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PENSAR A PARTIR DOS MIGRANTES: A PERSPECTIVA DE THOMAS E ZNANIECKI
Argumentos - Revista do Departamento de Ciências Sociais da Unimontes, vol.. 15, núm. 1, 2018
Universidade Estadual de Montes Claros

Dossiê

Argumentos - Revista do Departamento de Ciências Sociais da Unimontes
Universidade Estadual de Montes Claros, Brasil
ISSN: 1806-5627
ISSN-e: 2527-2551
Periodicidade: Semestral
vol. 15, núm. 1, 2018

Recepção: 30 Março 2018

Aprovação: 28 Maio 2018

Resumo: A gestão das políticas migratórias constrói a imigração como um problema, sobretudo quando esses corpos moventes participam de disputas e rupturas sociais nos espaços urbanos. Este artigo, em contrapartida, assume o desafio de tomar o fenômeno migratório como perspectiva. William I. Thomas e Florian Znaniecki (1974) se tornaram um marco dos estudos migratórios especialmente por consolidarem uma metodologia de pesquisa na qual a descrição densa de uma situação social foi construída dando notória ênfase ao que mulheres e homens diziam sobre eles próprios. É uma proposta de apreender a migração pelos seus trânsitos e, sobretudo, como uma experiência subjetiva a partir das relações tecidas por migrantes, das redes por eles agenciadas e de suas narrativas. Objetiva-se delinear e disputar uma epistemologia sobre os movimentos migratórios contemporâneos, de modo a resgatar a potência proeminente dessa etnografia clássica: pensar a partir dos migrantes como viés metodológico e como prática política.

Palavras-chave: Migrantes, Narrativas, Etnografia, Antropologia Política, Estudos Migratórios..

Resumen: La gestión de las políticas migratorias construye la inmigración como un problema, sobretodo cuando esos cuerpos en movimiento participan en disputas y rupturas sociales en los espacios urbanos. En contrapartida, este artículo asume el desafío de tomar el fenómeno migratorio como perspectiva. William I. Thomas y Florian Znaniecki (1974) se convirtieron en un marco de los estudios migratorios especialmente por consolidar una metodología de investigación en la que la descripción densa de una situación social se construyó dando notorio énfasis a lo que las mujeres y hombres decían sobre sí mismos. Es una propuesta de comprender la migración por sus tránsitos y, sobretodo, como una experiencia subjetiva a partir de las relaciones tejidas por migrantes, de las redes que ellos organizan y de sus narrativas. El objetivo es delinear y disputar una epistemología sobre los movimientos migratorios contemporáneos para que se rescate la potencia prominente de esa etnografía clásica: pensar a partir de los migrantes como opción metodológica y como práctica política. Palabras clave:Migrantes, Narrativas, Etnografía, Antropología Política, Estudios Migratorios.

THINKING FROM MIGRANTS: THE PERSPECTIVE OF THOMAS AND ZNANIECKI

Abstract: The management of migration policies builds immigration as a problem, especially when these moving bodies participate in disputes and social disruptions in urban spaces. This paper, on the other hand, assumes the challenge of taking the migratory phenomenon as a perspective. William I. Thomas and Florian Znaniecki (1974) became a milestone in migratory studies mainly for consolidating a research methodology in which the dense description of a social situation was built with a remarkable emphasis on what women and men said about themselves. It is a proposal to apprehend migration through its transits and, above all, as a subjective experience based on the relations of migrants, the networks they organize and their narratives. It aims to delineate and dispute an epistemology about contemporary migratory movements, in order to rescue the prominent power of this classic ethnography: to think of the migrants as a methodological bias and as a political practice.

Keywords: Migration, Narratives, Ethnography, Political Anthropology, Migration Studies.

Introdução

Pensar a partir dos migrantes e tomar o fenômeno migratório como perspectiva, não como problema. Este é um desafio que se apresenta como prática política e discursiva para tratar as relações de como os sujeitos habitam e se movem nos territórios. Os etnógrafos William I. Thomas e Florian Znaniecki (1974) abriram caminho para reflexão sobre a constituição da vida na cidade com base nas experiências vividas por migrantes. Era, portanto, uma maneira de compreender os migrantes como sujeitos em movimentos e de compreender a migração como produção. Sua obra conjunta ? The Polish Peasant in Europe and America ? guiará o roteiro do presente ensaio, que se propõe a estudá-la e apresentá-la num esforço de apreensão sobre a formação de espaços e redes constituídos por corpos em trânsito.

O pano de fundo dessa etnografia é a chegada massiva de poloneses nos Estados Unidos, que saíram majoritariamente de regiões camponesas na Polônia rumo às cidades que cresciam do outro lado do Atlântico. É um trabalho que, apesar de sua pertinência atual, foi realizado há um século. Ele registra a confecção do universo urbano no contexto norte-americano, tendo como marca sociológica o grupo social formado por esses migrantes. A singularidade deste trabalho diz respeito a uma cidade que se revela e se constrói pela experiência subjetiva dos migrantes. Acima disso, a escolha metodológica de cartografar as trajetórias de vida registradas em cartas e outros meios de comunicação é também determinante para compreender os movimentos migratórios como metodologia de vida e de construção do espaço.

