais. O quinto e último artigo desta edição, A Organização do Quadro Social como instrumento da Educação Cooperativista, de Diego Neves de Sousa e Palloma Rosa Ferreira, contou com a participação de 51 cooperativas agrárias do Estado de Minas Gerais com o intuito de analisar as potencialidades da Organização do Quadro Social como instrumento da educação cooperativista.

Já na seção Resenhas, a qual fecha a presente edição, contamos com a resenha de Flávio A. Rodrigues Barbosa, sobre o livro Corrupção. Um estudo sobre poder público e relações pessoais no Brasil, de Marcos Otavio Bezerra e publicado, em 2018, pela Papéis Selvagens Edições. Barbosa, responsável pela resenha, demonstra como esse livro circula pelas áreas da Antropologia e Ciência Política. Essa capacidade de trânsito está intimamente ligada à forma como Bezerra desenvolve a pesquisa e escrita para analisar os quatro casos presentes no livro. Através do relato etnográfico desses casos, ele ilustra o itinerário estratégico percorrido no processo de transformação de interesses privados em interesses públicos, e como empresas privadas passam a produzir articulações dos governos nos níveis federal, estadual e municipal em causa própria.

Por fim, mas não menos importante, gostaríamos de agradecer ao artista plástico Sérgio Fabiano Ferreira (Gu Ferreira) por ter disponibilizado uma cópia de sua obra Malungos, que dialoga diretamente com o dossiê organizado pelos professores Doriam Borges e Maria Railma Alves.

Boa leitura e que possamos seguir firmes na lida para conter a velocidade da pandemia!

Editor-chefe, Gustavo Dias, e Comissão Editorial



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