Cem anos depois do estudo realizado por esses autores, vivenciamos um contexto contemporâneo de, por um lado, enrijecimento de fronteiras e controles migratórios e, por outro, o engrandecimento do governo humanitário que fixa, vitimiza e dociliza migrantes e refugiados. A migração é esse fenômeno sociológico das políticas de Estado e da razão humanitária ao mesmo tempo em que é experiência subjetiva, produzida e exercida por cada corpo. Dessa maneira, o resgaste do trabalho de Thomas & Znaniecki (1974) parece oportuno como subsídio para um exercício de transposição entre pensar sobre migrantes para pensar a partir deles. A ênfase aqui recai sobre a dobra constituinte desses corpos em trânsito: estão sujeitos ao saberpoder que opera uma racionalidade administrativa sobre eles e são sujeitos de movimentos, quecriam vida, expressam resistência e fazem mover o mundo.

Metodologias e movimentos

O estudo realizado por William I. Thomas e Florian Znaniecki (1974) [2] oferece insumos para a compreensão das relações sociais que tecem os sujeitos e sua inscrição no espaço urbano, instituindo como base a experiência e a expressão de migrantes. Tendo como objetivo perscrutar o desenvolvimento das vidas nas cidades e a constituição da vida pelas mudanças no mundo do trabalho, os autores se dedicaram a provocar um debate a partir das narrativas de migrantes poloneses nos Estados Unidos no fim do século XIX e início do século XX.

O que há de mais peculiar e proeminente nesta obra é sua proposta em si:

reunir de forma artesanal o que homens e mulheres migrantes diziam sobre seus esforços de viver com prosperidade nas cidades. Isto é, as mais de 2.300 páginas são, em sua grande maioria, um conjunto de cartas e registros variados que permitem colocar do avesso ? e em evidência ? um sentido de ser migrante e de viver numa cidade. É uma proposta de apreender a cidade pelos seus trânsitos e, especialmente, como uma experiência subjetiva. Para isso, Thomas e Znaniecki (1974) se valeram de um método de investigação de histórias de vida, seja pelas comunicações tecidas entre os migrantes ou por documentos com relatos a seu respeito.

A escolha do objeto teve como motivação a chegada de cerca de dois milhões de poloneses nos Estados Unidos entre 1880 e 1910. Boa parte deles já havia se deslocado por cidades e países da Europa antes de cruzarem o atlântico. Eram corpos moventes cujas relações e construção coletiva de estratégias de viver numa sociedade urbana faziam terreno para uma compreensão de questões sociais por uma via não usual nos estudos sociais.

Ou seja, ao invés de investigar as grandes políticas ou os indivíduos, Thomas e Znaniecki (1974) estavam mais interessados em apreender as mudanças sociais a partir da formação de grupos, da conexão entre as pessoas e das mutações nessas relações. O agenciamento que constituíam migrantes poloneses enquanto grupo foi fundamental. E a formação desse grupo era atravessada pelo processo de saída de comunidades camponesas para classes de trabalhadores no meio urbano. Havia um efeito na subjetividade desses poloneses provocado por adaptações a grupos sociais distintos aos quais estavam conectados, sendo a família um nó de afetos e afecções morais com papel central. Quando os poloneses migravam, eles o faziam enquanto grupo e através de um projeto coletivo de deslocamento. Trazer para o centro da análise a perspectiva dos migrantes foi o objetivo principal de Thomas e Znaniecki (1974). Isto valeria para propor uma metodologia nos estudos sociais na qual o fio condutor de análise sejam os próprios sujeitos que vivenciam a situação a ser estudada.

Conforme explicam os autores nas notas metodológicas da obra (THOMAS & ZNANIECKI, 1974, p. 1-86), a escolha pelos migrantes poloneses remete a um interesse de compreender a formação de grupos sociais, considerando os critérios de coesão mobilizados pelos sujeitos e as técnicas de controle pela manutenção das características demarcadoras do grupo. Nas trocas de cartas entre os familiares, não raro eram feitas exaltações ou expressões de nostalgia acerca da ?nação polonesa?.

Outro aspecto que marca essa monografia se refere ao intuito dos autores (THOMAS & ZNANIECKI, 1974, p. 13-15) de apreender tendências: não trabalhar com a noção de situações sociais postas, mas dar ênfase aos processos de mudança das condições. A atenção era mais voltada para o desenvolvimento das tendências do que para as mudanças das condições sociais em si.

Nesse sentido, acompanhar a trajetória de migrantes permitiria, com maior evidência, um estudo sobre a consolidação da vida nas cidades e os arranjos de trabalho nesse cenário. Isto porque as transformações vividas pelos norte-americanos puderam ser notadas sem naturalizações por quem vinha de fora. A capacidade de estranhamento e curiosidade sobre a forma de vida na cidade norte-americana era expressa por esses sujeitos, especialmente por virem de regiões camponesas na Polônia e estarem acostumados com formas distintas de trabalho e relação social. Ou seja, o trânsito cultural dos migrantes fazia notar as tendências. O foco não seria, portanto, apontar como as cidades norte-americanas eram no início do século XX, mas demonstrar como elas se formavam e, sobretudo, como os sujeitos se constituem nelas. O becoming era o que mais importava (THOMAS & ZNANIECKI, 1974, p. 36).

A fim de tensionar a tradição epistemológica para o estudo dos fenômenos sociais, Thomas e Znaniecki (1974) mobilizaram com rigor o aspecto metodológico. Eles apresentaram com vagar e intensidade o que consideravam problemas práticos fundamentais para reflexão social: o problema da dependência do indivíduo a uma organização social e da cultura; e o problema da dependência da organização social e da cultura ao indivíduo. Assim, reflete-se como os camponeses poloneses se constituem na sociedade norte-americana e como essa sociedade se constitui com os migrantes; como os migrantes se constituem pelos movimentos de trabalhadores e como o trabalho é constituído pelos migrantes; como os bairros de migrantes constituem os sujeitos e como os migrantes constituem os bairros. Em tudo isso, como a vida na cidade constitui o sujeito e como os sujeitos constituem a cidade.

Parte das provocações metodológicas se refere à maneira de produzir conhecimento sobre os fenômenos sociais. Há, na visão deles, uma diferença essencial entre ciência social e filosofia social, que diz respeito à dependência de generalizações desta última (THOMAS & ZNANIECKI, 1974, p. 63). Portanto, a etnografia minuciosa produzida por eles, com insistência nas narrativas dos sujeitos, se presta para os estudos sociais na seara de migração e cidades, mas também para empreender um modo de estudo em si. Apresentar sequências de cartas ? muitas cartas ? reitera esse propósito de instituir um método de observação e apreensão das tendências sociais.

Essa maneira de tratar uma situação social pelo agrupamento de relatos do cotidiano guarda relação com trabalhos como o de Carolina Maria de Jesus (2014). No livro ?Quarto de Despejo?, ela faz de sua vida um diário e, com isso, cria uma materialidade tamanha que permite a visualização de um cenário de viver na favela. Ao narrar sua luta dia após dia para lidar com a fome, ela produz intensidade e realidade pela repetição. É uma insistência que torna viva a escrita. O registro dos arranjos diários permite acompanhar sua trajetória de vida e, com isso, tornar mais evidente a dinâmica de sobrevivência e resistência em seu aspecto micro e em suas nuances. Deste mesmo modo, as cartas permitem acompanhar as trajetórias de vida de muitos migrantes.

Nesse sentido de produzir materialidade no estudo de campo, a escolha do objeto de pesquisa sobre a migração polonesa foi motivada também pela facilidade de acesso ao material de comunicação entre os poloneses camponeses. Esse grupo social se encontrava num período de transição de uma forma de organização social para outra formação nas cidades norte-americanas. Ou seja, a possibilidade de captar os trânsitos foi determinante. Trânsitos e mutações, pois um dos argumentos apresentados para o recorte foi o momento de reorganização sócio-política pela qual passavam os poloneses. Em fins do século XIX, relatam os autores (THOMAS & ZNANIECKI, 1974, p. 75), a identidade da nação polonesa está sob risco pelo fato de não ser gerida por um Estado sólido e único, de modo que a noção subjetiva de ser polonês dependia de ações de ressignificação pelas pessoas.

Por tudo isso, a etnografia consiste majoritariamente no estudo das cartas trocadas entre esses poloneses, as quais foram organizadas em séries de acordo com o grupo familiar que vincula essas pessoas. Sobre cada série de registro das comunicações, foram feitas algumas notas para sistematizar e classificar atitudes e valores prevalecentes em determinado grupo e/ou tema. Alguns desses aspectos destacados pelos autores nas séries de cartas e outros registros de comunicações serão explorados adiante.

Migração, cidade e trabalho

Conforme nos apresenta Michel Foucault (2008; 2010), a racionalidade do Estado moderno tem como principal objeto a população, ou melhor, o gerenciamento da população. A circulação, portanto, é a variável mais importante. Daí a centralidade de migrantes e refugiados para compreensão das práticas de governo. Para conter a mobilidade de migrantes, em regra, os Estados produzem políticas migratórias restritivas. E para administrar os refugiados, o governo humanitário tem como paradigma o campo de refugiados como espaço de administração desses sujeitos (FASSIN, 2010).

Contudo, a cidade é, além de destino, o desejo dessas pessoas em movimento. De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (2017), mais de 60% das pessoas refugiadas vivem em espaços urbanos. Isto porque a cidade se constitui pelos sujeitos em circulação e se apresenta como oportunidade de vida e dignidade. Certa vez, um refugiado iraniano no Rio de Janeiro [3] relatou que, em sua perspectiva, o sentido de ser migrante expressa ?a busca pela homogeneização das oportunidades no mundo e da própria humanidade, de pessoa para pessoa?, nos termos usados por ele.

É nesse sentido, da migração como luta por cidadania, que Sandro Mezzadra (2005) aborda a relação do trabalho e da produção com o deslocamento e a centralidade dos espaços urbanos. E é nesse sentido que três categorias se relacionam o tempo todo: o urbano, o trabalhador e o migrante. Os sujeitos se movem na cidade e a cidade se move com os sujeitos. Nessa circulação, o trabalho é força constituinte. Por isso, os bairros de migrantes e os movimentos de trabalhadores eram laboratórios sobre a formação das cidades nos estudos de antropologia urbana.

Na perspectiva dos Thomas & Znaniecki (1974, p. 44), os fenômenos sociais ou individuais/subjetivos jamais têm relação de causalidade com apenas outro fenômeno social ou individual, uma vez que sempre há uma combinação de inúmeros fenômenos que se cruzam. Assim, os elementos migração, cidade e trabalho são cartografados de maneira integrada, indicando a densidade que dos efeitos constitutivos dessas experiências.

A intersecção entre os temas de imigração e trabalho é também desenvolvida nos estudos de Abdelmalek Sayad (1997, p. 651), para quem a vida do trabalhador imigrante é uma experiência localizada nas relações de poder que administraram pessoas em situação de pobreza, marginalidade e discriminação. Nessas mesmas relações de poder e subjugação, os migrantes criam resistências e vão gerando potência com os movimentos. Na medida em que vão conseguindo melhores condições de trabalho, vão mudando sua maneira de habitar a cidade ? de um cômodo compartilhado com muitas pessoas, para um cômodo compartilhado com poucas pessoas, para uma casa compartilhada ?. Toda uma vida compartilhada e em movimento. E a cidade se constrói nessa subjetividade como metamorfose constante.

Em uma das séries de cartas cartografadas por Thomas e Znaniecki (1974), a de membros da família Wróblewski, a ida para as grandes cidades americanas era marcada por encontros e desencontros de uma nova forma de trabalho que se consolidava nos espaços urbanos. As experiências, os desejos e as frustações em torno dessa empreitada eram compartilhadas entre os familiares:

27 de agosto de 1906 Querido irmão,

Józef me contou que ele também recebeu uma carta de você. Se ele respondeu, eu não sei, mas ele diz que não está disposto a ir para a América, porque ele tem isso bastante bem. Agora você me pede conselhos, se você deve permanecer nas minas, ou voltar para casa, ou procurar outras pessoas na América. Bem, eu deixo a decisão com você, mas, na minha opinião, seria perigoso jogar fora o seu trabalho agora. [4]

A migração, o trabalho e a vida na cidade são tecidas como projetos compartilhados cujos desenhos eram traçados com surpresas, incertezas e apostas.

Com isso, a construção da escolha é também compartilhada, demarcando o lugar do coletivo na subjetividade.

De um modo ou de outro, a cidade se faz como um território para oportunidades de desenvolvimento, ainda que alguns grupos ? como a maioria dos migrantes poloneses ? estejam em constante busca por um desenvolvimento que os afete e os beneficie. São tentativas de ganho levadas a cabo por migrantes em situação de precariedade. Tal condição precária é própria de populações que contam com redes sociais e econômicas de apoio insuficientes e ficam expostas de maneira diferenciada às violações, à violência e à morte (BUTLER, 2016, p. 46).

Um dos problemas de partida para pensar o fenômeno urbano para Thomas & Znaniecki (1974, p. 78-82) era a formação de uma nova divisão do trabalho. As diferentes formas de ocupação laboral que se desenvolviam impactavam na percepção dos sujeitos acerca da motivação para o trabalho e nos caminhos trilhados para subsistência. Era a formação de uma subjetividade que se processava junto com as mudanças no mundo do trabalho. O espaço urbano foi território para consolidação de uma nova organização social baseada na divisão do trabalho no lugar de fatores tradicionais do campo como parentesco (HANNERZ, 2015, p. 34).

Ocorre que o conjunto de estranhamentos produzidos pelos migrantes no contato com um universo ? cultural, político, econômico, cultural ? permitia tornar evidente algumas mudanças que vigiam na sociedade de destino. Nesse sentido, as transformações no mundo do trabalho que ocorriam no espaço urbano eram narradas pelas experiências dos sujeitos como trabalhadores afetados pelos movimentos de resistência. A carta de outro membro da família Wróblewski, escrita em 1906, é exemplificativa:

Caros Irmãos, sua carta de 29 de outubro eu recebi em 30 de dezembro. Ela viajou por cerca de 2 meses, e talvez tenha ficado nos escritórios de correios porque houve uma greve. Todos os trens pararam por mais de uma semana, e depois no serviço de postagem e telégrafo houve uma greve por 3 semanas. "Strike" significa em nossa língua bezrobocie e em russo zabastowka. Acontece muito frequentemente entre nós, particularmente nas fábricas.

Trabalhadores apresentaram suas demandas[5] (THOMAS & ZNANIECKI, 1996, p. 28).

O trabalho é constituinte na experiência dos migrantes para as cidades. E a forma com que se funcionamento se desenvolvia nas cidades precisava ser apreendida pelos sujeitos. Trata-se de um significado e um estilo de vida ao qual os sujeitos vão se relacionar e, para isso, se enquadrar num modelo determinado de organização social (SIMMEL, 1976). Para isso, é preciso manejar conceitos e efeitos acerca do modo de operação das fábricas, da gestão sobre os trabalhadores e dos movimentos promovidos pelos trabalhadores para reivindicar seus direitos.

Inúmeras cartas dos poloneses narram as empreitadas para conseguir um emprego, as satisfações e insatisfações na posição de trabalho, bem como a participação nos movimentos de trabalhadores, nos sindicatos e nas ações de greve. Isto porque o deslocamento para a cidade é significativamente movido pela expectativa de encontrar emprego. O desemprego, portanto, é também uma preocupação a ser anunciada aos familiares.

Nesse projeto que cruza migração e trabalho, a transitoriedade é permanente. São idas e vindas no território, nos empregos, nas situações de maior ou menor pobreza. Adam, da família Raczowski, escreve para sua irmã, em junho de 1904: ?Quanto ao trabalho, não espero trabalhar antes do outono, porque o irmão também não tem emprego desde o Natal e não pode trabalhar, porque todas as fábricas estão paralisadas e não há trabalho até elegerem o presidente no outono?[6]. Em fevereiro do ano seguinte, ele retoma a comunicação e conta: ?Querida irmã, agora eu informo que eu tenho um trabalho muito bom. Eu tenho trabalhado por 3 meses. Eu tenho um trabalho muito bom e fácil. Ganho $8 por semana?[7] (THOMAS & ZNANIECKI, 1996, p.54-55).

Esses testemunhos do cotidiano são uma expressão de como as crises que atravessam os sujeitos estão enterradas nas experiências vividas a cada dia e não fora desse entorno de subjetivação. São histórias de desejo, angústia, esperança, desespero que se acumulam na vida cotidiana e dentro das quais se forja o sujeito como ponto de contato entre o eu e o mundo (DAS, 2008, p. 13-14). Histórias essas como as de Adam, que se empenhava em muitos arranjos para auferir os meios de vida necessários para o habitar urbano.

A economia do dinheiro é indispensável para o funcionamento da cidade. Para conseguir dinheiro e se manter na cidade, as pessoas são tomadas por cálculos e determinações numéricas que fazem com que sejam preteridos valores qualitativos dos meios de vida. O dinheiro é o produto do trabalho e um instrumento na relação entre as pessoas (SIMMEL, 1976). Devido à necessidade do dinheiro, o trabalho é, portanto, o principal vínculo desses migrantes na sociedade urbana norte-americana. Em lugar de relações familiares, por nascimento, culturais ou vizinhança, os laços e as redes são construídos por uma economia que integra migrantes como força de trabalho. A integração primordial é essa, uma vez que a proximidade que atinge o estrangeiro é exercida em termos de cidadania (SIMMEL, 2005), expressa, sobretudo, pela participação na divisão de trabalho local.

Ao mesmo tempo, o estrangeiro se relaciona numa distância. Não se produz uma relação de pertencimento (SIMMEL, 2005). Como nos fala Abdelmalek Sayad (1997, p. 35), uma maneira dos imigrantes se constituírem enquanto grupo é justamente criando mecanismos para tornar viva sua identidade social, geralmente associada à sua nacionalidade e com enquadramento cultural. É uma identidade coletiva que se constitui em trânsito.

Relações, redes e trânsitos

O deslocamento vivenciado pelos migrantes poloneses mantinha de alguma maneira os laços com os familiares que ficaram no país de origem. Aliás, a organização dos sujeitos em torno de núcleos familiares era de especial interesse para os autores (THOMAS & ZNANIECKI, 1974, p. 49). A própria existência de tantas cartas indica que o processo migratório mantinha vínculos familiares a despeito da distância geográfica e das mudanças culturais. Sobre esse aspecto, é preciso considerar a localização temporal do estudo ? fins do século XIX e início do século XX ? e o perfil camponês do grupo etnografado. Dentro desses recortes, a família era uma instituição central para as relações afetivas e as produções coletivas de estratégias para viver e fazer mover a vida.

Foi proposta a seguinte fórmula para essa investigação: sistema familiar ? tendência de desenvolvimento ? sistema individualista. Com isso, Thomas & Znaniecki (1974, p. 56) objetivaram traçar um efeito reflexivo e constitutivo acerca de como o sistema familiar influencia a experiência individual num processo de busca por desenvolvimento que ocorre mediante abertura para novos acontecimentos. Ao mesmo tempo, como os indivíduos são afetados pelas novas experiências, desestabilizando e influenciando as formações familiares tradicionais.

Nos estudos de Thomas & Znaniecki (1974), a família foi uma instituição-chave tomada para compreender como a experiência subjetiva de ser imigrante nos Estados Unidos transbordava ações individuais e afetava e era afetada pelas relações sociais e afetivas que lhe constituíam. A família era, então, uma expressão que evidenciava a constituição coletiva do indivíduo e seu corpo. Conforme nos diz Judith Butler (2016, p. 53), ?o corpo é constitutivamente social e interdependente?, estando sempre à mercê de formas de sociabilidade que afetam sua autonomia individual. É um movimento de constituição mútua. As formações individuais são afetadas pelas relações e as formações sociais são afetadas pelas experiências individuais. No caso das migrações, o contato com o conjunto de significantes produzidos em outro território provoca efeitos nas relações em que os sujeitos estão envolvidos.

Dentre os trânsitos culturais e morais provocados no âmbito da família, é proeminente uma desterritorialização sobre o papel social das mulheres. A relação entre homem e mulher foi percebida por Thomas & Znaniecki (1974) pelo elemento subjetivo, bem como pela expressão social da questão de gênero. De acordo com eles, homens e mulheres tinham uma dependência recíproca na sociedade camponesa da Polônia com um recorte de gênero que distinguia suas funções e subordinava suas personalidades em prol dos interessas do grupo social.

Uma intersecção sobre a formação familiar e a subjetivação desse grupo social era a religião católica. A maioria das cartas começa ou termina com alguma saudação religiosa. Ocorre que, em decorrência da migração para as cidades, valores morais ? inclusive sobre a vida conjugal e sexual ? estão sujeitos a trânsitos culturais. Segue um trecho da carta de um padre:

Na medida em que minha experiência pessoal no confessionário me ensinou, a masturbação é um tipo de desvio sexual muito raro entre os camponeses, particularmente no país. Nas cidades, acontece com mais frequência (...)

Relativamente mais frequente é o amor lésbico entre as meninas, mas também apenas nas cidades e entre os servos que vivem juntos

(...).

O aborto intencional ocorre mais frequentemente nas cidades do que nas aldeias. Tanto quanto pude observar as causas desta diferença, estas são: uma maior dissolução, uma ideia mais frouxa da moralidade, a questão do apoio às crianças, que é mais difícil em uma cidade[8]. (THOMAS & ZNANIECKI, 1996, p. 4-5)

Nesse relato, a cidade é apresentada como território propício para produção de uma subjetividade que permita formas diferenciadas de uso do corpo. O que é apontado pelo padre como uma espécie de flexibilização moral no espaço urbano se relaciona com a compreensão enunciativa que demarca regiões morais. Nos estudos de antropologia urbana, a cidade era comumente associada a uma ?ordem moral? distinta, a qual se apresenta como uma influência permissiva que afeta a formação e os desejos das pessoas (HANNERZ, 2015, p. 35-36).

Uma subjetividade de valoração de escolhas individuais é consolidada nos territórios urbanos. Para Georg Simmel (1976), uma antipatia latente e uma prática de produção de antagonismos operam distâncias e aversões sem as quais esse modo de vida seria inviável. Nas cidades, a qualidade e a quantidade de liberdade pessoal são condições elementares de socialização. A individualidade, portanto, é desenvolvida no interior da vida urbana, transbordando seus efeitos para os mais diversos aspectos da vida dos sujeitos.

Nesse mesmo sentido, a cidade também se apresenta como lugar e momento para transições nas relações de gênero e, especialmente, na posição das mulheres. Uma polonesa, em carta datada em 1914 para um jornal da comunidade, diz assim: ?Queridas Irmãs (...), por que só os irmãos são chamados a trabalhar, a aprender? E nós mulheres, temos o direito, devemos permanecer na escuridão e na inatividade social? Nunca! Já é hora da mulher acordar espiritualmente? [9] (THOMAS & ZNANIECKI, 1996, p. 20-21). Esse chamado para luta por igualdade de direitos para mulheres é realizado num relato maior sobre as condições de miséria em que vivem as mulheres polonesas.

Da precariedade à prosperidade

A migração dos poloneses para os Estados Unidos se inseria na situação social de pobreza na qual estão algumas pessoas que, como maneira de se moverem da precariedade para uma possibilidade maior de prosperidade, se deslocam para as cidades. Isso se torna mais evidente na medida em que muitas cartas retrataram esse cenário de busca pela cidade como oportunidade para melhores condições de vida.

Migrar para que não apenas a sobrevivência seja um direito, mas também a prosperidade. Sobre as reivindicações sociais e políticas exercidas nas trajetórias de vida, Judith Butler (2016) propõe que chaves como precariedade, vulnerabilidade, dor, desejo e pertencimento social sejam apreendidas numa ontologia corporal que transborde os enquadramentos das operações de poder que visam fixar os sujeitos. Assim, propõe um sentido da vida que exceda as condições normativas e que torne possível ao corpo uma produção de subsistência e, sobretudo, de prosperidade.

A migração é, portanto, um movimento político que torna possível o desejo pela prosperidade. Numa carta de 1914 para um jornal da comunidade polonesa, uma mulher dizia assim: ?Nosso povo é infeliz, escuro, impotente, em miséria e humilhação (...). Estamos em pobreza, em negligência, e procuramos pão, por salários longe de nossa pátria, da nossa amada Polônia? [10] (THOMAS & ZNANIECKI, 1996, p. 21). Desse enunciado é importante apreender a potência do deslocamento, que se traduz na fuga da miséria e da humilhação e se produz na busca por salários, ainda que, para isso, seja preciso se mover para construir outro território. Mover-se como contraste de subjugar-se à fixação; como sinônimo de subverter-se; como prática de liberdade, conforme é possível inferir das reflexões de Simmel (2005) sobre ser estrangeiro.

A proximidade entre migração e pobreza na cidade é mobilizada de modo que essas situações sociais sejam compreendidas em intersecção na consolidação dos estudos urbanos. Ainda que a expectativa de ir para as Américas seja de prosperidade, esses sonhos são negociados diante dos arranjos de vida e trabalho. Ao mesmo tempo, essa situação de uso de corpos dóceis e disponíveis para fazer girar uma economia é tomada ativamente pelos migrantes, uma vez que se vale de dissimulações subjetivas para integrarem a dinâmica local. A cidade é um território no qual podem ser aceitos. Essa aceitação é negociada mediante enquadramentos que situam os sujeitos migrantes junto aos trabalhadores e aqueles em situação de pobreza. É uma dinâmica percebida e denunciada pelos migrantes, conforme enuncia um interlocutor de Sayad (1997, p. 653): ?em vez de trabalhar para sua prosperidade, os imigrantes (em família) trabalham realmente para a prosperidade dos outros?. Em muitos casos, a experiência da empreitada de migrar com intuito de prosperar é narrada com expressão de frustação. Abbas, um interlocutor de Sayad (1997, p. 658-659), lhe conta que ?a gente sabia que a França não era o paraíso, a gente sabia mesmo que, em certos aspectos, é o inferno?.

Como maneira de amenizar essa situação de escassez na qual se encontravam muitos camponeses na Polônia, os migrantes tinham a prática de enviar dinheiro para os familiares. Pedidos de ajuda financeira, agradecimentos pelo dinheiro enviado e explicações sobre demora na remessa de dinheiro são temas frequentes nas cartas. O dinheiro, que tem papel crucial no funcionamento da cidade, conforme argumenta Georg Simmel (1976), é, na imigração, um afeto nas relações.

Numa troca de cartas entre membros da família Wróblewski, a cobrança de envio de dinheiro gerou mal estar quando os familiares na Polônia souberam da situação precária pela qual passava o irmão que tinha migrado para os Estados Unidos. Em retratação, um irmão diz ao outro: ?Querido irmão, (...) fiz algumas observações de que esse dinheiro seria útil aqui. Eu também não tinha ideia de que você tinha dificuldades em enviar dinheiro? [11] (THOMAS & ZNANIECKI, 1996, p. 34).

É suposto que os migrantes trabalhadores enviem recursos para os familiares, mas para manter uma boa relação afetiva, é preciso ajudar a construir uma compreensão sobre o funcionamento do trabalho nas cidades, que depende, por exemplo, da disponibilidade das fábricas e não tão somente do esforço individual. O dinheiro tem esse papel de materializar em termos quantitativos valores qualitativos da vida. No caso das famílias de migrantes, o dinheiro é expressão material do afeto entre as pessoas. É um denominador comum na relação entre as pessoas (SIMMEL, 1976, p. 16).

A comunidade se vincula e se sustenta por redes de solidariedade. E a possibilidade de enviar dinheiro para família era avaliada num contexto de expectativa de sucesso econômico dos migrantes na cidade. Diferentes formas de individualismo se expressam e se desenvolvem nas cidades. Seja por uma situação social de isolamento em que a economia é fomentada pela capacidade de independência individual; seja pelas brechas subjetivas que se abrem para elaboração da própria individualidade (SIMMEL, 1976). Nesse território, os sujeitos criam estratégias de se relacionarem em rede e nutrirem a convergência de desejos comuns. O ponto comum dos migrantes ? figurados por vezes como estrangeiros ? é, nos termos de Georg Simmel (2005), fazer da liberdade a prática. O estrangeiro produz um papel sobre o território de ser mais livre, prática e teoricamente.

Notas finais

Em se tratando sobre o tema de migrações e refúgio ? como para todos aqueles de pessoas marginalizadas ? não raramente a narrativa produzida pelos sujeitos em fuga é desconsiderada ou questionada sob argumento de falta de credibilidade, legitimidade ou institucionalidade. Isto ocorre nos processos de elegibilidade dos pedidos de refúgio, na formulação de políticas públicas, na construção de saberes acadêmicos. Valoriza-se a tecnicidade e a oficialidade das informações em detrimento da expressão e da enunciação dos sujeitos que migram.

De modo geral, a gestão das políticas migratórias opera a imigração como um problema, especialmente quando esses corpos moventes participam de disputas e rupturas sociais nos espaços urbanos. Há brechas, porém, para assumir o desafio de tomar o fenômeno migratório como perspectiva. William I. Thomas e Florian Znaniecki (1974) se tornaram um marco dos estudos migratórios e urbanos especialmente por consolidarem uma metodologia de pesquisa na qual a descrição densa de uma situação social foi construída dando notória ênfase ao que mulheres e homens diziam sobre eles próprios. É uma proposta de apreender a migração pelos seus trânsitos e, sobretudo, como uma experiência subjetiva a partir das relações tecidas por migrantes, das redes por eles agenciadas e de suas narrativas. Nisso, dar inteligibilidade aos acontecimentos migratórios se permitindo impregnar pelos sentidos e pela subjetividade de quem foge.

A consolidação do método etnográfico nos estudos de caráter antropológico reificaram a centralidade da questão sobre como desenvolver em pesquisa uma perspectiva sobre um fenômeno social. No contexto contemporâneo, em que a produção da morte é justificada em defesa da vida e da sociedade (FOUCAULT, 2010), as disputas em torno das políticas migratórias são, em grande medida, disputas de narrativas sobre os migrantes, seus direitos e a economia moral mobilizada para sua administração. Mais que uma perspectiva sobre os sujeitos migrantes, Thomas &

Znaniecki contribuem para a apreensão da vida e do corpo migrante como perspectiva.

Cabe, portanto, delinear e disputar uma epistemologia sobre os movimentos migratórios contemporâneos, de modo a resgatar a potência proeminente dessa etnografia clássica: pensar a partir dos migrantes como viés metodológico e como prática política. O território perfaz um nó de fluxos de trabalho e desejo em que os sujeitos criam novas relações de poder em exercício de resistência. A perspectiva migrante é aquela que faz desterritorializar as relações de poder e criar linhas de fuga.

Bibliografia

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Notas

[1] Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Atua como agente de proteção legal no Programa de Atendimento a Refugiados e Solicitantes de Refúgio da Cáritas Arquidiocesana do Rio de Janeiro.
[2] A obra foi originalmente publicada em cinco volumes, entre os anos de 1918 e 1920.
[3] Afirmação realizada na ocasião de gravação de um vídeo sobre atendimento a refugiados pela Cáritas Arquidiocesana do Rio de Janeiro em outubro de 2017. Seu nome será ocultado para preservar sua identidade.
[4] Tradução livre do trecho original em inglês: ?Dear Brother, Józef told me that he also received a letter from you. Whether he answered I don't know, but he says that he is unwilling to go to America, because he has it here well enough. Now you ask me for advice, whether you ought to remain in the mines, or to return home, or to search for other woek in America. Well I leave the decision with you, but in my opinion it would be dangerous to throw your work away just now?.
[5] Tradução livre do trecho original em inglês: ?Dear Brothers, your letter of October 29 I received on December 30. It traveled for about 2 months, and perhaps it lay in the post offices, because there has been a strike. All the trains stopped for more than a week, and afterward in the post and telegraph service there was a strike for 3 weeks. "Strike" means in our language bezrobocie and in Russianzabastowka. It happens now very often among us, particularly in factories. Workmen put forward their demands?.
[6] Tradução livre do trecho original em inglês: ?As to work, I don't hope to work sooner than autumn, because brother also has no woek since Christmas and cannot get work, because all factories are stopped an there is no work until they elect the president in autumn?.
[7] Tradução livre do trecho original em inglês: ?Dear sister, now I inform you that I have very good work. I have been working for 3 months. I have very good and easy work. I earn $8 a week?
[8] Tradução livre do trecho original em inglês: ?As far as my personal experience in the confessional has taught me, masturbation is a very rare kind of sexual deviation among peasants, particularly in the country. In towns it happens more frequently (...). Relatively more frequent is Lesbian love among girls, but also only in towns and between servants living together (...). Intentional abortion happens more frequently in towns than in villages. As far as I was able to observe the causes of this difference, these are: a greater dissoluteness, a looser idea of morality, the question of supporting children, which is more difficult in a town?.
[9] Tradução livre do trecho original em inglês: ?Dear Sisters (...), why are only brothers called to work, to learning? And we women, have we the right, ought we to remain in darkness and in social inactivity? Never! It is high time for us woman to awake spiritually?.
[10] Tradução livre do trecho original em inglês: ?Our people is unhappy, dark, powerless, in misery and humiliation (...). We are in poverty, in neglect, and we look for bread, for wages far from our fatherland, from our beloved Poland?.
[11] Tradução livre do trecho original em inglês: ?Dear brother, (...) I made some remarks that this money would be useful here. I had also had no idea that you had any difficulties in sending money?.


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